quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Era dos Extremos - fragmentos selecionados - Eric Hobsbawm

Li Era dos Extremos em 1996, praticamente na época em que foi lançado. Logo passei a selecionar fragmentos do texto para trabalhar com os alunos. Um deles é exatamente este que estou postando hoje, sobre a Guerra Fria... E isso não é por acaso, já que nos últimos dias este tem sido o tema por aqui... Pode ser que alguém aí ex-aluno do Casais, ou mesmo do Samuel Wainer, tenha trabalhado este texto comigo. Desde 2005, pelo menos, não o retomo em sala de aulas.

Além de informações que tratamos nos dois últimos dias (corrida armamentista; ameaças de ataques nucleares; intervenções norte-americanas) neste texto de Hobsbawm temos aquele “lance” de 1962, quando a crise esteve por um triz em águas caribenhas. Os mais novos não têm ideia da tensão gerada pela instalação de mísseis soviéticos em Cuba... Eles foram fotografados por caças americanos... Colei uma imagem mais abaixo... Mas a leitura dos fragmentos revela o desfecho da situação.

Seguem os fragmentos:
Considerações de Hobsbawm acerca da Guerra Fria
A Segunda Guerra mal terminara quando a humanidade mergulhou no que se pode encarar, razoavelmente, como uma Terceira Guerra Mundial, embora uma guerra muito peculiar. Pois, como observou o grande filósofo Thomas Hobbes, “a guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar: mas num período de tempo em que a vontade de disputar pela batalha é suficientemente conhecida”. A Guerra Fria entre EUA e URSS, que dominou o cenário internacional na segunda metade do breve século XX, foi sem dúvida um desses períodos. Gerações inteiras se criaram à sombra de batalhas nucleares globais que, acreditava-se firmemente, podiam estourar a qualquer momento, e devastar a humanidade. Na verdade, mesmo os que não acreditavam que qualquer um dos lados pretendia atacar o outro achavam difícil não ser pessimistas (...). à medida que o tempo passava, mais e mais coisas podiam dar errado, política e tecnologicamente, num confronto nuclear permanente baseado na suposição de que só o medo da “destruição mútua inevitável” (adequadamente expresso na sigla MAD, das iniciais da expressão em inglês – mutually assured destruction) impediria um lado ou outro de dar o sempre pronto sinal para o planejado suicídio da civilização. Não aconteceu, mas por cerca de quarenta anos pareceu uma possibilidade diária. (...).

Assim que a URSS adquiriu armas nucleares – quatro anos depois de Hiroxima no caso da bomba atômica (1949), nove meses depois dos EUA no caso da bomba de hidrogênio (1953) – as duas superpotências claramente abandonaram a guerra como instrumento de política, pois isso equivalia a um pacto suicida. Não está muito claro se chegaram a considerar seriamente a possibilidade de uma ação nuclear contra terceiros – os EUA na Coréia em 1951, e para salvar os franceses no Vietnã em 1954; a URSS contra a China em 1969 -, mas de todo modo as armas não foram usadas. Contudo, ambos usaram a ameaça nuclear, quase com certeza sem intenção de cumpri-la, em algumas ocasiões: os EUA para acelerar as negociações de paz na Coréia e no Vietnã (1953, 1954), a URSS para forçar a Grã-Bretanha e a França a retirar-se de Suez em 1956. Infelizmente, a própria certeza de que nenhuma das superpotências iria de fato querer apertar o botão nuclear tentava os dois lados a usar gestos nucleares para fins de negociação, ou (nos EUA) para fins de política interna, confiantes em que o outro tampouco queria a guerra. Essa confiança revelou-se justificada, mas ao custo de abalar os nervos de várias gerações. A crise dos mísseis cubanos de 1962, um exercício de força desse tipo inteiramente supérfluo, por alguns dias deixou o mundo à beira de uma guerra desnecessária, e na verdade o susto trouxe à razão por algum tempo até mesmo os mais altos formuladores de decisões. (...).

O líder soviético Nikita S. Kruschev decidiu colocar mísseis soviéticos em Cuba, para contrabalançar os mísseis americanos já instalados do outro lado da fronteira soviética com a Turquia. Os EUA obrigaram a retirá-los com a ameaça de guerra, mas também retiraram os mísseis da Turquia. Os mísseis soviéticos, como o presidente Kennedy foi informado na época, não faziam diferença para o equilíbrio estratégico, embora fizessem considerável diferença nas relações públicas presidenciais. Os mísseis americanos retirados foram descritos como obsoletos.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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