terça-feira, 30 de abril de 2013

Filme: Quanto Vale ou é por Quilo? – O casamento de Clarinha; transferência da associação de Noêmia para o interior; exigências; a menina Kátia; a experiência do tratamento de dependentes químicos a partir da “sabedoria vegetal” e o financiamento externo

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Arminda viu no papel que o chefe de Lurdes faturava e na verdade colaborava apenas aparentemente com projetos sociais... O amigo dela a fez perceber que as notas da empresa eram superfaturadas... Enquanto a Stiner entregava equipamentos imprestáveis à instituição para a qual Arminda trabalhava, se apropriava do dinheiro público... Em seu pensamento havia a insistente preocupação em garantir o melhor para as crianças carentes, então não se conformava com os computadores recebidos... De sua parte, Lurdes a aconselhava a não se desgastar com a Stiner, pois isso certamente significaria o bloqueio de projetos futuros...
(...)
Chegou o momento do casamento da sobrinha de Mônica... Tudo foi organizado de modo muito simples... Bolo, salgados e doces foram encomendados graças ao dinheiro emprestado pela “amiga benfeitora” Noêmia... Vemos a alegria estampada no rosto de Mônica. Enquanto caminha maravilhada pela cozinha modesta, Mônica conversa com a menina Kátia que, sem ser adotada, é acolhida na casa para serviços domésticos... A mulher a observa e a elogia, diz que a menina é muito prendada e pergunta se ela não gostaria de tê-la como mãe, com comida boa todos os dias... Essa conversa foi interrompida pela chegada do noivo, Candinho... O moço estava muito animado e, com máquina fotográfica em punho, registrada os preparativos ao mesmo tempo em que avançava sobre os petiscos...
A convidada mais ilustre chegou carregada de presentes para os noivos... Clarinha apareceu com o tradicional vestido branco de cauda longa... Sua barriga em adiantado estado de gravidez denunciava o apressamento do enlace. Orgulhosa, Mônica mostrou à amiga tudo o que conseguiu preparar... Garantiu que acertaria a sua dívida... Noêmia tranquilizou a outra e falou que ela não precisava se preocupar, mas emendou que contava com ela para uma nova etapa de sua associação, que seria transferida para o interior... Haveria muito trabalho e a ajuda de Mônica seria fundamental.
Mônica mudou sua fisionomia e demonstrou-se preocupada... Falou que não poderia se comprometer com o projeto porque o filho de Clarinha poderia nascer a qualquer momento e a sobrinha precisaria de seu auxílio... Disse que poderia fazer qualquer coisa pela associação na cidade, mas não no interior. Noêmia demonstrou que não entendia a situação da amiga, já que respondeu que a ajudou no momento em que ela mais precisava e por isso não podia dispensar a ajuda dela, que era de sua confiança. Prestativa, Mônica sugeriu apresentar-lhe uma menina “prendada, limpinha, que faz tudo sem dar trabalho algum”... A câmera foca a pequena Kátia, que estava organizando vasilhames de cerveja numa caixa...
(...)
Na sequência vemos a nova sede da associação de Noêmia... Numa típica estradinha de interior caminham tipos, homens e mulheres, empobrecidos e visivelmente dependentes químicos... Eles seguiam um funcionário da associação, que estava funcionando na “Chácara São Francisco”... Uma mesa ao ar livre estava sendo preparada pela pequena Kátia e outros colaboradores... Um tipo hippie, cabelos longos e camisão branco, oferecia uma bebida natural aos recém-chegados...
Esse tipo atuava em parceria com Noêmia e introduziu na associação a “sabedoria vegetal”, um “composto natural e divino”, cuja ação no organismo resultaria na “purificação física e mental” e no “aumento da capacidade espiritual”...
A cena que segue é medonha... Vemos as pessoas bebendo o líquido verde e vomitando grandes volumes... Noêmia filmava tudo isso enquanto fazia uma série de perguntas a uma das presentes... O filho de Noêmia pediu para que ela interrompesse com o processo, mas ela o rechaçou. Ela justificou dizendo que a filmagem fazia parte do projeto para a obtenção de patrocínio da “Philantropic Parteners”, empresa da Filadélfia...
Indicação (14 anos)
Continua
Um abraço,
Prof.Gilberto 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Sexta novela do primeiro dia – contada por Emília – a história do frade inquisidor avarento e suas ameaças ao rico, ingênuo e bom leigo; chantagem sobre a morte na fogueira e o “remédio” indicado para o caso; refém da ganância do frade, o bom homem conseguiu livrar-se dele após proferir seu entendimento sobre leitura do evangelho

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A novela narrada por Fiammetta foi comentada e elogiada por todos, de fato apreciaram a atitude da marquesa que deu “elegante castigo” ao rei... A sexta história coube a Emília... Ela adiantou que falaria sobre um frade avarento e aproveitador que acabou se envolvendo com um leigo, um bom homem...
O evento havia se passado em Florença mesmo... O frade menor fazia de tudo para ser reconhecido como cristão fervoroso e devoto... Tratava-se de inquisidor de “heréticas infâmias”... Seu desejo era que o vissem como a um santo, entretanto quando percebia que eram ricas as pessoas que investigava, parecia não se orientar pelo rigor inquisitorial.
Houve certa ocasião em que o nosso “frade menor” viu-se perante um tipo que, em suas beberagens, teria dito que possuía um vinho tão bom que o próprio Cristo teria gosto em bebê-lo... Emília sustenta que o homem não calculou (e nem tinha como refletir) que suas palavras pudessem resultar em alguma complicação... Mas foi o que ocorreu... O frade “implacável” foi comunicado sobre o episódio.
Certificando-se que o acusado era endinheirado, o religioso iniciou o processo imediatamente e exigiu que ele se apresentasse para responder se a acusação era procedente... O homem que, além de imprudente e endinheirado, não dissimulava, respondeu que o episódio era verdadeiro... O “santíssimo frade” (no dizer de Emília, “devoto de São João Barba de Ouro”, numa referência à sua ganância) mostrou indignação e disse que o acusado estava transformando Cristo em degustador de vinhos como os beberrões conhecidos (fala de certo Cinciglione) das tabernas... E arrematou garantindo que aquilo não era uma falta leve e devia ser punida com a fogueira.
É claro que o tipo secular (o “leigo herético”) ficou apavorado com as severas palavras que ouviu... Seu alívio só foi possível depois que alguns intermediários receberam dele muita “graxa de São João Barba de Ouro” para “untar” as mãos do frade avarento... O “remédio” foi tão eficaz que a tal fogueira ameaçadora apagou-se dos discursos do inquisidor... Mais que isso... Estando o homem se preparando para atravessar o oceano (certamente a negócios), o frade tratou de tornar o empreendimento associado à sagrada religião... Uma cruz amarela com fundo preto “ornamentou” a embarcação...
Depois de embolsar o dinheiro do bom e ingênuo homem, o frade deu um jeito de mantê-lo sempre à vista... Obrigou-o a assistir às missas matinais na famosa igreja de Santa Cruz (lá estão os restos mortais de Michelangelo, Maquiavel, Galileu Galilei, Rossini...).
Numa das missas, o evangelho ensinava que os fiéis à doutrina teriam “por um, cem”, e assim possuirão a vida eterna. O nosso personagem foi orientado a, após a missa, encontrar-se com o frade... Assim ele fez... Era hora do almoço dos religiosos e ao recebê-lo, o frade perguntou se havia algo que, durante a missa, teria resultado em dúvida para ele. O penitente bem poderia dizer que entendera tudo, pensar que o dinheiro que dava ao inquisidor pudesse representar (de acordo com a mensagem do evangelho) benefício após a morte... Mas, além de responder que havia entendido tudo o que tinha ouvido e que não tinha dúvida a respeito de nada, falou que tirou conclusões que lhe deram certezas e proporcionaram-lhe o sentimento de piedade em relação ao frade e aos demais religiosos...
Falou que, pelo que entendeu, a situação deles deveria ser péssima “na outra vida”. É claro que o frade quis saber o que o faria pensar daquela maneira... Sem pestanejar, o homem citou o trecho “vocês terão por um, cem, e possuirão a vida eterna”... O frade quis saber por que a passagem o havia comovido... O bom homem respondeu que, como estava obrigado a frequentar o lugar devido à penitência que recebera, notava que diariamente os frades doavam um ou dois caldeirões de sopa aos pobres que para ali acorriam... Então concluiu que, de acordo com a Escritura, na outra existência receberiam tantos caldeirões de sopa (100 por 1) que se afogariam neles...
Os demais frades que também almoçavam riram-se a valer da ingenuidade do bom homem... Mas o inquisidor entendeu perfeitamente que aquelas palavras atingiam diretamente a sua hipocrisia... Ficou perturbado... Aquelas palavras bem mereciam um novo processo, mas sabia que suas atitudes anteriores o incriminavam...
Depois dessa conversa o frade livrou o bom homem da obrigação diária de aparecer perante a sua autoridade e, dessa forma, pôde fazer o quem bem entendesse durante o seus dias.
Fim da sexta novela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/decamerao-de-giovanni-boccaccio-setima.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 25 de abril de 2013

“O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg – Menocchio é forçado a explicar sobre a alma e o espírito; contradições; denominações da alma extraídas do “Fioretto

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Como é que as almas poderiam retornar a Deus se Menocchio mesmo admitia que “Deus é ar, água, terra e fogo”? Ele respondeu que acreditava que o espírito, “que é alma”, retorna a Deus de onde ele saiu... O vigário-geral insistiu que o acusado se explicasse melhor, então o camponês esclareceu que todas as coisas do mundo são Deus, assim sendo, as almas retornam às coisas do mundo segundo o agrado de Deus... Recordando-se das imagens que via nas igrejas completou que, “como anjinhos que estão dependurados ao redor de Deus”, assim também ocorria com as almas... Perto de Deus ficariam apenas as de maior mérito... As que fazem mal são dispersas pelo mundo... Menocchio não tinha segurança nas palavras que ele mesmo proferia... É por isso que apelou para a representação iconográfica religiosa na esperança de ela responder satisfatoriamente à pergunta do vigário-geral.
Foi depois desse esforço de Menocchio que o inquisidor o pressionou ainda mais, enumerando suas negações anteriores a respeito da imortalidade da alma... Menocchio respondeu que se recordava de ter falado sobre o assunto com algumas pessoas mais chegadas (Giuliano Stefanut, Melchiore Gerbas, Francesco Fasseta)... Então caiu em contradição, já que contou que, para eles, havia dito que “morto o corpo, morre a alma, mas o espírito continua”.
Em situação anterior ele garantiu que o espírito e a alma são a mesma coisa... Mas a partir dessa revelação sobre o que disse aos amigos, o vigário quis saber se ele acreditava que corpo, alma e espírito são elementos distintos uns dos outros... O moleiro respondeu afirmativamente, explicando que o espírito nos inspira a fazer as coisas que devem ser concretizadas, e que as almas são as “operações da mente”... O corpo obedece às operações.
Menocchio revelou que no homem há sete coisas que são como almas e elas são “intelecto, memória, vontade, pensamento, crença, fé e esperança”. Elas nos foram dadas por Deus e nos levam a realizar as obras... E por isso (garantiu Menocchio) é que ele afirmou que “morto o corpo, morta a alma”... Ele explicou também que o espírito é “separado do homem, tem a mesma vontade do homem, rege e governa o homem”... Depois da morte, o espírito bom retorna a Deus. Para explicar melhor (?), Menocchio completou o quadro afirmando que todos nós sofremos tentações e podemos agir mal, já que “nosso coração tem duas partes, uma iluminada e outra escura”... O espírito bom está na parte iluminada, mas a parte escura é habitada pelo espírito ruim.
É claro que a cada nova explicação Menocchio se fazia entender menos e se complicava mais perante as autoridades religiosas... Dois espíritos, sete almas e um corpo composto pelos quatro elementos?
No Fioretto dela Bibbia certamente Menocchio leu a respeito dos vários nomes da alma no corpo de acordo com as funções:
“se a alma dá vida ao corpo é chamada de substância; se é vontade, é chamada de coração; quando o corpo expira, é o espírito; enquanto ela entende e sente, pode-se dizer que é o juízo; enquanto imagina e pensa, é a imaginação ou memória; (...) a inteligência está colocada na parte mais alta da alma, onde recebemos razão e conhecimento, já que nos assemelhamos a Deus...”
Não é possível ouvir de Menocchio o trecho do Fioretto com a “exata enumeração” apresentada acima... Mas notamos as analogias... A divergência mais gritante está no trecho que diz “quando o corpo expira, (a alma) é o espírito”... Além disso, somos levados a pensar sobre a distinção que Menocchio fez entre “alma mortal” e “espírito imortal”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg.html
Leia: O Queijo e os Vermes. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 24 de abril de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Nadine e Lambert retornam; os jovens estão se entendendo; não há sinal de que haverá financiamento para o L’Espoir; Dubreuilh insiste para que Anne responda positivamente a Romieux; o jantar festivo em Saint-Martin; Anne se decide

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Nadine e Lambert retornaram alguns dias depois... Anne revela que os dois trouxeram ares alegres, já que se apresentaram bem diferentes de todos em Paris... Estavam bronzeados e risonhos... “Acanhados como casadinhos” recentes... Lambert era só elogios a Nadine, que daria uma “repórter de primeira”. A moça por sua vez garantia que o trabalho de repórter era mesmo divertido...
Os dois surpreenderam ao revelar a descoberta de uma casa de campo (necessitando vários reparos) há uns trinta quilômetros de Paris, que bem podia ser aquela que Anne imaginava para umas férias ao lado de Robert... Ela apreciou o panorama e ficou alegre com o envolvimento de Nadine e Lambert nos reparos e decoração. A moça não se demonstrava impaciente para voltar ao trabalho de secretária na Vigilance... Ali, em Saint-Martin, o jovem casal se instalou.
Certa ocasião Nadine convidou os pais para um jantar, mas Robert recusou porque não aceitava que Lambert o atacasse constantemente... Isso o irritava demais... Anne levava em consideração o fato de não serem poucas as pessoas que, perante o seu marido, encenavam algum tipo de afetação... Lambert era agressivo com ele, e também por isso Anne via Robert como um tipo solitário... É que os outros enxergavam nele um personagem em vez da pessoa que ele era de verdade.
À véspera do jantar, Dubreuilh perguntou se ela estava tranquila a respeito do engajamento da filha. Nadine parecia ter se encontrado, e Lambert tinha o mérito de ajudá-la... Anne concordou com isso, então Robert lembrou-lhe que, então, não havia motivo para não responder a Romieux a respeito do congresso nos Estados Unidos... Ela disse que até o início do próximo ano muita coisa ainda poderia ocorrer... É claro, Anne falou que tinha vontade de fazer a viagem, mas no momento estava ponderando a situação de Robert e, por causa disso, não tinha vontade de deixar Paris... Explicou que as preocupações dele a angustiavam.
O pensamento de que a sua ausência significaria mais dificuldades para Robert não era saudável... Anne bem sabia que ele se viraria muito bem sem ela... Dubreuilh a incentivou, pediu que afastasse os seus escrúpulos e que escrevesse a carta antes que fosse tarde demais. Como que encerrando o assunto, Anne sentenciou que faria isso após retornar de Saint-Martin, se tudo estivesse bem...
Na sequência ela perguntou sobre a conversa com Mauvanes... Robert contou que o outro sairia de férias e que novidades sobre financiamento a L’Espoir só apareceriam em outubro... Antecipou que era quase certo que teriam dinheiro, pois Mauvanes também era do tipo que procurava se “proteger com a esquerda”. A notícia deixou Anne aliviada porque considerava que Mauvanes não era volúvel como Trarieux... Em relação a Henri, Robert disse que não tinha motivos para tratar sobre aqueles assuntos com o amigo porque, já que era o responsável pela situação desagradável, sentia-se no dever de resolvê-la sozinho... Ambos se recolheram... Anne refletiu sobre os seus dramas em relação à viagem aos Estados Unidos... No fundo ela sabia que Nadine e Robert não eram os motivos de sua angústia... A indecisão em relação à resposta a Romieux estava dentro dela mesma.
(...)
Então Anne partiu para o jantar em Saint-Martin. Encontrou ambiente festivo. O jovem casal divertia-se com o estrago que Lambert provocou na maionese que fazia, “sua especialidade”... Anne entrou no clima amistoso e, enquanto ajudava a reparar o erro culinário do rapaz, bebeu vinho branco com ele (duas garrafas)... O moço ficou mais alegre... Nadine mostrou-se protetora, contendo-o em seu impulso etílico.
A conversa girou em torno dos projetos jornalísticos dos dois... De motocicleta atravessariam o Saara... Nadine insistia que ela mesma pilotaria a máquina... Lambert se pôs a cantar... Anne animou-se com o ambiente e a alegria dos jovens... Decidiu que naquela noite responderia o sim a Romieux, aos três meses que permaneceria numa grande cidade do outro lado do oceano, distante dos amigos e família... Livre... “Viver, afinal é, ininterruptamente, recomeçar a viver”.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – o fim do jantar na residência de Trarieux; os temores de Anne em relação às atitudes de Robert em sua tentativa de obter dinheiro; o futuro de L’Espoir e a direção de Perron estavam comprometidos

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Anne notava que Samazelle não esboçava nenhum constrangimento... Em contrapartida, sua esposa manifestava desconforto... Robert prosseguiu falando que havia prometido a Perron que ele teria total independência no L’Espoir, e foi graças a isso que ele topou agregar o jornal ao SRL... Trarieux falou que aquele compromisso não o incluía. Além disso, não via nenhuma dificuldade para Henri aceitar suas condições, já que ele também era amigo de Samazelle. Robert disse que isso era o de menos. A questão estava no fato de Henri desconfiar que havia sido vítima de uma armação e, assim  sendo, protestaria... Robert manifestou que entenderia perfeitamente se isso ocorresse.
Anne sabia das reservas de Henri em relação a Samazelle... Mas Trarieux insistia e disse que também sabia “bater o pé”... Robert alertava-o para o fato de a posição de Samazelle tornar-se muito delicada dada a desaprovação de Perron. O moço concordou e falou que seria mesmo desconfortável participar de “um novo surto ao jornal” sem o sincero consentimento de Henri... Trarieux falou que, embora não visasse lucros, se recusava a investir milhões “em troca de nada”... Se concluísse que o projeto só resultasse em fracasso não participaria do empreendimento. Samazelle falou que não adiantava ficarem conversando, e que o melhor seria Robert falar pessoalmente com Perron. Disse que não acreditava que empecilhos fossem criados, pois o objetivo de todos era o “êxito do movimento”... Trarieux concordou e reforçou a ideia a Dubreuilh, que respondeu no mesmo instante que não tinha nenhuma disposição de tratar sobre aquilo com o amigo.
Por um tempo ainda falaram sobre o impasse, mas logo o encontro foi encerrado. À saída, Anne perguntou ao marido o que havia sido combinado com Trarieux meses antes... Robert confirmou que trataram apenas do “aspecto político do negócio”.
Anne quis saber se Robert não havia comprometido demasiadamente Henri e L’Espoir com Trarieux e sua verba... Dubreuilh confessou que provavelmente tivesse antecipado a situação e completou que, muitas vezes, se não é dessa maneira, torna-se impossível realizar algo. Anne advertiu que o melhor seria forçar Trarieux resolver a situação no encontro que tiveram e, dessa forma, ou cumpria o combinado ou haveria o desentendimento e (assim) a sua expulsão do SRL... Mas Robert ainda levava em consideração a provável necessidade de dinheiro por parte de L’Espoir... Antecipando-se aos fatos, lamentava-se com a possibilidade de Henri perder o jornal.
Anne não teve coragem de dizer a Robert sobre a conversa que tivera com Henri na “noite da vitória”, ocasião em que ele manifestou sofrimento por ter submetido o jornal ao SRL... Perron “gostava do jornal, da liberdade, não gostava de Samazelle”... Mas não fez rodeios ao dizer-se inconformada com o fato de Robert ter feito negócio com Trarieux, um tipo que ela não suportava... Dubreuilh admitiu ter errado e disse que, como alternativa, poderia tentar obter dinheiro com Mauvanes... Anne duvidou que conseguisse dinheiro com este ou com qualquer outro endinheirado filiado ao SRL... Ainda assim não podia descartar Trarieux... Robert pensava, nesse caso, em conversar com Samazelle... Se o moço fosse coerente recusaria que lhe impusessem a direção do periódico.
Robert pensou em Mauvanes e muitos outros que não demonstraram interesse pela situação. Anne lamentou o fato e concluiu que o marido havia comprometido intensamente Henri e L’Espoir... Mas não queria julgá-lo... Sabia que a pressa dele em perceber resultados de suas ações no mais breve tempo o fazia um tipo descuidado com os escrúpulos.
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Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
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Prof.Gilberto

terça-feira, 23 de abril de 2013

“Símon Bolívar”, de Gabriela Pellegrino Soares, em “Coleção Fundadores da América Latina”, coordenada por Maria Ligia Coelho Prado – a construção do mito; Chávez e seu bolivarianismo; historiografia em torno de Simón Bolívar

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Todos sabemos que ainda hoje Simón Bolívar continua tema de debates quando o assunto é a América Latina e as propostas para o seu desenvolvimento econômico e social... Recentemente Hugo Chávez deu o nome de “Bolivariana” à revolução social que liderou a partir dos anos 1990. A Constituição venezuelana aprovada em 1999 deu ao país o nome de República Bolivariana da Venezuela.
A ideia central das mudanças encaminhadas por Chávez está na inclusão social das camadas menos favorecidas da população... Buscou-se legitimar o processo através da “Democracia Participativa”, em vez da “Democracia Representativa”... A argumentação de Chávez e de seus partidários era a de que o ideário de Bolívar foi completamente desvirtuado pelas elites do país... Isso explica, de acordo com os chavistas, os motivos de a América Latina não ter completado sua libertação com justiça e unidade... Então, a partir da liderança de Hugo Chávez, esperava-se retomar as propostas do libertador, estreitando os laços com as nações vizinhas.
A autora salienta que Bolívar e seus ideais foram, em diversos momentos, assumidos como ícones daqueles que procuraram liderar processos políticos em toda a América Latina... Germán Carrera-Damas publicou em 1969 um estudo sobre essa temática... Ele aponta que o culto a Bolívar teria se iniciado ainda em 1842 por ocasião do traslado de seus restos mortais para Caracas... Nessa época, o presidente do país era José António Paez (o líder dos llaneros ao tempo dos conflitos emancipacionistas), que buscou unir a elite do país em torno do ideário bolivariano.
As obras de Juan Vicente González (conservador) e Felipe Lazarrábal (liberal) são caracterizadas por colocar Bolívar no centro das aspirações nacionalistas... O culto ao herói se solidificou durante as décadas de 1870 e 1880, quando foi celebrado o centenário de seu nascimento... Ao tempo do “governo liberal” de Guzman Blanco foram publicadas antologias que reuniam documentos produzidos por Bolívar na época das guerras emancipacionistas... Esse material foi incorporado a livros escolares e contribuiu para a formação da mentalidade de unidade nacional em torno do herói.
A solidificação do mito se fez também durante governos ditatoriais... Foi o caso do longo período (1908-1935) marcado pelo governo do ditador Juan Vicente Gómez, quando as cartas de Bolívar foram compiladas no “extenso Epistolário”... O herói foi utilizado também para unir os opositores do marxismo, e isso é ressaltado em relação ao governo Eleazar López Contreras (1935-1941)... Ao tempo da Guerra Fria, Bolívar foi resgatado, sobretudo como símbolo de defesa da Democracia... Mas a obra do espanhol Salvador Madariaga (1951) apresentou uma biografia do libertador na qual ele desponta como um tipo vacilante e facilmente influenciado pela amante Manuela Sáenz... Além disso, o herói é revelado cometendo vários erros militares, e vacilante em relação à República, uma vez que “flertava com a Monarquia”. Evidentemente os bolivarianos perseguiram o material.
Os marxistas perceberam em Bolívar um aglutinador da causa revolucionária. Em 1969 foi publicado Bolívar e La guerra revolucionaria, do venezuelano J.R. Nuñez Tenorio... Certamente o seu conteúdo se relaciona mais diretamente ao ponto de vista que Hugo Chávez explorou.
Nikita Harwich realizou um estudo sobre a produção historiográfica envolvendo Bolívar... Não deve ter sido difícil concluir que a paixão acabou pautando as perspectivas que alicerçaram as pesquisas... A autora cita ainda Epistolário de Simón Bolívar, trabalho de Fabiana Fredrigo que desenvolve reflexão acerca das relações de Bolpivar com seus preceptores e generais e, de modo crítico, “lança luz sobre as estratégias” utilizadas pelo libertador para ser reconhecido pelas gerações futuras como indispensável “protagonista das independências latino-americanas”.
Leia: Simón Bolívar. Fundação Memorial da América Latina.
Um abraço,
Prof.Gilberto

segunda-feira, 22 de abril de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Trarieux fala sobre a crise financeira de L’Espoir; Dubreuilh se mostra indignado com a insistência do burguês milionário em interferir na gestão do periódico; Samazelle participava dos projetos de Trarieux

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Depois que Samazelle disse que se o SRL não conseguisse adesão significativa no período de um ano “perderiam a batalha”, Trarieux manifestou sua opinião em contrário... Falou que não haveria derrota. Robert manteve-se calado enquanto ouvia o outro dizer que a criação do SRL ocorria no momento adequado, que o proletariado percebia que o Partido Comunista não representava mais os interesses do operariado, e que “burgueses esclarecidos” (como ele) aceitavam a “liquidação de sua classe”. Depois Robert questionou... Disse que aquelas expectativas não eram totalmente certezas... Trarieux respondeu que não valia a pena contentar-se com o pouco e que não era interessante limitar as ambições políticas... Robert, um tanto amargurado, falou que o que importava mesmo era a necessidade de permanecerem esforçados em seus intentos.
Sobre isso, Trarieux respondeu que havia muito a se explorar. Declarou que a tiragem de L’Espoir era irrisória em relação às necessidades políticas do SRL... Anne disse, sem rodeios, que a baixa na tiragem de L’Espoir se explicava pela filiação de Trarieux ao SRL. Mostrando descontentamento com a intromissão dela, o anfitrião disparou que faltava dinamismo ao L’Espoir... Robert argumentou que o periódico possuía um grande público... Samazelle tentou explicar que o fato devia-se ao entusiasmo que tomou conta dos potenciais leitores após a libertação da França ao final da guerra... Trarieux falou de Perron e elogiou suas qualidades de excelente escritor, mas lamentou o fato de ele não ser um tipo de negócios e nem representar nenhuma iniciativa política... Aproveitou para criticar Luc também.
Robert limitou-se a concluir que a adesão de Perron ao SRL fez com que tanto a direita quanto os comunistas se afastassem,  e somava-se a essas perdas significativas o fato de não possuir meios financeiros para prosseguir adequadamente com L’Espoir... Trarieux concordou com as palavras de Robert e ainda “receitou” que se Samazelle estivesse à frente do periódico sua tiragem duplicaria em pouco tempo... Robert respondeu que Samazelle não estava em questão... O milionário anfitrião insistiu e propôs acertar com Henri Perron o resgate de L’Epoir em nome de Samazelle. Dubreuilh nada tinha a dizer... Falou apenas que o outro deveria experimentar colocar a ideia em prática... Trarieux continuou arquitetando uma mudança para L’Espoir e cogitou comprar as cotas de Luc, ou um terço das cotas de cada um dos amigos... Robert argumentou que Trarieux devia entender que Henri e Luc criaram o jornal, então era natural que definissem sobre como ele deveria ser gerido.
O burguês manifestou que não se resignava e que a vontade que tinha era de provar que aquilo podia ser diferente... Falou que os interesses do SRL deviam ser muito mais importantes... Sendo assim, os sentimentos de Luc e Henri Perron pelo L’Espoir, ainda que respeitáveis, deviam ser submetidos ao “projeto político maior”.
Samazelle mostrou sua preocupação, pois já conhecia a proposta de Trarieux de fazer com que Henri o agregasse ao L’Espoir como condição para que todas as suas dívidas fossem sanadas por ele. Em caso de recusa, Trarieux empurraria Henri à falência... Robert garantiu que Henri preferiria a falência a ceder à chantagem de Trarieux... O burguês milionário mostrou que estava decidido a lançar outro jornal com a direção de Samazelle... Este, por sua vez, disse imediatamente que não contribuiria com aquela manobra. Robert completou dizendo que o hipotético novo jornal nada teria a ver com o SRL e que, além disso, a iniciativa significaria a exclusão de Trarieux. O outro desconversou e contou que não tinha intenção de prosseguir naquele projeto, que deveria servir apenas para pressionar Henri Perron... Ele insistiu para que Robert pensasse na necessidade de dobrar a tiragem do jornal para que o SRL obtivesse sucesso político.
Robert respondeu que em sua opinião o erro de Henri e Luc era insistir em trabalhar com poucos recursos financeiros. Falou que o dinheiro de Trarieux mudaria a situação... O burguês revelou que, com a injeção de capital, Luc e Henri teriam de aceitar a participação de Samazelle na direção do jornal... Dubreuilh disse nervosamente que Trarieux havia se comprometido a apoiar L’Espoir sem exigir nada em troca...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-o_24.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – opiniões animadas sobre os resultados do meeting; Charlier, sua adesão ao SRL e o encontro de Robert; crise financeira de L’Espoir, Samazelle e sua avaliação; jantar com Trarieux

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_18.html antes de ler esta postagem:

Anne perguntou aos amigos se estavam contentes com o comício que havia se encerrado... Henri e Samazelle sentenciaram com aprovação, disseram que o meeting havia sido um sucesso, um triunfo. Dubreuilh, de sua parte, disse que o evento em si não provava nada... Anne pensou que aquilo também fosse um reflexo da idade do marido... Dez anos antes havia a convicção de que o fascismo seria derrotado, mas o pós-guerra era momento em que os sacrifícios eram “inventariados”, todos haviam envelhecido e Robert, particularmente, talvez tivesse a necessidade de “certezas em curto prazo”.
Charlier anunciou a sua adesão ao SRL. Ele era um dos quadros antigos da Resistência... Apresentava um aspecto de grande debilidade física... Se no passado havia sido um dos mais suaves e insistentes entre os idealistas, revelava-se embrutecido devido aos sofrimentos dos campos (golpes, bofetadas, torturas, fome...). O velho falava dos episódios insuportáveis também de serem ouvidos... Tratava-se de um tipo disputado e dizia que o retorno às gangues socialistas era algo impensável. Em relação aos comunistas, manifestava sem rodeios a sua aversão... Aprovou o SRL e certamente engrossaria suas fileiras com muitos outros que o seguiam.
Depois que Charlier se retirou, Robert manifestou suas preocupações em relação aos preços que os erros políticos cobram... Anne entendia que o marido, um pacifista, julgava a si mesmo e aos de sua geração responsáveis pela guerra... Não havia dúvida de que o encontro com Charlier havia despertado em Robert aquelas angústias... Anne tentou acalmá-lo, mostrando que, ainda que o SRL não desse certo, o resultado não seria de grandes desordens. Robert emendou dizendo que “os pequenos desastres também importam”. Quando se é mais moço é possível crer que o futuro colocará ordem nos erros que cometemos...
Dubreuilh entendia que os mais jovens, além de se apresentarem com cinismo, tinham pretensões marcadas pela rudeza... Talvez por isso ele viesse se revelando mais sentimental. Isso à parte notava-se que a cada dia o SRL conseguia mais adeptos... É verdade também que L’Espoir vinha perdendo muitos leitores. Era bem provável que necessitassem recorrer a Trarieux e ao seu dinheiro.
Oito milhões, uma quantia bem significativa... Mas Robert não tinha dúvidas de que o burguês concederia o dinheiro. Sabia bem que, apesar dessa certeza, precisava fazer as vezes de adulador... Um jantar havia sido combinado... Anne não estava à vontade para participar e quis saber os motivos de tão grande quantia... Robert disse qualquer coisa a respeito da gestão de Luc, que Samazelle já havia investigado a situação crítica do jornal, e que era certo que precisariam de um socorro financeiro. Na verdade Anne considerou que o sacrifício de terem de se encontrar com Trarieux só tinha sentido porque a causa era L’Espoir.
Trarieux recebeu os seus convidados em seu salão-biblioteca... Quando Anne e Robert chegaram encontraram Samazelle e a esposa... O anfitrião não exibia esposa, mas todos podiam notar uma moça que fazia a vez de companhia do milionário. O jantar deu-se numa luxuosa sala ladrilhada de preto e branco... Depois foi o café com licores... Anne ficou a observar os tipos presentes enquanto bebericavam... Observou os gestos de Trarieux, um tipo suspeito, de banalidade calculada... Também a empregada que servia o café chamou-lhe a atenção. Anne concluiu que certamente teria muito a dizer-lhe se deitasse no divã em sua clínica. Enquanto refletia sobre isso, os demais falavam sobre a Resistência e o comício... Samazelle falou da adesão maciça ao SRL e que provavelmente em um ano contariam duzentos mil adeptos... “Ou perderiam a batalha”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_8632.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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