sexta-feira, 18 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – reencontro de Luiz com Grão Mogol e sua irmã Lilia; há como “indenizar” tantos sofrimentos impostos aos excluídos confinados nos manicômios e aos seus familiares?; Adelino e Nilta, duas vidas e um destino

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_17.html antes de ler esta postagem:

Depois do falecimento de dona Ana, Maria Tereza (sua filha; irmã do Luiz internado no Colônia) tornou-se moradora de rua... Como Holocausto Brasileiro informa, ela passou a “arrastar os trapos” sem que ninguém cuidasse dela ou zelasse por sua segurança... Passou a ser conhecida como Lilia, “a louca de Grão Mogol”.
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Por oito anos ela viveu assim, perambulando pelas ruas e abandonada à própria sorte até que passou à condição de interna do asilo São Vicente de Paulo.
Na época em que Holocausto Brasileiro foi publicado, Maria Tereza já estava há 12 anos na instituição, vivendo com outras 26 internas... Sua saúde deteriorou-se com o passar do tempo (ficou cega, “com demência precoce” e tornou-se hipertensa).
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Graças aos relatos sobre sua infância, a residência terapêutica onde Luiz vive proporcionou-lhe um a viagem até a sua cidade natal. Ele contava mais de 75 anos, e mesmo assim lembrou-se dos ambientes e do caminho de casa... Pôde visitar a irmã no asilo. Apesar da cegueira, ela o reconheceu ao ouvir sua voz e tocar o seu rosto...
Caminharam pela cidade e visitaram a histórica igreja de Santo Antônio, matriz construída durante o século XIX pelos escravos (antepassados de Lilia e Luiz) cedidos por Guálter Martins Pereira, o barão de Grão Mogol.

                                                                                  Sobre este barão, sabe-se que era cruel no trato dispensado aos escravos. Ao tempo da Guerra do Paraguai (1864-1870) organizou um batalhão com seus homens, fardou-os e os enviou ao Rio de Janeiro como “Voluntários da Pátria”. Foi por este feito que Martins Pereira, coronel da Guarda Nacional, recebeu o título de barão.

O reencontro de Luiz com a irmã e com sua cidade natal durou dois dias... Cada um seguiu para a instituição onde vivem.
É Maria da Assunção P. Simões, que dirigia o abrigo onde Luiz vive, que afirma que “a divida que o Estado tem para com essas pessoas é incalculável... Não há como “indenizar” o sofrimento imposto à família... Sua felicidade foi simplesmente negada.
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Essa é outra história comovente.
Durante trinta anos, Adelino F Rodrigues e Nilta P. Chaves foram internos do Colônia. Ele epiléptico; ela catatônica... Por incrível que possa parecer, Adelino foi internado no Hospital de Neuropsiquiatria Infantil de Belo Horizonte depois de ter sido atacado e “mordido por um cachorro bravo”. Ele nunca soube por que foi internado lá... Ninguém nunca lhe explicou.
O fato é que em abril de 1969 transferiram Adelino para o Colônia. Mesmo inconformado com o rumo que impuseram à sua existência, ele entendia que tinha plenas condições de reagir e imprimir resultados sobre o seu futuro.
Embora não dominasse a escrita e a leitura, Adelino possuía habilidades e conseguia realizar operações básicas da matemática. E foi graças a isso que ganhou e guardou dinheiro miúdo com alguns pequenos serviços que realizava na instituição. Uma parte do que recebia investia em rapé, que revendia a funcionários fumantes.
Apesar de a poupança de Adelino não ser exorbitante, ele chegou a emprestar dinheiro a juros. Obteve autorização para saídas do Colônia e isso possibilitou ampliar os negócios com comerciantes das imediações.
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Nilta chegou ao Colônia no fim de março de 1976 também sem saber os motivos da internação e sem o menor conhecimento a respeito de seu passado ou de seus familiares. Ela era um tipo fragilizado que manifestava profunda angústia com a própria existência. Deixando de se alimentar, definhava, e sua sobrevivência deveu-se ao auxílio de amigas como Sônia, outra interna. Adelino também se sensibilizou com a condição dela e muitas vezes a amparou...
Entre Adelino e Nilta estabeleceu-se um vínculo afetivo. Ela passou a cuidar das roupas dele como forma de retribuir o tratamento bondoso. Assim, apesar da angústia de não conhecer o próprio passado e de não entender por que sua morada era o Colônia, a proximidade do amigo a animava.
Nilta passou a se arrumar e a querer viver ao lado de Adelino. Mas em 2004 ele foi autorizado a deixar o hospital para viver numa residência terapêutica. Ela sofreu ao pensar que não teriam mais chances de conviver.
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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