Psique deu crédito às palavras das irmãs... Estava convicta de que não podia conhecer a verdade a respeito de seu casamento (e também do seu futuro) se seu esposo não se revelasse a ela. As palavras de Téssora eram duras demais e, pelo visto, verdadeiras.
Ela sabia que tinha de eliminar os temores de seu pensamento. Vivia muito bem no castelo e era muito bem tratada, mas a possibilidade de estar sendo preservada para se tornar inocente vítima da criatura horrenda a apavorava.
(...)
Ela fez oferenda à Atena...
Suplicou que o palácio se tornasse visível. A deusa da sabedoria “alumiou todo
o solar”. Psique ofereceu também um belo colar de ouro, presente do marido.
Considerou que mais importante que as joias era saber a verdade que estava
escondida.
Ela seguiu para o aposento dele. Caminhou com
segurança, pois levava um lampião que a fazia enxergar o trajeto e, além disso,
carregava o punhal que Téssora havia lhe dado... Viu que tudo por ali era mesmo muito bonito e de bom
gosto (“tapetes persas, móveis talhados em predas preciosas e os detalhes em
ouro e diamantes”).
Foi com o maior cuidado que ela entrou no quarto do monstro, pois não
queria que sua iniciativa fosse descoberta. Aproximou-se da cama e levantou a
manta bem devagar, mas aconteceu que um pouco de “óleo fervente” caiu sobre a
face dele.
A dor o fez gritar aterrorizado. Psique se assustou, largou o lampião e
saiu em disparada carreia para um canto do aposento... Na sequência veio o
desastre.
(...)
As chamas se espalharam depois que o lampião se espatifou e atingiram as
cortinas do quarto. Psique pôde notar que o monstro se levantou, mas ela só via
um vulto com o rosto coberto pela manta. Ela se apavorou e pediu que não a
devorasse...
Aos poucos a manta deslizou para o chão e a verdadeira face do marido de
Psique foi revelada... Ela viu um “rosto alvo, adornado por cabelos cacheados
compridos, olhos azuis penetrantes, de uma beleza incomensurável”, e “em suas
costas, um par de asas brancas de dois metros de envergadura”.
Psique estava atormentada e pegou o punhal para se defender ao mesmo
tempo em que dizia que sabia que aquele tipo só podia ser o que tinha invadido
seu quarto naquela tumultuada noite... Depois sentenciou que as irmãs tinham
razão, pois podia notar que naquele momento ele se fazia virtuoso para obter a
sua confiança e, assim, concretizar o seu projeto assassino.
(...)
Na verdade o marido de
Psique era Eros, o deus do Amor.
Ele desabafou toda a
sua tristeza... Disse que por dois anos devotara amor incondicional a ela, no
entanto recebia apenas incompreensão e terror... A iniciativa dela mostrava-lhe
que estava certo ao não aprovar a visita das cunhadas.
Psique argumentou que tudo o que ele fazia tinha a finalidade de
enganá-la... Disse que com os deliciosos alimentos ele esperava engordá-la para,
enfim, devorá-la.
Eros não suportou tamanha
ofensa e acabou se revelando de vez... Explicou que se tratava do deus do amor,
e que havia se casado com ela para defendê-la da ira de Afrodite...
É claro que Psique ficou
espantada com a revelação e perguntou por que ele não havia lhe contado
antes... Eros respondeu que se sua mãe soubesse que ele a havia traído poderia ser
o fim... Disse que esperava que o tempo passasse para poder se revelar
plenamente, depois a levaria até Zeus na esperança de obter o perdão divino...
Isso traria imortalidade a Psique.
Eros lamentou que a esposa tivesse sofrido a maléfica
influência das irmãs... Exatamente por isso seus planos estavam anulados.
Psique abandonou o punhal e perguntou a ele se suas irmãs estavam enganadas ao
seu respeito. Ele respondeu que evidentemente não era o assassino que Téssora e
Magnetes descreveram. Tratava-se do deus do amor! Devotava-se à união com ela,
mas, triste e incisivo, garantiu que o amor não convive com desconfianças.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/01/eros-e-psique-partir-de-texto-de-joao_21.html
Leia: Eros e Psique. Coleção Mitológica. Editora Paulus.
Um abraço,
Prof.Gilberto