sexta-feira, 30 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – ainda as discussões de Nadine e Lambert; Volange ou Perron como parâmetro?; diferentes “modos de ser” e Lambert insiste que a hipocrisia prevalece na ética de Nadine; para ela, o rapaz não passa de um frustrado; nada falta na noite das férias de junho, Anne lamenta o desentendimento do jovem casal e sofre com a distância em relação ao amado Lewis

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Ao falarem sobre Volange, Lambert e Nadine acabaram envolvendo o nome de Henri na discussão... O moço mostrava que preferia lidar com o tipo que cometera erros no passado em vez de assumir compromissos com Perron que, em sua opinião, amarguraria o erro de vacilar em relação às denúncias sobre os campos soviéticos... Nadine respondeu que não via em Henri a imagem de um herói, mas o considerava um “tipo limpo”... Disse isso e elogiou a peça que ele havia escrito. Lambert aproveitou para falar mal do texto que, em sua opinião, era detestável e irrelevante... O moço finalizou argumentando que “os mortos deviam permanecer sossegados” e não podiam ser usados para “exacerbar o ódio entre os franceses”...
Os dois não entrariam em acordo... Sobretudo porque a discussão se encaminhou para os temas do perdão aos inimigos e crimes do passado... Ela teimava em não admitir o esquecimento nem a condescendência... Ele não admitia condenações sem se levar em conta as apelações dos réus.
Lambert disse ainda que confiava no potencial de Volange para os grandes projetos. Nadine respondeu que qualquer resultado de uma associação com aquele conservador não passaria de “mero jornaleco” que, além do mais, nem pertenceria a Lambert... Ele perguntou se ela acreditava que o futuro lhe reservava alguma grande realização.
Nadine achava aquela conversa uma maçada e disse que não tinha o menor interesse de saber... Tudo tinha de acabar em grandeza? Em tom de lamentação, Lambert concluiu que ela esperava apenas que ele fosse um moço bonzinho, obediente e submisso aos seus caprichos... Nadine respondeu que nada esperava da relação e que o aceitava como ele era... O rapaz quis que ela manifestasse o que conhecia a seu respeito... A namorada respondeu que ele sabia fazer uma boa maionese e que pilotava motocicleta.
Brincaram sobre esses e outros “talentos” de Lambert... Isso foi como que uma reconciliação... A noite avançava e seguiram para o quarto.
(...)
O jardim ficou deserto e de lá só se ouviam as cigarras... Anne conferiu a beleza da noite... Viu que o céu estava repleto de estrelas, “nada faltava em parte alguma”... Era o tipo de momento em que a tristeza pesava-lhe mais.
Outras duas cartas foram enviadas por Lewis... Elas eram mais densas do que a primeira e transmitiam todo o seu pesar provocado pela distância... Nada os aproximava.
Por um instante, Anne voltou a pensar em Nadine e Lambert... Os jovens estavam próximos, mas eram incapazes de permitir que o amor prevalecesse e promovesse a felicidade que é tão almejada por toda gente.
(...)
Lambert e Nadine decidiram que passariam 24 horas em Paris... À tarde o rapaz apareceu engravatado em seu terno de flanela... Mas Nadine permanecia deitada sobre a grama, trajava uma saia enfeitada de flores, um blusão e sandálias rústicas. Ele insistiu que ela deveria se arrumar, pois perderiam a condução... Ela protestou dizendo que havia afirmado que pretendia que fossem de motocicleta.
É claro que a incompatibilidade estava escancarada.
Nadine insistiu que não trocaria de roupa... Procurando atrair Anne para o seu lado na discussão, Lambert deixou claro que nenhum dos dois estava com trajes adequados para a viagem de motocicleta, e lamentou que ela fosse tão teimosa, pois se deixasse o seu estilo anarquista poderia ter uma aparência melhor... É claro que a moça se irritou e gritou que se ele desejasse a companhia de uma mulher que se cuidasse mais deveria procurar em outras paragens.
O rapaz continuou em tom conciliador. Disse que, se ela se vestisse melhor, poderiam frequentar ambientes mais românticos ou para dançar... Nadine deixava claro que, além de não ter interesse de abandonar o seu “estilo selvagem”, o outro perdia o seu tempo ao insistir com aquela conversa.
Lambert falou que no fundo todas as pessoas apreciam (e querem para si) tudo o que é refinado (móveis, roupas, diversão e luxo)... Como Nadine sustentasse sua condição de a tudo aquilo rejeitar, o moço concluiu que havia muito de hipocrisia em suas palavras... Ela mesma havia feito a viagem com Perron! Então suas palavras naquele momento não seriam um renegar-se? Então não se poderia nunca manifestar as emoções? Nunca se tem vontades? Para ele, as pessoas buscam o êxito, admiram o triunfo e não desprezam o dinheiro... Até porque o mundo não oferece outras possibilidades.
Nadine respondeu que ele deveria falar por si. Ele lembrou que no ano anterior ela estava “orgulhosa de possuir um casaco de pele” e que alimentava o desejo de realizar viagens pelo mundo afora... Em síntese, aquelas intenções em nada se diferenciavam das que milionárias almejam. Sem esconder a raiva que cresceu em seu peito, Nadine disse que ele é quem vivia a temer o que era de fato, um “intelectual burguês” limitado às pequenas realizações e ávido pelo “êxito social”.
O nervosismo tomou conta dele também e, antes de se retirar, Lambert disse que Nadine merecia “uma boa bofetada”.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 29 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Paule sai da reunião aliviada e agradecida a Anne; de volta a Sant-Martin e às discussões entre Nadine e Lambert; traição e difícil entrosamento; poucas notícias sobre a investigação dos campos soviéticos; motocicleta e convite de Volange no centro dos novos desentendimentos do casal

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Paule não suportou a humilhação que sofreu na mansão de Lucie Belhomme... A aparição triunfal de Josette foi demais para ela. Anne soube tirá-la do ambiente nefasto e as duas foram discretas nas apressadas despedidas.
Enquanto o ônibus fazia o itinerário na volta para casa, Paule não encontrava palavras de agradecimento à amiga. Disse que ela podia ter lhe alertado anteriormente sobre o “mau caminho” que trilhava, mas Anne garantiu que não pensava assim...
Não era exatamente o fato de ter se isolado por causa de seu devotamento a Henri... Paule sabia que Anne via isso com reservas... A moça assumia suas limitações e o fato de ser passada para trás e humilhada pelas pessoas constantemente. É por isso que garantia que jamais se esqueceria da cumplicidade da amiga no evento em que foi convidada apenas para ser vilipendiada.
(...)
Anne retornou para Saint-Martin.
Nadine voltou de Paris só depois de uma semana. Perguntada a respeito de Lambert e sua investigação na Alemanha, a garota disse apenas que ele enviou-lhe carta garantindo que retornaria em breve... Emendou que certamente brigariam novamente porque ela faria questão de anunciar-lhe que, durante a sua ausência, estivera com Joly em Paris e que curtiram aventuras amorosas. Anne pediu-lhe que não falasse a esse respeito com o moço, mas Nadine deu de ombros e garantiu que a própria mãe havia lhe ensinado a ser franca e verdadeira como devem ser as pessoas decentes...
Anne a corrigiu e disse que defendia que as pessoas deveriam estabelecer relações em que a mentira não fosse concebível, todavia reconhecia que a relação entre ambos ainda não atingira essa maturidade... Isso à parte, ela tinha certeza de que a filha estava “fabricando” aquela história de traição para maltratar os sentimentos de Lambert.
Sem assumir claramente se estava blefando ou não, Nadine deixou claro que tinha Lambert nas mãos e que ele fazia tudo o que ela desejava... Entendia o rapaz como uma “comédia” porque ele não conseguia admitir que, no fundo, outras pessoas e coisas eram-lhe mais importantes  do que ela (o pai, Henri, o jornal, as reportagens...).
Anne sabia que o despeito da filha se devia à viagem que ele fez sem que levasse em consideração as suas ponderações, e advertiu que estava claro que Nadine ainda não tinha percebido que Lambert a queria acima de tudo. Mas a moça respondeu que não estava certa disso porque ele nunca lhe havia declarado nenhum devotamento.
A garota acreditava que compreendia tudo o que precisava a respeito de seu relacionamento com Lambert... Os dois conversavam muito sobre diversas coisas... Talvez por isso mesmo não conseguissem um momento especial para uma declaração mais significativa a respeito de suas intenções um com o outro. Nadine não dava conta dessa situação... Anne, de sua parte, queria convencê-la de que a revelação da aventura com Joly resultaria em “horrível aflição” para Lambert, e em “desgaste terrível” para a relação de ambos.
Nadine riu a valer... Esclareceu que nada falaria a Lambert e que achava engraçado que Anne a aconselhava a mentir (então insinuava que a aventura com Joly havia sido real).
(...)
Dois dias se passaram e Lambert retornou... Pouco disse sobre a investigação, já que teria de voltar a campo futuramente (setembro)...
(...)
Tudo indicava que o casal havia se reconciliado, pois passavam várias horas juntos sob o calor do sol... Liam, passeavam e trocavam carícias e várias ideias... Eventualmente, Lambert saia sozinho pelas estradas com a motocicleta. Isso irritava Nadine, que manifestava o desejo de também pilotar a máquina...
Seu desejo era fazer o mesmo, porém ele e Anne se opunham e as discussões ocorriam...
É claro que havia a preocupação com o perigo desnecessário a que ela se submeteria por conta do capricho. Então a moça passou a demonstrar zelo pelo equipamento, pintou o para-lama e enfeitou a motocicleta com vários penduricalhos...
Anne entendia que a filha não conseguia esconder a sua inveja, pois a motocicleta era o objeto que, de certa forma, garantia ao namorado certa liberdade e superioridade em relação a ela.
(...)
Numa noite, Nadine e Lambert iniciaram nova discussão no jardim... Anne pôde depreender que o rapaz havia lhe revelado que tinha sido convidado por Volange para dirigir sozinho um jornal... Nadine esbravejou garantindo que ele não desconfiava que, na verdade, seria usado como testa-de-ferro por aquele tipo conservador.
A irritação de Nadine era injustificada? Certamente não.
                                                                                  Postagens anteriores (http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_14.html, http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_15.html, além de várias outras) nos recordam que havia divergências entre os camaradas de Nadine (também de Henri) e Louis Volange... Devemos saber que já fazia algum tempo que este tipo vinha tentando atrair Lambert para os seus projetos.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 28 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – reunião na mansão, frivolidade e vaidade; Belhomme e seus ataques a Paule; Anne Dubreuilh respondeu às agressões, mas permaneceu sem entender por que Paule se sujeitava àquela humilhação; que tipo é Paule?; a gota d’água: chegada triunfal de Josette

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Dudule, considerado o “amante oficial” de Lucie Belhomme, puxou assunto com Anne... Fez um comentário sobre os americanos e a América, de onde ele sabia que a doutora estava regressando... Comparou os EUA a um “gigantesco sonho de criança mimada”, e os americanos a tipos que podiam ser facilmente identificados por seus “enormes cartuchos de sorvetes” (o “símbolo de toda a América”)...
Uma “falsa loira” que estava com ele também deu sua opinião negativa a respeito... Anne nada disse enquanto ouvia aqueles juízos acabados (Para eles, o país era lugar de “crianças grandes”, de “amantes detestáveis”; um paraíso onde a vida era agitada e febril e as mulheres se davam bem)...
Anne refletiu sobre a sensibilidade dos intelectuais... Lembrou-se do marido e também de Henri e verificou que seus gostos e repulsas eram muito parecidos aos daqueles tipos... Um profundo desgosto a dominou porque notava que as jovens “delgadas e lustrosas” que se reuniam em torno de Belhomme transpiravam apenas “ambições vazias, ciúmes ardentes, vitórias e derrotas abstratas”... Então um sentimento de piedade aflorou em seu peito...
(...)
O mundo está repleto de coisas que merecem ser amadas e odiadas... Pelo menos essa era uma convicção da qual partilhava com Robert e, naquele momento, sentia que não podia abrir mão dela.
(...)
Belhomme aproximou-se novamente de Paule com o sorriso que só ela parecia saber estampar... Perguntou se ela conhecia a bela Josette e garantiu que a beleza da filha só podia ser comparada àquela ostentada pela própria Paule do passado. De fato, Paule não a conhecia... Anne não deixou passar a oportunidade de alfinetar e afirmou que haviam lhe dito que Josette não se parecia em nada com a própria mãe...
Anne observava Lucie, que dava a entender que vivia a se questionar se havia outro modo de “ser mulher” além daquele que ela própria experimentava... O tipo não deixou as palavras de Anne por menos e disse que Paule deveria visitá-la na Amaryllis para que pudesse ter uma oportunidade de se vestir melhor... Anne se intrometeu dizendo que isso seria uma pena, pois não faltam mulheres que usam a indumentária da moda, ao passo que a beleza e a naturalidade de Paule a tornavam única.
A sequência de falas agressivas se encerrou depois que a anfitriã retirou-se sobre seus saltos sentenciando que, no caso de Paule deixar de desprezar a moda, o convite à Amaryllis permanecia válido... E ela poderia aproveitar os serviços de um de seus conhecidos estetas que “faziam milagres”... Quando voltaram a ficar sós, Anne lembrou à amiga que ela poderia ter perguntado à outra por que ela mesma ainda não recorrera aos tais serviços.
(...)
Evidentemente Paule não sabia como lidar com aquele tipo de gente no “jogo das palavras e provocações”... Anne perguntou se ela não gostaria de deixar aquela desprezível reunião. Mas, por entender que sua retirada seria entendida como derrota, ela resolveu que deviam permanecer.
Claudie se aproximou das duas e segredou que a ruivinha que chegou triunfante ao salão era Josette... Anne faz uma descrição das mais elogiosas sobre a beleza da garota. No mesmo instante ela procurou observar a reação da amiga, que permaneceu paralisada e, com toda certeza, a ouvir “vozes diabólicas”.
Anne não conseguia entender por que Paule tinha de passar por aquela situação vexatória... Estaria ela representando um papel definido por ela mesma?
Mas que tipo era Paule, afinal? Não se esforçava para compreender Henri, “nutria-se de quimeras”, era afeita à preguiça... Todavia nunca havia feito mal a ninguém... Será que merecia tão selvagem punição?
Uma infortunada...
Anne notou as lágrimas que principiavam a escorrer de seus olhos... Tocou em seu braço e a conduziu para fora.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Paule e sua insegurança ao se preparar para a reunião na mansão de Belhomme; Anne e suas reflexões a respeito das vacilações da amiga; Lucie, ares arrogantes e malevolentes; a mansão e os tipos que a frequentavam

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Não podemos dizer que Anne estivesse totalmente à vontade perante Paule e sua baixa autoestima... A moça pretendia apresentar-se dignamente ao grupo que se reuniria na mansão de Belhomme, mas nada do que experimentasse lhe caía bem... A prova dos vestidos foi uma tormenta... Assim, ou o vestido estava muito velho, ou ela não conseguia se sentir à vontade com outro... A ela importava, ao menos, não ser vista como “alguém comido por traças”... Isso seria a glória para a milionária proprietária da Amaryllis.
Anne quis saber por que Paule estava se submetendo àquela situação. Então a moça falou do passado, quando era jovem e bem mais bonita do que Lucie... Tinha mesmo conquistado alguns de seus amantes... Recusar o convite seria o triunfo da outra... Anne encheu-a de incentivos e garantiu que ela não precisava temer nada, pois era certo que sempre seria a mais bonita. Disse isso, mas por dentro notava que Paule estava com um semblante carregado de cansaço.
Certamente Paule apresentava traços envelhecidos... Isso não era fácil esconder... Já usando um velho vestido preto, tentava dar aos cabelos e cílios alguma dignidade... Árdua tarefa foi a de encontrar um par de meias que combinasse... Anne não conseguia notar “remédio” para o caso da amiga, que depois passou a não ter certeza se penduraria um “colar pesado, de cobre, âmbar e osso” no pescoço... Certamente sua “joia exótica” poderia causar muito espanto. Anne pensou que, de fato, aquilo não combinava... Mas depois sentenciou que Paule poderia usar o que bem entendesse, afinal as amigas de Lucie não estariam na reunião para comê-la.
Das poucas certezas de Paule para aquela noite, a de que seria “devorada” era a maior.
(...)
Seguiram de ônibus até a mansão... Anne notara como a amiga se movimentava sem nenhuma majestade. A própria Paule confessara que seu estilo pessoal era “mais à vontade”, dando a entender que não estava muito à vontade... Anne quis saber de Henri, e a moça foi dizendo que depois de dez anos podia dizer que, enfim, o conhecia um pouco melhor... Contou sobre a novela que ele escrevia e que mantinha em segredo... Então fez questão de falar sobre a ocasião em que, após a leitura autorizada, perguntou-lhe sobre o trecho em que o personagem principal deixa claro a uma mulher que sua existência era “envenenada” por ela... Paule havia perguntado a Henri se ele havia escrito aquilo pensando em sua relação com ela...
Anne sentenciou que estava assombrada com a reação descrita... Como que a mostrar que suas reservas não eram sem fundamento, Paule falou sobre o episódio em que Henri foi fotografado no Iles Borromées ao lado da jovem, bela (e insignificante) Josette Belhomme... Até para que não pensassem que ela desse muita importância às aventuras de Henri, fazia questão de comparecer ao evento. Anne confirmou ter visto uma fotografia da moça... Paule foi emendando que sinceramente não acreditava que Henri se sentisse realizado com aquela situação, e manifestou que parecia que ele não se considerava mais digno dela, já que até havia pedido para não mais dormirem juntos.
Anne ouvia a outra com a certeza de que ela sabia que mentia para si mesma... De qualquer modo, não podia deixar de admirar sua teimosia... Quando estavam para entrar na mansão, Paule perguntou se ela a considerava “uma vencida”... Anne disse que ela parecia uma princesa.
(...)
Aconteceu que foi só entrarem e Anne já notou que a atmosfera era das mais desfavoráveis... Certo pânico a invadiu... O perfume e a maldade podiam ser respirados ali... Na sequência, Anne descreve móveis, tapetes, quadros, livros e cristais e outros detalhes do gosto e pretensões intelectuais da dona da casa... Foram recebidas pela própria Lucie, que surgiu majestosa (segundo Anne, podendo provocar “complexos de inferioridade à Duquesa de Windsor”) e sem conseguir disfarçar a mesquinhez e malevolência do olhar... Dirigindo-se à Paule, tomou-lhe as mãos e disse que não se viam há doze anos e que provavelmente, noutra circunstância, não a reconheceria... Depois as levou para as apresentações.
Anne viu que as amigas de Belhomme eram mais jovens e mais bonitas do que as que Claudie costumava reunir... Constatou que elas desfilavam um padrão específico (vestido preto, mesma cor no cabelo tingido, saltos altos e longos cílios...)... Certamente aqueles tipinhos eram manequins ávidas por uma oportunidade que as levasse ao estrelato... A doutora imaginou que se fosse um homem interessado em alguma aventura teria dificuldade em definir alguma preferência ali...
Também havia moços bem bonitos que educadamente beijam-lhes as mãos... Anne constatou que o mais provável era que eles se interessassem uns pelos outros... Entre os adultos notava-se a presença de Dudule, o “amante titular de Lucie”.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Nadine e seu inconformismo com a lamentação de Lambert pela perda do pai; uma carta de Lewis e os limites impostos pela distância; Paule conta com a companhia de Anne para a visita a Lucie Belhomme, a rica proprietária de Amaryllis e mãe de sua rival

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Lambert se afastou... Nadine pôs-se a criticá-lo... Disse que não aceitava a investigação que faria na Alemanha e que, ao menos, deveria tratar antecipadamente com ela... Em sua opinião, a irritação do rapaz era apenas uma desculpa para permanecer só... Talvez para continuar chorando a morte do pai, que Nadine fazia questão de classificar como salafrário.
A moça não se conformava com o fato de Lambert ter derramado lágrimas pelo velho... Não aceitava a reconciliação que aconteceu e nem a insistência de Lambert em garantir que o pai havia sido assassinado...
Anne ouvia a filha tentando contemporizar sua relação com Lambert... Mas Nadine estava inconformada e, após o jantar, saiu para caminhar pelo campo... As duas só voltaram a se ver pela manhã. A moça estendeu uma carta, disse que vinha de Chicago e quis saber se Anne não a abriria.
É claro que Anne fez o que pôde para não demonstrar o seu espanto com a correspondência. Disse que não se tratava de nada urgente e voltou a tomar chá... Logo Robert interveio querendo saber de Nadine a respeito de Vigilance... Enquanto os dois tratavam a respeito da revista, Anne deu uma desculpa qualquer e se retirou para o quarto.
(...)
Por pouco a carta não foi danificada devido à ansiedade da doutora em capturar algo que fosse de seu amado Lewis... A folha “era datilografada, era alegre, gentil e vazia”... Anne a contemplou por um bom tempo... Mas dali nada sairia “de novo” e tampouco ela poderia transmitir qualquer “palavra nova, sorriso ou beijo”. O papel cravava-lhe a certeza única de que Lewis permanecia na distante Chicago, onde vivia sem ela... Assim, nada mais tinham em comum... O passado comum já era ignorado e os futuros de ambos não se cruzavam.
Anne olhou pela janela... O dia seguia esplêndido... Em Chicago a noite avançava... De sua garganta sentiu os soluços que não conseguia sufocar.
(...)
Foi com insistência que Paule convidou Anne para um encontro em sua casa... Esta pensou que, ao menos, a visita proporcionaria um arejar às ideias.
Anne seguiu de ônibus com Nadine até Paris pensando em como as pessoas acabam se habituando às condições que transformam seus cotidianos...
As ruas da grande cidade repleta de pessoas a fizeram pensar em como a incompatibilidade da distância é tormentosa... Todos aqueles homens que por ela passavam podiam estar carregando juras de amor e promessas de carinho, mas nenhum deles era Lewis e ali nada estava reservado para ela.
(...)
Mais tarde, no caminho da casa de Paule, Anne lembrou-se daquela triste figura... Alguns dias depois que regressara da América, Paule a visitou... Notava-se que fez isso não sem esforço... Recebeu com animação os presentes trazidos por Anne, mas parecia um tanto distante quando perguntada sobre as novidades... Também as narrativas sobre sua viagem não a deixaram menos amuada.
Conforme se aproximava do apartamento de Paule, Anne observava como nada havia mudado por aquelas paragens... A loja que comercializava animais, e isso incluía o macaquinho acorrentado à sua frente, não havia sofrido alterações... A porta, tapete e mobília do apartamento de Paule eram rigorosamente os mesmos de antes.
(...)
A moça estava envolvida num roupão e despejou lamentações por fazer Anne se deslocar até ali... Ela se apresentava abatida, vulnerável mesmo, e precisava da companhia da amiga para ir até a casa de Lucie Belhomme para uma reunião social.
Todos aí sabem que a filha dessa Belhomme, Josette, estava de caso com Henri e graças a ele ingressava no mundo artístico... É claro que para Paule a reunião seria maçada... Anne também não tinha certeza se o seu comparecimento seria uma boa ideia...
Mas a própria Paule esclareceu que a milionária havia feito o convite insistindo que levasse Anne consigo...
Embora entendesse que para Lucie o que mais importava era incorporar os Dubreuilh aos seus círculos, Paule pretendia demonstrar caráter altivo participando da reunião que, para ela, equivalia a “descer à jaula de leões”... Certamente ela confiava que se sentiria menos vulnerável se estivesse acompanhada por Anne.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 25 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Dubreuilh retorna da reunião e dialoga com Anne; reflexões acerca da busca de sentido para a vida; Nadine não se entende com Lambert e seu engajamento na investigação dos campos soviéticos na Alemanha ocupada

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O encontro foi demorado... Sabemos que o centro da discussão entre Dubreuilh, Samazelle e Lambert era em torno da publicação imediata das revelações bombásticas trazidas por Peltov... Em nenhum momento, Robert demonstrou total segurança em relação a essa decisão. Já os dois jovens entendiam que teriam bem pouca chance de vencê-lo em qualquer reunião deliberativa de L’Espoir ou Vigilance... É por isso que eles decidiram partir a campo o quanto antes e obter evidências que o convencessem.
(...)
Vimos anteriormente que sua conversa com Anne revelou-nos alguns de seus motivos.
Dubreuilh retornou da reunião... E foi com ela que ele foi ter logo na sequência.
(...)
Vemos Robert perguntando à esposa se havia feito mal em impedir a precipitação de qualquer publicidade às denúncias... Anne não o censurou e explicou que estivera a pensar sobre as constantes preocupações a respeito de determinadas coisas... Elas nunca têm muita importância, e “no final das contas todo mundo morre”... Tudo acaba se acertando...
Falaram sobre isso... Podemos dizer que Robert argumentou sobre a ideia de que, se a morte encerra a nossa constante problematização em busca de uma saída para os males humanidade, em casos específicos, então, ela pode ser associada a uma “maneira de fugir dos problemas”... Anne concordou, mas destacou que a morte só é fuga se decidimos que “a vida é que é verdade”... Dubreuilh definiu que decidimos prosseguir vivendo porque acreditamos na vida, e que pensar que “só a morte representa a verdade” nos encaminharia ao suicídio. Acrescentou, porém, que os suicídios “nunca têm esse sentido”.
Anne disse que talvez insistamos em viver porque sejamos inconsequentes e covardes... Viver é mais fácil? Isso não prova nada... Robert destacou que o suicídio há que ser algo difícil... E também que viver não é simplesmente ”continuar respirando”. Viver implica fazer opções e “reconhecer os valores da vida”...
Robert terminou sua falação dizendo que a discussão sobre os campos soviéticos não estava encerrada... É claro que aquele assunto desgastava a todos... Valeria a pena manter-se refugiado “num ceticismo generalizado”?
Anne resolveu não responder.
Esse diálogo concluiu o difícil dia de Robert Dubreuilh... Para Anne restou a certeza de que no dia seguinte novas discussões ocorreriam sobre outros temas... Isso seria um sinal de que as preocupações do presente deixariam de ser significativas?
(...)
No sábado seguinte, Nadine e Lambert voltaram a Saint-Martin... A moça nada falava... O moço viajaria para a Alemanha para tratar da pesquisa sobre os campos da zona russa... Robert foi evitado pelo casal, mas Lambert não se absteve de tratar a respeito de sua tarefa com o chefe.
No domingo pela manhã, durante o café, Nadine não escondia a sua indignação em relação à viagem de Lambert... Para ela aquilo era uma perda de tempo... É claro que os campos existiam, mas ninguém podia fazer nada, pois se tratavam de “coisa da própria sociedade”.
O rapaz não ficou na defensiva e devolveu que ela era um tipo que tomava partido facilmente... Nadine devolveu-lhe que a situação era conveniente para ele, que aproveitaria do passeio para desenvolver suas ideias contrárias à URSS.
Anne sabia que durante a noite os dois deviam ter prosseguido a discussão no pavilhão...
O dia seguinte foi marcado por situações em que Nadine fingia estar fazendo algo para não ter de conversar com Lambert... À noite os dois discutiram no jardim... O rapaz dizia que deviam voltar a Paris, pois ele tinha de se encontrar com algumas pessoas antes de partir para a Alemanha... Mas Nadine respondeu que não se importava porque ela mesma só precisaria estar na Vigilance às dez da manhã.
A moça estava nitidamente irritada e não fez a menor questão de colaborar... Lambert explicou que não ficaria mais de uma hora em seu compromisso e que depois jantariam conforme combinaram. Mas Nadine disse que havia mudado de ideia e não seguiria viagem com o companheiro... E ainda apresentou obstáculos para se reencontrarem depois.
Lambert saiu irritado e dizendo que aquilo era um “adeus para sempre”...
Nadine topou com Anne e foi gritando com ela... Exigiu que não dissesse nada porque tudo o que a mãe poderia pronunciar já era de seu conhecimento e, por isso, não interessava.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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