sábado, 25 de setembro de 2010

Sobre Keith Thomas; "O homem e o mundo Natural"


Um livro denso...
Pesadão...
Muitas páginas...

O pessoal da Unicamp vivia falando dele, citando Keith Thomas, propondo leitura de seus textos... Acabei lendo na íntegra. É mesmo muito interessante.
Como o próprio nome sugere, a temática envolve o ser humano e suas relações com o mundo natural. A época estudada é a que corresponde às dinastias Tudor, Stuart, Hanover; quer dizer, o foco se concentra entre 1500 e 1800. Vocês devem saber... Esses tempos aí foram marcados pela instituição do Anglicanismo, pelo Absolutismo inglês, incentivos à organização de manufaturas; pirataria; colonização na América do Norte; revoluções durante o século XVII; industrialização... Imperialismo...
Vejam, o texto de Thomas é uma forma de conhecer a História Inglesa a partir de elementos de sua cultura... Mas sem o compromisso de explicar os tópicos elencados no parágrafo anterior... Quer dizer, não temos nesse material uma História política ou da economia daquele país e sua sociedade... A leitura do livro permite conhecer recortes de sermões, diários, periódicos ou reflexões de filósofos acerca da temática em questão... A leitura leva-nos a perceber o modo como a “História Natural”, a Zoologia e a Botânica ganharam fôlego por esse tempo e se tornaram Ciências... Algo bem típico do século XIX.
Podemos depreender que a relação homem-natureza foi, no início do período tratado, fortemente marcada pelo antropocentrismo... Isso era um legado renascentista... As interpretações da Sagrada Escritura colocavam o “mundo feito por Deus para o desfrute do homem”. Todas as criaturas estavam a serviço do ser humano, fossem para trabalhar ou para serem caçadas e abatidas.

Percebam este trecho de Carta de Paulo aos Coríntios (IX, 9):
“Acaso tem Deus cuidado dos bois?”
Ele foi usado para legitimar (erroneamente; concordam?) uma sugestão de controle desenfreado sobre as vidas dos animais...


Essa interpretação, que se valia de trechos de Gênesis e do apóstolo Paulo, como citado anteriormente, também implicava no domínio humano sobre a natureza. Território não devastado significava atraso... Crueldades eram praticadas com animais e vegetais...
Para termos uma noção desse terror, uma das principais diversões da criançada inglesa e de outros países era atirar pedras na cabeça de galos que enterravam (vivos) até o pescoço no solo! Apedrejavam os bichos até a morte... Colocar galos para brigar, atirar em aves ou apavorar touros já eram “brincadeiras” antiquissímas...
Por um bom tempo os ingleses se vangloriaram de serem os maiores comedores de carne animal e de colocar florestas inteiras no chão.
Chamar uma pessoa de animal, de besta, ou a ela atribuir um conceito que só se destinava aos bichos, significava pretender tratá-la como tal... Essa forma de pensar também justificou a exploração de ingleses sobre outros povos, a quem comparavam com os animais ditos “inferiores”... É... Observavam os “modos de ser” de irlandeses ou africanos, analisavam seus rituais e consideravam algo muito próximo do “selvagem” ou “animalesco”. Isso implica em dizer que esses deviam estar a serviço dos “superiores” e que a dominação que viessem a sofrer “seria um bem”, já que ela podia torná-los “civilizados”... Então, podemos dizer que essa forma de encarar a natureza também deu bases para o imperialismo britânico...
Mudanças:
Acontece que as pessoas há muito percebiam utilidades (as mais diversas) nas plantas... Utilizavam-nas principalmente com finalidades medicinais... Atribuíam-lhes nomes estranhos... Daí veio a necessidade de fazer catálogos sobre elas, dar nomes científicos e caracterizá-las, torná-las mais eficientes... Os jardins pessoais, as cercas vivas e os bosques tornaram-se moda entre os ingleses. Chama-nos a atenção a plantação de carvalhos como forma de simbolizar a longevidade das pessoas e de suas famílias...
A poluição dos ambientes devido à devastação e à industrialização levou os ingleses a darem mais atenção à conservação das matas... Os animais também passaram a ser encarados com olhos mais caridosos... Outros textos bíblicos também foram usados para justificar essa mudança... Trechos de Gênesis foram utilizados representando o Paraíso como ambiente de harmonia entre homem e animais... Possuir animais mimados tornou-se moda... Eles deviam ser tratados como “gente” porque faziam companhia, eram atenciosos e capazes de se sacrificarem para salvar o dono... Essas coisas... Daí à criação de jardins zoológicos e de botânica (alguns deles particulares) foi um passo bem pequeno.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Leia: O homem e o mundo natural. Companhia das Letras.

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