segunda-feira, 4 de março de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Primeira novela do primeiro dia – contada por Pânfilo – o plano de Ciappelletto; velho e à beira da morte, se confessa a um bondoso frade; mentiras bem encenadas rendem-lhe a aprovação do religioso – Primeira Parte

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio_2.html antes de ler esta postagem:

Ciappelletto confortou os dois irmãos e prometeu que nenhuma situação desagradável ocorreria a eles em decorrência de sua morte. Explicou que sua vida fora marcada, de fato, por muitas ofensas a Deus... Sendo assim, agora que estava em seus estertores, um ato desonroso “a mais” não faria a menor diferença.
Para a boa execução de seu plano, os dois deveriam trazer até ele um “velho e santo frade”... Os irmãos não conseguiam entender aonde ele queria chegar e, sinceramente, não vislumbravam nenhuma solução favorável. Mesmo assim dirigiram-se ao mosteiro e conseguiram um valoroso frade, conhecido por sua capacidade de interpretar as Escrituras...
O velho religioso seguiu para a confissão do enfermo Ciappelletto. Sua primeira pergunta foi acerca do tempo que se passara desde a sua última confissão... O salafrário, que nunca se dispôs ao sacramento, falou que tinha o hábito de confessar-se uma vez por semana... Falando como se um tipo contrito fosse, arrematou que, por permanecer acamado devido à moléstia, fazia oito dias que não se confessava... Obviamente o velho e bondoso frade aprovou os procedimentos do “beato”, e concluiu mesmo que pouco trabalho teria ali... Mas Ciappelletto continuou a sua trama dizendo que a periodicidade com que se confessava era ainda insuficiente para a sua “piedosa alma”... Então convenceu o frade a perguntar-lhe sobre toda a sua vivência como se estivesse lidando com um cristão que “jamais tivesse se confessado na vida”.
O bondoso frade estava encantado com Ciappelleto. Depois de elogiá-lo, perguntou se alguma vez havia pecado por luxúria... O enfermo suspirou e fez ares de lamentações... Na sequência afirmou que não era “tão puro” como quando saiu do ventre da mãe... O religioso notava que estava diante de um “cristão exemplar”... Então perguntou a respeito do pecado da gula... Ciappelletto, sempre a se lamentar, disse que muitas vezes havia pecado, embora jejuasse durante a quaresma e, por conta própria, passava três dias a cada semana somente a “água e pão”... Seu pecado era ingerir água nessas ocasiões com o prazer daqueles que bebem vinho... Revelou que muito lhe pesava o fato de sentir maior prazer em beber água depois de tarefas pesadas ou de peregrinar durante o seu “jejum voluntário”... O descaramento de Ciappelletto não tinha limites... Emendou a mentira dizendo que por diversas vezes desejava saborear saladas de ervas enquanto jejuava e que “sentia muito” porque essas vontades não eram de acordo com os sentimentos de um verdadeiro devoto.
O frade maravilhava-se a cada “confissão” do adoentado. Sentia que devia aliviar a consciência daquele que parecia ser um santo homem. Afirmou que tudo o que ele dissera também os “mais santos” sentiam durante o período de jejum... E Ciappelletto demonstrava-se ainda mais alinhado à santidade ao dizer que “o que se faz a serviço de Deus deve ser feito com pureza, sem hesitação da alma”.
O bondoso frade aprovava o procedimento do outro, então perguntou se em algum momento de sua vida ele não teria pecado por avareza ao ostentar mais do que deveria... Mais uma vez Ciappelletto mentiu sem escrúpulos... Está claro que essa era uma das características de sua personalidade... Neste ponto da confissão, disse que após a morte de seu rico pai, doou a maior parte de sua herança a Deus... Falou que auxiliou os pobres... Entrou em negócios e eventualmente lucrou, mas repartiu com os necessitados... Garantiu que estava instalado na casa dos irmãos usurários com a missão de corrigi-los a não serem tão gananciosos... Obviamente o frade também aprovou mais esses procedimentos e, na sequência, questionou-lhe acerca da “ira”...
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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