terça-feira, 5 de outubro de 2010

Estudo sobre os primórdios da colonização no Brasil destacando-se reprodução de tela de Meirelles

Por hoje deixo esses fragmentos de texto que extraí de Jorge Coli, especialista da Unicamp em relação aos “documentos iconográficos”, muito estudados quando a temática é natureza... O estudo desse texto será interessante para a análise de outros dois que pretendo postar amanhã com a reprodução de tela de Meirelles.

Fragmentos selecionados de “A primeira missa e a invenção da descoberta”, de Jorge Coli.

“A chegada das naves portuguesas pela primeira vez ao Brasil foi, é sabido, acompanhada por um documento excepcional. O escrivão da frota, Pero Vaz de Caminha, mandava ao rei de Portugal um relato narrando, passo a passo, do dia 21 de abril a primeiro de maio de 1500, a aproximação e abordagem das novas terras.

O caráter documental, por si só, conferiria a esta ‘Carta do achamento do Brasil’ um alto valor. Mas ela adquire um caráter mítico de ‘ato fundador’ do país a partir de duas qualidades que Caminha possuía largamente: legítimo e elevado talento literário vinculado à capacidade aguda de observação. ...

O cerne do texto concentra-se na cerimônia mais significante: a missa, que congregou navegadores e índios. Caminha detalha os preparativos, assinalando as diferenças de cultura: a grande cruz, feita por carpinteiros, o espanto dos índios diante da ‘ferramenta de ferro’, eles que possuíam apenas ‘pedras feitas como cunhas metidas em um pau entre duas talas, mui bem atadas’; a cruz, que repousava contra uma árvore, à espera de sua ereção, devotamente beijada pelos portugueses, imitados em seguida por dez ou doze nativos; a escolha de um lugar de destaque para a instalação do altar. ...

Meirelles havia partido para a Europa em 1853, quando recebera o Prêmio de Viagem da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro. Depois de um período romano, instala-se em Paris. Ali, em 1859, decide pintar a Primeira Missa no Brasil.

Seu mentor brasileiro era Araújo Porto-alegre, diretor da Escola de Belas Artes do Rio. Na esteira de Ferdinand Denis que, em suas obras sobre o Brasil propusera uma inflexão cultural de cunho nativo para o jovem país independente. Porto-alegre foi o primeiro catalisador do romantismo brasilianista exercendo atividades literárias, ao mesmo tempo que plásticas. Esse importante animador de uma cultura artística de cunho nacional insistira para que Meirelles se embebesse do texto de Caminha: ‘Leia cinco vezes o Caminha, que fará uma cousa digna de si e do país’. Insistia também para que reproduzisse uma natureza tropical, inserindo na paisagem imbaíbas, coqueiros, palmeiras. Preparava-se um ícone da história nacional.”

Um abraço,

Prof.Gilberto

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