Talvez
seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio_11.html antes de ler esta
postagem:
Então registramos aqui a terceira novela, a que
traz a “lenda dos três anéis” e que desde a leitura de O Queijo e os Vermes nos chamou a atenção. O compromisso inicial
(apresentar o texto a que Menocchio fez referência) foi cumprido... Como a
apreciação das novelas de Decamerão
prossegue, não há inconveniente em seguir registrando as narrativas... Pelo
menos as do “primeiro dia”.
A quarta novela coube a
Dioneio, sem dúvida um tipo mais afeito ao humor... Ele iniciou dizendo que
sabia bem o motivo de permanecerem juntos ali... “Agradar uns aos outros
contando as histórias que cada um considerasse mais adequadas para o regozijo
do grupo”.
Falou brevemente sobre o que aprendeu com as narrativas sobre Giannotto
de Civigni (que “salvou” a alma de Abraão) e Melquisedeque (que falou com
sabedoria e livrou-se das complicações com Saladino)... Dioneio revelou que
falaria sobre um monge que safou-se de “penosíssima penalidade” usando de
esperteza no trato com o seu superior.
* Sobre sua novela, podemos
antecipar que, de fato, apresenta situações de “apelo sexual”. Então não há de
se estranhar que encenações dessa (e de outras novelas do Decamerão) resultassem em performances pornográficas. Isso à parte,
há de se destacar a crítica aos abusos cometidos por religiosos em meio à
comunidade laica, constituída por lavradores muito simples.
O relato de Dioneio destaca
que o povoado de Lunigiana (não muito longe de onde o grupo se encontrava) possuía
um mosteiro que, em tempos passados, era reconhecido por seus monges que viviam
em isolada santidade... Entre esses monges havia um jovem cheio de vigor (de
acordo com o próprio texto, um vigor que “nem os jejuns ou as vigílias
conseguiam abater”)... Pois aconteceu de certa ocasião, bem no meio do dia,
esse jovem sair para passear pelas cercanias da igreja enquanto os demais
monges dormiam.
Em seu perambular viu
uma jovem formosa, muito bonita mesmo! Provavelmente se tratava de filha de
algum lavrador do lugar. O moço a observou enquanto ela apanhava ervas...
Imediatamente sentiu por ela uma forte atração (“concupiscência carnal”)...
Aproximou-se dela e iniciou uma conversa que acabou resultando em convite para
que com ele seguisse até o seu quarto no mosteiro... Sem conter o seu desejo
excessivo, “brincaram sem cautelas”.
Acontece que o abade
despertou de seu sono, levantou-se e ao passar pela porta do jovem monge ouviu
a agitação... Não teve a menor dúvida de que a cela havia se tornado lugar de
pecado... Aproximando o ouvido da porta constatou que, de fato, havia ali uma
mulher... Em vez de solicitar que o monge abrisse a porta, resolveu retornar em
silêncio ao seu quarto.
O jovem monge, apesar de
muito envolvido em sua relação com a camponesa, percebeu que um de seus pares
havia descoberto a sua infração. Em seu íntimo, sabia que devia tratar-se do
próprio abade. Na certeza de que sofreria um severo castigo, decidiu-se por uma
artimanha para se safar.
Disse
à sua companhia que (para que ela saísse sem que ninguém a visse) era
necessário que permanecesse na cela na mais completa calma... Retirou-se e trancou
a porta com a chave... Seguiu até o quarto do abade e, aparentando muita tranquilidade,
disse que precisava sair para providenciar lenha porque, por equívoco de sua
parte, o mosteiro não estava devidamente abastecido... O abade entendeu que o
jovem monge não havia notado que a sua falta grave havia sido descoberta por
ele. Foi com satisfação que autorizou a saída do moço. O rapaz entregou-lhe a
chave do próprio quarto em obediência às regras do lugar... O abade apossou-se
da chave e pensou sobre as providências a tomar em relação à gravidade do delito.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio-quarta_17.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto