quarta-feira, 28 de agosto de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Álvaro e Loredano duelam; o punhal do cavalheiro quase atinge o bandido; o italiano o convence a uma disputa no rochedo à beira do agitado rio; no caminho a traição; a intervenção de Peri evita o pior desfecho para Álvaro

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-loredano.html antes de ler esta postagem:

O aventureiro italiano conseguiu irritar Álvaro e exigia dele uma satisfação sobre o ataque que acabara de sofrer... A situação só podia resultar em um duelo. Mas o cavalheiro recusou-se a travá-lo com arma nobre, como a espada. Esclareceu que a arma mais adequada a Loredano, e a aventureiros bandidos como ele, era o punhal...
O confronto teve início e de imediato o italiano percebeu que seria derrotado... Por duas vezes ele quase teve o pescoço perfurado... Então levantou a mão esquerda demonstrando que pretendia uma trégua.
Ele parou o confronto para explicar a Álvaro que podiam resolver a situação num ambiente em que do assassinado não restaria nenhum vestígio que pudesse incomodar o vencedor do duelo... Evidentemente Loredano concluía que não tinha a menor chance de vencer o cavalheiro, então tratou de planejar uma situação traiçoeira para derrotá-lo de vez... Álvaro quis ouvir a proposta... Loredano explicou que deveriam seguir até o rio que estava ali perto, cada um se acomodaria sobre uma ponta do rochedo, e seria com a clavina que resolveriam o entrevero... O derrotado cairia no rio e seria levado para a cachoeira... Não haveria incômodo para o sobrevivente mesmo que o infeliz ficasse apenas ferido do tiro que o alvejasse.
Álvaro não colocou nenhuma objeção. Não gostaria mesmo que soubessem que estivera em duelo com um tipo baixo como o italiano. Os dois seguiram para o rio... Álvaro andou tranquilamente à frente, apesar de reconhecer no outro apenas a vilania, não imaginava que seu adversário ousasse atirar pelas costas...
Loredano deu sequência à sua ideia... Deixou sua cinta de espada cair propositadamente... Enquanto baixou para pegá-la, concluiu que não poderia perder a chance de eliminar o seu inimigo... Em meio à mata, sem testemunhas, o mais esperto deveria sair-se vencedor... Levantou-se calmamente e armou a sua clavina.
Ele seguiu com todo o cuidado para não provocar a desconfiança de sua vítima que ia à frente... Mesmo em situação temerária como aquela, Álvaro só mantinha o seu pensamento para o episódio da manhã em que vira Isabel no quarto de Cecília ao longe... E é por isso que também a sua lembrança também o incomodava... Aos poucos se formava em sua mente a ideia de que as duas compartilhavam um segredo do qual ele mesmo fazia parte... Em seu gibão carregava o jasmim que pertencera aos cabelos de Cecília, e que chegou às suas mãos pelas mãos da também bela Isabel.
Tão envolvido estava nessas reflexões que não tinha condições de imaginar quais eram as intenções do covarde vilão que já se encontrava em seu encalço... Chegou a pensar que o outro havia fugido da disputa... Em vez disso, porém, Loredano estava prestes a dar-lhe o tiro pelas costas naquele mesmo instante.
Loredano disparou sua arma... Não havia como errar o tiro, mas ocorreu que Álvaro não foi atingido... A bala passou próxima à sua cabeça sem provocar nele nenhuma reação mais agitada... No mais completo desprezo, apenas voltou-se para olhar o bandido de frente...
O que viu não deixava dúvida a respeito da impotência de Loredano, que se encontrava dominado por Peri... Álvaro viu que o índio segurava a nuca do bandido, que estava ajoelhado e sem suportar a pressão que sofria... Peri, de faca em punho, estava pronto para eliminar o malfeitor com uma cravada certeira na cabeça.
Porém, Álvaro impediu que ele tirasse a vida do traste... Argumentou que ele próprio deveria acertar as contas com aquele que à pouco ousava tirar-lhe a vida... Armou a sua clavina e ordenou que o outro fizesse a sua última oração... Peri afastou-se... Loredano nada disse... Por dentro era todo palpitação agitada e lamento por perder o precioso pergaminho para Álvaro... Com a arma encostada em sua cabeça, aguardava o tiro que colocaria um fim à sua tumultuada existência...
Continua
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto

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