sexta-feira, 30 de novembro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick – dona Emile conta o caso do cadáver encontrado no fundo do Senna; o menino Cabret é descoberto por ela, pelo senhor Frick e pelo inspetor da estação; Hugo é perseguido até ser capturado

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O menino Cabret passou a ter outro objetivo... Pretendia chegar à estação, seguir até os aposentos e de lá retirar o autômato para entregá-lo a Méliès. Sua tarefa, sabia bem, não seria fácil, dado o lastimável estado de sua mão.
A estação estava lotada e Hugo aproximou-se do café, onde se apropriou de gelo para aliviar as suas dores, e de uma garrafa de leite. Não pôde deixar de atentar-se à conversa da senhora Emile, dona do café, com o senhor Frick, o jornaleiro. A mulher falava sobre um corpo que havia sido encontrado no fundo do rio Sena... O cadáver só foi descoberto por causa da dragagem que se operava no rio... Dona Emile demonstrava espanto porque o caso policial era mesmo intrigante... O corpo, dizia, devia estar a muito tempo no fundo do rio, talvez anos... A polícia só chegou a identificá-lo depois de periciar um frasco de prata que estava num dos bolsos do homem... Nele estava gravado o nome do tipo...
Então a mulher revelou que o cadáver era Claude, o cronometrista da estação (tio de Hugo) que vivia bêbado... O menino sabia mesmo que o tio devia estar morto, mas tinha certeza de que a narrativa da mulher exagerava no tempo de sua morte... Hugo sabia que, no máximo, a morte do tio poderia ter ocorrido há alguns meses. Mas neste ponto da conversa o garoto percebeu que a trama era um pouco mais complicada.
Ele ouviu o senhor Frick lamentar não ter sido o primeiro a saber do ocorrido e destacar que ninguém havia notado a falta do cronometrista... A senhora Emille o fez notar que enquanto ninguém incomodou o cadáver do bêbado Claude, seu fantasma tratou de fazer a manutenção dos relógios da estação, mas com o resgate de seu corpo o fantasma “sentiu-se incomodado” e deixou de cuidar dos relógios... A mulher destacava que era por isso que os relógios estavam parando. E concluiu: “A estação está assombrada!”
Ao ouvir a história contada pela mulher, Hugo notou que aquilo dizia-lhe respeito. Fatalmente sua condição de intruso seria descoberta. Assustado, largou gelo e garrafa de leite, que caíram provocando barulho. A mulher gritou ao descobrir quem vinha roubando-lhe garrafas de leite e pães. O menino saiu em disparada no meio da multidão e conseguiu chegar até o seu esconderijo.
Foi com muito esforço que Hugo arranjou a melhor forma de transportar o boneco. Quando estava para sair, bateram na porta e ele supôs que fosse Isabelle... Mas antes que ele abrisse, a porta foi brutalmente arrombada... Eram a senhora Emille e o senhor Frick, que chegaram acompanhados pelo inspetor da estação... O inspetor agarrou o braço do menino que, na tentativa de se desvencilhar, deixou cair o autômato.
A dona Emille e o senhor Frick reconheceram o gatuno acusado dos furtos de leite e croissants... O inspetor disse que cuidaria do assunto a partir daquele momento. Frick queria saber que lugar era aquele e o inspetor revelou que tratava-se do apartamento do cronometrista... A senhora Emille retirou-se em disparada no mesmo instante. Evidentemente ainda pensava no “caso do fantasma da estação”. O senhor Frick fez o mesmo, retirando-se na sequência.
O inspetor olhou em volta viu o boneco mecânico no chão e perguntou o que estava acontecendo ali. O pequeno Hugo apavorou-se com seu carrasco... Notou  seus dentes horríveis, sua orelha faltando um pedaço e o seu fedor que lembrava repolho apodrecido. Tanto circulou pelo quarto arrastando o menino, que deparou-se com os envelopes contendo os cheques-salários de Claude. Então o homem insistiu em saber o que ocorreu com o cronometrista e como é que o menino conhecia aquele apartamento...
Um “vacilo” do inspetor e Hugo conseguiu escapar.
Uma grande sequência de ilustrações nos leva a perceber a determinação do perseguidor e o pavor do perseguido. Vemos Hugo de olhos arregalados, correndo pelos interiores das paredes da estação, subindo escadas com o inspetor em seu encalço. Conhecedor dos porões, o menino conseguia esconder-se por algum tempo, mas logo o inspetor aparecia...
Vemos Hugo num dos mais altos relógios, mas também ali ele foi alcançado... Nova corrida e sabemos que ele conseguiu escapar pela portinhola e se misturou entre os usuários da estação. Mas o inspetor também é ágil e logo se aproximou do menino.
Não teve jeito. Hugo acabou tropeçando e, caindo, foi dominado pela senhora Emille e por Frick. O menino foi colocado de pé... Em prantos pedia que o soltassem ... Agarrado pelos dois braços, ele viu a chegada do inspetor que sentenciava que só o soltaria na cadeia.
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Leia: A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
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Prof.Gilberto

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

“O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg – Menocchio se justifica em relação às suas afirmações de que nenhuma fé pode ser considerada superior às demais; a “lenda dos três anéis”

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Outra ideia de Menocchio que intrigava as autoridades, e por isso o complicava, era a de que não considerava nenhuma crença melhor (ou superior) do que as outras... Sustentava que pretendia manter-se cristão apenas em consideração e respeito à tradição cristã de seus antepassados. Justificava sua forma de pensar a partir de uma lenda que contou em detalhes ao inquisidor franciscano, Gerolamo Asteo, durante o segundo processo (12 de julho de 1599). Ele entendia que a lenda podia convencer também as autoridades e, por isso, pedia a graça de ser por elas ouvido. Trata-se da “lenda dos três anéis”.
Em poucas palavras, a lenda conta que “Um grande senhor de posses havia declarado que seu herdeiro seria aquele que possuísse um determinado anel precioso. Era pai de três filhos e amava os três sem distinções. Então mandou confeccionar outros dois anéis idênticos ao original e os distribuiu a cada um dos moços... Qual deles havia ficado com o primeiro e “verdadeiro” anel?” Assim também é Deus que não distingue entre turcos, judeus e cristãos, e ama a todos.
Então, a partir da lição extraída da “lenda dos três anéis”, Menocchio considerava adequada a sua ideia de que cada um acha sua fé a melhor, mas ninguém pode afirmar com certeza se é a melhor. É por isso que admitiu no passado que “nascera cristão e por isso queria continuar cristão, mas se tivesse nascido turco, ia querer continuar turco”...
Ginzburg destaca essa passagem do processo em que Menocchio assume a postura de quem tem algo a ensinar... Neste ponto questiona: “quem representa o papel da cultura dominante ou a cultura popular?” Só no outro interrogatório é que as autoridades perceberam que a fonte de onde Menocchio tirou essas ideias era “um livro proibido”... Ele desconversava e dizia não saber ao certo onde havia lido a lenda, até confessar o título Cento Novelle, de Boccaccio, emprestado por “Nicolò de Melchiori” (provavelmente Nicola da Porcia).
Sogno dil Caravia e o Decameron chegaram às mãos de Menocchio através de Nicola de Porcia... Pelo menos o seu “terceiro conto do primeiro dia”, onde se lê a “lenda dos três anéis”, que impressionou o moleiro... Ao que tudo indica, a edição lida por ele devia ser mais antiga, dado que as iniciativas da Igreja contra o movimento reformista tratou de censurar o trecho.
Gerolamo Asteo quis saber de Menocchio se ele acreditava que não se sabia qual seria a “melhor lei”... Ele respondeu que pensava “que cada um acha que a sua fé seja a melhor, mas não se sabe qual é a melhor...”
Essa “tolerância às três grandes religiões históricas” também era combatida pelo movimento contrarreformista. E Menocchio (como Castellione) considerava que além de cristãos, judeus e árabes, também os heréticos se salvariam de um modo ou de outro, pois Deus gosta de todos... Assim, para ele, em nome de uma religião simplificada, as fés se equivaliam... Algo como os conceitos observados na fé no “Deus da natureza” explicito em Mandeville... Novamente nos deparamos com as advertências do autor em relação à “ousadia de Menocchio” perante as autoridades ao nivelar as religiões, já que retomava Mandeville sem levar em consideração a afirmação sobre “a superioridade do Cristianismo em relação às demais religiões"... O radicalismo do moleiro participava das “teorizações religiosas dos heréticos” de formação humanística de sua época.
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Leia: O Queijo e os Vermes. Companhia das Letras.
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Prof.Gilberto

terça-feira, 27 de novembro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick – Georges conta sua história às crianças; Isabelle fica sabendo quem foram seus pais; Hugo se compromete a devolver o autômato para o seu criador

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Georges Méliès trancou-se no quarto. Tabard, Etienne, Hugo e Isabelle se mostraram apreensivos, enquanto a tia Jeanne solicitava a ele que se retirasse... Do quarto não vinha nenhuma resposta... Até que um barulho impressionante foi ouvido... A impressão que se tinha era a de que o grande armário pudesse ter caído sobre o velho.
O pessoal da sala ficou ainda mais preocupado... Depois de um tempo ouviram Georges soltando gargalhadas, arrastando coisas e dando marteladas... Etienne e Tabard até tentaram arrombar a porta... As crianças se mostravam apavoradas, enquanto a senhora Jeanne estava aos prantos... Todos quiseram, em vão, tentar abrir a porta aos empurrões. Foi Hugo quem lembrou as habilidades de Isabelle com trincos e grampos... Uma sequência de ilustrações mostra que a garota teve sucesso em seu intento.
A porta foi aberta e o que viram foi surpreendente... Imaginavam muita bagunça, papéis rasgados e alguma coisa quebrada. Em vez disso, notaram Georges acomodado a uma mesa bem no centro do cômodo... Alguns móveis haviam sido afastados e, com uma pena na mão, sua imagem lembrava à do autômato... Os desenhos que antes estavam no armário podiam ser vistos espalhados por todo o quarto. O projetor estava em funcionamento e sua luz atingia o rosto de Georges e a parede atrás de si...
As cenas do filme que tinham acabado de assistir (a Lua, o foguete e os personagens) apareciam projetados em seu rosto e nas paredes do quarto... De repente, Georges começou a falar e, dirigindo-se para Isabelle e Hugo, perguntou se sabiam que os pais dele possuíam uma fábrica de sapatos e que queriam que ele trabalhasse nela... Revelou que a única coisa de que gostava eram as máquinas... Gostava de consertá-las, vê-las funcionando... Disse que sonhava em ser tornar um mágico. Então, quando se tornou adulto, vendeu a parte que possuía da fábrica e adquiriu um teatro. Nos fundos desse prédio montou uma oficina, e foi lá que construiu o autômato. Disse que sua máquina era adorada pelas plateias... Contou ainda que conheceu os irmãos Lumière, que haviam inventado o cinema... Quis comprar uma câmera deles, mas eles não aceitaram fazer o negócio e Georges teve de criar a própria filmadora com peças sobressalentes do autômato.
Méliès contou que muitos mágicos de seu tempo notaram as potencialidades do cinema para as suas apresentações. Disse que sua mulher tornou-se sua assistente e musa... Fizeram centenas de filmes... Mas com o começo da guerra (de 1914) os tempos gloriosos findaram... Tudo se perdeu e Georges lamentou não poder ajudar aqueles que trabalhavam em seu estúdio. Sua tragédia aumentou depois da morte de um jovem casal do qual era muito amigo.
Isabelle ficou sabendo que ela era filha daquele casal e que seu pai era operador de câmera e auxiliava Georges nas últimas filmagens, e que sua mãe era uma professora... Após a morte dos pais, ela passou a morar com ele e Jeanne.
Georges finalizou seu desabafo dizendo que se comprometera a “trancar o passado” e que “nunca mais voltaria a falar de filmes”... Contou que queimou muitos cenários e fantasias, além de vender os filmes a uma empresa que os derreteu para fazer saltos de sapatos... Depois comprou a loja de brinquedos lá da estação. Revelou que o autômato foi doado para o museu, que nunca o expôs... Ficou sabendo do incêndio... Era mesmo um milagre que tivesse sobrevivido.
Então quis saber onde estava o autômato e ouviu de Hugo que ele estava guardado na estação... Sem entrar em maiores detalhes, o menino retirou-se da casa para trazê-lo de volta ao seu criador.
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Leia: A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
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“Ei! Tem alguém aí?”, de Jostein Gaarder – uma introdução

O livro começa com uma carta à Camila, garota de oito anos que vai ter um irmãozinho em breve... Quem escreve é Joakim. Com ele a menina havia passado as “ultimas férias de outubro”, com passeios na praia, pelo ancoradouro... Na ocasião, Camila brincou com o “telescópio de astrônomo durante as noites claras”... Quando não deu, fizeram panquecas na cozinha.
Podemos entender que a narração que segue é o conteúdo da carta que Joakim escreveu à garota. A leitura contribuirá para algumas reflexões... Talvez uma "introdução ao filosofar”...
Joakim resolveu escrever sobre quando tinha a mesma idade de Camila e também estava para receber um irmãozinho ou irmãzinha... Ele segue narrando que se lembra que a mãe dizia que o bebê estava de ponta cabeça em sua barriga e que dava-lhe pontapés... O menino Joakim entendia que o bebê incomodava...
Adulto, Joakim tece palavras sobre o modo como as pessoas tratam umas às outras... O que é uma pessoa comum? O que é um dia comum? Galinhas e ovos são realidades com as quais nos acostumamos... Mas não é tão fácil aceitarmos que as aves vivem para servir aos humanos (?)... Sem trauma algum, nos apossamos dos ovos (potenciais filhotes das galinhas) e os utilizamos para gemadas, panquecas, omeletes e receitas diversas...
Aquelas indagações tumultuavam a cabeça de Joakim quando ele tinha os seus oito anos... Comparava o irmãozinho que nasceria a um astronauta do espaço sideral... Sua chegada deveria significar algo mais ou menos como a aterrissagem de um astronauta em um planeta estranho...
Na noite em que seus pais foram para o hospital, Joakim foi acordado pelo pai... Ficou sabendo que deveria ficar só em casa até que a tia Helena viesse para fazer-lhe companhia... Então decidiu que brincaria montando espaçonaves com o lego, um de seus passatempos prediletos.
Estava em seu entretenimento quando ouviu um estrondo no jardim... A noite já não era a “escuridão total”, pois passava a um “azul escuro”. Joakim recorda-se de ter visto uma estrela cadente... Considerou mesmo que aquilo podia significar um prenúncio da chegada de seu irmãozinho... Obviamente o barulho o fez seguir para o jardim, onde se deparou com um garoto pendurado de ponta cabeça na macieira...
O tipo estranho disse que aquilo só podia ser um sonho... Joakim pensou se ele mesmo não poderia proferir as mesmas palavras... Ao vê-lo, o pendurado quis saber quem era aquele que o observava. Joakim disse o seu nome e ouviu que o outro se chamava Mika.
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Leia: Ei! Tem alguém aí? Companhia das Letrinhas.
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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick – Taberd e Etienne visitam a casa de Georges Méliès; acompanhadas de tia Jeanne as crianças assistem a “Uma Viagem à Lua”; o velho Georges despertou e quis saber o que ocorria

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A semana que seguiu foi de trabalho para as crianças. Mas elas conseguiram juntar dinheiro suficiente para que Isabelle pudesse comprar os remédios que Georges tanto precisava. Hugo percebeu que os relógios começavam a apresentar algumas diferenças nos horários... Sabia que logo eles parariam de vez. Notou que o inspetor da estação estava querendo falar com o desaparecido tio Claude, pois deixara um bilhete anexado ao seu cheque-salário... Preocupado, o menino esperava ao menos poder descobrir tudo sobre o autômato e as situações que acabaram envolvendo também o velho Georges, o cinema e Isabelle.
Na véspera do dia combinado para as visitas de René Tabard e Etienne à casa de Georges Méliès, o menino Cabret teve uma noite agitada... Sonhou com o famoso episódio que conhecia através de conversas a respeito do acidente que havia ocorrido na estação no final do século XIX, quando uma composição locomotiva em alta velocidade perdeu os freios e ultrapassou o ponto que deveria parar na plataforma... Avançou para além dos trilhos e atingiu a parede com seus vitrais, que foram destruídos... Uma reprodução fotográfica de duas páginas mostra-nos a famosa cena em que vemos a locomotiva “pendurada” na calçada, junto com destroços de vagões e parede... O sonho de Hugo o colocava na calçada no exato instante em que o estrondo ocorria... Um pesadelo e tanto...
Depois de despertar, Hugo caminhou pela estação e conseguiu furtar uma garrafa de leite e alguns croissants... Retornou para o quarto e se alimentou... Aguardou o momento do encontro na casa de Georges Méliès.
Na hora combinada, Hugo seguiu para lá. Sua chegada coincidiu com as de Tabard e Etienne. Estava chovendo e Isabelle também aguardava ansiosa pelo encontro porque se antecipou a recebê-los. A primeira coisa que Tabard quis saber era o sobrenome do tio da garota... Ele trazia um grande pacote e mostrou-se muito interessado em encontrar o velho Georges... Isabelle pediu que todos entrassem sem os sapatos, pois o tio detestava sapatos dentro da casa.
Na verdade Isabelle não havia dito nada sobre aquela visita para a tia Jeanne... A mulher que preparava uma refeição (cortava legumes) estranhou a chegada dos homens... Hugo entregou o livro que havia emprestado da Academia de Cinema à Isabelle. Então a menina explicou à tia que Hugo havia descoberto muita coisa sobre o tio Georges graças àquele livro escrito pelo senhor Tabard, do qual Etienne era aluno... Ela disse que os dois queriam ajudar e que adoravam os filmes de Georges Méliès.
O senhor Tabard percebeu o constrangimento, pediu desculpas e disse que retornariam... A senhora Jeanne concordou e justificou que o marido ainda estava adoentado e que muito provavelmente não os convidaria para uma próxima visita... Isabelle insistiu com a tia para que não desperdiçasse a oportunidade.
Tabard contou como havia conhecido Georges Méliès. Disse que era ainda um garotinho quando o seu irmão mais velho trabalhou no estúdio do cineasta... Disse que ficava encantado com tudo o que via... Algo como um “palácio de contos de fada”... Eram os tempos dos primeiros filmes, tudo muito artesanal, mas muito bem feito... Tabard não se esquecia da primeira vez que apertou a mão de Méliès e do que ouviu do mestre... O professor contou que Méliès o instigara a fazer filmes, pois aquele ofício estava vinculado à “arte de produzir sonhos”... Tabard gostaria de retribuir as lições que recebera de Méliès... Ilustrações de duas páginas mostram-nos o episódio referido por Tabard... Vemos o estúdio abarrotado de artefatos cenográficos e Méliès agachado próximo à criança, que o ouvia atentamente.
As palavras de Tabard levaram Hugo a lembrar-se do que seu pai lhe dissera a respeito dos filmes, “era como ver os próprios sonhos em pleno dia”... Tia Jeanne se emocionou com tudo o que o professor havia contado, sentou-se numa cadeira e disse que Georges havia mesmo sido muito importante, mas no momento encontrava-se fragilizado e “desenterrar o passado” talvez não fizesse bem a ele.
Então Tabard revelou que havia trazido um antigo filme de Méliès e um projetor... Ele também estava muito comovido porque, inclusive, imaginava que o velho cineasta estivesse morto há muito tempo... Hugo e Isabelle manifestaram o desejo de assistir ao filme naquele mesmo instante, mas Jeanne mostrou que não era boa ideia porque Georges poderia acordar... As crianças insistiram e tia Jeanne também foi tocada pela curiosidade e desejo de assistir à fita. Olhou para a porta do quarto que permanecia fechada e solicitou que fossem rápidos com o que pretendiam mostrar.
Tudo foi ajeitado por Tabard... O projetor com um rolo de filme foi colocado sobre a mesa... Numa das paredes seria feita a projeção... Hugo escureceu a sala fechando as cortinas... Logo que o clarão se fez, notaram o próprio Georges Méliès ainda jovem com uma barba postiça... O filme era o Uma Viagem à Lua... Então Hugo pôde conhecer o filme que tanto marcou a vida de seu pai.
Tia Jeanne chorou de emoção... A surpresa ficou por conta de o próprio Georges Méliès abrir a porta do quarto e, encostado à parede, assistir ao final da projeção. Ele também se mostrava emocionado... Quis saber quem eram aqueles que se encontravam em sua sala... Isabelle tratou de contar-lhe a história do autômato que havia sido revelada por Hugo... O menino entregou-lhe as duas partes coladas do desenho que o boneco havia feito... Isabelle apresentou Etienne e Tabard, referindo-se à Academia Francesa de Cinema, e destacou que o seu amigo Etienne era aluno de Tabard... E que os dois eram seus fãs.
Ao pegar o desenho feito pelo autômato e ouvir toda história que Isabelle contou, Georges solicitou o projetor... Desconectou-o da eletricidade e o carregou para o quarto... Trancou a porta, deixando os demais do lado de fora.
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Esplendores do Vaticano – Uma Jornada Através da Fé e da Arte no Parque do Ibirapuera

Desde 21 de setembro acontece a exposição Esplendores do Vaticano Uma Jornada Através da Fé e da Arte no Parque do Ibirapuera (Oca, com a cesso pelo portão 3).
Às segundas feiras o ingresso é mais barato (e isso vale também para a meia entrada). Não por acaso optamos fazer a visita no dia 19. Nos três pavimentos da Oca estão instalados vários objetos religiosos, paramentos, livros, relicários, quadros e esculturas, além de documentos diversos que pertencem ao Vaticano.
A montagem da mostra é bem didática e leva-nos a conhecer a História da Basílica de São Pedro desde a descoberta do túmulo do apóstolo (ano 160) até a contemporaneidade.
No início contemplamos uma montagem que nos leva ao túmulo de Pedro... Vemos gravuras da estrutura do circo de Nero, que proporcionava espetáculos em que os que seguiam os ensinamentos de Jesus eram queimados, devorados por feras e crucificados... Pedro foi crucificado de ponta cabeça... Contemplamos os vários quadros. O túmulo de Pedro está na necrópole (Scavi do Vaticano, que está abaixo do altar da Basílica).
Então há o destaque às perseguições que os primeiros cristãos sofreram. Não é segredo para ninguém que no início do Cristianismo, os cristãos sofriam ferrenha perseguição dos romanos. Também foram tempos de martírio e de conversões, inclusive de líderes militares e políticos.  Paulo, por exemplo, perseguia cristãos até a sua conversão...
Foi o imperador Constantino que ordenou a construção de uma Basílica sobre o templo erguido no local do túmulo de São Pedro. Isso se deu entre 326 e 333... Há uma parte da exposição dedicada a este imperador romano e aos desenhos da primeira Basílica, produzidos a partir de achados arqueológicos.
Esplendores do Vaticano destaca a época em que Roma se tornou cristã, e apresenta mosaicos e outros exemplares da arte sacra medieval.
O papa Júlio II, que teve seu pontificado entre 1503 e 1513, tomou a iniciativa de derrubar a antiga igreja para erigir uma Basílica maior. Donato di Angelo di Pascuccio (Bramante) foi o arquiteto que, em abril de 1506, foi encarregado de desenhar a planta da igreja. A exposição apresenta o desenho primordial e vários outros que revelam as alterações que sofreu até que se configurasse a planta definitiva. Não foram poucos os arquitetos, artistas e papas que durante 120 anos se dedicaram à construção da Basílica.
Sabemos do empenho do papa Leão X em obter recursos com a venda das indulgências... Sabemos que essa iniciativa está no bojo da Reforma Religiosa iniciada por Martinho Lutero. Então a exposição não deixou de lado esses episódios. Objetos produzidos durante este processo (e também durante a Reforma Católica) são apresentados em Esplendores do Vaticano.
A arte da Roma Antiga serviu de inspiração para a arte Cristã... Em 1546 Michelangelo assumiu a direção dos trabalhos e então toda a sua genialidade foi colocada a serviço da Basílica... Há uma instalação que nos leva a andaimes e instrumentos diversos criados por Michelangelo para que o teto da Capela Sistina fosse concluído. E também podemos contemplar uma das cópias da Pietá... Para muitos, a joia da exposição.
O diálogo católico com o mundo conhecido a partir das missões religiosas também está representado na exposição. Vemos obras de arte relacionadas à religião e aos vários continentes. Os mapas expostos merecem destaque, bem como os objetos litúrgicos e as histórias relacionadas a essa arte... Figuras históricas, como Napoleão, despontam em meio aos temas.
Há a galeria Os sucessores de Pedro – Retrato Papal em que notamos os vários retratos e dados bibliográficos a respeito de cada um. Todos merecem atenção, mas muitos dedicam um pouco mais de tempo para o local onde está posicionado Pio XII (Eugenio Pacelli), que teve pontificado marcado pela época da ascensão do Nazismo e da Segunda Guerra Mundial. O texto destaca seus esforços pela paz e sua iniciativa de abrir o Vaticano a refugiados, tendo concedido cidadania a milhares de perseguidos pelo nazifascismo em tempos de ocupação alemã na Itália.
O último andar da Oca está reservado para um espetáculo de multivisão sobre a Capela Sistina. Há painéis que explicam detalhadamente cada parte do teto e no interior verificamos todo o esplendor do teto e paredes da Capela.
Na última parte vemos peças que se referem ao papado contemporâneo... Muitas fotografias e outras obras de arte podem ser observadas. À saída, temos uma área dedicada a João Paulo II e aos processos de beatificação santificação... O visitante pode colocar a mão sobre as mãos esculpidas a partir de moldes deixados pelo santo padre.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

“O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg – leituras de Menocchio em Cavallier Zuanne de Mandavilla” (As viagens de sir John Mandeville); pigmeus e seus costumes; ilha de Dundina e o canibalismo; “uns creem de um modo e outros de outro”; sua síntese sobre o livro

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Não é de se admirar que um tipo como Menocchio tenha ficado tão impressionado (e encantado mesmo) com as narrativas de Mandeville. A descrição da pequena ilha de Chana, “próxima” à Índia, chamava à atenção para a variedade de crenças e costumes religiosos do lugar... Tudo muito diferente do que ele conhecia em seu pequeno universo limitado a Montereale, Pordenone...
Lugares fantásticos como a Índia, Catai (China) e ilhas onde viviam canibais e povos muito diferenciados como os pigmeus, despertavam a imaginação de quem lia o texto... Sobre os pigmeus, Il Cavallier Zuanne de Mandavilla destacava sua baixa estatura (em torno de três palmos) e que, por isso mesmo, eram belos e graciosos. Curiosa era a informação de que viviam por apenas seis ou sete anos (quando já eram considerados bem velhos)... Casavam-se com menos de um ano e aos três já procriavam... A terra não era por eles trabalhada, pois para a lavoura exploravam tipos de “estatura normal”, “gente grande” que desprezavam. Mandeville destaca que, muito provavelmente, os europeus também desprezariam aos pigmeus... A narração explica que aquele pequeno povo era especialista no cultivo da seda e algodão, sendo excelentes tecelões.
Conhecer essas narrativas levavam o moleiro a refletir sobre suas crenças e convicções... “Tantas raças, e (...) tão diversas leis”, “muitas ilhas, cada uma vivendo à sua maneira”, “(...) uns acreditando de um modo, outros de outro”... Essas considerações foram repetidas em várias ocasiões por Menocchio durante o processo. Ginzburg destaca que, na mesma época, Michel de Montaigne também havia se encantado com os relatórios sobre os índios do continente americano. Evidentemente Menocchio não era nenhum “iluminista”... Suas limitações levavam-no a se apropriar daqueles textos de modo a idealizá-los e a por em dúvida as estruturas sociais, políticas e religiosas de seu meio.
O capítulo CXLVIII das “viagens de Mandeville” (Da ilha de Dundina onde se comem uns aos outros quando não podem escapar, e do poder do seu rei, o qual é senhor de 54 outras ilhas, e dos muitos tipos de homens que vivem nessas ilhas) despertava o interesse, a curiosidade e o encantamento de Menocchio. Entre as informações que mais lhe chamavam a atenção estavam relacionadas ao modo de lidarem com as doenças de entes e amigos queridos. Um “padre da religião” era procurado para que um ídolo enfeitiçado fosse consultado... O texto destaca que alguma entidade maligna revelava se o doente escaparia ou não da morte e, quando era o caso, ensinava o modo de curar o enfermo. Se a revelação sobre a doença indicasse que a morte era certa para o doente, o padre acompanhava os que o atendiam para asfixiá-lo com um pano. Depois de morto, seu corpo era cortado em pedaços e todos os amigos e parentes apareciam para rezar e se alimentar do corpo sem vida e enterrar os seus ossos... Tudo isso ocorria em um clima de muita festividade, ao som de instrumentos musicais e cantorias. Parentes e amigos do morto que não participassem dessa cerimônia eram desprezados por isso, e deixavam de ter a consideração dos familiares do defunto... Alimentavam-se da carne para livrar o morto de seus sofrimentos. Quando a carne era magra, os parentes e amigos concluíam que cometeram um erro (um pecado) ao permitirem que aquela pessoa definhasse e “sofresse tanto sem razão”. Quando a carne era gorda ficavam satisfeitos porque isso era um sinal de que o morto não havia sofrido e logo iria para o Paraíso.
Os registros do interrogatório de 22 de fevereiro de 1584 dão conta que Il Cavallier Zuanne de Mandavilla chegou até Menocchio emprestado pelo capelão Andrea da Maren... Em resposta às autoridades, o moleiro sintetizou o texto dizendo tratar-se de uma “viagem para Jerusalém e de algumas divergências entre gregos e o papa; (...) do grande Khan, da cidade de Babilônia, do Preste João, de Jerusalém e de muitas ilhas onde uns vivem de um modo e outros de outro”. Ressaltou que o cavaleiro conversou sobre os padres, papas e demais religiosos com o sultão... Este teria esclarecido que Jerusalém era dos cristãos, mas devido ao mau governo destes e do papa, “Deus a retirou deles”...
Mesmo sendo interrompido algumas vezes, o moleiro citou a parte sobre o canibalismo e contou que “procuravam o padre quando necessitavam saber como curar uma doença ou se ela traria a morte; se esse fosse o caso, o padre sufocava o adoentado, que morria e tinha o seu corpo retalhado para que fosse comido pelo religioso, parentes e amigos do morto; se a carne tinha um bom sabor, o morto não tinha pecados e estava salvo espiritualmente; se a carne era ruim, significava que o morto havia sido um pecador e que seus amigos e parentes haviam feito mal em permitir que ele vivesse por tanto tempo”... O moleiro concluiu daí que, após a morte, a alma também morria... “Uns creem de um modo e outros de outro”.
Fica claro que Menocchio, também nesse caso, fizera uma interpretação em que frases e palavras do texto sofreram uma adaptação para que se encaixassem em seus conceitos... Assim, a “carne magra do morto” era avaliada como “ruim de ser comida”; “a carne gorda”, por outro lado, seria “boa de ser comida”... Daí resultando que “a carne boa de ser comida” sinalizava que o morto não tinha pecados, e “a carne ruim de ser comida” era um sinal de que o morto estava cheio de pecados... Para Menocchio, “Paraíso e inferno” são desta terra, e a alma é mortal”.
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Leia: O Queijo e os Vermes. Companhia das Letras.
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Prof.Gilberto

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick – Hugo trabalhou na loja de brinquedos; juntou dinheiro para comprar remédios para Georges; refletiu sobre o mito de “Prometeu acorrentado; levou Isabelle para contemplar a vista da Paris noturna a partir dos relógios de painel de vidro da estação

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Na manhã seguinte, Hugo abriu a loja de brinquedos. Atendeu aos clientes da melhor maneira que podia. Sua mão direita ainda doía muito. Notou que o afluxo de fregueses era reduzido, assim, por muito tempo, ficava na ociosidade. Imaginou o quanto o trabalho na loja devia ser enfadonho para uma pessoa talentosa como Georges Méliès... Calculou que só se animasse quando construía um novo brinquedo... Nada comparado à engenhosidade investida no autômato que um dia planejara. O garoto passou o tempo tentando aprender a escrever com a mão esquerda.
Depois do período escolar, Isabelle chegou à loja e juntou-se a ele. Cuidou do machucado de Hugo e pôs-se a ler. O menino percebeu que ela trazia o mesmo livro de mitologia grega que havia pegado na primeira vez que ele estivera na livraria Labisse, então comentou que ela estava demorando a concluí-lo. Ela respondeu que já havia lido aquele livro umas vinte vezes e que, entre uma e outra leitura, dedicava-se a outros textos. A menina revelou tanto interesse pelo livro que ele pediu para ela ler em voz alta. Ao ouvi-la, o menino Cabret lembrou-se de citações que conhecia da escola (Monte Olimpo, Quimera, Fênix...). Chamou-lhe a atenção a história de Prometeu, que “fez os humanos com argila e ensinou-lhes vários segredos”... Foi punido pelos deuses porque “roubou o fogo para presentear os humanos para que o usassem e sobrevivessem”. Então, o que chamava a atenção do menino é que Prometeu "agiu como um ladrão". A narrativa de Isabelle trouxe à sua lembrança a pintura que viu na biblioteca da Academia de Cinema... O menino imaginou-a como um Prometeu que com uma das mãos recolhia o fogo dos deuses e com a outra projetava uma luz, podendo (o afresco) ser entendido como "a criação do cinema".
Hugo pensou sobre a punição de Prometeu... Acorrentado num rochedo, não tinha como evitar que seu fígado fosse devorado por uma águia. Seu sofrimento não tinha fim porque o fígado se regenerava e a ave retornava para alimentar-se dele. O menino comparou-se a Prometeu porque começou a roubar para “ajudar o autômato”... Qual seria a sua punição? Passaria o resto da vida trabalhando na loja de brinquedos? Esses pensamentos foram interrompidos quando passou a olhar para o relógio e indagou-se sobre quando é que pararia de vez.
Isabelle continuava ali ao seu lado... O menino decidiu pegar o ratinho azul. Ela quis saber sobre aquele brinquedo e Hugo contou-lhe toda a história, desde o dia em que ele o quebrou até quando o consertou a pedido do velho Georges. Isabelle disse que o zelo do tio em relação ao ratinho talvez fosse um sinal de que ele estimasse o amigo... Concluiu dizendo que ele tinha o hábito de conservar guardados desenhos que ela havia feito quando era ainda bem pequena... Isso agradou Hugo, que comentou que todas as máquinas são feitas por alguma motivação ou necessidade humana. É por isso que seu pai (e ele também) queria tanto consertar máquinas quebradas. Disse ainda que, quando estamos desmotivados, é como se estivéssemos quebrados... Isabelle logo pensou no tio Georges, que estava bem desmotivado. Hugo falou que a visita de René Tabard na semana seguinte poderia reanimá-lo... A menina, ao mesmo tempo em que perguntava, concluía que a motivação de Hugo seria “consertar coisas”.
Depois guardaram os brinquedos, Isabelle recolheu o dinheiro das vendas do dia... Mas antes que fossem embora, Hugo, convidou-a a entrar pelo sistema de ventilação... Com dificuldade devido aos machucados que tinham, chegaram aos relógios de vidro... De lá, Isabelle contemplou encantada a cidade e suas luzes. Hugo contou-lhe que havia noites em que, mesmo quando já não tinha nenhum reparo a fazer nos relógios subia ali para admirar a noite parisiense.
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Leia: A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

“O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg – leituras de Menocchio em "Cavallier Zuanne de Mandavilla” (As viagens de sir John Mandeville); rituais de confissão entre os jacobitas; críticas maometanas aos comportamentos dos cristãos neste livro

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É preciso tecer considerações sobre Cavallier Zuanne de Mandavilla (As viagens de sir John Mandeville)... As autoridades não se conformavam que um simples moleiro tivesse tanto a dizer sem que suas opiniões acerca das coisas da religião e cosmogonia fossem produto de doutrinação recebida de companheiros. Então os inquisidores queriam nomes... Sabemos as repostas de Menocchio a essas indagações... Ele afirmara que tudo saíra de sua cabeça e, em Portogruaro (por ocasião da reabertura do processo), disse que suas opiniões deviam-se à leitura “daquele Mandavilla”... E em carta citou que (em segundo lugar) seus erros deviam-se à leitura “do Mandavilla”, “de tantas raças e tão diversas leis”.
Ginzburg destaca que o texto em francês data do século XIV e que sua autoria é de um fictício sir John Mandeville... Textos geográficos e enciclopédicos medievais (entre eles o de Vincente de Beauvais)... O conteúdo circulou manuscrito durante muito tempo até que foi impresso em latim e outras línguas europeias. O texto pode ser dividido em duas partes. A primeira apresenta-se como guia sobre a Terra Santa. Ela revela detalhes e conclui-se que, de fato, sua redação seja resultado de experiências vivenciadas por peregrinos. A segunda parte narra uma longa viagem ao Oriente desconhecido. Lugares distantes geograficamente (e também da imaginação dos europeus daqueles tempos) são descritos... Descrições fantásticas (e fantasiosas) de lugares imaginários... Algumas ilhas, a Índia, o Catai (China) e até o mítico reino do Preste João (muito comentado e idealizado por nobres e camponeses).
A leitura da primeira parte proporcionava um conhecimento acerca de trajetos, principais locais e relíquias a serem visitadas pelos peregrinos cristãos em viagem à Terra Santa. Várias dessas informações, sobretudo as que diziam respeito às relíquias, eram desprezadas por Menocchio. Interessavam-lhe principalmente as descrições acerca dos rituais da “Igreja Grega” e dos hábitos religiosos dos cristãos que vivam na região e que eram apartados da Igreja Católica Romana. São citados os samaritanos, os jacobitas, os sorianos e georgianos.
A ideia de Menocchio sobre o Sacramento da Confissão, por exemplo, bem pode ter sido articulada a partir da leitura sobre a doutrina dos jacobitas, assim chamados por terem sido convertidos por São Tiago (Jacopo)... No Mandavilla leu que os jacobitas só se confessavam a Deus. Há a descrição sobre um ritual no qual o cristão se envolvia numa fumaça para confessar-se a Deus implorando a sua misericórdia... Sobre uma fogueira eram queimados incensos e outras substâncias aromáticas... Mandeville definia esse ritual de confissão como “natural e primitivo”, e reconhecia a orientação de papas e religiosos da Igreja para que a confissão do cristão se desse perante o sacerdote (a este) a partir de um exame de consciência... Era preciso conhecer a natureza do pecado para que a penitência ideal fosse indicada.
Em postagem anterior, vimos que Menocchio considerava a confissão a um sacerdote tão significativa quanto à confissão a uma árvore (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg.html)... Ele disse ainda que as pessoas só procuravam o religioso porque não sabiam as penitências adequadas aos pecados cometidos... Se uma árvore conhecesse a penitência daria no mesmo...
Também no Mandavilla, o moleiro teve acesso a princípios da religião dos maometanos... Citando o Alcorão, o viajante destacava que Jesus havia sido um profeta muito importante, “o mais excelente e próximo de Deus”... Vimos que em seus depoimentos, Menocchio levava em consideração a possibilidade de Jesus ter sido apenas um bom homem comum, como tantos outros profetas que Deus havia mandado ao mundo para fazer pregações...
Menocchio não admitia a crucificação de Jesus... E também essa convicção ele extraíra da leitura de Mandavilla... A crucificação contrariava a Justiça de Deus... Sua grande Justiça “não poderia fazer nada sofrer”... Para ele, Jesus retornou para junto de Deus e junto a Ele julgará o mundo... Então o crucificado seria Judas Iscariotes, que os judeus teriam confundido com Jesus...
Não é de estranhar que Menocchio sustentasse ideias muito próximas a essas e, acerca dessas temáticas, havia testemunho que confirmava que ele proferiu que “não é verdade que Cristo tenha sido crucificado, mas sim Simão de Cirenaica” e “parecia-me inacreditável que um senhor se deixasse prender assim e por isso eu duvidava que, tendo sido crucificado, fosse Deus; talvez algum profeta...”
No referido livro, de duzentos anos antes da existência de Menocchio, lê-se as críticas de um sultão aos cristãos, vistos como displicentes, pois, em sua opinião, não seguiam os exemplos de simplicidade, caridade e mansidão deixados por Jesus... Em vez disso deixavam de fazer o bem às pessoas comuns; não frequentavam o templo e não serviam a Deus; viviam bebendo em tavernas onde comiam feito animais. O sultão não entendia como os cristãos pudessem viver de modo tão contrário à doutrina da qual se diziam seguidores, Já que se mostravam inclinados a fazer o mal, viver cobiçando coisas alheias e sem se importar em vender filhos, irmãos e a própria mulher... Essas “palavras do sultão” reforçavam as críticas de Menocchio à Igreja.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/11/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg_21.html
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