quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir. continuação da conversa com Lambert; incertezas e decepções do moço no pós-guerra

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html antes de ler esta postagem:

 Na sequência Lambert passou a falar sobre sua condição pessoal de pós-guerra. Disse que não se via “correspondente de paz”... Não conseguia se “encontrar” mais no jornalismo nos tempos que viriam... Para ele, a condição de Henri enquanto escritor do próprio periódico era menos conflitante e que, além disso, o amigo curtiria desafios, aventuras...
Suas reservas eram em relação a como ganhar a vida a partir de um ofício... Revelou que a mãe deixara-lhe recursos mais que suficientes... Mas isso também lhe pesava... Só de pensar em viver como um capitalista, sentia a maçada. Henri procurou tranquilizá-lo mostrando que todos do círculo de amigos tinham como viver, sem se importar com supérfluos, não lhes faltava dinheiro... Explicou que é mais ou menos assim mesmo, engaja-se politicamente para tentar mudar as situações de injustiça que se verificam... Vai-se vivendo.
Lambert questiona se não devia recusar o dinheiro deixado pela mãe... Ao mesmo tempo afirma temer a condição de pobreza. Henri aconselha-o a usar o dinheiro de forma que este proporcione satisfação... Mas o rapaz revela-se desapontado com tudo (mulheres, livros, viagens, discussão dos amigos...). Ele não consegue distinguir nitidamente o bem do mal. Cita a decepção com os americanos que, após a libertação, demonstraram-se brutos e racistas. Os soviéticos também manifestaram atitudes dúbias ao fuzilarem certos colaboracionistas ao mesmo tempo em que preservavam outros, de mesmo naipe, de forma escancarada.
Lambert explodia a partir de suas inquietações, não vislumbrava o que haveria de verdade nos valores como a liberdade, igualdade, justiça política (quais?)... Concluiu nervosamente que uma moral bem alicerçada era mais necessária do que tudo isso. Sendo assim, o próprio Henri deveria colaborar nessa direção, em vez de ajudar Dubreuilh a “redigir manifestos”.
Henri argumentou que a moral implica atitude política, e que esta é carregada de vida. Mas para o decepcionado Lambert a política é esvaziada, carece de conteúdo concreto... O significado do “concreto”, naquele instante, se divisava nos indivíduos (e não no futuro e em coletividades)... Os dois argumentaram sobre os seus desacordos em relação a isso.
Lambert deu vários exemplos para clarear sua opinião... Falou sobre os colaboracionistas que, quando avaliados politicamente (de modo abstrato) eram definidos como canalhas traidores, mas que quando “focados mais de perto e em particular”, via-se que não era a mesma coisa... Henri percebeu que o moço queria falar sobre o próprio pai.
O velho pai de Lambert seria processado e certamente condenado... Sem que os dois entrassem em maiores detalhes, ficamos sabendo que ele participou da colaboração econômica ao tempo da ocupação... Porém a inimizade de Lambert em relação ao pai vinha do fato de ele rejeitar Rosa, sua namorada judia, a quem teria denunciado. Mas o tempo passou e Lambert acabou convencido de que o pai nada teve com o infortúnio de sua namorada. Entendemos o espanto de Henri, que nos revela a mudança extraordinária pela qual os sentimentos do moço haviam passado... Dois anos antes, Lambert desejava a morte do próprio pai. O moço se justifica dizendo que por aquele tempo fora influenciado por amigos como Vincent, mas depois que conversou com o pai chegou à conclusão de que estivera equivocado.
Henri viu que Lambert pretendia uma reconciliação com o pai, mas temia ser interpretado como infantil pelos demais. Então o aconselhou a agir em conformidade com os sentimentos... Pedir perdão ao pai, reatar os laços. Lambert gostou tanto do que ouviu que sugeriu a Henri que escrevesse mais sobre essas coisas em seus livros, pois acreditava que muitos jovens vivessem dilemas semelhantes aos seus. É claro que Henri não compartilhava dessa ideia de tarefa de “ensinar uma arte de viver”. O outro esperava apenas alguns ensinamentos sobre “o que é digno de ser amado sobre a terra”. Livros bonitos fariam bem à juventude.
Henri rebateu a empolgação de Lambert afirmando que a literatura não é necessariamente alegre... Falaram sobre a Literatura enquanto Arte que colabora, constrói. Lambert querendo dizer que mesmo as coisas mais tristes, quando bem escritas, podem ser encaradas sob este ponto de vista. Henri mostrava-se com os “pés fincados na realidade” e citou o exemplo de sua viagem a Portugal, onde dificilmente um escritor desviaria os olhos das dificuldades enfrentadas pelos humanos... Lambert lamentou essa condição de termos de aguardar, para uma “idade de ouro das artes”, as manifestações mais belas e menos amargas. Henri finalizou dizendo que se dedicava, não sem dificuldades, a um “texto gratuito” para o seu prazer.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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