sábado, 6 de abril de 2013

“Ei! Tem alguém aí?”, de Jostein Gaarder – considerações finais – Parte I

Há muito mais a ser registrado sobre Ei! Tem alguém aí?
Devemos adiantar que duas ou três postagens não dão conta de todo o interesse que o livro desperta... Quem já leu O Mundo de Sofia ou O Dia do Coringa sabe que Gaarder procura incentivar os leitores a se interessarem pela Filosofia... Podemos mesmo dizer que são textos propedêuticos. Ei! Tem alguém aí? também pode ser entendido da mesma forma. O livro tem o mérito de, destinado às crianças, ser instigante, de fácil entendimento e, ao mesmo tempo, lidar com as questões próprias aos iniciantes à Filosofia.
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A mãe de Camila estava grávida... Em breve a menina teria um irmãozinho (ou irmãzinha), mas nada sabia a respeito... O adulto Joakim entende que esse momento é especial para as crianças e sua história é pretexto para, ao final, revelar a novidade...
De que forma a garota receberá o novo integrante da família? Muitas dúvidas podem emergir... De repente um novo membro para a família... De fato, isso não é algo de fácil compreensão para os pequenos... Sobretudo se até então são filhos únicos.
Ao escrever a história à Camila, de 8 anos, revelando o curioso encontro que tivera com o “amigo espacial” (Mika), quando também tinha 8 anos, Joakim a faz entender que todo adulto já foi criança e, assim sendo, também já se percebeu cheio de dúvidas sobre o mundo, seus fenômenos e a vida que nos cercam... Um dia ela descobrirá que os adultos de nosso convívio tratam de dirimir as dúvidas das crianças...
São eles que conduzem os pequenos a uma realidade de “certezas”... Na segurança proporcionada pela família, a vida segue com os desafios cotidianos e comuns a todos os demais... O sentimento de pertencimento ao grupo vai se concretizando... E isso se completa conforme o conhecimento considerado necessário é transmitido aos pequenos.
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Nem toda criança que conhecemos é como o menino Joakim de 8 anos... Nem todas possuem família estruturada como a dele... Mas não erramos ao considerarmos que todas as crianças vivenciam (em algum momento) a condição de pertencimento a uma “estrutura pronta e acabada”, produto de sua inserção no grupo primordial... Também é verdade que todas elas passam por indagações sobre o mundo que as cerca, as certezas que foram transmitidas pelos adultos, sobre a vida anterior à própria existência, sobre o que virá depois, Deus...
Escalar o “montinho” e erigir um “marco de pedras” (os que leram o livro ou as postagens neste blog sabem a que se refere) é como que um “ensaio para a vida”... O pai de Joakim o ajudou na expedição... É claro, para a criança aquele ambiente era o “mundo inteiro”... Não é por acaso que, depois de adultos, ao revisitarmos “os lugares de nossa infância”, notamos que eles normalmente se encontram “maximizados” em nossa memória.
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A história de Joakim conta que, na noite em que se aguardava o nascimento de seu irmão, ele teve de ficar em casa aguardando a chegada de sua tia Helena enquanto o pai se encaminhava com a mãe para a maternidade... Revela que estava sozinho quando foi surpreendido pela chegada de Mika, o garoto que caiu do espaço. Apesar do inusitado da situação, as duas crianças logo se entenderam...
Os diálogos que tiveram durante a madrugada e todo o dia que se seguiu levam o leitor infantil a refletir sobre as referências e pontos de vista que temos alicerçados na formação que recebemos... A narrativa segue trazendo luz às potenciais indagações infantis. É bom esclarecer que isso não se faz escancaradamente... O menino do espaço diz que está sonhando e que em breve acordará... Mas entre os dois consolida-se uma amizade e, desde o início, ela proporciona várias surpresas.
Leia: Ei! Tem alguém aí? Companhia das Letrinhas.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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