Em entrevista à História Viva nº 115, Lúcia Grinberg
falou sobre o seu livro Partido Político
ou bode expiatório: um estudo sobre a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e
tratou de questões pertinentes ao período correspondente à Ditadura Militar
(1964-1985).
O
golpe de 1964 pode ser entendido como resultado de uma articulação entre
oficiais conservadores e setores da sociedade que estavam inconformados com o
avanço político dos partidos progressistas ligados aos movimentos populares... Em seu livro, Grinberg trata do papel dos civis durante a ditadura; sua articulação no
pré-golpe e o apoio à derrubada de João Goulart; da ação da Arena na defesa do
regime; e o papel do Congresso Nacional durante o período.
O governo Goulart foi
marcado pela radicalização política dos movimentos sociais e também dos
partidos políticos... O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) era o que mais
crescia a cada eleição... Tanto é que na Câmara era o segundo maior em número
de parlamentares.
As
Reformas de Base propostas por Jango marcaram o seu curto mandato. A Reforma
Agrária era a que gerava mais polêmica. Milhares de pessoas compareceram ao
comício que ocorreu na Central do Brasil no dia 13 de março de 1964... Em
oposição a Goulart e ao apoio popular às reformas, a Igreja Católica organizou
as Marchas da Família com Deus pela
Liberdade. Esses eventos, que concentravam grandes contingentes, foram
iniciativas contrárias ao que os religiosos consideravam “projeto
revolucionário de caráter comunista”.
As
lideranças militares conservadoras contaram com o apoio dos civis da UDN (União
Democrática Nacional) e do PSD (Partido Social Democrático). Essa aliança
permitiu a formação da frente político-militar que depôs Goulart... Após a
deposição do presidente seguiram-se as cassações de políticos e sindicalistas...
Não poucos são os que se recusam a relacionar “ditadura”
ao regime militar que passou a vigorar. Esses levam em consideração a
manutenção de partidos políticos e do Poder Legislativo por aquele tempo. Argumenta-se
que ocorreu a continuidade política local e regional através das eleições que
também marcaram o período que se seguiu. Em oposição, afirma-se que, além de o
pluripartidarismo ter sido abolido, apenas dois grupos (que sequer tinham a
letra “P” - de partido - em suas siglas) estavam autorizados a atuar num
congresso muito fragilizado, sujeito aos humores dos generais... O debate
persiste em relação à preeminência das forças armadas no Executivo, e às constantes
cassações políticas (principalmente dos egressos do antigo PTB)...
A
autora destaca que 1964: A conquista do
Estado, de René Dreifuss, ressalta que o golpe contou com a participação de
diversos setores sociais: militares, políticos, estudantes, mulheres e
empresários brasileiros e estrangeiros... Dreifuss leva em consideração as
estratégias políticas que foram desenvolvidas para tornar o governo Goulart instável.
A criação do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e do IBAD (Instituto Brasileiro Ação Democrática) foi parte daquelas iniciativas... De
modo sutil, a propaganda política contrária ao governo era veiculada em
revistas, rádio, televisão, filmes... Vários pesquisadores da atualidade analisam o conservadorismo dessas iniciativas “para além do combate ao governo Goulart”.
O
fato de não ter ocorrido uma reação popular (e também de militares que apoiavam
o governo) ao golpe contra o governo Jango é tema que carece de mais
esclarecimentos.
Muito
se fala da ideia de lideranças conservadoras como Carlos Lacerda, Magalhães
Pinto e Ademar de Barros terem se mobilizado em torno do apelo às Forças Armadas
para que defendessem a democracia que “sofria ameaças comunistas”... Afirma-se
que pretendiam uma intervenção necessária à derrubada de João Goulart para que,
depois disso, a ordem institucional fosse retomada pelos conservadores... Sobre
isso, Grinberg lembra que as intervenções militares na política nacional eram “tradicionais”
em nossa História. Ela exemplifica com os ocorridos ao tempo da Proclamação da
República; da Revolução de 1930; do Golpe do Estado Novo (1937); da deposição
de Vargas em 1945... Cita ainda que o período 1945-1964, conhecido como “República
Populista”, foi marcado por diversos apelos da UDN (de Carlos
Lacerda e Ademar de Barros) aos quartéis quando suas lideranças não aceitavam
os resultados eleitorais satisfatórios à coligação PTB-PSD... Durante o último
governo Vargas (1951-1954) e após a eleição de Juscelino Kubistschek (1955), os
udenistas clamaram por intervenções do exército em momentos específicos... Em
1964 os apelos foram atendidos com rigor pelos militares, que contavam vários
udenistas em suas fileiras.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-ai-2-extincao-dos-partidos-e-formacao.html
Um abraço,
Prof.Gilberto