quinta-feira, 21 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Henri tentava mostrar a Paule que estava difícil conviver; ela insistia em ler seus manuscritos e notava que ele não lhe devotava a confiança de outrora; Henri escondia seus segredos em relação à separação que desejava; “em certo sentido, a literatura é mais verdadeira do que a vida”; Paule segundo Henri; chega o dia da conferência marcada para a mansão de Claudie; Paule está explodindo de raiva

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9961.html antes de ler esta postagem:

Henri explicou à companheira que na primeira ocasião em que havia passado a noite no hotel, ele a encontrou de manhã com os olhos inchados... Por incrível que pareça, Paule respondeu que tinha direito de chorar (será que ele implicaria também com isso?)... Ele respondeu que não desejava que isso ocorresse... A moça estava sendo franca ao se revelar, e disse que o fato de ele não mais confiar nela (inclusive trancando os seus originais) era motivo de muitas lágrimas para ela...
É claro que Henri manifestou que aquilo era um absurdo, pois não via motivos para tanto choro... Paule retrucou afirmando que se sentia insultada... Seria ele um sádico? Teria medo que ela analisasse os seus escritos? A relação estava mesmo muito alterada... Henri respondeu, como que querendo tornar a conversa amistosa, que no lugar dela “faria o mesmo”...
Paule só podia concluir que, de fato, o amado trancava suas gavetas por causa dela... Ainda se esforçando para diminuir a dramaticidade da conversa, Henri completou que as gavetas trancadas também evitavam tentações... Ela perguntou se ele deixaria as gavetas livres se lhe jurasse que não tocaria nos papéis... Ele respondeu que acreditava na sinceridade dela, mas manteria os manuscritos trancados...
Depois de algum silêncio, Paule garantiu que nunca havia sido ofendida por ele como naquele momento... Então Henri disse que, se ela não suportava a verdade, não deveria obrigá-lo a dizê-la.
Henri subiu e posicionou-se na escrivaninha... Pensou que ela merecia ler os seus escritos... Isso a levaria a entender que deviam se desvincular de uma vez por todas. É bem verdade que, por ocasião da publicação, teria de refazer a parte que se referia à separação do casal para o qual Henri havia transferido os seus dramas com Paule...
Todas as vezes que a moça relesse o texto, Henri se sentiria vingado (“em certo sentido, a literatura é mais verdadeira do que a vida”; “no papel, a gente vai até o fim daquilo que sente”)... Fazia esses juízos enquanto pensava em sua maçante relação com Paule, na zombaria de Dubreuilh, e no tipo que Louis representava...
“No papel” era mais fácil conduzir um rompimento... O trecho que havia escrito parecia-lhe ideal... “O que se escreve é falso”, mas há a satisfação... No papel matamos, nos matamos, gritamos e vamos até o fim... Viver é mais complicado... Paule era como que um entrave, mas, ao vê-la manifestar suas angústias, sentia piedade por ela. Era com sinceridade que ela imaginava que Henri ainda a amava.
A avaliação que Henri fazia de Paule era das piores: “falsa amorosa, que só gosta de suas comédias e de seus sonhos; uma mulher que procura encarnar a grandeza, a generosidade, a abnegação, ao passo que não tem altivez nem coragem, empedernida no egoísmo de suas fingidas paixões”...
(...)
Alguns dias se passaram e tudo o que Henri mais fez foi evitar que novas discussões ocorressem... Até que Paule soube da conferência que ele aceitou fazer aos grã-finos na mansão de Claudie... Henri justificou-se como pôde e disse que Dubreuilh também já havia falado numa daquelas reuniões, e que a iniciativa era nobre porque pretendiam arrecadar fundos que garantissem um lar para crianças necessitadas... Mas Paule não aceitava as explicações... Ele decidiu se calar... Ela fez o mesmo, mas via-se que estava muito nervosa...
No dia da palestra, enquanto Henri se arrumava, Paule o olhou com rancor... Ele mesmo pensou que a moça tomaria a iniciativa de romper com ele dentro em pouco... Perguntou-lhe se não o acompanharia... A moça soltou uma risada desvairada e respondeu que aquilo não passava de “boa farsa”, um “carnaval”... Em tom de mistério, disse que tinha coisa melhor para fazer. Obviamente Henri quis saber, mas ela disse que era algo que interessava apenas a ela mesma...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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