sábado, 31 de dezembro de 2011

"Corações Sujos", de Fernando Morais - Primórdios da imigração japonesa

Sugiro que acesse http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/12/coracoes-sujos-de-fernando-morais_7337.html antes da leitura deste texto.

O relato sobre os “sete rebeldes” de Tupã nos leva a pensar sobre o seu passado e de que forma teriam se articulado para chegarem aos episódios que vivenciaram no início de 1946. O mais surpreendente é que fazia poucos meses que se conheciam... O texto leva-nos a entender que eles representavam uma significativa parcela da colônia japonesa que estava vivendo no limite da angústia por permanecerem numa terra estrangeira em que sofriam todo tipo de preconceito. É claro que o que os unia eram convicções ideológicas que, em breve, pretendo tratar aqui...
Morais nos remete a 1908, quando ocorreu a chegada da primeira leva de (165) famílias japonesas ao Brasil. Após desembarcarem no porto de Santos foram encaminhados à Hospedaria dos Imigrantes, no bairro do Brás, em São Paulo. De lá eram direcionados para o oeste paulista para o trabalho nas fazendas cafeeiras.
Havia um acordo entre os governos do Brasil e do Japão em relação à imigração. Mais 3434 famílias japonesas imigraram para cá nos anos seguintes, o que corresponderia algo em torno de 15 mil pessoas... A época da primeira Guerra Mundial (1914-1918) marcou um crescimento impressionante da colônia japonesa, e no período 1917- 1940 mais 164 mil japoneses entraram no Brasil.
A lista de traumas vivenciados pelos colonos é imensa... O sonho alimentado pelas promessas de um ambiente paradisíaco onde pudessem iniciar uma nova vida se tornava pesadelo tão logo começavam o cotidiano de árduo trabalho nas fazendas, morando em casebres e estranhando os gordurosos hábitos alimentares dos brasileiros, dos quais sofriam todo tipo de preconceito e discriminação. Os homens eram maldosamente chamados de “bodes” e as mulheres de “macacas”... Sofriam todo tipo de desprezo...
As autoridades governamentais, embora inicialmente favoráveis à imigração, eram praticamente ausentes em meio às cidades que surgiam e cresciam no oeste paulista. Os colonos japoneses eram abandonados à própria sorte... Assim, foi natural que cooperativas por eles criadas tomassem a frente na organização da vida. As agências nipônicas responsáveis pela imigração também se encarregavam de prestar assistências e garantir o acesso à terra... É claro que os japoneses desenvolveram atividades diversas e aos poucos vários foram "largando a enxada"... Alguns se destacaram em outros segmentos... Gengo Matsui, por exemplo, é citado no livro como alguém que se especializou em projetar filmes nipônicos às comunidades que visitava de tempos em tempos.
Então, apesar dos percalços da integração, os japoneses conseguiam certo alívio nas sociedades que organizavam, já que elas permitiam festivos encontros ocasionais. O autor também faz referências a entretenimentos locais que os estrangeiros se tornaram habitués, como o Jogo do Bicho e prostíbulos na região de Marília.
Políticos constituintes em 1934 apresentaram projetos de lei que inibiam a imigração dos asiáticos por considerarem-na “perigosa” à estabilidade nacional. Dom Sebastião Leme, cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, também fazia advertências sobre o modo de vida dos japoneses e sua “incompatibilidade” em relação aos procedimentos católicos. O certo é que a Constituição de 1934 determinou que o contingente de imigrantes japoneses ao Brasil tornou-se limitado por lei a, no máximo, quatro mil por ano. As pressões sobre os colonos estavam apenas começando.
A imagem selecionada para esta postagem foi extraída de http://oriundi.net/site/oriundi.php?menu=noticiasdet&id=9149 (31/12/2011;8:30).
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/01/sugiro-que-acesse-httpaulasprofgilberto.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

"Corações Sujos", de Fernando Morais - Prisões dos “sete samurais” de Tupã

Sugiro que acesse http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/12/coracoes-sujos-de-fernando-morais_29.html antes da leitura deste texto.

É claro que os sete acabaram aprisionados. Cada um deles trazia a bandeira militar do Japão (aquela em que o círculo/disco vermelho emite os raios em direção às bordas do tecido) amarrada ao corpo, na altura do peito... Novamente Jorge Okazaki participou como intérprete. Ele ouviu a advertência de Sakane para “manter a garganta limpa”, pois tinha o “coração sujo”... Para os rebeldes, aquele homem devia morrer, já que se mostrara traidor dos japoneses, da pátria e do imperador.
Mas momentaneamente a situação deles era muito complicada. O cabo Edmundo havia sido colocado em segurança num local desconhecido pela população. E eles foram encaminhados para Marília. O delegado dessa cidade, Renato Imparato, receberia os detentos com um documento em que o subdelegado José Lemes Soares relatava a necessidade de se obter a verdade dos prisioneiros, bem como encaminhar investigações sobre as atuações de sociedades secretas em Tupã, conforme o informante Okazaki aludia.
Em Marília, os sete foram interrogados por um delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) da capital. Conhecido como Doutor Rui, ele contava com a colaboração de um nissei, estudante de engenharia, Paulo Yoshikazu Morita, que logo ouviria de Sakane as mesmas ameaças aos “corações sujos”... Os interrogatórios eram constantes e repetitivos, porém os detentos não disseram nada além do que afirmaram anteriormente em Tupã... Os investigadores apresentaram panfletos e outros papéis em japonês que anunciavam a vitória japonesa na Guerra... Mas todos negaram conhecer o material ou qualquer sociedade secreta.
Pouco mais de vinte dias se passaram e, enfim, foram libertados graças à intervenção do criminalista Paulo Lauro, da capital, que possuía credenciais políticas de certa importância. Ele era acompanhado do advogado Quirino Travassos (de Tupã).
De volta a Tupã, foram recebidos como verdadeiros heróis pela comunidade japonesa... Masashige Onishi, fotógrafo, os retratou em diversas situações das homenagens recebidas. A fotografia da capa do livro é de autoria de Onishi... O livro traz ainda outras reproduções muito bem selecionadas.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2011/12/coracoes-sujos-de-fernando-morais_31.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

"Corações Sujos", de Fernando Morais - Episódios no início de 1946 na cidade de Tupã

Sugiro que acesse http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/12/coracoes-sujos-de-fernando-morais.html antes da leitura deste texto.

Fernando Morais começa sua narrativa com o pronunciamento do imperador Hiroíto de 1º de janeiro de 1946... Tratava-se de uma exigência dos vencedores da guerra... O país estava ocupado pelo exército norte-americano, chefiado por Douglas MacArthur. O imperador declarava aos súditos sua “condição humana” e o acerto das condições de paz com as potências aliadas. Há milênios os japoneses aprendiam em templos xintoístas e nas escolas que seus imperadores tinham a condição de soberanos divinos.
Esse início escolhido pelo autor permitiu uma introdução às condições que os “súditos dos países do Eixo” enfrentavam no Brasil ao tempo da Segunda Guerra, além de revelar a atuação de sociedades secretas em meio à colônia japonesa.
O pronunciamento do imperador fora transmitido para todo o planeta e, graças às Ondas Curtas do rádio, chegou aos mais distantes rincões. É bem verdade que poucos o ouviram... Foi o caso da longínqua Tupã, cidade próxima a Marília, marcada por intensa imigração japonesa. Um dos ouvintes, sitiante brasileiro, aproveitou a ocasião para zombar de um vizinho japonês, o senhor Shigeo Koketsu... Ao chegar à modesta e rústica  moradia de Koketsu (no bairro Coim, de colonização japonesa), o brasileiro deparou-se com uma algazarra festiva em que famílias japonesas comemoravam o ano 21 da Era Showa (do reinado de Hiroíto)... O sitiante brasileiro soltou ofensas aos japoneses, noticiou a derrota de seu país e fez piada sobre a “condição humana” daquele que consideravam divino... Percebendo a ousada comemoração dos imigrantes, que infligiam a lei também ao manterem hasteada uma bandeira do império, o brasileiro rumou direto à delegacia de polícia.

Não demorou para que a Força Pública chegasse à casa de Koketsu. O cabo Edmundo Vieira Sá chefiava a operação e ordenou a apreensão dos vários objetos que comprovavam o delito... Ele próprio quis extrair a bandeira japonesa (Hinomaru) do mastro de bambu... Seu gesto provocou a indignação dos que participavam da celebração reservada... Reclamavam que não se toca na sagrada Hinomaru. O cabo desonrou ainda mais a bandeira japonesa ao esfregá-la em suas botas sujas de excrementos... Não é preciso entrar em detalhes sobre a prisão dos que mais protestavam. Eles foram interrogados madrugada adentro pelo subdelegado José Lemes Soares, que foi auxiliado pelo intérprete japonês Jorge Okazaki (um comerciante e contador que colaborava com a polícia)... É importante perceber que o próprio Okazaki sugere ao policial perguntar aos presos sobre o resultado da Guerra... Todos são unânimes em responder que o Japão saíra-se vencedor... José Lemes Soares concluíra que se tratava de um "bando de malucos".
Mas o episódio renderia muito mais... O colaborador da polícia Okazaki ficou apavorado ao deparar-se com uma pichação com caracteres japoneses em frente à sua casa na manhã do dia 3... O enunciado o orientava a “lavar a garganta”...  Ele sabia bem o significado disso... Era uma ameaça de morte! Okazaki foi à delegacia e disse que em Tupã havia uma perigosa seita secreta em que japoneses fanáticos lançavam mão de recursos militaristas para defender seu imperador e a tese de que o Japão havia vencido a guerra... Ele corria risco de morte por ter colaborado com a polícia...


À noite, sete japoneses cruzaram as ruas da cidade e dirigiram-se à delegacia, carregavam porretes e catanas (ao estilo sabres samurais). O soldado Juventino Leandro, que estava de plantão, saiu com arma em punho e ameaçou atirar no caso de tentarem libertar os prisioneiros da primeira noite do ano. Eiiti Sakane (terceiro da direita para a esquerda), de 38 anos, líder do grupo, manifestou que não estavam ali para outra coisa senão para matar o cabo Edmundo, que havia desonrado a bandeira japonesa... O soldado disse que o cabo não estava em serviço... Shimpei Kitamura (O primeiro à esquerda), de 26 anos, que também integrava o grupo, constatou ser verdade o que o soldado dizia. Os “sete samurais” então seguiram para a pensão Santa Terezinha, onde morava o cabo Edmundo... Eles aterrorizaram a empregada e invadiram o local, assim souberam que também lá ele não estava. Ficaram sabendo que o cabo estava no clube militar e para lá se dirigiram... Porém o soldado Juventino tratara de comunicar o capitão Gil Moss (comandante da V Companhia do Exército) sobre a perseguição que o cabo Edmundo vinha sofrendo... Então, ao chegarem ao clube militar, os sete destemidos japoneses se depararam com um pelotão armado de fuzis... Sakane explicou que “queriam apenas matar o cabo que havia desonrado a bandeira japonesa”... É claro que foram cercados e acabaram encarcerados.
Os “sete samurais” de Tupã eram Shimpei Kitamura, Shiguetaka Takagui, Isamu Matsumoto, Sincho Nakamine, Eiiti Sakane, Isao Mizushima e Tokuiti Hidaka. Às exceções de Shiguetaka Takagui (contador) e de Eiiti Sakane (enfermeiro), os demais eram lavradores que mal falavam português.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2011/12/coracoes-sujos-de-fernando-morais_7337.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"Corações Sujos", de Fernando Morais

O livro apresenta um interessante enredo, repleto de reproduções de documentos, sobre os problemas que a colônia japonesa enfrentou em nosso país... Notadamente em relação às perseguições sofridas ao tempo da Segunda Guerra Mundial por se tratarem de “súditos de país do Eixo”.
Fernando Morais traça um panorama sucinto dos primórdios (1908) da colonização japonesa, passando pelas difíceis situações de explorações nas fazendas do norte paranaense e oeste paulista. Destaca as atividades que desenvolveram buscando a sobrevivência e as possibilidades de retorno à pátria...
Porém o principal assunto do material é o litígio que os colonos vivenciaram a partir dos eventos que marcaram o final da Guerra. De um lado estavam os que admitiam o fracasso japonês ao tempo da guerra e sua derrota; do outro estavam os orgulhosos membros da Shindo Renmei. Esses, além de não admitirem derrota japonesa, diziam exatamente o contrário (que o Japão saíra-se vitorioso), além disso, procuravam unir a colônia em torno do ideal Yamatodamashii, o espírito nipônico... Para os seus membros, o Japão estava construindo a Grande Ásia Oriental...
A História registra que houve um confronto que fugiu ao controle das autoridades locais, dado que a Shindo Renmei promovia sabotagens e assassinatos aos conterrâneos considerados traidores, a quem denominavam Corações Sujos.
Vamos ver se por esses dias escrevo um pouco sobre este muito bom (e revelador) livro.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2011/12/coracoes-sujos-de-fernando-morais_29.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Mas o que significa este Natal? - 24/12/2011; 10:00

Segue esta montagem sobre um texto que organizei há dois dias... Acho que ele não é uma Mensagem Natalina, apesar do Cartão ao final... Nem é uma Crônica de Natal... Tampouco é um texto didático... Em todo o caso vai permanecer registrado aqui. Compensa pelo trecho que selecionei de A Flauta Mágica, de W.A.Mozart.




Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Abadia de Murbach - um desenho







Este desenho também está em Caderno de Desenhos Perdido na Estante...
                                                                                                   
Talvez seja interessante acessar: http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/02/caderno-de-desenho.html
Para quebrar (um pouco) a sequência sem postagens, hoje decidi deixar este desenho baseado em imagem da Abadia de Murbach, localizada na Alsácia... Trata-se de um monumento histórico que testemunhou a estruturação do Império Carolíngeo e do Sacro Império Romano Germânico... A localidade era o centro de um vasto domínio, cunhava moedas e possuía exército... Sofreu invasões magiares... Tudo isso está na base do que foi o início do Feudalismo... Mas isso é uma outra História.
O desenho foi elaborado em 28 de dezembro de 1998 numa remota região próxima à Serra da Mantiqueira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 4 de dezembro de 2011

Exercício - Fragmento de Adam Smith e tirinha de Thaves - ENEM 2001

Segue este exercício que preparei para os alunos de Segundo Ano de Ensino Médio da Adolfo Casais neste ano. Escolhi uma questão do ENEM de 2001 que apresenta um fragmento de A Riqueza das Nações (Adam Smith) e uma tirinha em que os personagens Frank e Ernest dialogam... Ela é de autoria do cartunista Robert Lee Thaves, falecido em 2006. Podemos observar que há uma adaptação no exercício, dado que a questão da prova é objetiva. Além disso, para a atividade solicitada, os alunos puderam consultar os diversos registros que possuíam, livro didático e caderno de atividades. Para uma melhor apreciação da proposta, sugiro que acessem http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2010/12/questoes-para-reflexao-sobre-os.html.


QUESTÃO 1 (Extraído de ENEM 2001) “... Um operário desenrola o arame, o outro o endireita, um terceiro corta, um quarto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer a cabeça do alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; ...”  (SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Investigação sobre a sua Natureza e suas Causas. Vol. I. São Paulo: Nova Cultural, 1985).

A partir do fragmento de texto e tirinha acima, esclareça:
a) “divisão do trabalho” e sua importância para a Revolução Industrial.
b) Marx e a questão da Alienação.



Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

"O Julgamento de Sócrates", de I. F. Stone - Algumas considerações

Talvez seja interessante acessar as postagens sobre o filme Sócrates antes de ler esta postagem:

Li este O Julgamento de Sócrates há mais de quinze anos... Pensei numa releitura para postar essa sugestão, mas os afazeres do fim de ano não dão trégua. Em poucas palavras, podemos dizer que o livro de Isidor Feinstein Stone é de grande importância para aqueles que se debruçam sobre os textos relativos à Apologia de Sócrates, ou pretendem uma análise mais apurada a partir do filme de Roberto Rossellini comentado neste blog...
O jornalista I. F. Stone estudou a filosofia de Sócrates e os textos de seus discípulos (Platão e Xenofonte)... Também estudou grego e pesquisou a Democracia ateniense e a época em que o filósofo viveu. Stone produziu uma reportagem sobre o evento em questão, e procurou fazê-lo segundo os princípios da “isenção jornalística”... O autor leva-nos a refletir sobre o compromisso e lealdade que os discípulos de Sócrates tinham em relação ao mestre, assim, seus textos só podiam resultar em apresentações de um réu que está muito próximo da “santidade”...
Em O Julgamento de Sócrates, lemos sobre o mecanismo da Democracia em Atenas e o modo como o filósofo afrontou-a... E mais, Stone mostra que Sócrates considerava a cidade pouco mais que um rebanho e que não aprovava nenhuma forma de polis, fosse Democracia ou Oligarquia... O poder não devia ser entregue nem à maioria nem à minoria, mas sim “àqueles que sabem”... Para o filósofo e seus discípulos, o ofício de estadista devia ser obra dos filósofos... Stone relata diversos episódios em que Sócrates manifestara pouquíssima modéstia...
Um exemplo do que acima é citado: Péricles, que é considerado um estadista ao qual se devem a reconstrução e embelezamento da cidade, além de ter levado a Democracia ao ápice entre os concidadãos, é considerado um fracasso por Sócrates... O filósofo dizia que com Péricles o “rebanho humano” havia se tornado mais selvagem do que antes... Sócrates considerava-se um dos poucos (talvez o único) atenienses que tentavam praticar a verdadeira arte do estadista.
Leia: O Julgamento de Sócrates. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

"Defesa de Sócrates", de Platão

Depois dessa “overdose” do Sócrates de Rossellini, é natural sugerir aqui Defesa de Sócrates, texto relativamente curto que está em Sócrates, da coleção Os Pensadores, Nova Cultural, 1991. A seleção dos textos do volume é de José Américo Motta Pessanha, que idealizou a coleção.
Defesa de Sócrates é de autoria de Platão... Sua leitura leva-nos às emocionantes palavras do filósofo por ocasião de sua defesa no processo que sofreu em 399 a.C. Notamos que o filme de Rossellini tem como base esse texto e o Apologia de Sócrates, de Xenofonte, que também faz parte do volume... As Nuvens, de Aristófanes, finaliza a edição.
No filme vemos Sócrates censurar Xântipe que chora os momentos finais do marido... Ela dizia lamentar o fato de Sócrates ir injustamente para a morte... Espirituoso, o filósofo pergunta se ela preferiria vê-lo morrer justamente... O trecho foi retirado do texto de Xenofonte, mas o diálogo é entre Sócrates e o discípulo Apolodoro...
Leia: Sócrates; Os Pensadores. Nova Cultural.

Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Filme: Sócrates - depoimento do professor Roberto Bolzani Filho

Talvez seja interessante acessar as postagens sobre o filme Sócrates  (retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/10/filme-socrates.html)   antes de ler esta postagem:

O DVD Sócrates, de Roberto Rossellini, em sua edição brasileira apresenta um depoimento do professor Roberto Bolzani (USP). As palavras do especialista contribuem substancialmente para a compreensão do filme e sua contextualização, além de explicar a filosofia de Sócrates (que é o que mais interessa).  Segue uma breve síntese:
Os Diálogos de Platão são utilizados no roteiro do filme. Rossellini escolheu a figura de Sócrates marcante nos diálogos, sobretudo em Defesa de Sócrates (que é uma prosa corrida e apresenta “fielmente” a defesa proferida pelo próprio filósofo em 399 a.C) em relação às acusações interpostas por Meleto e Ânito: corrupção da juventude ateniense; negação dos deuses da cidade; introdução de novos deuses. Há também referências aos Diálogos Socráticos mais curtos. Esses são menos antigos que Apologia de Sócrates: Críton, que se desenvolve na prisão; Diálogos Aporéticos, nos quais o filósofo deixa dúvidas insolúveis; Fédon, um diálogo de maturidade, em que temos as afirmações referentes à sobrevivência da alma... Bolzani mostra que se trata de “tese platônica”, e não socrática.
Há os diálogos com os sofistas. Bolzani explica a rivalidade desses com Sócrates... Enquanto o filósofo é o “herói” que contrapõe a investigação da Verdade ao uso da retórica, os sofistas são difusores de um “falso saber”... São professores de retórica e sobrevivem do pagamento que recebem pelas aulas... Eles gozam de reputação, pois na Democracia ateniense, como não podia deixar de ser, o uso da palavra é livre aos cidadãos e a boa retórica podia levar o cidadão a bons postos...
Com Sócrates temos a “busca de um conceito universal”... O diálogo com Hípias sobre o Belo é exemplar... Sócrates pretende um “conceito moral”, enquanto o seu interlocutor se limita a “definir” Belo citando algo que “contenha beleza”... Sócrates pretende conhecer “o que torna as coisas belas”.
O professor explica, ainda, a crítica socrática que aparece no filme em relação à valorização das argumentações escritas em detrimento dos discursos orais... Platão se refere a isso no Diálogo Fedro... Em síntese, os discursos proferidos são mais eficazes no ensino filosófico, já que a oralidade permite a correção e a reformulação... Por sua vez o texto escrito é fixo, acabado... Até que ponto é possível dialogar com o autor a partir de seu texto impresso?
Por fim, outras considerações: A “Virtude Moral” é um conhecimento... Saber o que é Virtude permite o “Agir Virtude”; Há a crítica à Democracia ateniense, já que o modelo permite concluir que “todos sabem governar” (por sorteio todos podem chegar aos altos postos). Assim, do mesmo modo que pretendemos que um piloto de navio conduza a embarcação que nos leva, ou que um carpinteiro faça as cadeiras e mesas que usamos, também o governo da cidade deveria ser entregue apenas aos devidamente capazes (os filósofos); Sócrates procurou em Atenas os sábios (políticos, poetas e artesãos) e, a partir dos diálogos que manteve, notou que eles imaginavam possuir um saber que não detinham (presunção de saber)... O Oráculo de Apolo (Delfos) então estava correto: Sócrates é o mais sábio entre os homens... Isso porque dentre todos era o único a admitir a própria ignorância. O seu modo de ser e pensar provocou inimizades nos círculos mais importantes da cidade; Sócrates apenas “trazia à luz” (referência à maiêutica, trabalho de parteira exercido pela mãe do filósofo) a Verdade que seus interlocutores possuíam em sua alma; O filme de Rossellini foi rodado na Itália de 1970, num momento em que se debatia o papel dos intelectuais na sociedade... O filme é exemplar nesse sentido, pois assistimos Sócrates se posicionando contra os poderes estabelecidos na cidade... Refletimos sobre suas convicções e as exigências do poder público em relação a ele...
Indicação (14 anos)

Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 13 de novembro de 2011

Filme: Sócrates - Areté

Talvez seja interessante acessar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/11/filme-socrates-epilogo.html antes de ler esta postagem:


Podemos dizer que Sócrates foi sacrificado.
É, porque assumiu até o fim de sua existência o compromisso com a Justiça, o Bem, a Verdade... E não tendo renegado a força interior que o levava a defender a busca constante desses princípios, foi levado à pena capital... Ele podia manter-se perfeitamente ajustado à realidade de seu tempo e de seus concidadãos sendo mais um “experiente conselheiro” para os mais jovens sobre o “engajamento ideal” na polis. Os sofistas procediam assim... Porém, em vez disso, o mestre seguia a sua missão. E ela era perturbadora na medida em que levava os contemporâneos às reflexões sobre seus conceitos. O filósofo os deixava sem as suas certezas, já que cada um deveria buscar dentro de si a Verdade.
Podemos dizer que a realização de sua missão (em respeito ao chamado da força interior que o impulsiona) é o Areté. Podem-se tecer críticas ao modo despojado de desprezar os prazeres materiais que são constantemente proporcionados, mas (em Sócrates) é a concretização do Areté que nos traz a felicidade. Cada um possui a sua Areté e evidentemente ninguém precisa comprometer-se com Sócrates... Nem ele exige isso... Cada um pode buscar a felicidade onde bem entende. Mas há a necessidade de refletirmos sobre as suas bases. E suas conseqüências também... A felicidade que buscamos proporciona Justiça, Bem e Verdade?
O diálogo com Hípias é interessante... Ele se satisfaz em ser festejado por proferir “belos discursos”. Indagado sobre o que é a Beleza, diz que uma “bela virgem” define o conceito... Sócrates diz que uma mula ou uma panela também são belas... Hípias não entende a interposição de Sócrates e fala que não se pode comparar a “bela virgem” com mulas ou panelas. Porém conclui que os “belos deuses” são mais belos que as “belas virgens”... Ora, em tudo há Beleza quando reconhecemos a sua utilidade, importância na realização do Bem.
Também notamos Sócrates dialogando sobre o poder adquirido por políticos corruptos e que vivem buscando eliminar adversários a qualquer custo... Será que podem ser felizes sendo injustos? Não há proveito em se enriquecer e exercer poder impondo medo e tomando posse dos bens que pertencem ao público ou a um particular... O que um tipo assim colheria? Vivendo longe da Virtude, desconhecendo o Bem, conheceria apenas o terror de, a todo momento, sentir-se ameaçado por aqueles que perseguira no passado...
Lísias, o orador chamado a preparar uma defesa para Sócrates pretende que qualquer artimanha seja válida para livrar o “cliente” da acusação que pesa contra ele. Mostra que faria a defesa do filósofo bajulando os membros do tribunal, reverenciando os rituais de Atenas, além de promover a ideia de que nada do que Sócrates dissera outrora deveria merecer atenção mais séria e que, em verdade, ele se tratava de um velho inofensivo... Como sabemos, Sócrates não aceitou a proposta de Lísias principalmente porque, para livrá-lo da morte, o orador apelava para mentiras.
Indicação (14 anos)
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/11/filme-socrates-depoimento-do-professor.html
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Filme: Sócrates - epílogo

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Sócrates profere umas últimas palavras à assembleia... Ele saía condenado à morte e os demais saíam condenados pela Verdade, teriam a vida marcada pela injustiça que cometeram... Ele partiria para a morte, enquanto sua assistência para o cotidiano dos viventes... Qual o melhor destino? Ninguém ali poderia saber... O filósofo manifesta que por nenhum momento sentira pressões internas que exigissem mudar sua conduta... Via em toda aquela situação os desejos divinos. Manifesta, ainda, não temer a morte... Solicita apenas que quando seus filhos tornarem-se homens, acaso prefiram o dinheiro e honrarias à Virtude, sejam repreendidos pelos concidadãos.
Sócrates foi aprisionado para aguardar a execução. De sua parte os discípulos lamentavam e comentavam sobre o atraso (em mais de um mês) da embarcação divina... Seria isso intervenção dos deuses? Críton se mostra decidido a conspirar, corromper carcereiros e contratar guias para salvar a vida do mestre... Alguns acreditam mesmo que a fuga de Sócrates seria apreciada pela opinião pública.
Críton vai à prisão mais cedo do que habitualmente para estar a sós com o mestre. Ele fica admirado com o sono tranquilo do amigo prisioneiro... Depois de despertado, Sócrates é informado que a “embarcação sagrada” está prestes a ancorar em Atenas, mas ele fala sobre um sonho que lhe revelara que ainda teria dois dias entre os vivos. Críton apresenta ao mestre a ideia da fuga para a Tessália, onde há amigos que o aguardam... O problema para a execução de seus planos é a resistência do prisioneiro. Sócrates considera que também lá seria condenado à morte, além do mais a sua fuga seria uma “injustiça para com a cidade e suas decisões”. Em Tebas ou Megara, Sócrates seria sempre mal visto e como uma constante ameaça. Em seu juízo, a decisão do tribunal pode ter sido a melhor, dado que acreditava ter cumprido sua missão e já não lhe restava tanto tempo para viver... Esforçar-se em permanecer vivo seria algo ridículo e mesquinho. Sócrates morria não por culpa das leis, mas por culpa da injustiça praticada pelos homens.
Críton percebe-se convencido pelos argumentos do mestre e não mais insiste com a conversa de fuga... Na sequência temos uma grande afluência ao cárcere. A família de Sócrates e seus discípulos aparecem para umas últimas palavras e despedidas. Sócrates fora comunicado pelo tribunal que se preparasse para morrer, pois a hora se aproximava... Xântipe manifesta seu desespero aos pés do marido, que a tranquiliza... Os discípulos se encantam pelo fato de Sócrates demonstrar-se calmo... Têm tempo ainda para um a breve conversa sobre a morte, sobre a possibilidade de a alma também perder a vida... É a alma que dá vida ao corpo, ela é sempre portadora de vida... Há o contrário (que é a morte), porém a alma (sendo a fonte da vida) não pode receber a morte... Sendo a alma imortal, é necessário cuidar dela enquanto se vive... Se a morte fosse o fim de tudo seria algo bom para os maus, já que a “ruindade sumiria com eles mesmos”...
Do lado de fora da gruta (o cárcere era no interior de uma caverna) Xântipe consola os filhos dizendo-lhes coisas boas sobre o pai e de seu exemplo de coragem, serenidade na busca da Verdade e do bem comum... Xântipe diz aos meninos que Sócrates é um herói.
Depois de lavar-se, Sócrates pede que chamem a mulher e os filhos e recomenda aos discípulos que sejam um bom exemplo após a sua partida... O carrasco orienta que Sócrates ingira o veneno e que caminhe até sentir as pernas pesadas, então deveria deitar-se e esperar a cicuta agir. O mestre bebe desejando que os deuses o guiem na “viagem”...
Indicação (14 anos)
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/11/filme-socrates-arete.html
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 6 de novembro de 2011

Filme: Sócrates - o Veredicto

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Meleto diz aos cidadãos que Sócrates é um descrente que diz que o “Sol é uma pedra, enquanto que a Lua é igual à Terra”... Sócrates diz que o rapaz o está confundindo com Anaxágoras... Isso a parte, o filósofo mostra que seria impossível não crer nos deuses, dado que é impossível não crer em suas manifestações... Crer nos atos dos Deuses é, implicitamente, crer neles. A acusação de Meleto tinha como base a calúnia e os que assistiam aos debates notavam que Sócrates o colocava em contradições... Mesmo embaraçando o acusador, Sócrates sabia que corria o risco da pena capital... Mas mostrava-se corajoso perante essa possibilidade e discursa sobre a morte, dizendo que talvez ela seja o maior dos bens... A sabedoria é reconhecer a nossa ignorância sobre ela. O filósofo mostra que até o fim de sua vida não abandonará sua missão de raciocinar, embora isso às vezes possa trazer conflitos aos concidadãos, não abandonará sua missão divina... Sócrates não busca a piedade do tribunal, mostra que se os jurados se deixarem convencer pelos acusadores poderá ser levado à morte. Nada tem para convencê-los do contrário, apenas que isso poderá significar que a Verdade não mais se manifestaria entre os atenienses. Contudo, ele insistia em respeitar a decisão do tribunal, esperando sinceramente que ela fosse o melhor para todos e expressasse o Bem comum.
Na sequência ocorreu a votação, Sócrates observava os homens comuns dirigirem-se às duas urnas onde depositavam votos... É possível que eles tenham entendido bem pouco do que falara... Entre os discípulos poucos acreditavam seriamente que condenariam o seu mestre, embora soubessem que muitos ali fossem inimigos declarados de Sócrates. É Críton quem lembra que o mestre poderia pedir a comutação da pena em caso de acusação... Sócrates foi declarado culpado pela maioria dos votantes. Pedem que ele manifeste o que propõe para aliviar a pena... Sócrates manifesta surpresa ter sido condenado por pequena margem de votos e que, embora Meleto peça a pena de morte, considera que (para serem justos) os jurados não deveriam puni-lo, mas sim receber uma recompensa... Aqueles que fazem o Bem devem ir ao Pritaneu e é para lá que Sócrates deveria ser enviado, alojado e alimentado. Mas é claro que essas palavras são entendidas como provocações de quem menospreza o tribunal... Sócrates mostra que indenizações ou exílio nada significam para a sua condição de pobre e envelhecido... Se os próprios concidadãos não o suportam, o que esperar dos estrangeiros? A proposta de Sócrates foi submetida a votação e, obviamente, rejeitada. Então, dentro de 24 horas o filósofo deveria ser executado. Esse tempo seria majorado devido ao período de “purificação”, uma época de festividades em homenagem à vitória de Teseu sobre o Minotauro. Nessas ocasiões aguardava-se o retorno de uma embarcação vinda de Delos... Então, até que o ritual não se concretizasse, a execução de Sócrates seria suspensa.
Indicação (14 anos)
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Um abraço,
Prof.Gilberto

Filme: Sócrates - Julgamento; questionamentos ao acusador Meleto

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O júri é formado a partir do sorteio ordinário... Os jurados não sabiam com antecedência de qual processo participariam. O julgamento é público. A deusa Atena é saudada e invocada a iluminar com sabedoria os jurados. Meleto é chamado a proferir suas acusações contra o filósofo e propõe a pena de morte. Ânito também é chamado a relatar suas acusações e fala sobre os problemas que Atenas sofrera devido às imprudências de Sócrates no trato com os mais jovens, desviando-os das tradições... Depois é Sócrates quem tem a palavra para realizar a sua defesa. Muitos esperam eloquências de sua parte, mas ele diz que na situação em que se encontra não seria certo... Falará no tribunal como cotidianamente fala nas praças e ruas, de modo simples e sempre buscando a Verdade, assim a maioria presente não estranhará suas palavras.
Sócrates fala sobre o “personagem Sócrates” construído por adversários que há vinte anos vinham falando mal dele... Cita Aristófanes e diz que o tal personagem seria um ateu, um “andante das nuvens”... Classificações que (absolutamente) não refletem sua personalidade. Sócrates admite ser um ignorante, alguém que nada sabe e que apenas busca a Verdade... Seu conhecimento é “saber que nada sabe”, sendo assim não se vê em condição de cobrar pelos ensinamentos que transmite (dialoga) com seus jovens discípulos. O filósofo raciocina que poderiam questionar, então, o por quê do processo... Admite possuir sabedoria... O irmão de Clerofonte é chamado por Sócrates para dar testemunho sobre o episódio em Delfos, quando Clerofonte indagou à Pitonisa se havia no mundo alguém mais sábio do que Sócrates. A resposta foi a de que não havia ninguém mais sábio que o filósofo... Sócrates então retoma a sua defesa afirmando que desde então procurou conhecer os sentidos das palavras do oráculo. Conversou com uma série de poetas, políticos e outros “notáveis”, e chegou à conclusão de que aqueles simplesmente ostentavam a notoriedade sem, contudo, serem (de fato) conhecedores... Sócrates, ao contrário, “tinha consciência da própria ignorância” e isso o fazia mais sábio. O filósofo mostra que atraiu a inimizade de muitos porque, ao servir o deus que o obrigava a procurar a Verdade, levava pessoas muito poderosas a perceberem que (de fato) não eram sábias como sempre se julgaram.
Depois se dirige a Meleto, que “fingia se interessar por coisas das quais nada sabia”... Ora, se Sócrates corrompe a juventude, então o que haveria de melhor para a educação dos atenienses? Meleto não titubeia e responde que as Leis atenienses são o que há para serem ensinadas, sendo elas o “guia perfeito” para a juventude. Questionado por Sócrates sobre quem teria o conhecimento das Leis, Meleto diz que os juízes são os detentores do saber. Mas o filósofo quer saber mais e questiona se todos, ou apenas alguns entre os juízes têm conhecimento das Leis... Meleto está em meio à assembleia e, embora seja o acusador, percebe que não pode cair em contradições... Diz que todos os juízes têm conhecimento das Leis. Sócrates mostra que, potencialmente, todos os atenienses podem chegar à condição de juízes... Porém Meleto só vê ameaça aos jovens em sua pessoa... Ora, essa seria, então, uma situação de fácil resolução... O filósofo mostra a Meleto que sendo um “corruptor de jovens”, e fazendo isso voluntariamente, estaria fazendo um grande mal a si próprio, já que os discípulos se indisporiam em relação ao mestre... Então, ou Sócrates não corrompe a juventude, ou o faz involuntariamente... Uma culpa involuntária não seria competência do tribunal... O filósofo faz referência ainda ao fato de seus antigos discípulos, ou os parentes dos atuais seguidores, não apresentarem nenhuma acusação contra ele. Por que Meleto não os incluíra entre os testemunhos de sua acusação?
Indicação (14 anos)
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Prof.Gilberto

sábado, 29 de outubro de 2011

Filme: Sócrates - Sacrifícios aos deuses; Beleza; Piedade

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Vemos Sócrates e os discípulos passarem por um ritual de sacrifício ao deus Asclépio, um galo era a oferenda... A referida cena é que aparece em http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/10/filme-socrates.html. Era certo Teodoro quem solicitava a celebração pedindo a cura do filho que beirava à morte. Sócrates diz aos discípulos que a oferenda parece algo muito insignificante ante a grandeza dos deuses e suas benesses... Será que os deuses precisam dessas oferendas? O homem pede muita coisa e a satisfação dos próprios desejos... “Com um galo esperam até ser poupados da morte.” Críton, um de seus fiéis discípulos, diz entender o apuro pelo qual os seres humanos passam quando a questão central é a morte... Mas o filósofo diz que a morte pode ser suave se for “próxima da Verdade”.
Os cidadãos tomaram conhecimento das acusações contra Sócrates feitas por Meleto. A caminho da porta do Arconte para saber sobre as acusações que sofre, Sócrates encontra Hípias (que segue a um Ginásio onde proferirá um “belo” discurso). Este o convida para que possa ouvir sua bela retórica... Sócrates lamenta não poder participar, mas permite-se algum tempo para discutir com o outro o conceito de Beleza. Sócrates deixa Hípias tão confuso com suas indagações que o encontro termina sem este explicar ao filósofo o que entende por BelezaCom um outro, Sócrates conversa sobre a Piedade. Este abrira um processo contra o próprio pai... A discussão com o filósofo girou em torno do que é (ou não) agrado dos deuses... Então, o que agrada aos deuses seria piedoso... Mas o interlocutor mesmo revela que uma mesma decisão que tomamos pode agradar determinado deus e desagradar outro (já que eles próprios envolvem-se em conflitos), dessa forma não conseguiu chegar a uma conclusão e retirou-se embaraçado.
Sócrates é aconselhado a arranjar um orador/advogado que possa defendê-lo no tribunal. Lísias é chamado. O orador mostra como fará a defesa do filósofo que, em síntese, concentra-se em legitimar os rituais atenienses e garantir que o acusado é um inofensivo, possui um passado patriótico, e já é velho demais. Sócrates não concorda com a proposta. Para Sócrates, não é possível permitir o ataque aos acusadores com mentiras (apenas) para garantir a continuidade de sua vida ameaçada . A vida só merece ser conservada se estiver balizada na Verdade. A procura da Verdade é que faz a vida de um homem ser alegre. Lísias diz que Sócrates está louco por dispensá-lo da defesa, já que os atenienses são sensíveis à “bela oratória”. Mas Sócrates está irredutível, ele mesmo fará a própria defesa.
Indicação (14 anos)
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Prof.Gilberto

Filme: Sócrates - Polêmicas com Sofistas

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Trasíbulo foi quem liderou os atenienses no combate aos tiranos e seus aliados de Esparta... Crítias foi morto na ação dos insurrectos na batalha do Pireu... Os discípulos de Sócrates viram nesses acontecimentos um alívio para o mestre, que vinha sofrendo perseguições políticas por desobedecer às ordens de Crítias... Sócrates seria condenado à morte pelo tirano... Porém, com o restabelecimento da Democracia, veio a anistia política... O Pritaneu voltaria a reunir os prítanes eleitos pelos diferentes demos. Na prática significava que eles governavam a cidade com os magistrados arcontes.
A cada dia o chefe do Estado (Epístato) era escolhido entre os prítanes, e isso ocorria por sorteio. Qualquer um poderia chegar ao poder supremo (apenas por um dia), guardando os segredos do Estado e as chaves do templo onde se guardava o tesouro público. Os atenienses acreditavam que os deuses definiam os resultados dos sorteios... Sem dúvida, algo complexo... De volta às ruas, Sócrates volta a sofrer provocações sobre sua existência marcada por polêmicas em relação às crenças das “pessoas comuns”. Há um episódio em que um ator narra em público um diálogo de Aristófanes em que o filósofo aparece como um caloteiro e usa de suas argumentações e questionamentos para se livrar das cobranças... Seus discípulos querem impedir a narração, porém o mestre não se importa e até se diverte... Novamente provocado, diz que “aquele Sócrates da narrativa” não existe e que apenas ouve a voz da razão, diferentemente dos demais cidadãos que creem em “presságios”... Os sofistas também pressionam o filósofo e, além de criticá-lo por nada cobrar dos discípulos, de forma a atrair um maior número de seguidores, retomam as críticas em relação a Crítias e seu vínculo passado... O tirano teria aprendido com Sócrates que “os deuses são invenções dos homens”... Mostram que Platão, seu discípulo, estivera a proclamar que o ideal para a cidade seria atribuir o seu governo a filósofos. O mestre afirma que Platão tem razão e pergunta aos sofistas (e entre eles está Meleto) se escolheriam um barqueiro, sapateiro ou médico por sorteio... Sócrates é alertado sobre o desprezo às tradições da pátria...
Ele e suas ideias representavam um risco...
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Prof.Gilberto

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Filme: Sócrates - Política

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Pois é... Diziam que o tirano Crítias, e Alcibíades antes dele, ex-discípulos de Sócrates, cometiam injustiças aos atenienses... Muitos eram levados à tortura e à morte. Claro que isso era motivo de críticas ao filósofo.
Sócrates insistia com os discípulos que aqueles tiranos haviam se afastado dos deuses... A Política não deveria consistir em dominar, mas em propagar a Justiça. A maior felicidade seria “ser justo”... A ignorância acerca do Bem leva certos políticos a cometerem injustiças. É isso que os faz permanecer em estado de ânsia constante...
Mas a injustiça, exercida normalmente com o recurso da força que de fato possuem, revela sua fraqueza (o medo que têm de estarem cercados de inimigos). Haverá proveito em exercer poder dessa maneira? Quando tiverem perdido o poder só haverá a lembrança dos crimes que cometeram... E mesmo que tenham assim se enriquecido... Deverão sofrer por desconhecerem o Bem... Essa é uma das loucuras com as quais os políticos corruptos (por exemplo) devem conviver... O que deve contar para o administrador da pólis é servir de exemplo a todos os seus concidadãos... Só o homem de virtude tem condições de assim proceder... Aqueles até darão a vida para defender-lhe. Enfim, Sócrates alerta aos seus discípulos que a Virtude é o conhecimento (e a prática) do Bem.
O filósofo é intimado a comparecer ante o próprio Crítias... Fica sabendo que está proibido de se dirigir aos jovens. Sócrates argumenta que não deseja nenhum poder, que os leva a refletir e a buscar a Verdade e a Justiça... Procura mostrar que o seu cotidiano é o de vivenciar diálogos e “extrair” a Verdade que já está no íntimo daqueles com quem conversa... É algo como o ofício de parteira, exercido por sua mãe... Ele pergunta “até que idade os homens são jovens?” e lhe respondem que até os trinta anos... O velho Sócrates indaga, então, se não poderá conversar com algum comerciante jovem acaso queira (por exemplo) comprar azeitonas... É claro que veem nisso mais uma de suas ironias. Colocam Sócrates e outros cidadãos atenienses intimados numa delicada situação, já que deveriam comprovar fidelidade à pátria e lealdade ao povo ateniense com atitudes. Um certo Cleon de Salamina estava sendo procurado porque fora condenado à morte, então sua tarefa seria capturar o homem... Vemos que o grupo sai determinado a cumprir a tarefa, mas Sócrates recusa-se a fazê-lo.
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Prof.Gilberto

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