quarta-feira, 29 de maio de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – dados biográficos do histórico d. Antônio de Mariz; serviços prestados e fidelidade incondicional a Portugal e à dinastia de Bragança; a construção de uma fortuna; relações entre o fidalgo e aventureiros das proximidades; fidelidade e similaridades no modelo feudal

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-guarani-de-jose-de-alencar.html antes de ler esta postagem:

O texto de José de Alencar nos revela o passado (documentado nos Anais do Rio de Janeiro, tomo 1º) do fidalgo de O Guarani... Ele foi um dos fundadores da cidade do Rio de Janeiro. Mariz destacou-se na luta contra os franceses invasores e também contra os indígenas intransigentes em relação à colonização. Auxiliando Mem de Sá (o terceiro governador geral), contribuiu para a consolidação do domínio lusitano na região... Em 1578 participou da expedição de Antônio de Salema contra os contrabandistas franceses e foi, também por essa época, “provedor da real fazenda” e mais tarde da alfândega do Rio de Janeiro. Em todas as atribuições que recebeu demonstrou zelo e dedicação à metrópole e ao rei... Por todo o seu empenho, inclusive na exploração do sertão, Mem de Sá doou-lhe a “sesmaria de uma légua com fundo sobre o sertão”.
D. Antônio, como o destacado pela adaptação de Pallottini, mudou muito depois que o domínio espanhol se estabeleceu a partir da derrota lusa de Alcácer-Quibir... Em 1582, Felipe II da Espanha foi aclamado no Brasil como sucessor da coroa portuguesa... O nosso personagem não se curvou e, como relata Alencar em seu livro, “o velho fidalgo embainhou a espada e retirou-se do serviço”.
É certo que por algum tempo aguardou a expedição de d. Pedro da Cunha, cujo objetivo seria transferir a coroa portuguesa para o Brasil, onde d. Antônio (prior do Crato, ele deveria ser o rei de Portugal) se tornaria o “legítimo herdeiro”... Isso, porém, nunca ocorreu. Então Mariz estabeleceu-se com a família em sua sesmaria, onde jurou guardar fidelidade até a morte. Alencar ressalta a lealdade e o caráter de Antônio de Mariz e “põe em sua boca” as palavras de um sujeito bem determinado:
“Aqui sou português! Aqui pode respirar à vontade um coração leal, que nunca desmentiu a fé do juramento. Nesta terra que me foi dada pelo meu rei, e conquistada pelo meu braço; nesta terra livre, tu reinarás, Portugal, como viverás n’alma de teus filhos. Eu o juro!”
Isso foi em abril de 1593... Logo após a casa foi construída... Artesãos vindos de Portugal viabilizaram a execução do projeto. A muralha de rochedos era a defesa natural de seu solar... E ela era mesmo necessária devido às tribos “selvagens” representarem constante ameaça (é bem verdade que sempre que atentavam contra os redutos de colonos se retiravam para as florestas; aqueles índios eram considerados traiçoeiros).
Mariz soube acumular fortuna desde o começo de suas atividades... Também como aventureiro conseguiu recursos... Assim teve condições de proporcionar conforto à família em meio à selva. Durante muito tempo negociou... Ia até o Rio de Janeiro, onde conseguia produtos portugueses e os trocava por outros da colônia...
Nas cercanias do casarão, por volta de uma légua, havia uns poucos casebres de aventureiros pobres que viviam principalmente do contrabando de ouro e de pedras preciosas... Como não havia tropas regulares, era comum que os grandes senhores coloniais permitissem essa convivência, pois os aventureiros transformavam-se facilmente em pessoal de expedições exploradoras do interior e também de defesa (em nota, o livro destaca que isso era muito comum durante a Idade Média)... De certo modo, a casa de d. Antônio de Mariz era como que um castelo para onde acorriam os que viviam nas cercanias durante as ocasiões de ataques mais violentos de índios... Ele dava-lhes a proteção tal qual ocorria quando os suseranos medievais socorriam seus vassalos...
Os aventureiros que se relacionavam com d. Antônio eram fiéis a ele. E também disciplinados... Todos respeitavam as suas ordens e reconheciam a sua liberalidade na partilha de lucros advindos de empreendimentos diversos. Sua palavra era lei e fazia justiça entre todos os da convivência... Seus homens dirigiam-se com mercadorias ao Rio de Janeiro, onde realizavam as transações de aquisição de produtos que vinham de Portugal... Seus quarenta aventureiros recebiam (em dinheiro ou objetos de consumo) sua parte dos lucros, divididos equanimemente...
D. Antônio não se cansava de doutrinar os seus homens de armas sobre o “pedaço de sertão” onde viviam ser um “fragmento de Portugal livre”, onde “só se reconhecia como rei ao duque de Bragança”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-guarani-de-jose-de-alencar_31.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto

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