Holocausto Brasileiro apresenta relatos que confirmam que os internos do Colônia sofriam diversas explorações, principalmente na abertura e conservação de estradas com pás e enxadas, ferramentas também utilizadas nas plantações.
(...)
Luiz Felipe Carneiro, que nasceu na casa do administrador (localizada em
terreno do hospital) Adolfo Cisalpino de Carvalho, seu avô materno, foi uma
dessas testemunhas.
Enquanto o pai, Raul
Ferreira Carneiro, prosseguia em seu trabalho erguendo os prédios da
instituição, o menino Luiz crescia explorando o amplo terreno cercado por
árvores frutíferas e plantações que garantiam a farta alimentação da família.
Tudo isso ficaria marcado em sua memória e, pelo menos para ele, o Colônia
representava um ambiente mais que satisfatório.
O conforto proporcionado pela residência e a segurança
familiar só eram incomodados quando Luiz ouvia falar dos “loucos perigosos” que
viviam nas cercanias... Mas muitas dúvidas passaram a dominá-lo, pois não
entendia como aqueles tipos inermes, que avistava cotidianamente no trabalho
pesado, poderiam oferecer algum risco como os adultos garantiam.
(...)
Desde cedo, Luiz desconfiou que os pacientes fossem explorados como
escravos.
Holocausto
Brasileiro revela
que em 1916 o trabalho deles garantiu quase metade dos alimentos que o hospital
demandava... Além disso, boa parte da produção foi vendida... Os internos que
eram destinados ao trabalho nas plantações produziram de tudo (milho,
batata-doce, feijão, mandioca,...). Os considerados aptos constituíam ainda
mão-de-obra “no conserto de vias públicas, limpeza de pastos, preparação de
doces”... Outra atividade desenvolvida pelos pacientes era a confecção de
roupas, que acabavam negociadas pela administração.
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Luiz Felipe formou um juízo crítico a respeito da condição dos internos
do Colônia. Para ele, os pacientes eram mesmo escravizados. Assim, não sentia
aversão ou medo em relação aos “operários mais que explorados”. É bem possível
que os adultos entendessem que era melhor que as crianças vissem os internos
como abomináveis e, assim, elas se manteriam o mais afastado possível dos
loucos...
Porém, em vez disso, Luiz Felipe passou a considerá-los de modo diverso.
Entendeu que se tratavam de vítimas. Diferenciados (e engraçados) como eram,
acabaram ganhando a sua simpatia.
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O Colônia possuía a Capela de Nossa Senhora das Graças, mas os internos
não podiam sequer entrar nela. Então eles trataram de criar os próprios
ambientes de celebração religiosa... Alguns arrogavam para si a condição de “bispos”
e dirigiam “cerimônias” que acabavam sendo muito concorridas...
Arbex ressalta que, sem dúvida, aquilo fazia mais sentido do que as
missas “balbuciadas em latim”.
(...)
A família de Luiz Felipe transferiu-se
para o Rio de Janeiro... Mais tarde ele se deslocou para Belo Horizonte, onde
cursou Medicina.
Foi na Universidade
Federal de Minas Gerais que teve contato com Doença Mental e Personalidade, obra de Michel Foucault (1954)...
Podemos dizer que isso o incentivou a se aprofundar na temática e a se
especializar em “laboratório de análise” (patologia clínica). Por algum tempo
trabalhou com o irmão, chefe do Raul Soares, instituto psiquiátrico na capital
mineira. Depois se tornou socialista, tendo passado um tempo em Cuba.
Sua opção filosófica e política o fizeram
diferenciado em relação aos demais médicos. Tanto é que, mesmo depois de montar
um laboratório, adotou o princípio de que o excesso de exames em crianças e
adultos é um exagero desnecessário... Evidentemente, também por causa disso,
não se enriqueceu como outros donos de laboratórios.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_3.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto