quarta-feira, 2 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – exploração braçal dos internos do Colônia; vivência de Luiz Felipe Carneiro

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/03/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_28.html antes de ler esta postagem:

Holocausto Brasileiro apresenta relatos que confirmam que os internos do Colônia sofriam diversas explorações, principalmente na abertura e conservação de estradas com pás e enxadas, ferramentas também utilizadas nas plantações.
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Luiz Felipe Carneiro, que nasceu na casa do administrador (localizada em terreno do hospital) Adolfo Cisalpino de Carvalho, seu avô materno, foi uma dessas testemunhas.
Enquanto o pai, Raul Ferreira Carneiro, prosseguia em seu trabalho erguendo os prédios da instituição, o menino Luiz crescia explorando o amplo terreno cercado por árvores frutíferas e plantações que garantiam a farta alimentação da família. Tudo isso ficaria marcado em sua memória e, pelo menos para ele, o Colônia representava um ambiente mais que satisfatório.
O conforto proporcionado pela residência e a segurança familiar só eram incomodados quando Luiz ouvia falar dos “loucos perigosos” que viviam nas cercanias... Mas muitas dúvidas passaram a dominá-lo, pois não entendia como aqueles tipos inermes, que avistava cotidianamente no trabalho pesado, poderiam oferecer algum risco como os adultos garantiam.
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Desde cedo, Luiz desconfiou que os pacientes fossem explorados como escravos.
Holocausto Brasileiro revela que em 1916 o trabalho deles garantiu quase metade dos alimentos que o hospital demandava... Além disso, boa parte da produção foi vendida... Os internos que eram destinados ao trabalho nas plantações produziram de tudo (milho, batata-doce, feijão, mandioca,...). Os considerados aptos constituíam ainda mão-de-obra “no conserto de vias públicas, limpeza de pastos, preparação de doces”... Outra atividade desenvolvida pelos pacientes era a confecção de roupas, que acabavam negociadas pela administração.
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Luiz Felipe formou um juízo crítico a respeito da condição dos internos do Colônia. Para ele, os pacientes eram mesmo escravizados. Assim, não sentia aversão ou medo em relação aos “operários mais que explorados”. É bem possível que os adultos entendessem que era melhor que as crianças vissem os internos como abomináveis e, assim, elas se manteriam o mais afastado possível dos loucos...
Porém, em vez disso, Luiz Felipe passou a considerá-los de modo diverso. Entendeu que se tratavam de vítimas. Diferenciados (e engraçados) como eram, acabaram ganhando a sua simpatia.
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O Colônia possuía a Capela de Nossa Senhora das Graças, mas os internos não podiam sequer entrar nela. Então eles trataram de criar os próprios ambientes de celebração religiosa... Alguns arrogavam para si a condição de “bispos” e dirigiam “cerimônias” que acabavam sendo muito concorridas...
Arbex ressalta que, sem dúvida, aquilo fazia mais sentido do que as missas “balbuciadas em latim”.
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A família de Luiz Felipe transferiu-se para o Rio de Janeiro... Mais tarde ele se deslocou para Belo Horizonte, onde cursou Medicina.
Foi na Universidade Federal de Minas Gerais que teve contato com Doença Mental e Personalidade, obra de Michel Foucault (1954)... Podemos dizer que isso o incentivou a se aprofundar na temática e a se especializar em “laboratório de análise” (patologia clínica). Por algum tempo trabalhou com o irmão, chefe do Raul Soares, instituto psiquiátrico na capital mineira. Depois se tornou socialista, tendo passado um tempo em Cuba.
Sua opção filosófica e política o fizeram diferenciado em relação aos demais médicos. Tanto é que, mesmo depois de montar um laboratório, adotou o princípio de que o excesso de exames em crianças e adultos é um exagero desnecessário... Evidentemente, também por causa disso, não se enriqueceu como outros donos de laboratórios.
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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