Talvez
seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio_2313.html
antes de ler esta postagem:
Toda a confissão de Ciappelletto foi ouvida
também pelos irmãos florentinos, que permaneceram escondidos atrás de um
biombo. A cada embuste do velhaco, os dois trocavam sussurros e por pouco não
caíam na gargalhada... Mas se contiveram por considerar que ele conseguiu
ludibriar o velho frade e, como seria enterrado em sepultura consagrada de
igreja, tudo bem... Mas não se conformavam como o indivíduo chegava àquela
condição sem temer a Deus, estando prestes a com Ele prestar contas... Ficaram
admirados com tamanha ousadia.
No dia mesmo de sua
confissão, Ciappelletto comungou e recebeu a extrema- unção... À noite
morreu... Os irmãos comunicaram o óbito ao mosteiro... Procedimentos foram
adotados para o velório... O sepultamento ocorreria no dia seguinte.
Foi o bondoso frade, confessor de Ciappelletto, quem acertou com o prior
a convocação do capítulo... A reunião dos frades serviu para que ele
transmitisse aos demais as suas impressões e juízos a respeito do cristão falecido.
Ele estava convencido de que Ciappelletto fora um santo homem e que, no Céu,
intermediaria junto a Deus em favor dos viventes... Tinha certeza de que muitos
milagres aconteceriam... Suas palavras bastaram para que os demais aprovassem o
sepultamento de Ciappelletto no mosteiro.
Os religiosos seguiram à
casa dos irmãos florentinos e fizeram a vigília... Pela manhã, devidamente
paramentados e conduzindo objetos sagrados, trasladaram Ciappelletto à igreja
do mosteiro... Quase toda a população compareceu. O bondoso frade confessor
posicionou-se no púlpito e pôs-se a falar sobre o falecido... Destacou com toda
sinceridade seus jejuns, virgindade, simplicidade, respeito às coisas de Deus e
sua santidade. Falou sobre as dificuldades que teve para convencer o santo
homem, portador de “delitos insignificantes” contra os princípios religiosos,
de que Deus o absolveria... O frade não perdeu a oportunidade de comparar o “santo
homem” aos pecadores locais, que passavam a vida a blasfemar contra Deus por
qualquer “tropeço em fiapo de palha”.
As palavras sinceras e
emocionadas do frade causaram comoção. Os presentes se aglomeraram em torno do
caixão e beijaram pés e mãos do defunto... Suas vestes foram disputadas por
fiéis em busca de um farrapo, relíquia que bem podia ser milagrosa. Então os
religiosos decidiram manter o corpo ali mesmo na igreja para que fosse
contemplado durante todo o dia. À noite o colocaram numa arca de mármore para o
sepultamento numa das capelas.
No dia seguinte o
lugar foi visitado. Em sua homenagem acendiam velas e depositavam flores... Com
o passar do tempo, muitos fiéis colocaram “votos” de cera como agradecimento
por milagres alcançados graças a “São Ciappelletto”. A fama que o agraciava
praticamente não recebeu protestos, e foi assim que ela se perpetuou.Pânfilo encerrou sua
narrativa com um “e foi assim que viveu e morreu o senhor Ciappelletto, de
Prato; e acabou tornando-se santo”... Pânfilo não quis entrar no mérito da
questão sobre a beatitude de Ciappelletto, já que não conhecemos os desígnios
de Deus (que em Sua divina bondade não se importa com os nossos pecados)...
Contudo, o moço manifestou opinião contrária àquele desfecho, pois acreditava
que o mais indicado para o velho fosse sua punição junto ao demo...
Sinceramente não entendia como aquele que passou a vida como “inimigo de Deus”
tivesse se tornado um intercessor dos viventes junto a Ele...
No
início de sua novela, Pânfilo havia louvado o criador... A encerrou recomendando
todo o grupo a Deus na certeza do socorro às suas necessidades em tempos tão atribulados
como aqueles.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto