O volumoso livro pode ser o primeiro de crianças
que já aprenderam a ler e demandam material mais denso... Seu instigante
conteúdo torna a tarefa ainda mais agradável, sendo facilmente finalizado em
algumas horas.
As ilustrações de páginas
inteiras não são poucas e têm razão de ser... Mais que quebrar a sequência textual,
elas nos transportam para cenários da Paris do início da década de 1930,
proporcionando um diálogo coerente entre os gêneros literário, animação, ilustração...
Não há como não destacarmos
que enquanto somos presos à trama, somos também brindados com a História do
Cinema em seus primórdios, que vai sendo revelada. Não há como não rendermos um
tributo ao genial Georges Méliès...
É o professor H.
Alcofrisbes que inicia a narração sobre Hugo Cabret, um pobre órfão que em 1931 (momento em que os fictícios episódios se passam) contava apenas 12 anos... Alcofrisbes nos convida às próximas páginas
orientando-nos a nelas “adentrar” como se estivéssemos na escuridão do cinema
para o começo de um filme... Essa “atmosfera” também não é por acaso.
As imagens seguem de uma
página a outra... É noite e o nosso olhar tem o foco transferido da lua cheia
para a cidade... Estamos em Paris (ao longe vemos a torre Eiffel)... Logo o dia
amanhece e notamos a presença do sol... No primeiro plano está a movimentada
estação de Montparnasse... Notamos uma multidão
que segue de um lado para outro em seu movimento calculado, sobraçando malas,
cada um está ali sabendo bem para onde segue... Sabemos que o dia é frio porque
as pessoas vestem casacos. Em meio à multidão vemos Hugo Cabret caminhando
resolutamente pelas escadas e corredores... Ele conhece bem o ambiente, vemos
que chega a uma área mais restrita porque nela não vemos fluxo de pessoas...
Com a certeza de que não está sendo observado, o
menino abre um compartimento de entalhes vazados (como um respiradouro) na base
da parede... Ele entra e assim tem acesso aos mecanismos de um dos relógios da
estação... Vemos que são 13:25 e é do relógio que observa a lojinha de
brinquedos que funciona na estação.
A loja de brinquedos
é mantida por um velho senhor... Já fazia algum tempo que Hugo observava a loja
e aguardava os momentos adequados para se aproximar e pegar brinquedos dali... O
menino vê que o velho está mais agitado e imagina que ele tenha notado que
peças de seu acervo estavam sendo subtraídas... Com ele está uma frequentadora
da loja que sempre aparecia por ali com um livro debaixo do braço. Hugo imagina
que ela fosse da família do velho porque as visitas eram constantes e ela tinha
autorização para entrar na loja... Mas a visita do dia parecia não ser agradável
porque eles discutiam (talvez o velho imaginasse que a menina tinha alguma
coisa a ver com os sumiços dos brinquedos)... Logo a menina saiu.
O velho ficou só, e a
monótona falta de clientes o levou ao cochilo. O garoto sabia que aquele era o
momento ideal, então saiu do seu observatório arrastando-se pela parede. Pela
saída de ventilação alcançou o corredor que dava para a loja... Mas não era
qualquer brinquedo que o menino buscava, então a sua intromissão não era tão
breve quanto desejaria... Aconteceu que o velho despertou e não teve
dificuldades para agarrar Hugo. Aos gritos de ladrão, implorava a presença do
inspetor da estação ao mesmo tempo em que exigia que o menino esvaziasse os
bolsos. E deles saíram várias quinquilharias (parafusos, cartas de baralho
amassadas, peças de relógio, caixa de fósforos...). De tudo que saiu dos bolsos do
menino, o que mais chamou a atenção do indignado vendedor de brinquedos foi um
caderninho de papelão que continha desenhos... E um desenho específico o
intrigou. Sentado numa cadeira estava um boneco com um mecanismo interno aparentemente
capaz de dar-lhe movimentos à mão que (visivelmente) podia fazer registros numa
folha disposta à sua frente... No canto superior da folha vemos o desenho das
costas do boneco onde, um pouco abaixo do pescoço, notamos um orifício supostamente
importante para o funcionamento daquela engenhosidade (tratava-se de um autômato)...
O velho demonstrou alguma
relação com o desenho porque sua reação mudou completamente... Começou a dizer coisas
que mostravam que sabia que, mais cedo ou mais tarde, seria atormentado por aquilo...
“Fantasmas”, disse num primeiro instante... Parecia estar com medo... Depois mostrou-se
triste... De repente estava com raiva e, estupefato, quis saber se o pequeno
ladrão havia feito o desenho, ou se roubara de alguém aquele caderno... Sua
reação passou a ser de repulsa e quis que o menino Hugo se retirasse
imediatamente, mas não permitiu que ele levasse seu caderno e demais objetos
que saíram de seus bolsos, pois os enrolou num lenço, que foi amarrado...
Insistiu para que Hugo se retirasse... O menino, por sua vez, exigia de
volta seus objetos (principalmente o caderno)... Ele gritava que o velho é que era
um ladrão... Na confusão, Hugo Cabret esmagou sem intenção um brinquedo que se
movimentava a corda (um ratinho)... O velho disse que provavelmente o larápio
jamais veria aquelas coisas porque era quase certo que colocaria fogo nelas.
Espantado
com a violenta reação do lojista, e temendo a chegada do inspetor (Hugo
conhecia a temida jaula em que o homem de uniforme verde encarcerava crianças maltrapilhas
que aprontavam na estação), o garoto fugiu dali.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian_7.html
Leia:
A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
Um abraço,
Prof.Gilberto