quarta-feira, 31 de julho de 2013

“O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg – Menocchio volta a ser interrogado depois de 15 anos do primeiro processo; depoimento de Pignol; depoimento de Daniel Jacomel; o velho moleiro retorna à prisão e apresenta suas justificativas a Asteo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg_6953.html antes de ler esta postagem:

Menocchio foi denunciado novamente... Em várias localidades da região (de Aviano a Pordenone) comentavam as suas blasfêmias. O inquisidor interrogou um taverneiro conhecido como Pignol (seu nome era Michele del Turco) e ficou sabendo das provocações do moleiro, que insistia em falar a respeito de suas máximas em relação a Cristo... Pignol contou que há uns oito anos disseram-lhe que Menocchio teria dito que “se Cristo fosse Deus, teria sido um (...), deixando que o metessem na cruz”... O taverneiro se disse indignado porque o acusado considerava Cristo um frouxo... Pignol arrematou dizendo que o achava “pior que um turco”.
Essa situação revela que a condição e má fama de Menocchio haviam piorado... Suas ofensas à religião ultrapassavam os limites da pequena Montereale... Palavras ditas muitos anos antes eram repetidas e repercutidas... Suas ofensas à divindade de Cristo incluíam também sua opinião em relação ao caráter de Maria Santíssima... O moleiro a considerava uma prostituta. Para ele, a concepção do Salvador do mundo nada tinha a ver com o Espírito Santo.
Menocchio andou anunciando que São Cristóvão, que “carregou o mundo inteiro nas costas” devia ser maior que Deus. Sobre essa última consideração, Ginzburg revela que a alegoria pode ser conferida em livro que certamente o moleiro jamais tivera acesso, “uma coletânea de símbolos, repleta de insinuações heterodoxas, do humanista bolonhês Achille Bocchi”.
Zannuto Fasseta di Montereale, e também Daniel Jacomel, foram chamados a falar sobre Menocchio. Jacomel disse que numa certa ocasião, quando voltava de Menins com o investigado, este perguntou-lhe o que ele pensava sobre Deus... Revelou que, como não tinha nenhuma opinião a respeito, ouviu Menocchio explicar que Deus “não é nada mais que o ar”... E mais, contou que Menocchio tinha opinião formada a respeito da ignorância a que o povo estava submetido, e que garantia que os inquisidores não tinham nenhum interesse em revelar às pessoas comuns o que eles sabiam. Jacomel deu a entender que o moleiro era destemido, pois teria dito que “gostaria de dizer quatro palavras do Pater Noster diante do inquisidor, e ver o que ele diria e responderia”.
No fim de 1599 Menocchio foi preso novamente. Inicialmente no cárcere de Aviano... Depois foi mandado para Portogruaro... No dia 12 de julho foi interrogado por Gerolamo Asteo, o inquisidor, e pelo vigário de Concordia (Valerio Trapola) e o magistrado Pietro Zane.
Menocchio contava 67 anos... Trajava-se como moleiro (túnica e gorro cinza claro)... Fazia 15 anos que ele havia sido interrogado pela primeira vez. Como sabemos, passou três sofridos anos na prisão. Estava velho. Havia exercido profissões diversas depois que saiu da prisão (marceneiro, moleiro, hospedeiro, professor e tocador de violão em festas). Apresentava barba e cabelos grisalhos... Perguntado se já havia sido interrogado pelo Santo Ofício anteriormente, respondeu que havia sido chamado para tratar a respeito do “Credo e outras fantasias” que lhe passavam “pela cabeça por ter lido a Bíblia e por ter inteligência aguçada”... Garantia que permanecia cristão como sempre havia sido durante toda a vida.
O moleiro explicou-se sobre o cumprimento de suas práticas e confissões regulares... Afirmou que comungava costumeiramente e que só deixou Montereale porque recebera autorização dos inquisidores... Pediu desculpa por não usar regularmente o hábito... Ressaltou que o usava às vezes, principalmente nos dias mais frios (por baixo da roupa)... Explicou que o uso frequente do hábito prejudicava o próprio sustento, já que as demais pessoas relacionavam aquela vestimenta ao “crime religioso”, sendo assim, afastavam-se dele porque o consideravam um excomungado.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg.html
Leia: O Queijo e os Vermes. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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