quarta-feira, 17 de julho de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Primeira novela do segundo dia – contada por Neífile – Segunda Parte – Martelino foi desmascarado; os trevisanos o espancam; Marchese e Stecchi mentem para socorrer o amigo; o juiz impiedoso levaria o fanfarrão à forca; o castigo que Martelino sofreu rendeu gozação das pessoas mais influentes de Treviso; enfim, a liberdade

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio.html antes de ler esta postagem:

Então Martelino conseguiu ir até o fim em seu plano abusado...
Mas aconteceu que entre os presentes estava um florentino que o reconheceu no mesmo instante em que este se “restabeleceu”... O tipo viu toda a cena, mas tão bem Martelino improvisava que ele não poderia tê-lo identificado enquanto seguia como um aleijado que necessitava ser amparado... Sua surpresa foi tão grande que ele disparou um “Meu Deus! Dê-lhe um castigo! Quem é que, vendo-o chegar à igreja, não creria que ele realmente fosse homem aleijado?”.
Lamentavelmente para os três amigos (e principalmente para Martelino) este tipo foi ouvido por um dos presentes que quis saber por que ele havia dito aquilo... Então ele revelou que Martelino sempre foi sadio, dono de perfeita saúde e que era conhecido em Florença por realizar brincadeiras daquela forma, contorcendo-se, fazendo graça e imitando a quem desejasse...
Tão logo os trevisanos ouviram o esclarecimento se irritaram muito e exigiram que o farsante fosse preso imediatamente... Mostraram-se indignados porque o impostor zombava de Deus e dos santos, além disso, ridicularizava a todos e ao santo Arrigo em especial... Imediatamente a turba caiu sobre Martelino, que teve as vestes rasgadas... Davam-lhe muitos chutes, e é bem possível que cada um dos presentes tenha lhe dado pelo menos um murro... De sua parte, Martelino em vão gritava para que fossem piedosos com ele... Para a sua infelicidade, o povo presente parecia multiplicar-se, e seus amigos nada podiam fazer... Pelo contrário, para não atraírem também contra si a violência dos revoltosos, gritavam que o impostor devia morrer... Evidentemente procuravam subtraí-lo dali. Mas não obtinham sucesso.
Foi então que Marchese encaminhou-se à família dos senhores de Treviso que estava do lado de fora... Dirigiu-se ao que supunha ser o Podestade (autoridade jurídica) e, improvisando, pediu que este prendesse um malandro que havia lhe roubado sua bolsa com 100 florins de ouro... O plano deu certo porque imediatamente dez militares receberam a ordem de verificar a situação e, ao entrarem na igreja, entenderam que aquele que estava apanhando só podia ser o meliante que procuravam... Imaginaram que ele estava sofrendo o justiçamento que pessoas de bem lhe aplicavam...
Os soldados retiraram-no. Seus algozes quiseram saber por que ele estava sendo retirado dali e ouviram que se tratava de um “batedor de carteiras”. Então muitos dos presentes se aproveitaram para dizer que também haviam sido vítimas dele.
O juiz quis esclarecer a situação e isolou Martelino para interrogá-lo. Notando que ele debochava da situação, ordenou que o amarrassem a um aparelho de tortura. A autoridade esperava uma confissão e previu que o mandaria à forca... Depois de receber alguns puxões, Marteino foi perguntado sobre as acusações que sofria.
Percebendo que de nada adiantaria negar, ele sugeriu ao juiz que perguntasse aos seus acusadores sobre as ocasiões em que haviam sido furtados por ele. O juiz aprovou a ideia e solicitou que alguns reclamantes comparecessem à sua presença... Um disse que Martelino roubou sua bolsa oito dias antes; outro falou de seis dias; outro, de quatro dias; e muitos disseram que foram furtados naquele mesmo dia.
Por incrível que pareça, os depoimentos possibilitaram a defesa do acusado. Martelino disse que todos ali mentiam e que nunca estivera na cidade antes daquele dia, onde havia chegado há apenas algumas horas... Explicou que o seu erro foi ter se interessado em avistar o corpo do santo... Garantiu que suas palavras podiam ser confirmadas junto ao oficial da cidade responsável pelos registros, bem como com o dono do albergue onde havia se hospedado.
Marchese e Stecchi se assustavam e temiam não sobreviver ao processo, pois ficaram sabendo que o juiz não tinha os florentinos em boa consideração... Decidiram falar com o dono do albergue, e ele riu muito quando ouviu a tragédia vivida por Martelino. Isso à parte, o estalajadeiro decidiu apresentá-los a certo Sandro Agolanti, que era influente junto ao senhor de Treviso... Este Agolanti também deu boas risadas ao ouvir sobre o que havia se passado, e decidiu colocar o seu prestígio em favor dos dois rapazes e do amigo que era supliciado. Ele pediu ao senhor da cidade que colocasse Martelino em liberdade.
O juiz estava a fim de punir Martelino de forma exemplar... Tudo indicava que o levaria à forca, mas acabou cedendo aos apelos do senhor da cidade... Martelino então pôde suplicar ao senhor, a quem contou sobre os seus problemas na cidade. Disse que pretendia sair de Treviso, local onde se sentia permanentemente “com a corda no pescoço”... O rico homem riu-se a valer e deu ordens para que cada um dos três forasteiros recebessem vestimentas dignas e que pudessem retornar às suas casas sem nenhuma ameaça à sua integridade.
Fim da (décima) primeira novela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/decamerao-de-giovanni-boccaccio-segunda.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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