domingo, 24 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – ao final da conferência, Henri é levado a uma área reservada; Belzunce o orienta sobre como deve se comportar junto aos convidados milionários; Marie-Ange diz que ele não é “brilhante” e o aconselha a observar os modos de Volange; Julien e Vincent estão ali para se embriagar; “pseudo intelectuais”, uma “raça terrível”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_22.html antes de ler esta postagem:

Henri fez sua conferência na mansão de Claudie Belzunce... Observou os tipos perfumados e empetecados que o ouviram... Definitivamente ambiente não era dos que ele costumava frequentar.
Huguette Volange mostrou ao palestrante por onde devia se retirar sem ser incomodado. Na parte onde organizaram o bufê, Perron poderia receber apenas os convidados que Claudie fazia questão de manter na casa... Julien já estava embebedando-se e se justificando que era para isso mesmo que havia chegado ali... O rapaz não ouviu nenhuma frase da palestra. Henri disse que as conferências são mesmo maçantes, e não apenas para os que as ouvem.
Vincent se aproximou dizendo que a falação havia sido instrutiva... Poderia estar sendo irônico... Riu e disse que também chegava para beber... Logo, uma senhora com a “Legião de Honra” devidamente exibida em sua veste, juntou-se a Henri para agradecer e elogiar a arrecadação “maior do que com Duhamel”...
Perron estava interessado em falar com Lambert, pois queria saber o que Paule havia lhe dito... É claro que o rapaz já devia ter ouvido de Nadine várias revelações de situações íntimas a seu respeito, mas sobre isso não dava a mínima...
Logo que encontrou Lambert, Henri perguntou se poderia levá-lo para casa depois que aquele “carnaval” passasse... O moço respondeu afirmativamente, enquanto Claudie chegava para explicar o ritual que Henri deveria seguir: “Ficar bonzinho e escrever dedicatórias” às senhoras que o admiravam apaixonadamente... Ele quis se esquivar, dizendo que não podia ficar porque era aguardado no jornal. A anfitriã explicou que logo os Belhomme chegariam especialmente para vê-lo. Henri insistiu em sair depois de meia hora.
(...)
Henri perguntava o nome das pessoas, sorria e fazia a dedicatória no livro... “Assinava e sorria”, sentia-se parte de uma comédia... O salão, que não era grande, estava lotado das pessoas mais íntimas de Belzunce... Todas sorriam, uma ou outra arriscava trocar palavras com o intelectual... Estavam de certa forma habituados... Naquele momento tinham Perron, antes contaram com a presença de Duhamel, logo seria Mauriac ou Aragon...
Guite Ventadour quis saber por que seus personagens eram tristes... Henri nada dizia... Pensava simplesmente em “como se é severo para com os personagens de romance”; “não se admite uma fraqueza neles. E como se lê bizarramente!”... Os leitores deviam percorrer “as páginas como cegos”. Então concluiu que o melhor era “nunca encarar os próprios leitores”.
Chegou-se até Marie-Ange e perguntou por que ela estava a rir-se “sardonicamente”. Ela explicou que esse não era o caso; disse que estava entendendo por que ele “vivia escondido”, pois notava que ele não era nem um pouco “brilhante”.
Perron perguntou-lhe o que deveria fazer para se tornar “brilhante”... Marie-Ange sugeriu-lhe observar os modos de Volange para “tomar umas aulas”... De todas as respostas possíveis, certamente essa era a que mais poderia desagradá-lo... Então finalizou o assunto dizendo que “não era dotado”.
(...)
Julien bebia compulsivamente... Falava demais e à sua volta reuniam-se pessoas que riam de seus gracejos... O rapaz brincava com os nomes Belzunce, Polignac, La Rochefoucauld, que se “arrastavam pelas páginas empoeiradas da História da França”... Julien se realizava, acreditava mesmo que dominava o ambiente e aquelas pessoas... Henri refletia sobre aquela triste condição, e lamentou mais ainda os “pseudo intelectuais” que se reuniam na mansão de Claudie... Eram tipos entediantes e carregados de aborrecimentos; “escrever não os distraía; pensar não os interessava”... “Uma raça terrível!”
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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