Talvez
seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg_9.html antes de ler esta postagem:
Podemos entender a preocupação de Ginzburg ao
dedicar parte de seu texto aos ocorridos do início do século XVI... É certo que
deveríamos conhecer mais sobre os contextos históricos da região do Friuli e as
convulsões sociais que lá tiveram palco por aquele tempo... Deveríamos saber
mais sobre quais eram as dimensões do poder e influência de Veneza, e conhecer
mais da realidade ao tempo em que Menocchio enfrentou seu processo (segundo
metade do XVI)...
É certo...
Podemos notar o cuidado do autor ao nos chamar a atenção para o embate marcado pela exploração que as autoridades e os ricos exerciam
sobre os pobres... Então as rebeldes jornadas campesinas contra a nobreza local
merecem investigação... Até que ponto esse panorama foi absorvido pelo moleiro e
foram influência direta à sua forma de raciocinar?
Nossas limitações são
empecilho para o aprofundamento dessas e outras questões... Ainda assim, não há
como não refletirmos sobre os conceitos e motivações expressos nas declarações
do acusado... Ele sofria influências daqueles acontecimentos? O que pensava
sobre Veneza, autoridades políticas e modelos (econômico e social) vigentes?
Depreendemos que a opinião do moleiro é bastante vaga, pelo menos em
relação às autoridades políticas... Ele diz que Veneza parecia abrigar
(comerciantes) ladrões, já que em seu “trato de negociantes” pediam valores
exorbitantes por produtos que (gente como ele) sabiam-se mais baratos.
Os depoimentos de
Menocchio em relação às autoridades religiosas não deixavam dúvidas... Ele não
poupava as poupava... E a justificativa parece estar no seu juízo que leva em
conta que “tudo pertence à Igreja e aos padres; eles arruínam os pobres”... Mas
será que era assim mesmo? Ginzburg afirma que, com base no censo de 1596, os
clérigos possuíam grandes extensões em propriedades “no Friuli e em todo o
Vêneto”...
As palavras de Menocchio
contrariavam a hierarquia religiosa e igualava clérigos e leigos... Para ele, a
“dignidade” do papa consistia em ter poder e, sendo assim, mandava e era
obedecido... Juntamente com cardeais e padres, contribuía para arruinar os
pobres...
Afirmando que os
sacramentos eram criações humanas, que serviam de “mercadoria” para enganar os
pobres, Menocchio queria explicar que a religião verdadeira é aquela em que
todos são iguais, pois o “espírito de Deus está em todos”... Sendo assim, ele
também, dotado do “Espírito de Deus” (o Espírito Santo), poderia chamar a
atenção de qualquer autoridade, em qualquer ambiente... Inclusive num tribunal
inquisitorial...
É
claro que as autoridades procuraram saber do acusado qual era a sua opinião em
relação ao luteranismo e às seitas que insistiam em atuar e atrair adeptos...
Isso será abordado em breve.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg_17.html
Leia: O Queijo e os Vermes. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto