sábado, 30 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – passeio pelo bulevar de Clichy; um pouco de diversão descompromissada; Josette e seu cotidiano completamente estranho para Henri; ele chegaria mais cedo à casa de Paule; um Bordeaux

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-as.html antes de ler esta postagem:

Henri e Josette passeavam por Paris depois da primeira noite juntos... Ele estava encantado com a beleza, ingenuidade e fragilidade da pequena... Ela estava mesmo bem atrapalhada com o inusitado da hora e do programa... Mas Perron parecia querer celebrar sua felicidade.
(...)
Chegaram a uma “feira de diversões” no bulevar de Clichy... Um pequeno carrossel já estava funcionando, mas a maioria das barracas permanecia fechada... Josette nunca estivera num parque de diversões... Revelou que teve uma infância pobre e que a mãe a internou até os dezesseis anos... Começaram a jogar bilhar japonês... Henri não conseguia esconder o seu encantamento em relação ao modo desajeitado de Josette, para quem tudo ali era estranho... Prosseguiram sempre abraçados até entrarem num pequeno café.
Josette explicou que sempre tomava Vichy por causa de seu delicado fígado... Henri pediu vinho tinto e ela achou graça de um letreiro que dizia “combata o alcoolismo bebendo vinho”...
Perron explicou que aquele parque era uma novidade também para ele e que essas coisas acontecem quando “saímos por aí”... Perguntou o que ela fazia normalmente, já que não tinha hábito de sair a passeio... Josette respondeu que fazia um curso de dicção, ia às compras e ao cabeleireiro, o que demandava muito tempo... Disse que ainda participava de chás e coquetéis.
A curiosidade de Henri era saber se aquilo a divertia... A esse respeito ela devolveu-lhe a pergunta se ele conhecia alguém que se diverte... Henri respondeu que “conhecia pessoas contentes com a própria vida”. E esse era o caso dele também.
Ele quis saber o que a deixaria contente. Josette respondeu que gostaria de não mais precisar da mãe e também de ter a segurança de jamais voltar à condição de pobreza... Henri disse que aquilo se tornaria realidade para ela, então perguntou o que faria depois... Viajaria? A moça não sabia o que responder, pois não pensava naquelas possibilidades.
Corrigiu a sua maquiagem enquanto sentenciava que precisava ir, pois tinha de experimentar um vestido no ateliê da mãe... De repente a conversa sobre a cartomante veio-lhe à mente e perguntou se seria possível que seu vestido não ficasse pronto... Henri respondeu que as pessoas que leem a sorte também se enganam. Ele quis saber se o vestido era bonito, e Josette respondeu que ele saberia na segunda-feira... Experimentar vestidos era algo que a cansava muito, mas era necessário. Ainda mais porque tinha de se exibir para garantir sua publicidade.
Tomaram um taxi, e Josette acomodou sua cabeça no ombro de Henri. Este pensava em quê poderia ajudá-la... Poderia ajudar a tornar-se uma atriz, mas ela nem gostava de teatro... Como auxiliar aquela frágil criatura? Entendia que precisava amá-la com exclusividade... Pensou que restavam bem poucas alternativas quando o assunto era socorrer as mulheres.
(...)
Despediram-se na entrada do prédio com o compromisso de novo encontro à noite no bar... Henri seguiu em direção à casa de Paule. Notou que chegaria cedo... Eram apenas 11 horas da manhã. Acreditou que isso a deixaria satisfeita... Tinha a convicção de que ela sabia que ele não a queria mais...
É certo que Paule não provocava mais discussões ou tumultos apesar de notar que a mudança do amado para o hotel estava, aos poucos, se tornando uma realidade... Ele já não passava muitas noites no estúdio... Então Henri imaginava que Paule pudesse aceitar uma convivência pacífica, de “bons amigos”.
Pensou que poderia levar flores para Paule... Mas concluiu que uma garrafa de Bordeaux seria menos comprometedora.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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