Das trinta e três crianças enviadas de Oliveira para o Colônia em 1976, restavam seis (até o ano passado, quando o livro foi publicado). De fato, Elza Maria do Carmo e Maria Cláudia Geijo permaneceram em Barbacena... Silvio Savat, Antônio M. Ramos, Wellington Albino e Wanda Lúcia foram transferidos para Belo Horizonte em 1980... Encontram-se na faixa entre os 40 e 50 anos de idade e residem no “Lar Abrigado” (que é uma extensão do Centro Psíquico da Adolescência e Infância).
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Em novembro de 1998 deu-se a inauguração da Casa Amarela, onde os quatro
egressos do Colônia convivem com mais três oriundos de outras clinicas. Esse
grupo acabou constituindo-se numa família que é capitaneada por Mercês Hatem
Osório.
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Devemos destacar o
engajamento de Mercês, uma religiosa que desde o início de sua vida consagrada
se dedica à causa das pessoas com algum tipo de deficiência... O “Lar Abrigado”,
por exemplo, é um projeto que demandou quase vinte anos de seus esforços para
garantir “aos meninos de Barbacena, agora adultos, o lar que nunca tiveram”.
Irmã Mercês ingressou na comunidade religiosa ao tempo
das passagens dos anos 1960 para os 1970... Como sabemos, aqueles eram tempos
em que o país vivia o Regime Militar, repressor das liberdades e atuações
comunitárias. No caso da madre, sua vocação a despertou para o trabalho
psicopedagógico desde que fora aluna do Colégio Helena Guerra (também na
capital do estado de Minas Gerais). Isso resultou em perseguições.
Irmã Mercês dedicou-se à alfabetização de crianças pobres. Fazia isso a
partir da realidade delas, e sem cartilha alguma. Podemos dizer que o Método
Paulo Freire e as ideias de Vygotsky estavam presentes em sua prática... O “método
humanizado” levava em conta a solidariedade entre as crianças, pois as que
tinham mais facilidade para aprender eram levadas a colaborar com as demais.
A madre permaneceu por três anos no Amapá, onde se
dedicou à pastoral em meio aos índios... Como a perseguição às freiras do Convento
Helena Guerra tornou-se mais agressiva, irmã Mercês transferiu-se para a Itália
em 1973... Ela só retornou ao Brasil dez anos depois.
Em Assis, a religiosa trabalhou na área de saúde e ingressou numa das
equipes do Serviço Hospitalar de Trieste, dirigido por ninguém menos que Franco
Basaglia, o revolucionário médico psiquiatra que pregava o fim dos
manicômios... Holocausto Brasileiro
cita o episódio em que Basaglia “armou” os internos do hospital com martelos
para destruírem as paredes... Esse “ato simbólico” pretendia significar o fim
do “modelo de atendimento centrado no isolamento”... A OMS (Organização Mundial
de Saúde) reconheceu o Centro Hospitalar e as cooperativas dirigidas por Basaglia como verdadeiras referências “para a reformulação da assistência à saúde mental”.
* É bom que se saiba que em 1978 a Itália aprovou a lei nº 180, que
aboliu os manicômios no país.
Basaglia visitou o ambiente em que a irmã Mercês e outras religiosas
desenvolviam atividades com mulheres mentalmente transtornadas... Ele aprovou
tudo o que viu e ficou claro que ambos compartilhavam as mesmas ideias a
respeito do tratamento psiquiátrico.
* É bom que saiba que em 1979 o doutor Basaglia visitou o Colônia. Ele
comparou a instituição de Barbacena aos campos de concentração nazistas.
Depois que a irmã Mercês retornou ao Brasil,
dedicou-se ao trabalho na creche destinada aos filhos de funcionários da
Fundação Hospitalar de Minas Gerais... Nos anos 1970 a Fhemig havia se tornado
responsável pelo Colônia... Foi no Centro Psíquico da Adolescência e Infância
que ela conheceu os “meninos de Barbacena”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_14.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto