sábado, 18 de agosto de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir. Henri Perron conversa com Nadine; ela quer saber se deve se inscrever no PC; ele gostaria de outro diálogo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_17.html antes de ler esta postagem:

Do outro lado da linha, Nadine quis saber se Henri se esquecera do encontro combinado... O dia dele não havia sido dos melhores. Então até pensou que gostaria que a noite fosse mais agradável com a mocinha... O trabalho no jornal e suas reflexões desviaram completamente a sua atenção. Estava atrasado em pouco mais de quinze minutos, tempo suficiente para Nadine se irritar.
Ele chegou ao café combinado e logo teve início uma pequena discussão... Ela exagerava ao se considerar abandonada, admitindo que o atraso pudesse indicar um sintoma de que nunca mais o veria... Ele também se sentiu pressionado pelas exigências de Nadine... Todos achavam que tinham direitos sobre ele! Depois ponderou... Pensou sobre os vários traumas que tipos com a idade dela (18 anos apenas) já haviam sofrido, então era normal que sua angústia na espera se sobrecarregasse pelas pesadas recordações da guerra e ocupação.
A garota disse que poderiam comer bifes, e que ele não perdera nada ao não ter ido ao Marconi... Henri “adivinhou” que Vincent bebeu até se embriagar... Ela defendeu o jovem amigo e disse que por ser “tão diferenciado dos outros” tinha direito a extravagâncias. Ela quis saber sobre como foi o encontro de Henri com Tournelle. Ele sintetizou dizendo que o chefe de gabinete “não poderia fazer nada”... Nadine disse que “então não valeu a pena”... Henri apenas concordou, estava farto de seu dia.
Passaram a falar sobre o texto do jovem escritor Peulevey, que Nadine leu e trouxe para o encontro. Henri quis saber se podiam publicar trechos... A moça disse que o aprovava na íntegra... “Coisas muito divertidas da Indochina”... Henri perguntou se ela também não gostaria de escrever, essa seria uma tarefa que a ajudaria a “defender-se na vida”. Ela argumentou não ver necessidade, e nem talento para isso... Reclamou que Henri e Dubreuilh, seu pai, eram tão viciados em escrever que achavam que todos deviam fazer o mesmo... Folheando o texto do jovem escritor, Henri soltou um elogio, afirmando notar ali um grande potencial... Nadine voltou à carga considerando que o sentimento de Henri pelos jovens era puro egoísmo, já que só demonstrava por eles interesse literário (ele e o pai também).
Na sequência, Nadine pergunta sua opinião a respeito do trabalho que iniciou ao lado do pai... Henri nada pensava, mas respondeu que ela poderia prosseguir os estudos. De alguma forma, Nadine considerava que fazer-se secretária a tornava independente... Henri via certa incoerência, já que a moça desprezava os pais... A convivência mais próxima no trabalho com o pai apenas se justificava estratégico se oferecesse oportunidades para afrontá-lo com maior frequência... Para Henri ela devia fazer o que achasse melhor, pois era “juiz de si mesma”...
Enquanto a outra seguia falando de si, ele não pensava em nada exatamente. O que o agradaria era atravessarem para o outro lado da rua para passarem a noite no hotel localizado à frente do jornal... Isso compensaria a intensidade de seu “dia sério”. E foi isso o que sugeriu... Mas Nadine mostrou-se indignada, disse que só queria conversar.
Ele pediu um conhaque enquanto ouvia sobre o interesse que ela tinha de ingressar no PC... Henri disse que não tinha opinião a respeito, sendo assim, para ele, ela devia fazer o que achasse melhor... Nadine julgou que ele não dava importância a ela... Seu interesse naquele momento era levá-la para a cama... Não disse mais nada a esse respeito. Mas ela insistia em ouvir uma opinião sobre seu engajamento, então Henri disparou que passava os dias discutindo e que isso não levava a nada.
De tanto insistir em saber a opinião dele, Nadine ouviu que, se efetuasse sua inscrição, dificilmente permaneceria no partido... Ela justificou dizendo que se pertencesse ao partido não teria tantos traumas ao deparar-se com situações de injustiça e pobreza (citou a viagem a Portugal)... Henri sabia que isso não era solução, destacou suas diferenças com o PC, mas ainda assim, se era isso o que ela queria, deveria se inscrever. Demonstrando irritação, Nadine disse que, ao mesmo tempo em que ele julgava o PC inadequado para si, não via importância alguma no ingresso dela.
De fato a conversa dos dois não ocorreu num clima favorável... Após um momento de trégua, ela pediu que passasse o próximo final de semana ao seu lado... Ouviu um “não” justificado pelas obrigações de costume. Nadine começou a dizer que não entendia como é que ele vivia com Paule, não a amava mais e, ainda assim, tinha pena dela... Na sequência pegou sua bolsa e saiu, teve tempo de dizer que não o amava... “Como se pode amar um intelectual?”... “São todos fascistas”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_24.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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