sábado, 1 de setembro de 2012

“Os bandeirantes”, de Mustafa Yasbek – Série O Cotidiano da História – Pedro Bicudo decide participar da “grande bandeira” de Fernão Lobo Leme

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-bandeirantes-de-mustafa-yasbek-serie.html antes de ler esta postagem:

A rigor, a história narrada nos remete ao início do século XVII, quando São Paulo era ainda uma pequena Vila (São Paulo de Piratininga)...
Um dos personagens centrais de Os bandeirantes é o barbeiro e “prático de medicina”, Pedro Bicudo. Pois é isso mesmo, ao tempo da colonização, aqueles que lidavam com a navalha para escanhoar também realizavam sangrias e preparavam unguentos medicinais.
O texto inicia descrevendo uma fria noite de julho, o ano é 1629... Esse Pedro Bicudo estava prestes a anunciar uma importante decisão ao seu compadre Sebastião Pires. Sabia que um cirurgião formado estava para se instalar na vila, e isso significava que certamente perderia o sustento... Ele pensava sobre essas coisas enquanto seguia pela Rua de São Bento para chegar à casa de taipa bem simples onde morava Sebastião Pires, que era escrivão da Câmara Municipal da Vila...
Os dois homens beberam, comemoraram e conversaram sobre a empreitada da qual participariam, e que poderia transformar “para a melhor” suas vidas... Sebastião Pires falou com animação sobre a “grande bandeira” organizada pelo respeitado fazendeiro Fernão Lobo Leme. Bicudo estava ali para confirmar que participaria, assim como muitos homens da redondeza, da expedição que tinha como destino a província espanhola de Guairá para capturar índios guarani que viviam nas comunidades organizadas por padres jesuítas (as chamadas missões, ou reduções). A “grande bandeira” só partiria três meses depois, mas deviam se preparar... Principalmente porque Pires era homem de confiança de Lobo Leme... Bicudo, devido à sua experiência de “prático de medicina”, certamente teria importante ocupação na expedição.
Eles estavam animados porque sabiam que a captura dos índios guarani era um bom negócio... Podiam vendê-los como escravos, ou mesmo explorá-los numa fazenda que viessem a formar... Terra não era problema, havia grandes extensões nas imediações de Piratininga... Já se imaginavam produzindo e vendendo cereais e carne salgada por toda a Capitania de São Vicente.
Não podemos dizer que Bicudo tenha saído completamente animado da casa de seu compadre... Por um lado sabia que necessitava encontrar uma alternativa para a sua sobrevivência, e a expedição de Lobo Leme vinha a calhar, mas por outro não se reconhecia atuando no enfrentamento armado. Ele era mesmo um tipo diferenciado... Já havia lido quatro livros inteiros, em comparação com os demais, isso o tornava um “intelectual” na Vila... Não tinha intimidade com armas de fogo e as conversas que ouvira dos que participaram de bandeiras anteriores o apavoravam.
Mas era preciso encarar a realidade... Nos dias seguintes comprou uma escopeta por vinte mil réis (valor de duas casas de taipa na mesma rua onde morava, atrás da igreja da Misericórdia)... Por se tratar de perigosa investida, que colocava em risco a sua vida, preparou o testamento declarando bens e dívidas, e deixou-o ao encargo da mulher, Suzana. Esta o ajudou com a convicção de que o marido poderia estar partindo para a morte... Mas mulheres não tinham direito de opinar... Os homens é que decidiam... Suzana era prendada nas mais diversas tarefas que uma boa mulher tinha de desempenhar, sabia ler e escrever... Isso a diferenciava das demais mulheres da Vila... Mas o engajamento do marido na “grande bandeira” poderia alterar sua vida... Muitos dos que retornavam de uma bandeira encontravam a mulher formando outra família, com novo marido e até filhos... Nesses casos, a longa espera trazia indefinição... Quem é que podia saber se os que partiram voltariam? Poderiam morrer atacados por doenças, feras ou índios... A mulher, então, ficava livre para outros rumos em sua vida.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/09/os-bandeirantes-de-mustafa-yasbek-serie_3.html
Leia: Os bandeirantes. Série O Cotidiano da História. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto 

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