Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-alvaro.html
antes de ler esta postagem:
Depois da troca de
ideias a respeito dos amores devotados a Cecília, Peri contou ao amigo
cavalheiro que sabia que na noite anterior ele havia arriscado a própria vida
para deixar algo na janela da menina... Falou também que Loredano atirou o
objeto ao fundo do ermo precipício... Ao ouvir isso, Álvaro zangou-se e quis
retornar para perseguir o italiano... O índio impediu e garantiu que ele mesmo
“endireitaria” a situação...
Logo estavam chegando à casa, então pediu ainda que Álvaro atentasse a
uma última advertência sua... Ele explicou que o casarão possuía inimigos
(referia-se aos aimoré, mas podia estar tratando de Loredano e seus cúmplices)
que atacariam e fariam mal à família de d. Antônio... Disse que Álvaro
precisava defender Cecília, pois o índio estava se retirando e, se morresse,
Álvaro deveria conseguir um meio de comunicar a mãe de Peri sobre o perigo para
serem socorridos por guerreiros goitacá (não explicou que mergulharia no
profundo precipício repleto de vegetação úmida e criaturas peçonhentas).
É claro que Álvaro quis saber quem seriam os inimigos, mas Peri não
entrou em detalhes... Disse apenas que o rapaz saberia combatê-los... Na
sequência, Peri retornou para o mato.
O índio seguia
apressadamente até que se deparou com Aires Gomes, que surgiu de uma ramagem...
O escudeiro estava coberto de urtigas, via-se que estava ofegante e aparentava
ter sofrido quedas na mata... Era exatamente por Peri que ele estava à procura
e quando o viu esforçou-se para chamá-lo... “Mestre bugre!... D. Cacique!...
Caçador de onça viva!...” Mas Peri não lhe deu nenhuma atenção.
Peri só parou porque decidiu olhar em direção ao
casarão, onde estava Cecília... Aires Gomes o alcançou, mas mal conseguia falar
devido à fadiga da corrida que dera... O índio pediu que o deixasse em paz.
Devemos entender que o escudeiro estava cumprindo as ordens de d.
Lauriana que, apressando-se em ver o índio expulso da casa, o incumbiu de
levá-lo à presença de d. Antônio.
O texto revela o quanto Aires Gomes era fiel aos
patrões e como, ao mesmo tempo em que era diligente no cumprimento de suas
tarefas, envolvia-se em situações desastrosas... Notamos isso em relação à
busca a Peri empreendida mata adentro... Ele se enroscou em vários “incidentes
cômicos”: uma casa de marimbondos; um lagarto que lhe deu uma “chicotada com a
cauda”; urtigas e unhas-de-gato; além dos tropeços comuns às carreiras em meio
à floresta...
Como vemos, o sacrifício de Aires Gomes estava fadado ao fracasso porque
Peri não dava mostras de que colaboraria, pois havia decidido recuperar o
bracelete lançado ao fundo do precipício... Enquanto Aires Gomes queria
segurá-lo, Peri se irritava e exigia que o deixasse... O escudeiro tentou
explicar que estava cumprindo ordens, mas conforme tentava convencer o outro,
se complicava nas palavras e acabava proferindo injúrias... Peri só tinha olhos
para a janela do quarto de Cecília, então sequer dava ouvidos às palavras de Aires
Gomes... Desvencilhou-se dele e prosseguiu o seu caminho...
Aires Gomes conseguiu dizer que sua tarefa era a de levá-lo à casa, mas
Peri argumentou que estava caminhando para longe e disse que não queria ser
seguido por ninguém... Os dois estavam decididos em seus intentos... Aires
Gomes explicou que era dona Lauriana que desejava que Peri fosse levado ao
casarão... Então Peri aceitou, mas garantiu que iria sozinho. Ele tirou a sua
faca e Aires Gomes viu nisso um desafio... Peri explicou que ele não era seu inimigo
e não queria lutar contra ele, mas amarrá-lo para que o deixasse em paz.
Peri cortou um enorme cipó que se enroscava a uma árvore... Aires Gomes
assistia a tudo com muita raiva. Como era um cumpridor passivo dos deveres
ordenados por d. Mariz, não ousava atirar-se sobre o índio estimado pelo
patrão... Mas o escudeiro estava disposto a defender-se e desembainhou a sua
espada... Peri havia colhido umas dez braças de cipó (uma braça = 2,20m) e
começou a dar voltas em torno de Aires Gomes, que se encostou a um tronco... O
duelo era inusitado e desigual, mas tanto o escudeiro girou que ficou tonto...
E foi assim que Peri conseguiu amarrá-lo pelos braços, ombro e joelhos.
Aires Gomes ficou imobilizado porque o cipó o
envolvia no tronco da árvore... A ele restou apenas proferir injúrias contra
Peri, que pôde prosseguir sozinho o caminho até o casarão.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-peri_2.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto