quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A incrível história de Giovanni de Agostini, que no Brasil tornou-se João Maria – Primeira Parte

A edição 85 (outubro de 2012) da Revista de História da Biblioteca Nacional publicou uma série de textos com referências aos 100 anos da Guerra do Contestado... O dossiê Contestado, 100 anos tem subtítulo Massacre e Progresso. Entre os estudos que compõem o material, está Assim caminhou João Maria, de Alexandre Karsburg, autor da tese O eremita do Novo Mundo: a trajetória de um peregrino italiano na América do século XIX (1838-1869); UFRJ 2012.

A história de Giovanni de Agostini, um italiano que se tornou peregrino religioso no continente americano, é fantástica... Ele nasceu em 1801 na localidade de Sizzano (no Piemonte). Após a morte da mãe, em 1819, andou por Roma, França e Espanha. Decidiu-se pela vocação religiosa e tornou-se monge... Não se adequando à vida intramuros dos mosteiros, decidiu partir para o Novo Mundo, onde, tal como as descrições dos antigos beatos e profetas, iniciou a peregrinação asceta.
Desembarcou em junho de 1838 na capital venezuelana... Cinco anos depois transferiu-se para o Brasil, onde esteve até 1852. Cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Desterro (antigo nome de Florianópolis) foram por ele visitadas. Sua intenção era receber autorização para evangelizar em meio ao povo, então recorria às autoridades religiosas (bispos) e políticas (presidentes das províncias)... Depois de autorizado, rumava para o interior como missionário. Em pouco tempo tornou-se conhecido como um monge solitário... Trajava-se como os capuchinhos... Sua austeridade era notada também pelos longos cabelos e barba... Os que o viam com o hábito religioso julgavam tratar-se de um “profeta bíblico”... Mas era um leigo, não pertencia a nenhuma Ordem Religiosa, porém a missão a que se devotou era levada muito a sério. Com suas sandálias surradas, seguia em direção ao sul, levando a Bíblia, medalhas de Nossa Senhora e um cajado... Confeccionava rosários e crucifixos em madeira para trocar por alimento ou dinheiro que permitisse continuar o seu percurso... Os que o ouviam conheciam os seus ensinamentos acerca do fim dos tempos e da necessidade de voltar-se a uma vida de devoção, sem ostentar riqueza... Agostini falava da penitência como forma de se livrar da punição do inferno.
Não foram poucos os locais onde, junto com os capuchinhos, criou cruzeiros e vias-sacras para que os rituais de oração e de referência à Paixão de Cristo fossem mantidos e praticados pelos fiéis... Em terras gaúchas sua fama cresceu enormemente e tornou-se seguido de perto por uma legião de pessoas que acreditavam que ele tinha poder de curas milagrosas... O beato manipulava e reconhecia propriedades medicinais de ervas e raízes, com as quais fazia chás e unguentos que receitava a enfermos de doenças diversas. Doentes, fanáticos religiosos e curiosos apareciam das mais diferentes partes do Brasil, e também de países vizinhos.
Não demorou e os seus feitos foram parar nos jornais, que o chamavam de monge estrangeiro, conhecedor de “águas santas” que curam até mesmo paralisias e fraturas... As reportagens despertaram o interesse de médicos, que acabaram visitando as localidades percorridas por Agostini (que passou a ser conhecido como monge João Maria de Agostini) e constataram que as águas eram apenas potáveis, sem nenhuma propriedade espetacular. Sintetizaram os episódios como exploração da “fé ingênua” da gente do povo.
Aqueles eram tempos em que muitos missionários autorizados pelo império percorriam o Brasil... Eles faziam o seu trabalho evangelizador ao mesmo tempo em que apaziguavam confrontos políticos, além de “civilizar” índios hostis à ordem estabelecida. Então, o próprio Pedro II decidiu junto aos seus auxiliares mais diretos que deveria conhecer de perto o fenômeno das “águas santas”... São as memórias do próprio João Maria que revelam a audiência com o imperador... Segundo os registros, Pedro II simpatizou-se com o monge e ofereceu-lhe privilégios, porém o asceta os rejeitou, destacando que procurava uma vida de “solidão e sofrimento”...
Depois do contato com o monarca, João Maria nunca mais retornou ao Rio de Janeiro... Sabe-se que sofreu acusações de charlatanismo, uso ilegal da medicina, promessas de curas e impostura religiosa. O governo do Rio Grande do Sul e a Academia imperial de Medicina (Rio de Janeiro) pretendiam levar a cabo processos contra ele, mas talvez graças ao contato prestigioso com o imperador, Eusébio de Queirós (ministro da Justiça por aquela época) o inocentou.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/02/a-incrivel-historia-de-giovanni-de_22.html
Um abraço,
Prof.Gilberto

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