Lucie Belhomme estava toda “empetecada” (vestido Amaryllis, joias e cabelos) especialmente para aquele jantar de celebração da assinatura do contrato...
Henri tentava imaginá-la sem os cabelos. A madama quis puxar assunto dizendo que ele deveria estar contente depois da assinatura... Ele respondeu que sim, estava muito contente... Ela mostrava-se influente ao dizer que ele poderia ficar tranquilo... Dudele (seu amante titular, de acordo com Claudie, um tipo “muito direito”) estava ali para confirmar.
Lulu manifestou-se sobre o não comparecimento de Paule... Pediu para Henri dizer-lhe que “foi horrível ela não ter vindo”. Ele respondeu que a outra “estava realmente muito cansada”. Enquanto falava isso, notava que as mulheres estavam elegantemente vestidas de preto e portando as mais diferentes joias... Não lhe escapava a indiferença de Josette... Perguntava a si mesmo se havia fotografias dela no dossiê levantado pelos amigos de Vincent.
(...)
Henri deixou o encontro e
pegou um táxi até Montemartre... Tomava uísque quando Josette sentou-se ao seu
lado na poltrona do bar... Chegou falando da gentileza de Vernon e de sua
pederastia... Não sofreria aborrecimentos e amolações exatamente por causa
disso... Estava aliviada. Então Perron quis saber o que ela fazia quando sofria
amolações de indivíduos.
Josette explicou que “às vezes, é delicado”. Henri
engatilhou a pergunta sobre os alemães, se eles não a amolaram demais durante a
guerra... A moça enrubesceu, quis saber por que ele fazia-lhe aquela pergunta e
se alguém lhe havia contado algo. Ele disse que haviam lhe contado que Lucie
Belhomme havia recebido alemães em seu castelo durante a guerra... Josette
esclareceu que o castelo na Normandia foi ocupado, mas elas não tinham nenhuma
culpa. Disse também que as pessoas da vizinhança não gostavam de sua mãe, e é
por isso que “fizeram circular boatos vis”... É certo que entendia que a mãe
não era uma pessoa gentil, mas não admitia a maledicência porque ela sempre mantivera
os alemães à distância.
Henri concluiu que se a situação fosse diferente da que ela afirmava era
bem provável que nada lhe contasse a respeito... Josette se entristeceu e
perguntou por que ele falava daquela forma... Ele foi direto ao dizer que Lucie
possuía a Amaryllis, que precisava
progredir, e não acreditava que ela a poupasse enquanto buscasse atingir os
seus objetivos. A moça quis saber o que ele realmente pensava àquele respeito,
então Henri respondeu que talvez ela tivesse “sido imprudente e saído com
oficiais”.
Josette justificou-se dizendo que não tinha nada
contra os oficiais alemães... Mostrava-se “polida e nada mais”... É certo que
algumas vezes a trouxeram de carro da aldeia até a casa... Eles eram corretos e
ela era uma jovem que nada entendia da guerra...
Acrescentou que gostaria que os conflitos se
encerrassem rapidamente... E que só bem depois é que veio a saber “o quanto se
mostraram horríveis, com seus campos de concentração e tudo”...
Henri garantiu-lhe que ela não sabia “grande coisa”... Pensou no quanto
ela não era “tão jovem assim em 1943”... Nadine, que “não tinha mais que
dezessete” possuía outra consciência dos fatos... É claro que Josette não tinha
boa formação.
A moça sabia mais do que dizia? De repente, Henri se via como que
organizando um enredo investigativo, como se fosse um policial... Isso o
desagradou...
Josette perguntou se ele acreditava nela... Ele respondeu que sim, e que
não mais falariam sobre aqueles assuntos... Depressa seguiram para a casa dela.
(...)
Lambert se empenhou durante o processo que seu
pai enfrentou em Lille... O resultado foi a absolvição do velho. Henri concluiu
que o veredicto traria grande alívio ao rapaz...
Na próxima postagem veremos que isso acabou não
se confirmando.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-o.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto