terça-feira, 5 de março de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Primeira novela do primeiro dia – contada por Pânfilo – a morte de Ciappelletto; o frade providenciou “capítulo” e os religiosos aprovaram a acolhida do defunto no mosteiro; elevado pelos fiéis à condição de santo, Ciappelletto recebeu o crédito por milagres diversos; Pânfilo encerra sua novela – Última Parte

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio_2313.html antes de ler esta postagem:

Toda a confissão de Ciappelletto foi ouvida também pelos irmãos florentinos, que permaneceram escondidos atrás de um biombo. A cada embuste do velhaco, os dois trocavam sussurros e por pouco não caíam na gargalhada... Mas se contiveram por considerar que ele conseguiu ludibriar o velho frade e, como seria enterrado em sepultura consagrada de igreja, tudo bem... Mas não se conformavam como o indivíduo chegava àquela condição sem temer a Deus, estando prestes a com Ele prestar contas... Ficaram admirados com tamanha ousadia.
No dia mesmo de sua confissão, Ciappelletto comungou e recebeu a extrema- unção... À noite morreu... Os irmãos comunicaram o óbito ao mosteiro... Procedimentos foram adotados para o velório... O sepultamento ocorreria no dia seguinte.
Foi o bondoso frade, confessor de Ciappelletto, quem acertou com o prior a convocação do capítulo... A reunião dos frades serviu para que ele transmitisse aos demais as suas impressões e juízos a respeito do cristão falecido. Ele estava convencido de que Ciappelletto fora um santo homem e que, no Céu, intermediaria junto a Deus em favor dos viventes... Tinha certeza de que muitos milagres aconteceriam... Suas palavras bastaram para que os demais aprovassem o sepultamento de Ciappelletto no mosteiro.
Os religiosos seguiram à casa dos irmãos florentinos e fizeram a vigília... Pela manhã, devidamente paramentados e conduzindo objetos sagrados, trasladaram Ciappelletto à igreja do mosteiro... Quase toda a população compareceu. O bondoso frade confessor posicionou-se no púlpito e pôs-se a falar sobre o falecido... Destacou com toda sinceridade seus jejuns, virgindade, simplicidade, respeito às coisas de Deus e sua santidade. Falou sobre as dificuldades que teve para convencer o santo homem, portador de “delitos insignificantes” contra os princípios religiosos, de que Deus o absolveria... O frade não perdeu a oportunidade de comparar o “santo homem” aos pecadores locais, que passavam a vida a blasfemar contra Deus por qualquer “tropeço em fiapo de palha”.
As palavras sinceras e emocionadas do frade causaram comoção. Os presentes se aglomeraram em torno do caixão e beijaram pés e mãos do defunto... Suas vestes foram disputadas por fiéis em busca de um farrapo, relíquia que bem podia ser milagrosa. Então os religiosos decidiram manter o corpo ali mesmo na igreja para que fosse contemplado durante todo o dia. À noite o colocaram numa arca de mármore para o sepultamento numa das capelas.
No dia seguinte o lugar foi visitado. Em sua homenagem acendiam velas e depositavam flores... Com o passar do tempo, muitos fiéis colocaram “votos” de cera como agradecimento por milagres alcançados graças a “São Ciappelletto”. A fama que o agraciava praticamente não recebeu protestos, e foi assim que ela se perpetuou.Pânfilo encerrou sua narrativa com um “e foi assim que viveu e morreu o senhor Ciappelletto, de Prato; e acabou tornando-se santo”... Pânfilo não quis entrar no mérito da questão sobre a beatitude de Ciappelletto, já que não conhecemos os desígnios de Deus (que em Sua divina bondade não se importa com os nossos pecados)... Contudo, o moço manifestou opinião contrária àquele desfecho, pois acreditava que o mais indicado para o velho fosse sua punição junto ao demo... Sinceramente não entendia como aquele que passou a vida como “inimigo de Deus” tivesse se tornado um intercessor dos viventes junto a Ele...
No início de sua novela, Pânfilo havia louvado o criador... A encerrou recomendando todo o grupo a Deus na certeza do socorro às suas necessidades em tempos tão atribulados como aqueles.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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