Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/decamerao-de-giovanni-boccaccio-oitava.html
antes de ler esta postagem:
A nona narrativa
coube a Elisa. Ela comentou a história contada por Laurinha... Concordou que
muitas vezes as palavras têm maior poder de transformar as atitudes das pessoas
do que as repreensões e sofrimentos que recaiam sobre elas... A moça disse que
seria breve em sua novela e que todos notariam que o ensinamento da narrativa
anterior seria mais uma vez destacado.
A novela de Elisa se situa no tempo em que Godofredo de Bulhões (primeira
cruzada) liderou a conquista da Terra Santa... A ocasião mereceu muita atenção dos
cristãos, e não poucos foram os que se decidiram por peregrinações aos locais
sagrados. Entre os que se dispuseram à longa viagem, uma nobre dama da região
da Gasconha animou-se pela visita ao Santo Sepulcro.
O retorno da nobre dama foi
marcado por sua passagem pela ilha de Chipre... Ali, ela passou por situações
muito delicadas devido a ofensas que sofreu de tipos violentos e de maus
costumes... Não há referência direta à especificidade da ofensa, mas é certo
que a delicada senhora indignou-se por não ter encontrado ninguém que
intercedesse por ela... Nenhuma satisfação lhe foi dada.
Então a vítima dos abusos pensou que poderia recorrer
ao rei de Chipre para tratar de sua situação, talvez conseguisse reparos aos
danos sofridos e punições aos infratores... Elisa destacou que se tratava do
primeiro monarca da ilha...
Aconteceu, porém, que a nobre dama foi aconselhada a desistir de seus
intentos porque o rei tinha péssima fama, levava uma vida desregrada e não se
importava com justiça ou bondade... A mulher foi desmotivada a buscar qualquer
auxílio junto à autoridade porque, segundo se sabia, era possível que o rei achasse
graça do episódio do qual foi vítima, e ele até podia terminar dando apoio aos
infratores... O rei era do tipo que sentia prazer em aumentar a humilhação dos
que sofriam agressões ou eram lesados... Nisso parecia estar o seu regozijo.
Apesar de todos os conselhos que recebeu para desistir de apresentar-se
ao rei, a nobre mulher decidiu que não devia desistir... Pensou em um modo de
ferir a estupidez do monarca.
Assim, acabou conseguindo uma audiência com a autoridade máxima do
lugar... Disse-lhe que sinceramente não esperava nenhuma providência de sua
parte, de modo que demonstrava não se importar mais com o fato de as ofensas
que havia recebido permanecerem sem reparação... Disse que estava ali para
saber dele como é que conseguia suportar as ofensas que cometiam contra ele.
Completou dizendo que, ao ouvi-lo, poderia suportar qualquer ofensa que ainda viesse
a sofrer... Garantiu (mesmo) que, sabendo que ele era “tão bom suportador”,
poderia obter dele as informações sobre as ofensas das quais ele próprio havia
sido vítima. Dessa forma, também ela saberia suportar a futuras agressões e
maledicências.
A singela história de Elisa termina com final feliz... As palavras da
nobre mulher despertaram o rei para uma realidade para a qual se comportava
como cego... A partir daquele momento fez-se autoridade que perseguia e punia a
todos os que atentassem contra a sua honra e dignidade... Também se tornou um
soberano justo, que punia toda e qualquer ofensa e injúria a quem quer que estivesse
em seus domínios. E deu início à mudança de postura “castigando a ofensa que se
cometera contra aquela mulher, ofensa que foi terrivelmente vingada”.
Fim da nona novela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/decamerao-de-giovanni-boccaccio-decima.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto