Peri se encantou ao notar a felicidade de Cecília, mas foi com tristeza que anunciou que partiria para a “terra que cobre os ossos de Ararê”. D. Antônio deu-lhe vários presentes... Cecília quis que o pai perguntasse a Peri os motivos de sua decisão... Então Peri respondeu que notava que ela não precisava de sua presença por ali, então era certo retornar para junto de sua mãe e irmãos... Em tom de brincadeira, a menina perguntou sobre o que faria se a pedra voltasse a querer fazer mal a ela novamente. O índio ficou sensibilizado porque era exatamente para não deixá-la desprotegida que não havia se afastado ainda do casarão... Então respondeu que se fosse o desejo dela, se ela assim o ordenasse, ele permaneceria.
Cecília envaideceu-se com as palavras de Peri... Sobretudo porque elas representavam que o seu encanto de frágil donzela domava uma “alma selvagem” dotada de força e coragem... Ela disse que não queria que ele partisse... Imediatamente, Peri respondeu que permaneceria... D. Antônio brincou com a filha e riu ao dizer que o ingênuo índio a obedecia fielmente.
D. Antônio disse a Peri que ele e a filha não pretendiam criar-lhe aborrecimentos, e emendou dizendo que ele não devia abandonar a tribo... Mas o índio insistiu e respondeu que ficaria porque “a senhora mandou”... D. Antônio quis que ele entendesse que poderia partir, pois a filha estava satisfeita com a dedicação que ele demonstrava... O amigo tinha o seu consentimento para partir... Nem a argumentação sobre o dano que sua ausência faria aos parentes fez Peri mudar sua decisão. Ele disse que ficaria porque era “escravo da senhora”. E nem a lembrança de sua importante participação como guerreiro goitacá o dobrou... Ele argumentou dizendo que o seu povo possuía muitos guerreiros, e muito bem armados.
D. Mariz convenceu-se de que não tinha como mudar a decisão tomada por Peri... Ofereceu-lhe instalação nas dependências da casa, mas Peri insistiu em permanecer abrigando qualquer árvore perto dali... Isso só fez d. Antônio se encantar ainda mais com o caráter do jovem índio.
Todo esse diálogo havia sido assistido bem ao longe pela idosa mãe de Peri... Ela entoou um triste canto:
A
estrela brilhou; partimos com a tarde. A brisa soprou; nos leva as asas.
A
guerra nos trouxe; vencemos. A guerra acabou; voltamos.
Na
guerra os guerreiros combatem; há sangue.
Na
paz as mulheres trabalham; há vinho.
A
estrela brilhou; é hora de partir. A brisa soprou; é tempo de andar.
Peri reconheceu e lançou-se em disparada em direção à sua mãe... Ao
revê-la entristeceu-se... E mais ainda ao ouvi-la pedir que a seguisse... Mas
ele rejeitou e garantiu que permaneceria... A mulher insistiu dizendo que ela e
os irmãos de Peri partiriam; que a cabana e o campo o aguardavam... Como o
guerreiro não abandonava a sua ideia, a mãe quis saber o motivo. Peri
esclareceu que ficava porque a senhora havia mandado. A mãe entendeu que Peri
via em Cecília a personificação de Nossa Senhora, que ele havia visto no
combate à vila dos colonos portugueses.
Peri pediu que a mãe levasse o seu arco para enterrar junto aos ossos de
Ararê,,, Também pediu que colocasse fogo à cabana... A velha se recusava a
admitir aquela tarefa, e respondeu que, além de manter a cabana de pé,
permaneceria atenta ao seu retorno... Peri insistia e mantinha-se firme em sua
ideia de não retornar... Ele comparou sua condição à do fruto e da folha que se
desprendem da árvore... A mulher lamentou ter sido salva pela virgem branca
porque percebia que era para ela que perdia o seu amado filho... Suas palavras
eram rancorosas e expressavam ameaça.
Peri pediu que a mãe não ofendesse a senhora
(Cecília), disse que morreria de desgosto e sequer se lembraria dela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-mae-de.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto