sábado, 16 de março de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Quarta novela do primeiro dia – contada por Dioneio – a história do jovem monge que, vivendo no conceituado mosteiro em Lunigiana, incorreu em pecado ao conduzir jovem camponesa à sua cela, e foi descoberto pelo abade

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio_11.html antes de ler esta postagem:


Então registramos aqui a terceira novela, a que traz a “lenda dos três anéis” e que desde a leitura de O Queijo e os Vermes nos chamou a atenção. O compromisso inicial (apresentar o texto a que Menocchio fez referência) foi cumprido... Como a apreciação das novelas de Decamerão prossegue, não há inconveniente em seguir registrando as narrativas... Pelo menos as do “primeiro dia”.
A quarta novela coube a Dioneio, sem dúvida um tipo mais afeito ao humor... Ele iniciou dizendo que sabia bem o motivo de permanecerem juntos ali... “Agradar uns aos outros contando as histórias que cada um considerasse mais adequadas para o regozijo do grupo”.
Falou brevemente sobre o que aprendeu com as narrativas sobre Giannotto de Civigni (que “salvou” a alma de Abraão) e Melquisedeque (que falou com sabedoria e livrou-se das complicações com Saladino)... Dioneio revelou que falaria sobre um monge que safou-se de “penosíssima penalidade” usando de esperteza no trato com o seu superior.
                                                     
                                                                   * Sobre sua novela, podemos antecipar que, de fato, apresenta situações de “apelo sexual”. Então não há de se estranhar que encenações dessa (e de outras novelas do Decamerão) resultassem em performances pornográficas. Isso à parte, há de se destacar a crítica aos abusos cometidos por religiosos em meio à comunidade laica, constituída por lavradores muito simples.

O relato de Dioneio destaca que o povoado de Lunigiana (não muito longe de onde o grupo se encontrava) possuía um mosteiro que, em tempos passados, era reconhecido por seus monges que viviam em isolada santidade... Entre esses monges havia um jovem cheio de vigor (de acordo com o próprio texto, um vigor que “nem os jejuns ou as vigílias conseguiam abater”)... Pois aconteceu de certa ocasião, bem no meio do dia, esse jovem sair para passear pelas cercanias da igreja enquanto os demais monges dormiam.
Em seu perambular viu uma jovem formosa, muito bonita mesmo! Provavelmente se tratava de filha de algum lavrador do lugar. O moço a observou enquanto ela apanhava ervas... Imediatamente sentiu por ela uma forte atração (“concupiscência carnal”)... Aproximou-se dela e iniciou uma conversa que acabou resultando em convite para que com ele seguisse até o seu quarto no mosteiro... Sem conter o seu desejo excessivo, “brincaram sem cautelas”.
Acontece que o abade despertou de seu sono, levantou-se e ao passar pela porta do jovem monge ouviu a agitação... Não teve a menor dúvida de que a cela havia se tornado lugar de pecado... Aproximando o ouvido da porta constatou que, de fato, havia ali uma mulher... Em vez de solicitar que o monge abrisse a porta, resolveu retornar em silêncio ao seu quarto.
O jovem monge, apesar de muito envolvido em sua relação com a camponesa, percebeu que um de seus pares havia descoberto a sua infração. Em seu íntimo, sabia que devia tratar-se do próprio abade. Na certeza de que sofreria um severo castigo, decidiu-se por uma artimanha para se safar.
Disse à sua companhia que (para que ela saísse sem que ninguém a visse) era necessário que permanecesse na cela na mais completa calma... Retirou-se e trancou a porta com a chave... Seguiu até o quarto do abade e, aparentando muita tranquilidade, disse que precisava sair para providenciar lenha porque, por equívoco de sua parte, o mosteiro não estava devidamente abastecido... O abade entendeu que o jovem monge não havia notado que a sua falta grave havia sido descoberta por ele. Foi com satisfação que autorizou a saída do moço. O rapaz entregou-lhe a chave do próprio quarto em obediência às regras do lugar... O abade apossou-se da chave e pensou sobre as providências a tomar em relação à gravidade do delito.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio-quarta_17.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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