domingo, 17 de outubro de 2010

Realidade operária brasileira no início do século XX


Retomando a seleção de fragmentos para uma discussão sobre a industrialização em nosso país, penso que são importantes esses de Everardo Dias, um historiador anarquista do começo do século passado.

Seu texto revela-nos as condições difíceis de trabalho e de moradia dos operários brasileiros... Mostra as péssimas condições dos bairros, a exploração de crianças nas fábricas e a constituição do operariado...

Fica evidente que podemos usar este material relacionando-o aos relatórios ingleses do começo do século XIX (publicados anteriormente).

http://www.ifch.unicamp.br/ael/banco_imagens/galeria_ael.php?codigo_foto=300&codigo_acervo=3 (17/10/2010;17:20)

Cerca de um século separam as duas realidades, mas diversas semelhanças se evidenciam.

Fragmentos de Everardo Dias – extraídos de História das lutas sociais no Brasil – citados em História da sociedade brasileira, de Francisco Alencar,
Lucia Carpi e Marcus Venício Ribeiro.

O desenvolvimento fabril brasileiro estava em sua infância. O exíguo grupo capitalista organizado em oligarquia patronal, que se havia abalançado à criação de fábricas (...) estabelecera seus cálculos sobre uma base salarial baixíssima, salário de escravo, exploração brutal do braço humilde que se encontrava em abundância no país, gente de pé descalço e alimentação parca: um punhado de mandioca, feijão, arroz, carne-seca – artigos alimentares baratos e abundantes no mercado -, café adoçado com mascavo e um pouco de farinha, pois pão era artigo de luxo, bem como o leite, a carne, os condimentos, os legumes (estes últimos desconhecidos na casa do trabalhador). E quanto à moradia, estava confinada a barracões em fundo de quintal, em porões insalubres, em casebres geminados (cortiços) próximos das fábricas (...) Esse proletariado fabril, em grande parte constituído de mocinhas, era o preferido para a indústria têxtil, trabalhando das 6 da manhã às 7 e 8 horas da noite, com uma hora intermediária para o almoço ... A anemia e a tuberculose faziam abundante ceifa anual (...) Na indústria metalúrgica ou mecânica, o número de menores também era predominante (...) Com exceção de um reduzidíssimo número de técnicos (mecânicos, ferramenteiros, moldadores, fundidores), o restante era constituído de carvoeiros, alimentadores de fornalhas, fazendo serviços quase suicidas pelas bronquites, pneumonias, reumatismos que iam contraindo. Os menores (em que se contavam rapazinhos de 8 anos) eram empregados em serviços pesados, alguns incompatíveis com sua idade e sua constituição física.

Um abraço,
Prof.Gilberto

Leia: História da Sociedade Brasileira. Ao Livro Técnico Editora.

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