sexta-feira, 30 de agosto de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Álvaro fica sabendo que a intervenção de Peri em favor de sua vida se devia à sua devoção à Cecília; poeticamente, Peri explica a convivência dos três jovens; mais poesia no texto de Alencar; sim, Álvaro também devotava-se à donzela

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Álvaro viu na ação de Peri a consideração que o índio tinha por ele... Por isso agradeceu. De sua parte, Peri respondeu que o rapaz deveria agradecer à senhora. Ele procurava impedir a todo custo que Cecília se entristecesse e por isso interveio impedindo que Loredano o assassinasse...
O rapaz demonstrou certo embaraço, disse que Cecília era uma boa pessoa que certamente sentiria demais a morte de qualquer um dos que faziam parte de seus círculos familiar e de amizade... Peri respondeu garantindo que Cecília o tinha em muito boa consideração. Disse que Álvaro era “o sol que faz o jambo corado, e o sereno que abre a flor da noite”...
De modo poético garantia que o cavalheiro era muito importante para a sua senhora...
O índio explicou que ficava feliz por notar que Álvaro fazia Cecília sorrir: A cana quando está à beira d’água, fica verde e alegre; quando o vento passa, as folhas dizem Ce-ci. Tu és o rio; Peri é o vento que passa docemente, para não abafar o murmúrio da corrente; é o vento que curva as folhas até tocarem a água.
E esse era o juízo que fazia da vivência dos três... Álvaro ficou encantado ao ouvir Peri dizer com tanta naturalidade aquelas belas palavras. Não era comum ouvir poesia como aquela nem mesmo entre os colonos mais abastados... O fato é que Peri era resultado da exuberante natureza brasileira daqueles tempos de fins do século XVI e início do XVII...
Alencar manifesta todo o seu encanto pela terra, poesia que dela emanava, e por Peri, seu personagem:


Não é isso a poesia?
O homem que nasceu embalou-se e cresceu nesse berço perfumado;
No meio de cenas tão diversas, entre o eterno contraste do sorriso e da lágrima, da flor e do espinho, do mel e do veneno, não é um poeta?
(...)
Sua palavra é a que Deus escreveu com as letras que formam o livro da criação;
é a flor, o céu, a luz, a cor, o ar, o sol;
sublimes coisas que a natureza fez sorrindo.

O rapaz disse a Peri que ele só lhe dedicava estima porque imaginava que Cecília o quisesse bem... O índio respondeu de modo afirmativo, e justificou que isso acontecia porque ela era digna de devoção, pois havia deixado a mãe (Lua), irmãos e a terra onde havia nascido... Álvaro, como que testando a fidelidade de Peri a Cecília, perguntou sobre o que aconteceria se a moça não o amasse, ou se ele próprio não fosse apaixonado por ela... O índio esclareceu que, no primeiro caso, sequer o notaria durante os dias; no segundo caso, respondeu que seria impossível o moço não amá-la apaixonadamente... E completou dizendo que se Álvaro se tornasse motivo de infelicidade para Cecília, se revoltaria contra ele e o mataria.
Peri dizia aquelas palavras com a sinceridade (ingenuidade mesmo) que o caracterizava... Ele receava ofender o jovem Álvaro... Então, como que se desculpando, disse-lhe que sua devoção por Cecília era total:

Peri é filho do sol (...), mas o renegaria se ele queimasse a pele alva de Cecília;
Peri ama o vento, mas se ele arrancasse um cabelo de ouro de Cecília, o odiaria;
zangaria-se com o azul do céu, e nem o olharia mais, se ele se tornasse mais azul
que os olhos de Ceci...

Álvaro compreendia Peri, e deixou-o tranquilo ao garantir que também dedicava-se à felicidade de Cecília... Não aconteceria (nunca) de Peri investir contra a sua vida, pois garantia que antes disso ele mesmo se mataria se soubesse que trazia infelicidade à amada. O índio reconhecia a sinceridade do cavalheiro, e disse que queria que a senhora o amasse.
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – o cavalheiro permite que Loredano se vá depois que jurou não mais retornar ao casarão; os planos de Peri desde que deixara o cercado de cardos; o índio nada fala a respeito dos traidores em respeito à decisão soberana do rapaz

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De repente, o cavalheiro afastou a “arma de guerra” e disse que Loredano era um miserável, “indigno de morrer à mão de um homem”... Arrematou dizendo que o destino de tipos como ele deviam ser o “pelourinho e o carrasco”.
O bandido não se importou com o que ouviu... Abriu os olhos acreditando que teria uma nova e inesperada chance... Ouviu Álvaro falar que ele devia jurar que deixaria a casa de d. Mariz e nunca mais voltar a ela... Mas era apenas isso? Loredano jurou imediatamente! O rapaz tirou seu colar do qual pendia “a cruz vermelha de Cristo” para que o juramento fosse sacramentado... Depois Álvaro exigiu que o bandido se retirasse dali... É claro que ele não pestanejou...
Álvaro desarmou a sua clavina e pediu que Peri o acompanhasse.
(...)
Precisamos saber que no momento em que Peri estivera a ouvir os macabros planos dos três malfeitores, convenceu-se de que deveria matá-los... Mas sabia que não haveria possibilidade de sair vivo de tão desigual luta... Assim, receou pelo destino de sua senhora, pois ela se tornaria indefesa... Desejou possuir mais vidas para prosseguir indefinidamente ao seu lado...
Depois que despertou a atenção dos criminosos com o seu “traidores!”, Peri afastou-se da cerca de cardos e lavou sua túnica de algodão no rio porque não queria demonstrar que estava ferido (da flechada no ombro).
Ele havia decidido que não trataria sobre o que sabia acerca de Loredano e seus comparsas com ninguém, nem mesmo com d. Mariz. Em primeiro lugar porque não teria como sustentar através de provas uma acusação daquele tipo, além disso, sua palavra de índio seria confrontada com a dos aventureiros brancos... Por isso receou... Mas também considerou que ele sozinho, em segredo, poderia eliminar os três trastes. Um problema que se avolumava em suas preocupações era o da necessidade de matar os três homens num momento único, pois havia o perigo de, caso de algum deles sobrevivesse à sua ação, os planos de traição engendrados serem antecipados...
O índio devia seguir para avisar d. Mariz a respeito dos ataques dos aimoré, mas a direção que tomava foi completamente alterada depois de notar a movimentação de Simões e Soeiro e, mais adiante, a de Loredano apontando a arma contra Álvaro... Peri viu que o amigo estava de costas para o criminoso... Então sua ação foi muito rápida, já que num instante brevíssimo correu em direção à cena, desviou a pontaria de Loredano  e o subjugou.
Naquele momento considerou que poderia eliminar o italiano e aguardar Soeiro e Simões, que também poderiam ser mortos a facadas... Depois seguiria ao casarão para comunicar d. Mariz a respeito da traição daqueles tipos e o justiçamento que lhes impusera.
(...)
Nada do que se passava pela cabeça de Peri podia ser calculado por Álvaro... Para este, a intervenção de Peri se dera simplesmente para impedir que o italiano o assassinasse covardemente... Ele considerou que o juramento do bandido bastasse para que tudo se resolvesse a contento... O moço agia de acordo com os mesmos princípios cavalheirescos de d. Mariz, herdados de antepassados barões portugueses que lutaram ao lado do Mestre de Avis nos tempos da Batalha de Aljubarrota (de 1385, quando os portugueses conseguiram livrar-se do domínio castelhano e se iniciou a Dinastia de Avis).
De certa forma, a palavra de Álvaro não podia ser contrariada... Peri não entendia essa lógica, mas percebeu que sua intenção de matar o bandido Loredano esbarrava na decisão do cavalheiro em liberá-lo para que desaparecesse da região... Além disso, contrariar Álvaro, de acordo com o raciocínio de Peri, poderia tornar a sua senhora entristecida. É por isso que Peri não questionou a decisão do rapaz, recolheu a sua lâmina e o acompanhou no caminho do casarão.
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Álvaro e Loredano duelam; o punhal do cavalheiro quase atinge o bandido; o italiano o convence a uma disputa no rochedo à beira do agitado rio; no caminho a traição; a intervenção de Peri evita o pior desfecho para Álvaro

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O aventureiro italiano conseguiu irritar Álvaro e exigia dele uma satisfação sobre o ataque que acabara de sofrer... A situação só podia resultar em um duelo. Mas o cavalheiro recusou-se a travá-lo com arma nobre, como a espada. Esclareceu que a arma mais adequada a Loredano, e a aventureiros bandidos como ele, era o punhal...
O confronto teve início e de imediato o italiano percebeu que seria derrotado... Por duas vezes ele quase teve o pescoço perfurado... Então levantou a mão esquerda demonstrando que pretendia uma trégua.
Ele parou o confronto para explicar a Álvaro que podiam resolver a situação num ambiente em que do assassinado não restaria nenhum vestígio que pudesse incomodar o vencedor do duelo... Evidentemente Loredano concluía que não tinha a menor chance de vencer o cavalheiro, então tratou de planejar uma situação traiçoeira para derrotá-lo de vez... Álvaro quis ouvir a proposta... Loredano explicou que deveriam seguir até o rio que estava ali perto, cada um se acomodaria sobre uma ponta do rochedo, e seria com a clavina que resolveriam o entrevero... O derrotado cairia no rio e seria levado para a cachoeira... Não haveria incômodo para o sobrevivente mesmo que o infeliz ficasse apenas ferido do tiro que o alvejasse.
Álvaro não colocou nenhuma objeção. Não gostaria mesmo que soubessem que estivera em duelo com um tipo baixo como o italiano. Os dois seguiram para o rio... Álvaro andou tranquilamente à frente, apesar de reconhecer no outro apenas a vilania, não imaginava que seu adversário ousasse atirar pelas costas...
Loredano deu sequência à sua ideia... Deixou sua cinta de espada cair propositadamente... Enquanto baixou para pegá-la, concluiu que não poderia perder a chance de eliminar o seu inimigo... Em meio à mata, sem testemunhas, o mais esperto deveria sair-se vencedor... Levantou-se calmamente e armou a sua clavina.
Ele seguiu com todo o cuidado para não provocar a desconfiança de sua vítima que ia à frente... Mesmo em situação temerária como aquela, Álvaro só mantinha o seu pensamento para o episódio da manhã em que vira Isabel no quarto de Cecília ao longe... E é por isso que também a sua lembrança também o incomodava... Aos poucos se formava em sua mente a ideia de que as duas compartilhavam um segredo do qual ele mesmo fazia parte... Em seu gibão carregava o jasmim que pertencera aos cabelos de Cecília, e que chegou às suas mãos pelas mãos da também bela Isabel.
Tão envolvido estava nessas reflexões que não tinha condições de imaginar quais eram as intenções do covarde vilão que já se encontrava em seu encalço... Chegou a pensar que o outro havia fugido da disputa... Em vez disso, porém, Loredano estava prestes a dar-lhe o tiro pelas costas naquele mesmo instante.
Loredano disparou sua arma... Não havia como errar o tiro, mas ocorreu que Álvaro não foi atingido... A bala passou próxima à sua cabeça sem provocar nele nenhuma reação mais agitada... No mais completo desprezo, apenas voltou-se para olhar o bandido de frente...
O que viu não deixava dúvida a respeito da impotência de Loredano, que se encontrava dominado por Peri... Álvaro viu que o índio segurava a nuca do bandido, que estava ajoelhado e sem suportar a pressão que sofria... Peri, de faca em punho, estava pronto para eliminar o malfeitor com uma cravada certeira na cabeça.
Porém, Álvaro impediu que ele tirasse a vida do traste... Argumentou que ele próprio deveria acertar as contas com aquele que à pouco ousava tirar-lhe a vida... Armou a sua clavina e ordenou que o outro fizesse a sua última oração... Peri afastou-se... Loredano nada disse... Por dentro era todo palpitação agitada e lamento por perder o precioso pergaminho para Álvaro... Com a arma encostada em sua cabeça, aguardava o tiro que colocaria um fim à sua tumultuada existência...
Continua
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Prof.Gilberto

terça-feira, 27 de agosto de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Loredano avista Álvaro em caminhada solitária pela floresta e se convence de que é ele quem estivera escutando o seu conluio com os dois aventureiros; o rapaz percebeu que estava sendo seguido e posicionou-se defensivamente; Loredano sabia da habilidade de Álvaro com as mais diversas armas; troca de ofensas; um duelo está prestes a ocorrer

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Loredano, Simões e Soeiro não precisaram andar muito para notar a presença de um tipo que caminhava... Este era Álvaro... Como sabemos, ele não tinha nada a ver com o episódio...
O rapaz andava mergulhado em reflexões sobre Cecília, e também sobre Isabel. Pela manhã, enquanto observava ao longe a janela do quarto de Cecília se abrir, pôde notar que Isabel se atirava de joelhos aos pés da prima... Ficou sem entender a reação das moças... Era sobre isso que pensava... Nós bem sabemos que era a seu respeito que tratavam.
Reflexões e dúvidas solitárias de Álvaro à parte, Loredano estava convicto do que deveria fazer... Disse aos outros dois que o intruso só podia ser aquele que caminhava pela vereda... Depois pediu a eles que permanecessem onde estavam porque ele trataria pessoalmente da situação... Os aventureiros quiseram impedi-lo. Simões até o advertiu sobre a “inutilidade” de mais um crime... Resoluto, o italiano não perdeu tempo com argumentações e partiu com o maior cuidado atrás do outro.
A experiência que Álvaro tinha em expedições pelas matas era tanta que ele estava habituado a superar situações imprevistas... Reconhecia os sons que pudessem indicar a aproximação de algum inimigo ou de uma fera... Então não teve dificuldades em reconhecer que estava sendo seguido... O vento trouxe-lhe o som de pisadas graves em folhas secas. O moço se precaveu encostando-se a um tronco avantajado... Preparou-se para acionar a clavina e esperou. Assumiu uma condição que não deixava ao inimigo (o que quer que fosse) senão a opção de encará-lo de frente... Loredano prosseguiu agachado e notou a estratégia de Álvaro... Mas não lhe restavam muitas alternativas, já que seguia com a convicção de que a pessoa que havia bisbilhotado o seu conluio só podia ser Álvaro.
O problema que se divisava para o criminoso era dos mais complexos... Álvaro era habilidoso com qualquer arma que manipulasse... Punhal, espada ou clavina obedeciam perfeitamente aos comandos de seus membros quando ele atirava ou golpeava com as lâminas... Quando partiam de Álvaro, projéteis e lâminas tinham alvo certo... Loredano sabia disso, pois não poucas vezes pôde ver o rapaz atirar nas flechas que partiam ligeiras do arco de Peri e que serviam de alvo nas alturas. O italiano se irritava com isso também porque notava, além da satisfação do inimigo, a alegria de Cecília ao presenciar sua destreza.
A habilidade de Álvaro era mais que suficiente para garantir-lhe a confiança no confronto com qualquer adversário... Peri era o único que lhe inspirava respeito e admiração... Mas este não era seu inimigo, pois Peri entendia e ficava feliz ao ver que sua senhora se alegrava ao presenciar a destreza do cavalheiro.
Ali na mata, Loredano devia se decidir... Também ele era corajoso e não poderia vacilar... Os fatos se desencadearam e o levaram àquela condição... Era matar ou morrer... Álvaro conseguiu ver que era ele quem se aproximava... Em seu íntimo, também tinha motivos para odiá-lo.
Foi Loredano quem tomou a iniciativa de dar mostras de que sabia onde o outro estava. Apresentou-se dizendo que tinha certeza que sabia que Álvaro havia pensado como ele, e também por que ambos estavam ali... O rapaz, porém, respondeu que não tinha ideia do que Loredano dizia...
O italiano explicou que os dois se odiavam e, sendo assim, buscavam lugar solitário... Talvez na esperança de resolver as diferenças... Álvaro foi sarcástico e falou que não sentia ódio em relação a ele, apenas o desprezava... Garantiu que até o “o réptil que roja (se arrasta) pelo chão” era-lhe menos repugnante do que ele... O italiano contra-atacou dizendo que ele também poderia dizer coisas equivalentes em relação ao seu oponente... Ele odiava Álvaro; este o desprezava... O rapaz tomou a espada à mão e num rápido movimento levou a lâmina a tocar o rosto de Loredano.
Mas conheceremos o desfecho desse entrevero apenas na próxima postagem.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-alvaro-e.html
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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – a mãe de Peri aceita deixá-lo, mas o esperará sem suportar uma separação definitiva; Peri organiza sua cabana no rochedo; Cecília torna-se orgulhosa e o despreza; a moça aprende o significado de “Ceci” e muda o seu comportamento; na floresta, Loredano decide seguir a misteriosa voz; o pergaminho provocará mais uma ação criminosa

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Notando que o filho não retornaria com os parentes, a mãe de Peri disse-lhe que também ficaria... Mas o guerreiro a fez lembrar-se que a tribo e sua cabana precisavam ser cuidadas. Alertou que os mais novos precisavam conhecer a história de Ararê e das lutas dos goitacá contra os brancos... Convenceu-a de que ela tinha todas essas tarefas, além de preparar os vinhos aos guerreiros do povo e ensinar os velhos costumes aos mais jovens. A velha aceitou a sua condição e respondeu que voltaria para a cabana, onde o aguardaria “à sombra do jambeiro”... E completou dizendo que se as flores do jambeiro surgissem sem que Peri estivesse entre os seus, ela mesma não veria os frutos que a árvore viesse dar.
Notamos que o desespero da mulher tomara tons dramáticos porque a ameaça de suicídio está bem clara em sua última consideração... Então colocou sua fronte na de Peri e os dois choraram... Ela se virou e seguiu em meio à floresta. Peri principiou a segui-la, demonstrando que tinha a intenção de prosseguir com ela... Mas de repente ouviu a voz de Cecília, que permaneceu a conversar com d. Antônio... A voz da menina teve o efeito de fazê-lo retornar à sua decisão anterior de “ficar junto à sua senhora”... Naquela mesma noite construiu a pequena cabana de palha perto da ponta do grande rochedo, ao fundo do casarão de d. Mariz.
(...)
Depois de algum tempo, Cecília já não pensava sobre o desprezo em relação a Peri ou se isso significava ingratidão... Passou a tratá-lo como a um escravo qualquer... Aos poucos a sua antipatia em relação a ele não tinha como ser disfarçada... O seu orgulho crescia, e bastava saber que o índio se aproximava para dramatizar... A moça soltava gritos assustados como se tivesse tomada um susto aterrorizador, então fugia ou exigia que ele se afastasse imediatamente... E já que Peri estava se acostumando às palavras em português, entendia quase tudo o que ela dizia... Mais do que entender a língua. Peri conhecia a aversão da outra.
No entanto, para d. Antônio a companhia de Peri era excelente... Ele o ajudava em suas expedições pela floresta, desvendando-lhe segredos e o ajudando a encontrar pedras preciosas e sítios auríferos... Costumeiramente, Peri entregava a d. Antônio pássaros e flores que deviam ser levadas para a donzela que o desprezava... O índio evitava cada vez mais o contato direto com ela porque notava que não o aceitava por perto... Ele a chamava de Ceci.
Até isso causou a repulsa da menina, e foi esbravejando que quis saber por que ele não a chamava pelo seu nome de modo correto... Peri demonstrou que sabia dizer o nome dela, e até o soletrou... Mas explicou que Ceci era o que ele carregava na alma... Apesar da insistência de Cecília em saber o significado daquela “redução de seu nome”, ele teimou em não revelar... Foi d. Antônio que explicou que “Ceci significa doer, magoar”. Essa revelação a fez refletir sobre a sua ingratidão... O significado de Ceci pareceu-lhe suave como um canto de pássaro... Aos poucos o seu orgulho foi desaparecendo e ela foi deixando de se assustar com a sua presença... Cecília, enfim, aceitou Peri como um “amigo fiel e dedicado”. Ela até pedia que ele a chamasse de Ceci.
(...)
Na sequência, o texto retoma os fatos desde a cerca natural de cardos onde Loredano e seus dois cúmplices estavam a beber vinho enquanto acertavam a sua vilania até que foram surpreendidos pela misteriosa voz (pronunciando “traidores!”) que, como sabemos, era de Peri... Vimos que o jovem índio não suportou ouvir a trama dos bandidos passivamente e revoltou-se quando escutou o italiano mencionar suas intenções em relação à Cecília, e é por isso que desabafou o “traidores!”.
Soeiro e Simões se assustaram e pensaram que aquilo só podia ser algo sem explicação natural, talvez algum aviso do céu... Loredano, de sua parte, tinha certeza de que o ocorrido só podia ser obra de um homem que àquela altura conhecia os seus planos... Sem dúvida, pensou, alguém próximo a d. Antônio e fiel a ele... Ou podia ser o próprio d. Mariz... Importava, a partir de então, descobrir quem estivera a espioná-los para eliminar mais esse entrave... Então pediu que os outros dois o seguissem... Junto ao peito carregou o pergaminho.
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Prof.Gilberto

sábado, 24 de agosto de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Peri anunciou sua decisão de partir do Paquequer; Cecília se envaidece por notar que ela domava os sentimentos do jovem índio; era por ela que Peri resolveu permanecer; d. Mariz quer demovê-lo, mas nota que ele estava determinado a ficar; Peri reencontra a mãe, que pede que se junte à família no retorno à tribo; a velha se entristece ao perceber que o filho se encantara pela branca

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Peri se encantou ao notar a felicidade de Cecília, mas foi com tristeza que anunciou que partiria para a “terra que cobre os ossos de Ararê”. D. Antônio deu-lhe vários presentes... Cecília quis que o pai perguntasse a Peri os motivos de sua decisão... Então Peri respondeu que notava que ela não precisava de sua presença por ali, então era certo retornar para junto de sua mãe e irmãos... Em tom de brincadeira, a menina perguntou sobre o que faria se a pedra voltasse a querer fazer mal a ela novamente. O índio ficou sensibilizado porque era exatamente para não deixá-la desprotegida que não havia se afastado ainda do casarão... Então respondeu que se fosse o desejo dela, se ela assim o ordenasse, ele permaneceria.
Cecília envaideceu-se com as palavras de Peri... Sobretudo porque elas representavam que o seu encanto de frágil donzela domava uma “alma selvagem” dotada de força e coragem... Ela disse que não queria que ele partisse... Imediatamente, Peri respondeu que permaneceria... D. Antônio brincou com a filha e riu ao dizer que o ingênuo índio a obedecia fielmente.
D. Antônio disse a Peri que ele e a filha não pretendiam criar-lhe aborrecimentos, e emendou dizendo que ele não devia abandonar a tribo... Mas o índio insistiu e respondeu que ficaria porque “a senhora mandou”... D. Antônio quis que ele entendesse que poderia partir, pois a filha estava satisfeita com a dedicação que ele demonstrava... O amigo tinha o seu consentimento para partir... Nem a argumentação sobre o dano que sua ausência faria aos parentes fez Peri mudar sua decisão. Ele disse que ficaria porque era “escravo da senhora”. E nem a lembrança de sua importante participação como guerreiro goitacá o dobrou... Ele argumentou dizendo que o seu povo possuía muitos guerreiros, e muito bem armados.
D. Mariz convenceu-se de que não tinha como mudar a decisão tomada por Peri... Ofereceu-lhe instalação nas dependências da casa, mas Peri insistiu em permanecer abrigando qualquer árvore perto dali... Isso só fez d. Antônio se encantar ainda mais com o caráter do jovem índio.
Todo esse diálogo havia sido assistido bem ao longe pela idosa mãe de Peri... Ela entoou um triste canto:

A estrela brilhou; partimos com a tarde. A brisa soprou; nos leva as asas.
A guerra nos trouxe; vencemos. A guerra acabou; voltamos.
Na guerra os guerreiros combatem; há sangue.
Na paz as mulheres trabalham; há vinho.
A estrela brilhou; é hora de partir. A brisa soprou; é tempo de andar.

Peri reconheceu e lançou-se em disparada em direção à sua mãe... Ao revê-la entristeceu-se... E mais ainda ao ouvi-la pedir que a seguisse... Mas ele rejeitou e garantiu que permaneceria... A mulher insistiu dizendo que ela e os irmãos de Peri partiriam; que a cabana e o campo o aguardavam... Como o guerreiro não abandonava a sua ideia, a mãe quis saber o motivo. Peri esclareceu que ficava porque a senhora havia mandado. A mãe entendeu que Peri via em Cecília a personificação de Nossa Senhora, que ele havia visto no combate à vila dos colonos portugueses.
Peri pediu que a mãe levasse o seu arco para enterrar junto aos ossos de Ararê,,, Também pediu que colocasse fogo à cabana... A velha se recusava a admitir aquela tarefa, e respondeu que, além de manter a cabana de pé, permaneceria atenta ao seu retorno... Peri insistia e mantinha-se firme em sua ideia de não retornar... Ele comparou sua condição à do fruto e da folha que se desprendem da árvore... A mulher lamentou ter sido salva pela virgem branca porque percebia que era para ela que perdia o seu amado filho... Suas palavras eram rancorosas e expressavam ameaça.
Peri pediu que a mãe não ofendesse a senhora (Cecília), disse que morreria de desgosto e sequer se lembraria dela.
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Prof.Gilberto

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