quarta-feira, 27 de junho de 2012

Presídio da Ilha Anchieta e os 60 anos do massacre à rebelião dos detentos

Este texto tem inspiração em Rebelião da Alcatraz brasileira faz 60 anos, do jornalista Artur Rodrigues (O Estado de São Paulo, Caderno Cidades/Metrópole, de 24 de junho de 2012). Rodrigues contou com a colaboração de Samuel Messias de Oliveira, tenente da reserva da Polícia Militar (autor de Ilha Anchieta – Rebelião, Fatos e Lendas) e de Rose Saconi (do arquivo de OESP).

Por ocasião das postagens sobre Corações Sujos, de Fernando Morais, o presídio da ilha Anchieta (Ubatuba) foi citado diversas vezes porque para lá foram encaminhadas as lideranças da Shindo Renmei e seus colaboradores mais graúdos. É só digitar presídio da Ilha Anchieta “ali na busca” neste blog que você encontrará vários textos. Os episódios aqui tratados deram-se anos depois daqueles referidos em Corações Sujos.
O antigo presídio da ilha Anchieta foi fundado em 1908 e, no começo, tinha o nome de Colônia Correcional da Ilha dos Porcos. Só em 1934 é que passou a se chamar Anchieta em homenagem ao centenário do missionário jesuíta português (personagem marcante no litoral da região Sudeste ao tempo da colonização do Brasil... A propósito, não há como tratar da história da fundação de São Paulo sem citarmos Anchieta).
Devido ao seu isolamento, o presídio era considerado extremamente seguro. Lugar do qual a fuga era impensável... Não é por acaso que a ilha era conhecida como Alcatraz brasileira. Conta-se que a primeira rebelião no lugar data de 1933, quando 100 presos realizaram depredações e chegaram a tomar conta da situação, mas foram devidamente controlados, tanto é que não se registraram mortos no episódio.
No dia 20 de junho de 1952 ocorreu a mais sangrenta rebelião de presos da ilha Anchieta. Tudo começou depois que a direção do presídio determinou que 117 presos, acompanhados por dois soldados, fossem buscar lenha... Os detentos dominaram os soldados e mataram um deles. José Salomão das Chagas, soldado da Força Pública, era sentinela e trocou tiros com os rebelados. Quatro deles morreram logo no começo... A turba assassinou outros dois soldados a pauladas... Salomão das Chagas foi deixado apenas com as roupas de baixo, mas sobreviveu aos episódios.
Álvaro da Conceição Carvalho, um detento de alcunha Portuga arquitetou a sedição... Nenhum carcereiro ou a direção do presídio desconfiava de movimentações de motim organizadas por ele porque o seu comportamento era dos mais exemplares... Depois de iniciado o movimento, a chefia coube ao detento João Pereira Lima, esse sim era daqueles que podia se esperar atentados à ordem local. Seus comandados tomaram todo o arsenal da polícia, que contava com quatro metralhadoras e 80 fuzis... Os que ainda estavam nas celas foram libertados... Os que eram rejeitados pelos rebeldes foram assassinados. A colônia, então, passou a ser dominada por mais de 450 marginais... Conta-se que fizeram “400 litros de caipirinha com álcool, éter e limão”. Planejaram uma fuga numa barcaça que chegaria à ilha... Porém os soldados da embarcação notaram os movimentos suspeitíssimos e passaram ao largo, sem ancorar.
Como o plano havia falhado, os rebeldes decidiram se apoderar de uma embarcação menor. Mas ela ficou superlotada e começou a afundar... Decidiram lançar os feridos ao mar... Seu sangue atraiu tubarões... Dezenas de criminosos foram mortos também por tiros de soldados e dos próprios comparsas. Ao todo, 108 detentos e dez funcionários foram mortos durante a rebelião.
Além de Portuga e Pereira Lima, outros detentos se destacaram na trama do presídio da ilha Anchieta, entre eles, Diabo Louro e Sete Dedos.
O Estado de São Paulo, de 21 de junho de 1952, destacou a ocorrência em seus textos.
Em 1955, três anos depois da rebelião, o presídio foi fechado... Os presos foram encaminhados à Casa de Custódia de Taubaté, onde se diz que uma facção criminosa teve seu embrião...
O massacre do presídio da ilha Anchieta só foi superado pelo do presídio do Carandiru (região norte da cidade de São Paulo), em 1991, que somou 111 vítimas...

Um abraço,
Prof.Gilberto

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