terça-feira, 16 de abril de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Quinta novela do primeiro dia – contada por Fiammetta – as mulheres advertem Dioneio sobre sua narrativa (a respeito do monge, do abade de Lunigiana e da camponesa); a narrativa de Fiammetta é sobre a paixão desenfreada do rei Felipe, o Vesgo, pela virtuosa marquesa de Monferrato

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio-quarta_17.html antes de ler esta postagem:

A história contada por Dioneio (do monge e do abade de Lunigiana) deixou as moças ruborizadas... A narrativa foi ouvida com atenção e também provocou acessos de risos... É certo que ao final elas disseram a Dioneio que novelas com aquele tipo de conteúdo não podia se destinar a grupos femininos... Depois disso, Pampineia dirigiu-se a Fiammetta e solicitou que ela desse sequência às narrativas.
A quinta novela começou com a observação de Fiammetta acerca do fato de notar (com aprovação) que normalmente os homens sentem-se atraídos por mulheres de “linhagem mais ilustre do que a deles”, ao mesmo tempo em que percebia que as mulheres bloqueiam a paixão por homens de classe social mais elevada. Depois de fazer essas considerações, Fiammetta disse que sua novela trataria exatamente do procedimento de uma nobre mulher que, além de ter evitado se apaixonar por um homem muito mais rico do que ela, conseguiu impedir que ele se perdesse de amores por mulher “de categoria inferior à dele”.
A trama envolve o marquês de Monferrato, sua esposa marquesa, e o rei Felipe, o Vesgo... Fiammetta contou que o marquês era um tipo virtuoso, reconhecido por suas várias realizações em favor da cristandade... Inclusive no além-mar... Atingiu o posto de gonfaloneiro da Igreja... Suas virtudes eram comentadas entre os demais cavaleiros. Ele também era considerado afortunado, um agraciado por Deus, porque sua esposa era bela e digna.
Tanto o rei ouviu falar sobre as qualidades da marquesa que passou a pensar nela com frequência... Seus sentimentos tornaram-se apaixonados e seu desejo de conhecê-la e estar com ela para poder manifestar (e concretizar) suas vontades mais secretas cresceu desmedidamente. A oportunidade surgiu quando houve a necessidade de viajar. Percebeu que se embarcasse apenas em Gênova, teria condições de, no caminho, fazer uma visita àquela que tanto amava. Evidentemente nutria o desejo de que o marquês estivesse ausente.
Foi assim que providenciou para que seus homens seguissem adiantados à sua frente e com considerável antecedência. Garantiu que apenas um cortejo (poucos guerreiros e gentis-homens) o acompanhasse mais de perto... Nas proximidades das terras do marquês solicitou que um de seus homens comunicasse à mulher sobre a sua chegada para um jantar no dia seguinte.
O marquês estava fora. Tudo se saía do modo como sonhara... A mulher decidiu que deveria receber a ilustre e poderosa visita, mas não deixou de pensar sobre os verdadeiros motivos que impulsionavam o rei até ali. Dessa forma, assegurou que os serviçais que permaneceram nas terras providenciassem todo o necessário para a boa estadia do rei. Solicitou que trouxessem aos cozinheiros todas as galinhas da região para que só com essas aves fossem preparadas as iguarias do banquete que seria servido.
No dia seguinte, o rei chegou e foi recebido com os festejos tradicionais. De modo polido, como era de seu feitio, a marquesa o recebeu... Cada gesto seu acabava confirmando ao rei a opinião que ele tinha sobre a beleza, elegância e dignidade da anfitriã. Quanto mais a conhecia, mais se via cheio de ardentes desejos por ela. Via que a marquesa era ainda mais bela do que falavam.
O rei descansou em salas ricamente decoradas e confortáveis. À hora do jantar ele pôde desfrutar da companhia da marquesa numa mesa à parte, pois os demais convivas foram dispostos em outras mais afastadas... Um prato após outro era servido e ele não deixou de observar que, embora diferentes, todos eram feitos com galinha. Surpreendia-se, sobretudo porque havia enviado o comunicado sobre a sua chegada com boa antecedência e, sabendo que a região era farta de caças, esperava que elas fossem providenciadas para o jantar... Depois de algum tempo não pôde evitar a pergunta se na região nasciam apenas galinhas, e nenhum galo.
A marquesa parecia aliviada com a pergunta do rei feita no momento mesmo em que a aguardava... Ela disse que (como que entendendo a indagação de outra maneira) as mulheres de sua região eram como todas as outras, ainda que pudessem ser diferenciadas em relação à honra e maneira de se vestirem... Ao ouvi-la, o rei entendeu a razão do banquete de galinhas e o sentido oculto daquelas palavras... Notou que seria inútil desperdiçar palavras com ela e que “nenhuma força poderia ser tentada contra ela”.
Foi dessa forma que a inteligente marquesa tratou de “apagar o fogo da paixão” do rei, que percebeu que não poderia provocá-la sem ouvir as respostas habilidosas da bela mulher... Ele tratou de comunicar sua partida após o jantar. Essa atitude, de certa forma, conseguia esconder suas más intenções ali... Então agradeceu a recepção que tivera e ouviu os votos de que prosseguisse para Gênova com Deus.
Fim da quinta novela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/decamerao-de-giovanni-boccaccio-sexta.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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