Depois do falecimento de dona Ana, Maria Tereza (sua filha; irmã do Luiz internado no Colônia) tornou-se moradora de rua... Como Holocausto Brasileiro informa, ela passou a “arrastar os trapos” sem que ninguém cuidasse dela ou zelasse por sua segurança... Passou a ser conhecida como Lilia, “a louca de Grão Mogol”.
(...)
Por
oito anos ela viveu assim, perambulando pelas ruas e abandonada à própria sorte
até que passou à condição de interna do asilo São Vicente de Paulo.
Na época em que Holocausto Brasileiro foi publicado,
Maria Tereza já estava há 12 anos na instituição, vivendo com outras 26
internas... Sua saúde deteriorou-se com o passar do tempo (ficou cega, “com
demência precoce” e tornou-se hipertensa).
(...)
Graças
aos relatos sobre sua infância, a residência terapêutica onde Luiz vive
proporcionou-lhe um a viagem até a sua cidade natal. Ele contava mais de 75
anos, e mesmo assim lembrou-se dos ambientes e do caminho de casa... Pôde
visitar a irmã no asilo. Apesar da cegueira, ela o reconheceu ao ouvir sua voz
e tocar o seu rosto...
Caminharam
pela cidade e visitaram a histórica igreja de Santo Antônio, matriz construída
durante o século XIX pelos escravos (antepassados de Lilia e Luiz) cedidos por
Guálter Martins Pereira, o barão de Grão Mogol.
Sobre
este barão, sabe-se que era cruel no trato dispensado aos escravos. Ao tempo da
Guerra do Paraguai (1864-1870) organizou um batalhão com seus homens, fardou-os
e os enviou ao Rio de Janeiro como “Voluntários da Pátria”. Foi por este feito
que Martins Pereira, coronel da Guarda Nacional, recebeu o título de barão.
O
reencontro de Luiz com a irmã e com sua cidade natal durou dois dias... Cada um
seguiu para a instituição onde vivem.
É
Maria da Assunção P. Simões, que dirigia o abrigo onde Luiz vive, que afirma
que “a divida que o Estado tem para com essas pessoas é incalculável... Não há
como “indenizar” o sofrimento imposto à família... Sua felicidade foi
simplesmente negada.
(...)
Essa é outra história comovente.
Durante trinta anos,
Adelino F Rodrigues e Nilta P. Chaves foram internos do Colônia. Ele
epiléptico; ela catatônica... Por incrível que possa parecer, Adelino foi
internado no Hospital de Neuropsiquiatria Infantil de Belo Horizonte depois de
ter sido atacado e “mordido por um cachorro bravo”. Ele nunca soube por que foi
internado lá... Ninguém nunca lhe explicou.
O fato é que em abril
de 1969 transferiram Adelino para o Colônia. Mesmo inconformado com o rumo que
impuseram à sua existência, ele entendia que tinha plenas condições de reagir e
imprimir resultados sobre o seu futuro.
Embora
não dominasse a escrita e a leitura, Adelino possuía habilidades e conseguia
realizar operações básicas da matemática. E foi graças a isso que ganhou e
guardou dinheiro miúdo com alguns pequenos serviços que realizava na
instituição. Uma parte do que recebia investia em rapé, que revendia a
funcionários fumantes.
Apesar de a poupança de
Adelino não ser exorbitante, ele chegou a emprestar dinheiro a juros. Obteve
autorização para saídas do Colônia e isso possibilitou ampliar os negócios com
comerciantes das imediações.
(...)
Nilta
chegou ao Colônia no fim de março de 1976 também sem saber os motivos da internação
e sem o menor conhecimento a respeito de seu passado ou de seus familiares. Ela
era um tipo fragilizado que manifestava profunda angústia com a própria
existência. Deixando de se alimentar, definhava, e sua sobrevivência deveu-se
ao auxílio de amigas como Sônia, outra interna. Adelino também se sensibilizou
com a condição dela e muitas vezes a amparou...
Entre
Adelino e Nilta estabeleceu-se um vínculo afetivo. Ela passou a cuidar das
roupas dele como forma de retribuir o tratamento bondoso. Assim, apesar da
angústia de não conhecer o próprio passado e de não entender por que sua morada
era o Colônia, a proximidade do amigo a animava.
Nilta passou a se arrumar e a querer viver ao
lado de Adelino. Mas em 2004 ele foi autorizado a deixar o hospital para viver
numa residência terapêutica. Ela sofreu ao pensar que não teriam mais chances
de conviver.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_21.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto