quarta-feira, 31 de julho de 2013

“O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg – Menocchio volta a ser interrogado depois de 15 anos do primeiro processo; depoimento de Pignol; depoimento de Daniel Jacomel; o velho moleiro retorna à prisão e apresenta suas justificativas a Asteo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg_6953.html antes de ler esta postagem:

Menocchio foi denunciado novamente... Em várias localidades da região (de Aviano a Pordenone) comentavam as suas blasfêmias. O inquisidor interrogou um taverneiro conhecido como Pignol (seu nome era Michele del Turco) e ficou sabendo das provocações do moleiro, que insistia em falar a respeito de suas máximas em relação a Cristo... Pignol contou que há uns oito anos disseram-lhe que Menocchio teria dito que “se Cristo fosse Deus, teria sido um (...), deixando que o metessem na cruz”... O taverneiro se disse indignado porque o acusado considerava Cristo um frouxo... Pignol arrematou dizendo que o achava “pior que um turco”.
Essa situação revela que a condição e má fama de Menocchio haviam piorado... Suas ofensas à religião ultrapassavam os limites da pequena Montereale... Palavras ditas muitos anos antes eram repetidas e repercutidas... Suas ofensas à divindade de Cristo incluíam também sua opinião em relação ao caráter de Maria Santíssima... O moleiro a considerava uma prostituta. Para ele, a concepção do Salvador do mundo nada tinha a ver com o Espírito Santo.
Menocchio andou anunciando que São Cristóvão, que “carregou o mundo inteiro nas costas” devia ser maior que Deus. Sobre essa última consideração, Ginzburg revela que a alegoria pode ser conferida em livro que certamente o moleiro jamais tivera acesso, “uma coletânea de símbolos, repleta de insinuações heterodoxas, do humanista bolonhês Achille Bocchi”.
Zannuto Fasseta di Montereale, e também Daniel Jacomel, foram chamados a falar sobre Menocchio. Jacomel disse que numa certa ocasião, quando voltava de Menins com o investigado, este perguntou-lhe o que ele pensava sobre Deus... Revelou que, como não tinha nenhuma opinião a respeito, ouviu Menocchio explicar que Deus “não é nada mais que o ar”... E mais, contou que Menocchio tinha opinião formada a respeito da ignorância a que o povo estava submetido, e que garantia que os inquisidores não tinham nenhum interesse em revelar às pessoas comuns o que eles sabiam. Jacomel deu a entender que o moleiro era destemido, pois teria dito que “gostaria de dizer quatro palavras do Pater Noster diante do inquisidor, e ver o que ele diria e responderia”.
No fim de 1599 Menocchio foi preso novamente. Inicialmente no cárcere de Aviano... Depois foi mandado para Portogruaro... No dia 12 de julho foi interrogado por Gerolamo Asteo, o inquisidor, e pelo vigário de Concordia (Valerio Trapola) e o magistrado Pietro Zane.
Menocchio contava 67 anos... Trajava-se como moleiro (túnica e gorro cinza claro)... Fazia 15 anos que ele havia sido interrogado pela primeira vez. Como sabemos, passou três sofridos anos na prisão. Estava velho. Havia exercido profissões diversas depois que saiu da prisão (marceneiro, moleiro, hospedeiro, professor e tocador de violão em festas). Apresentava barba e cabelos grisalhos... Perguntado se já havia sido interrogado pelo Santo Ofício anteriormente, respondeu que havia sido chamado para tratar a respeito do “Credo e outras fantasias” que lhe passavam “pela cabeça por ter lido a Bíblia e por ter inteligência aguçada”... Garantia que permanecia cristão como sempre havia sido durante toda a vida.
O moleiro explicou-se sobre o cumprimento de suas práticas e confissões regulares... Afirmou que comungava costumeiramente e que só deixou Montereale porque recebera autorização dos inquisidores... Pediu desculpa por não usar regularmente o hábito... Ressaltou que o usava às vezes, principalmente nos dias mais frios (por baixo da roupa)... Explicou que o uso frequente do hábito prejudicava o próprio sustento, já que as demais pessoas relacionavam aquela vestimenta ao “crime religioso”, sendo assim, afastavam-se dele porque o consideravam um excomungado.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg.html
Leia: O Queijo e os Vermes. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 26 de julho de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Segunda novela do segundo dia – contada por Filóstrato – Parte final – o mercador Rinaldo foi recolhido pela bondosa viúva; restabelecido pelo banho e ceia, entende-se com sua anfitriã; o final feliz contém bem mais do que a recuperação de seu cavalo, roupa e dinheiro

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda_26.html antes de ler esta postagem:

A criada narrou à sua patroa sobre a deplorável situação do comerciante assaltado... A viúva encheu-se de piedade e decidiu que permitiria a sua entrada na casa. Ela possuía a chave daquela porta que o marquês usava como “passagem secreta” e não titubeou em usá-la... Assim, ela autorizou a criada a abrir a porta para garantir uma restauração digna ao sofrido Rinaldo.
A serviçal ficou satisfeita com a decisão da patroa, que decidiu que o homem poderia se banhar e vestir as roupas de seu falecido marido... No quarto onde foi instalado, Rinaldo passou a agradecer a Deus e a são Juliano por livrá-lo da friagem impiedosa... Então, apesar de todo o sofrimento pelo qual havia passado e de ter lamuriado a má sorte anteriormente, reconhecia que era graças a Deus e a são Juliano que o seu dia, mais uma vez, poderia terminar de modo satisfatório em boa estalagem.
A piedosa viúva esforçou-se para acender a lareira e pediu à criada que trouxesse o seu hóspede para se alimentar... Rinaldo apareceu na sala reverenciando a sua anfitriã e agradecendo-a do mais polido modo. A mulher considerou-o digno de elogios e pediu que se sentasse ao seu lado, próximo ao calor da lareira. Ela quis saber o que havia se sucedido com ele. Pacientemente Rinaldo contou-lhe os detalhes de sua desventura... A mulher demonstrou reconhecer vagamente aquele drama, pois o criado de Rinaldo havia se refugiado no castelo e falava-se sobre os danosos episódios que o levaram até ali... Então ela disse que no dia seguinte, devidamente recomposto, ele poderia reencontrá-lo.
Os dois cearam e a viúva notava que Rinaldo era um tipo apresentável... Meia idade, elevada estatura, bons hábitos e agradável companhia... Sem que este percebesse, ela prestava minuciosa atenção à sua fisionomia e procedimentos. Aos poucos foi se interessando por ele. Seu “apetite concupiscente” estava bem desperto, já que a visita do marquês havia resultado em frustrada.
Depois da refeição, Rinaldo permaneceu próximo à lareira... Enquanto isso, a viúva consultou a opinião de sua criada a respeito de seu “apetite” em relação àquela inesperada visita... Ela quis saber se faria bem em aproveitar a ocasião que a Sorte lhe proporcionara... Essas coisas... A criada bem entendia o desejo de sua senhora e sentenciou que ela podia se satisfazer como bem entendesse, pois não via mal nenhum em sua condição... Então a viúva retornou para perto de Rinaldo e com o olhar repleto de desejo começou a dizer que ele poderia ficar tranquilo por tudo o que lhe havia sucedido. Ela garantia que seu cavalo e vestes seriam recuperados. Disse que ele podia se sentir como se estivesse na própria casa...
A mulher arrematou essa conversa falando que tinha vontade de abraçá-lo e beijá-lo desde que o vira vestido com as roupas do falecido marido... Fez questão de destacar que ele se parecia com o falecido, e que só não o abraçara e beijara até então por temer a sua reprovação.
Como vemos a condição de Rinaldo alterou-se completamente. Obviamente ele só podia estar muito grato à viúva... Colocou-se inteiramente à sua disposição... De sua parte, garantiu que se esforçaria por satisfazê-la em tudo o que ela considerasse necessário. Sim, ela poderia abraça-lo e beijá-lo, pois ele a abraçaria e beijaria com entusiasmo e sinceridade...
E foi assim que o casal teve a sua noite de ardentes desejos satisfeitos... Logo que o novo dia raiou, a viúva explicou que deveriam se recompor de modo que ninguém suspeitasse do encontro que tiveram... Entregou a Rinaldo roupas bem surradas e deu-lhe bastante dinheiro... Explicou que deveria retirar-se para novamente adentrar os muros do castelo e, assim, reencontrar o seu criado. Explicou que a noite de amor que tiveram deveria ser mantida em completo segredo.
Rinaldo fez conforme o que havia sido combinado... Não havia quem não dissesse que ele só entrara no castelo ao amanhecer do novo dia... Reencontrou o criado e malas com roupas... Então se vestiu decentemente e quis montar o cavalo de seu serviçal, mas para a sua surpresa os três bandidos haviam sido presos e levados para o castelo... Ali confessaram o crime que haviam cometido contra o mercador Rinaldo, que pôde recuperar cavalo, roupas e dinheiro...
Rinaldo agradeceu mais uma vez a Deus e a são Juliano... Podia, enfim, seguir viagem... No dia seguinte os três malfeitores foram enforcados.
Fim da (décima) segunda novela.
Continua?
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Segunda novela do segundo dia – contada por Filóstrato – Segunda Parte – Rinaldo d’Asti foi mesmo assaltado; seus algozes o deixaram praticamente nu na glacial noite; o Castel Guglielmo e suas muralhas; a formosa viúva e seus encontros amorosos com o marquês Azzo; o mercador é ouvido e pede socorro

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda.html antes de ler esta postagem:

O dia seguiu o seu curso, mas demorou até que os bandidos vissem a oportunidade que desejavam... À tarde, depois de passarem por Castel Guglielmo e atravessarem um rio, decidiram que o local “solitário e ermo” onde haviam chegado era propício... Então assaltaram o pobre Rinaldo, deixando-o apenas “em camisa” e sem cavalo... Seu criado, percebendo que a situação se complicava, tratou de sair em disparada seguindo para o castelo, onde conseguiu se instalar.
Os salafrários partiram dizendo que o mercador devia seguir o seu rumo e buscar a boa estalagem que são Juliano “sempre lhe garantiu”, se é que conseguiria algum repouso... Troçavam, afirmando que o “santo” deles proporcionar-lhes-ia uma boa noite. Rinaldo permaneceu ali, abandonado, em camisa e descalço... Sofreu com o frio, pois a neve caía com intensidade.
A escuridão da noite já se fazia presente e o bom homem em vão procurava algum abrigo onde pudesse repousar sem que a morte o alcançasse. O problema é que a região onde se encontrava havia sofrido com uma recente guerra, e as residências de outrora estavam destruídas e incendiadas... Foi o desespero que o levou a correr para Castel Guglielmo. Seu pensamento era um só: atravessar a muralha da grande construção e, se isso ocorresse, entenderia que Deus ainda olhava por ele... O nosso personagem sequer desconfiava do paradeiro de seu serviçal... O frio e a escuridão da noite tornavam a distância (mais ou menos uma milha) um tremendo desafio.
Só muito tarde da noite, Rinaldo conseguiu chegar ao seu objetivo, mas as portas já estavam trancadas e as pontes levadiças estavam erguidas. Desolado, triste (em prantos mesmo) procurou um cantinho onde pudesse se recolher sem que a neve o cobrisse... Mesmo naquele breu, avistou uma casa fincada junto à muralha do castelo... Seu teto “projetava-se para fora”. Então considerou que poderia se abrigar embaixo daquela construção até o amanhecer. Notou uma porta e, junto a ela, se acomodou todo encolhido. Cobriu-se com um velho colchão que encontrou na proximidade... Esgotado, não poucas vezes recordou-se de são Juliano e lamentou... Tinha certeza de que sua fé não era merecedora de tamanho castigo.
Acontece que ali onde Rinaldo se acomodou era o fundo da casa onde vivia uma formosa viúva (Filóstrato destaca que se tratava de “mulher tão linda de corpo como as que mais lindas o fossem”). Ela era constantemente visitada pelo marquês Azzo, que a amava tanto quanto a própria vida... Como podemos deduzir, o nobre homem mantinha encontros prazerosos secretos naquela casa...
Naquela fatídica noite para Rinaldo, o amante recomendou à adorada viúva que lhe preparasse um banho e “magnífica ceia”... Mais uma vez passariam a noite juntos... A certa altura, porém, em vez do marquês, bateu à porta o seu criado mensageiro para comunicar que devido a graves imprevistos o seu senhor tivera de partir às pressas do castelo... Assim sendo, a bela viúva não deveria esperar pelo seu amante para aquela noite. A solitária mulher ficou deveras chateada, mesmo assim não estava disposta a desperdiçar nem o banho nem a magnífica ceia que havia preparado para o marquês... Decidiu tomar banho imaginando que sua noite seria solitária.
Mas enquanto banhava-se ouviu gemidos e lamúrias que vinham do lado de fora do castelo... Sabemos que se tratava do pobre Rinaldo, que estava encolhido exatamente próximo ao banheiro onde a bela viúva se banhava. A mulher pediu que a sua criada fosse até a parte alta da casa onde pudesse observar o outro lado da muralha para saber quem estava agonizando ali próximo à porta. A mulher fez o que lhe havia sido solicitado e conseguiu notar Rinaldo em seu lastimável estado, descalço, em camisa, encolhido e a padecer de tanta friagem. Ela perguntou quem era e o que fazia ali em tão adversa condição.
Tremendo muito e economizando nas palavras, o mercador explicou o que havia se sucedido com ele. Ao fim de seus esclarecimentos implorou à outra que não permitisse “que ele morresse de frio ao relento daquela noite”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda_2684.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 25 de julho de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Segunda novela do segundo dia – contada por Filóstrato – Primeira Parte – considerações sobre são Juliano, o protetor dos viajantes; Rinaldo d’Asti, um mercador; em sua viagem cavalgou, sem saber, com três perigosos bandidos; os marginais trocaram ideias com ele enquanto aguardaram o momento propício para assaltá-lo; o mercador fala sobre suas orações habituais

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio_17.html antes de ler esta postagem:

A história de Martelino contada por Neífile rendeu boas risadas de suas companheiras... Filóstrato, que era o rapaz mais próximo à narradora, e que entre os moços era o que mais achou graça das confusões nas quais Martelino havia se envolvido, teve a incumbência de contar a segunda novela do dia.
(...)
Dirigindo-se às mulheres do grupo, o rapaz disse que contaria uma história que envolveria temas católicos, “desventuras e amor”... Ressaltou que o conteúdo traria advertências aos que costumam mergulhar a fundo nas paixões... E fez referências aos perigos que o desmedidamente apaixonado corre, sobretudo se não se precaver rezando o “padre-nosso de são Juliano” (que a nota esclarece ter sido um desventurado que, sem reconhecer pai e mãe, matou-os... Por esse pesar tornou-se penitente, deixando o convívio social e o dinheiro para viver numa casa bem simples que construiu às margens de um rio. Desde então hospedou a todos os que o visitavam e transportou os que necessitavam de travessia para o outro lado do rio... Durante a idade Média era considerado o santo protetor dos viajantes).
Filóstrato situa a sua história no tempo do marquês Azzo (de Ferrara)... Contou que o mercador Rinaldo d’Asti precisou deslocar-se até Bolonha devido aos seus negócios... Já em seu retorno, no caminho para Verona, encontrou três tipos que também seguiam estrada... O bom Rinaldo, que contava com apenas um serviçal, não sabia que se tratavam de ladrões que viviam de surripiar homens como ele, que cavalgavam por longos percursos. Aqueles bandidos tinham mesmo má conduta e péssimos antecedentes... Mas, também para se entreter, nosso ingênuo personagem prosseguiu na companhia do trio de malfeitores... Os tipos logo perceberam que ele era um mercador e decidiram que o roubariam.
Enquanto não chegava o momento propício, eles prosseguiram conversando com o bom homem... Rinaldo não desconfiava de nada porque os assuntos eram sobre “coisas decentes”... Além disso, os marginais se esforçavam por se apresentarem como pessoas de bom caráter e de boa condição... Eles conseguiam aparentar bondade e humildade, então Rinaldo considerava-se um privilegiado por prosseguir o caminho naquela companhia... Falavam sobre os mais diversos assuntos até que chegaram ao tema das “orações que os homens fazem a Deus”...
Um dos malfeitores quis saber qual era a oração que Rinaldo fazia enquanto seguia em suas viagens... O mercador respondeu com sinceridade que se tratava de um leigo naqueles assuntos e que em sua vida aprendera poucas orações... Arrematou que quando deixava a hospedaria era comum rezar um padre-nosso e uma Ave Maria em memória dos pais de são Juliano... Disse que pedia a Deus e ao santo a proteção e a graça de poder se hospedar numa boa estalagem ao final do dia de viagem... Revelou que já havia passado por vários perigos em suas andanças e que se livrara de todos eles, conseguindo passar boas noites em bons ambientes... Por si só, isso justificava a sua fé em são Juliano.
O bandido ouviu atentamente o relato do inocente mercador e quis saber se na manhã daquele dia ele havia feito as suas orações... Rinaldo evidenciou que sim. O bandido disse para si mesmo que a sua potencial vítima teria, de fato, necessidade daquela oração, pois se o mercador não estava totalmente sem dinheiro, passaria mal na próxima noite... Fazendo crer que se tratava de atencioso interlocutor, emendou dizendo que também era muito viajado e que, embora ouvisse muita gente recomendar aquelas orações, ele jamais orara para são Juliano ou a seus pais... Revelou que eventualmente pronunciava o Dirupiste, ou a Intemerata, ou o De Profundis recomendados por uma de suas avós... Garantiu que sempre acabava se instalando muito bem, e finalizou lançando a Rinaldo uma reflexão sobre qual dos dois finalizaria melhor o dia, se o mercador devotado, ou ele que não dedicava nenhum pensamento a são Juliano.
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 23 de julho de 2013

Considerações sobre o "Museu da Gente Sergipana" - Aracaju

A visita a Aracaju entre a segunda e a terceira semanas deste mês rendeu alguns bons passeios... Entre eles o Museu da Gente Sergipana, que é motivo de orgulho para o povo de Aracaju e toda população do estado...
Os que visitam Aracaju e querem conhecer um pouco da cultura sergipana devem incluí-lo na agenda. O museu localiza-se na Avenida Ivo do Prado, 398, no centro da capital. A entrada é franca e o local pode ser visitado de terça a sexta-feira entre 10h00 e 17:00, e aos finais de semana (também durante os feriados) entre 10:00 e 16:00.
O prédio de 1926 abrigou a principal escola de Aracaju, o Pedro II (foi sede também da Secretaria de Educação do estado)... Ao longo do tempo teve algumas alterações em sua denominação... Permaneceu abandonado por muitos anos até passar por processo de restauração... Foi entregue à população no dia 26 de novembro de 2011. A obra rendeu à instituição o “Prêmio de melhor restauração - 2012”.
o prêmio
O governo do estado e o Instituto Banese (Banco do Estado de Sergipe) mantém o espaço, que é tombado pelo patrimônio histórico... O Atheneuzinho (como é carinhosamente chamado) tem sua conservação vinculada à sua utilização cultural. Este “museu de multimídia interativa” foi concebido nos mesmos moldes do Museu da Língua Portuguesa, localizado em São Paulo. A finalidade cultural a que está destinado favorece a atenção especial que ele merece. E isso contribui para a sua conservação.
Em seu piso térreo há algumas obras com destaque permanente. Há também um espaço para exposições temporárias; o “Mapa da Gente” permite a audição de depoimentos sobre as várias regiões do estado; no auditório há a exibição de documentário de curta duração, porém significativo para um reconhecimento da geografia do estado, seu povo, fauna e flora... A “Loja da Gente”, que também está no mesmo pavimento, é espaço bem organizado onde peças do artesanato local, Cds e Dvds podem ser adquiridos...
Tudo muito agradável... O “Café da Gente” complementa a “primeira interação”. Nele, o visitante pode degustar de pratos e sucos regionais. O funcionamento do café é de terça a domingo, de 10:00 até 20:00.
Todos os ambientes de exposição são devidamente esclarecidos por jovens estudantes que estão sempre dispostos a tirar dúvidas e a falar de curiosidades... É na parte superior do museu que estão os locais de maior interatividade. Podemos ver e ouvir um feirante (que aparece numa tela) anunciando suas mercadorias... Utensílios, brinquedos e outros objetos estão ali expostos. Então somos convidados a falar com ele (dizer o que pretendemos comprar em sua banca; o preço que estamos dispostos a pagar...). As respostas do feirante virtual levam-nos a entender um pouco da simpática persuasão ouvidas nas feiras...
Numa das salas encontramos três canoas... Elas estão numa espécie de túnel... Depois que nos acomodamos nelas inicia-se uma viagem virtual pelos ecossistemas do estado. Um espetáculo de “multivisão”... Sentimos como se as embarcações estivessem se movimentando pelas águas de rios da região. Dos dois lados contemplamos as paisagens geográficas do estado. Os passageiros percorrem desde a zona da mata até o árido sertão. Os ruídos da natureza fazem o “fundo musical”. Exemplares da flora e da fauna se sucedem conforme “navegamos” pelos diferentes ambientes... Assim, nos encantamos com as aparições do cachorro do mato, lobo guará, tamanduá, teiú, araras azuis, cascavel...
O visitante pode conhecer as festas populares e a culinária locais brincando... Há uma mesa em que somos desafiados a “mandar para a panela” (é tudo virtual, mas ao final vemos a receita) os ingredientes dos principais pratos... Ao acionarmos o pião de fieira (sobre o “tampo de um barril”) vemos imagens de pontos turísticos... O jogo da amarelinha propicia um contato com festas folclóricas apresentadas em vídeos (para cada “casa” da amarelinha, uma festa diferente)... Na mesma sala está um jogo de memória gigante em que objetos diversos da cultura sergipana formam os pares da brincadeira...
Esses objetos se revelam também em um escuro labirinto... Ao contemplá-los, ouvimos narrativas de “causos” que marcam o folclore sergipano. O labirinto está numa sala contígua à do carrossel.
O clássico carrossel que por muito tempo foi instalado em praças do estado é rememorado por um aparelho que lembra aquele equipamento. Enquanto o seu mecanismo é girado pelo monitor, a saudosa música que embalava o divertimento é tocada e (ao mesmo tempo) imagens das praças são projetadas em três telas (270°).
Há um grande painel que apresenta uma linha de tempo bordada em renda irlandesa. Datas e acontecimentos da história do país e da história de Sergipe estão destacados. Nessa seção estão dispostos acessos a vídeos em que personalidades sergipanas (que o museu chama de “nossos cabras”) têm seus retratos animados e, assim, revelam-nos um pouco de sua biografia e engajamento na história local. Entre esses “cabras”, estão o artista plástico Arthur Bispo do Rosário, o cangaceiro Lampião e o filósofo e poeta Tobias Barreto.
À exceção do ambiente em que fazemos a “navegação pelos ecossistemas sergipanos”, todos os demais e suas instalações podem ser fotografados... E não é só isso. O visitante pode entrar em cabines para ler um cordel ou desafiar um repentista consagrado... As duas atividades podem ser gravadas e publicadas no Youtube.
É muito conhecimento!
É muita interação e aprendizagem para a criançada. E para os adultos também.
Parabéns ao povo sergipano.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 18 de julho de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – no dia em que Peri caçou a onça, d. Diogo atirou numa jovem aimoré; enfim sabemos os motivos do atentado a Cecília, quem eram os dois índios mortos por Peri e a quem ele perseguia pela floresta

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/o-guarani-de-jose-de-alencar-depois-de.html antes de ler esta postagem:

Alencar trata de acontecimentos anteriores nas cercanias do Paquequer... No final da “Lua das águas”, uma tribo de aimoré chegou à localidade para coletar frutos que serviriam para a preparação de vinhos, outras bebidas e alimentos que garantiriam sua provisão... Uma importante família dessa tribo foi atraída por animais que podiam ser caçados, foi assim que atingiram as margens do rio Paraíba. Eram quatro aimoré (“o selvagem, sua mulher, um filho e uma filha”), o índio em questão não era “um qualquer”, já que tratava-se do chefe da tribo... Sua filha era a mais bela índia daquele povo, e era disputada por todos os guerreiros aimoré.
(...)
Devemos lembrar que a difícil perseguição empreendida por Peri se dava naquele domingo de tão agitados acontecimentos... Dois dias antes, porém, quando ele estava empenhado na caçada à onça, percorria feliz pela floresta por estar mais uma vez se dedicando aos caprichos que alegravam sua senhora... Seguia entretido a imitar o canto do Saixê, que ele fazia produzir o nome de Ceci. De repente, num pequeno regato, viu que um cãozinho saía agitado do mato... Depois dele apareceu uma índia. Ela deu dois passos e caiu mortalmente ferida. Obviamente isso chamou a atenção de Peri, que quis saber de onde a menina vinha e por que estava abatida. Então ele conseguiu distinguir d. Diogo de Mariz e dois aventureiros que o acompanhavam.
Peri ficou sabendo que o rapaz estava caçando e acabou atingindo fatalmente a indiazinha... D. Diogo lamentou-se, pois não se conformava em ter matado a infeliz... Enquanto isso o cãozinho lambia a índia como que tentando reanimá-la... Ao mesmo tempo ele esfregava seu pelo nos ferimentos dela... Os dois aventureiros se divertiam muito com o resultado da caçada do “patrãozinho”.
Peri viu que o cãozinho farejou o ar e seguiu velozmente por uma determinada direção da floresta... Então aconselhou o irmão de Cecília a retornar para a casa do Paquequer. Aquele episódio o fez refletir com amargura, pois se recordou do seu povo abandonado por ele há muito tempo... Lembrou-se que todos viviam muito bem e felizes antes da chegada dos aventureiros portugueses... Também eles, naquele mesmo momento, poderiam estar sendo mortos por homens como d. Diogo.
Na sequência, Peri caminhou por meia légua e avistou os familiares da indiazinha morta. Seu pai era “gigantesco” e comia a carne da capivara caçada enquanto afiava a sua lança numa pedra... Seu filho recolhia sementes pretas e vermelhas num fruto oco ornamentado com penas... A índia “cardava uma porção de algodão”. Junto ao fogo havia um vaso do qual a índia fazia sair espessa fumaça, que era aspirada pelos outros dois... O fumo tanto ardia que extraía lágrimas dos dois guerreiros. Eles não deixavam suas tarefas de lado.
Peri viu o cãozinho chegar até a família da indiazinha morta. Saltando, mordeu as penas que o irmão dela carregava junto ao corpo... Queria que o seguissem, mas o garoto empurrou-o. O cãozinho voltou-se para a mãe da indiazinha, e também foi rechaçado... Então ele atirou-se sobre o algodão e, assim, recebeu a atenção que desejava.
A índia viu que ele estava manchado de sangue, mas não notou nenhum ferimento aparente... Naturalmente ela tirou conclusões dramáticas a respeito do sangue colado em seu pelo... A mulher passou a gritar desesperadamente e dessa forma atraiu a atenção dos outros dois. Ela mostrou-lhes o sangue no animal e proferiu palavras que Peri não conseguia entender.
A família aimoré seguiu o cãozinho, que voltava em disparada pelo caminho de onde viera... Peri calculou que d. Diogo já devia estar fora de perigo no casarão... O episódio do ataque a Cecília em seu momento de banho (no agitado domingo) esclarecia que o atentado era uma vingança... Então, a partir da leitura deste trecho, ficamos sabendo que Peri havia assassinado o pai (líder aimoré) e o irmão daquela que foi morta pelo filho de d. Mariz.
A índia que Peri seguia pela floresta era a mãe da indiazinha assassinada por d. Diogo.
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto

“O Guarani”, de José de Alencar – depois de ficar sabendo da ousadia de Álvaro ao depositar o presente na janela de seu quarto, Cecília exige que ele retire o objeto de lá; Isabel olha nos olhos do amado e entrega-lhe a flor que ele associava à Cecília; as moças conferem a janela e notam que não há nenhum presente; Isabel se mostra emocionada e seu segredo pode ser descoberto

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/o-guarani-de-jose-de-alencar-as-meninas.html antes de ler esta postagem:

Depois de se despedir do pai, Cecília dirigiu-se ao jardim... Antes que lá chegasse encontrou Álvaro, mas sequer respondeu ao seu cumprimento. Então o moço quis saber se ela se sentia ofendida por ele. Por estar triste, Cecilia não se dispunha a conversas, mas respondeu que ele não a magoara em nada. Mas Álvaro manifestou sua inquietação revelando que havia cometido uma falta... É claro que Cecília não entendia o que o rapaz dizia... Ele tratou de dizer que a havia desobedecido e a fez se lembrar do objeto que havia trazido do Rio de Janeiro para ela, aquele que ela insistiu que fosse por ele conservado...
Aos poucos ele revelou toda a sua façanha da noite anterior. Cecília garantiu-lhe que aquilo se tratou de um procedimento que jamais aprovaria e não via como o outro pudesse remediar a situação... A moça demonstrava que não aceitava que o ocorrido fosse de conhecimento de outras pessoas. Álvaro jurou pela própria honra que ninguém sabia daqueles episódios.
Cecília disse que a palavra dele não era o bastante e que não aceitava nada que não fosse dado pelo próprio pai... A moça exigiu que ele retirasse o objeto da janela, então Álvaro lamentou a situação respondendo que resgataria o objeto, que seria mantido por ele em segurança... Cecília entendia que o rapaz estava em uma situação delicada porque a amava. Talvez para não deixá-lo tão angustiado disse-lhe que “é tão doce esperar”... Ficou enrubescida ao dizer isso.
Aconteceu que ao virar o rosto, Cecília notou que a prima observava toda a cena que se desenvolvia ali... Assustada, ela deu um grito e entrou às pressas no jardim. Deixou escapar um jasmim que havia retirado dos cabelos. A flor foi resgatada por Álvaro, que a beijou suspirando... Ao levantar a cabeça o moço deparou-se com o olhar atento de Isabel... Também envergonhado ele deixou a flor cair. O jasmim voltou às suas mãos porque Isabel o pegou para devolvê-lo e, enquanto fez isso, disse-lhe que seu gesto era também “uma restituição”.
É claro que Isabel não poderia explicar onde teria encontrado coragem para dirigir-se ao amado e ainda “restituir-lhe” uma flor... Tremendo, seguiu para o quarto de Cecília e, ao revê-la, não teve coragem de fitá-la...
A rigor as duas ficaram sem palavras e permaneceram imóveis e sem se encararem por um longo instante. Olharam-se ao mesmo tempo e depois viraram o rosto em direção à janela... Cecília estava se sentindo envergonhada como se houvesse cometido uma falta grave. Do mesmo modo que não aceitava a situação, encheu-se de coragem e pediu para Isabel abrir a janela. A moça fez isso.
Cecília e Isabel mantiveram-se em expectativa, mas é claro que nada poderiam ver ali, pois, como sabemos, o presente de Álvaro havia sido atirado por Loredano para as profundezas do abismo. Isabel não conseguiu conter sua emoção e felicidade por não encontrar o objeto que comprovaria os sentimentos de seu amado pela prima... Ela não percebeu, mas sua feição e gestos estavam denunciando seu segredo... Cecília notou que ela escondia um segredo estancado... Isabel dobrou os joelhos e foi ao chão.
(...)
Isso tudo ocorreu ao mesmo tempo em que Peri prosseguia em sua busca pela índia floresta adentro... Restaurado em suas forças, seguia o mais rápido que podia e, como a outra se distanciava consideravelmente, Peri ia decifrando os “vestígios do caminho” (capim abatido, folhas secas espalhadas, galhos agitados, “pérolas do orvalho desfeitas”...). E por que o nosso personagem insistia em perseguir a índia inofensiva? Essa questão é explicada no texto original, mas não aparece na adaptação...
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas