Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-guarani-de-jose-de-alencar.html
antes de ler esta postagem:
O texto de José de
Alencar nos revela o passado (documentado nos Anais do Rio de Janeiro, tomo 1º) do fidalgo de O Guarani... Ele foi um dos fundadores
da cidade do Rio de Janeiro. Mariz destacou-se na luta contra os franceses
invasores e também contra os indígenas intransigentes em relação à colonização.
Auxiliando Mem de Sá (o terceiro governador geral), contribuiu para a
consolidação do domínio lusitano na região... Em 1578 participou da expedição
de Antônio de Salema contra os contrabandistas franceses e foi, também por essa
época, “provedor da real fazenda” e mais tarde da alfândega do Rio de Janeiro.
Em todas as atribuições que recebeu demonstrou zelo e dedicação à metrópole e
ao rei... Por todo o seu empenho, inclusive na exploração do sertão, Mem de Sá
doou-lhe a “sesmaria de uma légua com fundo sobre o sertão”.
D. Antônio, como o destacado pela adaptação de Pallottini, mudou muito depois
que o domínio espanhol se estabeleceu a partir da derrota lusa de
Alcácer-Quibir... Em 1582, Felipe II da Espanha foi aclamado no Brasil como
sucessor da coroa portuguesa... O nosso personagem não se curvou e, como relata
Alencar em seu livro, “o velho fidalgo embainhou a espada e retirou-se do
serviço”.
É certo que por algum tempo
aguardou a expedição de d. Pedro da Cunha, cujo objetivo seria transferir a
coroa portuguesa para o Brasil, onde d. Antônio (prior do Crato, ele deveria ser
o rei de Portugal) se tornaria o “legítimo herdeiro”... Isso, porém, nunca
ocorreu. Então Mariz estabeleceu-se com a família em sua sesmaria, onde jurou
guardar fidelidade até a morte. Alencar ressalta a lealdade e o caráter de
Antônio de Mariz e “põe em sua boca” as palavras de um sujeito bem determinado:
“Aqui sou português! Aqui pode respirar à vontade um
coração leal, que nunca desmentiu a fé do juramento. Nesta terra que me foi
dada pelo meu rei, e conquistada pelo meu braço; nesta terra livre, tu
reinarás, Portugal, como viverás n’alma de teus filhos. Eu o juro!”
Isso foi em abril de 1593... Logo após a casa foi construída... Artesãos
vindos de Portugal viabilizaram a execução do projeto. A muralha de rochedos
era a defesa natural de seu solar... E ela era mesmo necessária devido às tribos
“selvagens” representarem constante ameaça (é bem verdade que sempre que
atentavam contra os redutos de colonos se retiravam para as florestas; aqueles
índios eram considerados traiçoeiros).
Mariz soube acumular fortuna desde o começo de suas atividades... Também
como aventureiro conseguiu recursos... Assim teve condições de proporcionar
conforto à família em meio à selva. Durante muito tempo negociou... Ia até o
Rio de Janeiro, onde conseguia produtos portugueses e os trocava por outros da
colônia...
Nas cercanias do casarão, por volta de uma légua, havia uns poucos
casebres de aventureiros pobres que viviam principalmente do contrabando de
ouro e de pedras preciosas... Como não havia tropas regulares, era comum que os
grandes senhores coloniais permitissem essa convivência, pois os aventureiros
transformavam-se facilmente em pessoal de expedições exploradoras do interior e
também de defesa (em nota, o livro destaca que isso era muito comum durante a
Idade Média)... De certo modo, a casa de d. Antônio de Mariz era como que um
castelo para onde acorriam os que viviam nas cercanias durante as ocasiões de
ataques mais violentos de índios... Ele dava-lhes a proteção tal qual ocorria
quando os suseranos medievais socorriam seus vassalos...
Os aventureiros que se relacionavam com d. Antônio eram fiéis a ele. E
também disciplinados... Todos respeitavam as suas ordens e reconheciam a sua
liberalidade na partilha de lucros advindos de empreendimentos diversos. Sua
palavra era lei e fazia justiça entre todos os da convivência... Seus homens
dirigiam-se com mercadorias ao Rio de Janeiro, onde realizavam as transações de
aquisição de produtos que vinham de Portugal... Seus quarenta aventureiros
recebiam (em dinheiro ou objetos de consumo) sua parte dos lucros, divididos
equanimemente...
D. Antônio não se cansava de doutrinar os seus
homens de armas sobre o “pedaço de sertão” onde viviam ser um “fragmento de
Portugal livre”, onde “só se reconhecia como rei ao duque de Bragança”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-guarani-de-jose-de-alencar_31.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto