domingo, 17 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – não há como se defender da desconfiança e da repulsa dos Dubreuilh; Henri se vê entre os amigos de Belhomme; depravação e conservadorismo extremado

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_35.html antes de ler esta postagem:

Henri retornou para casa e o seu pensamento voltou-se completamente para as palavras que Nadine havia lhe dito...
(...)
Era melhor que procedessem como Lachaume, cujo texto o “arrastava para a lama”... Pelo menos o rapaz tinha sido mais sincero... Henri pensou em Dubreuilh, Anne e Nadine no seu cotidiano a falarem a seu respeito... Como se defender de tipos que desconfiam de você? Henri sentia-se um tipo a quem censuravam por “ter uma vida particular”...
Que situação! Até um criminoso podia tentar se defender, apresentar desculpas... Mas ele...
Ele não podia esconder que gostava da vida, “de sua vida particular”. Ao mesmo tempo percebia-se “farto de política”... Estava farto de, “a cada sacrifício” que fazia, exigirem-lhe novos deveres...
Exigiram-lhe L’Espoir, e agora implicavam com os “seus prazeres e desejos”.
(...)
“Em nome de quê”? Já que tinha de tomar uma decisão, achou por bem “deixar de inibições” para agir como lhe aprouvesse... Bateram-lhe tanto que não ligava mais nenhuma importância.
(...)
À noite, ele reuniu-se a Lucie Belhomme, Claudie de Belzunce e os tipos que faziam parte daquela roda social tão criticada pela esquerda... Ele mesmo se perguntou sobre o que fazia ali a bebericar daquela “bebida muito doce”... Não havia nada ali que ele pudesse dizer que gostava (champanha, lustres, espelhos, veludos das banquetas, mulheres com suas “peles gastas”...). E aqueles tipos? Lucie e seu “amante oficial” Dudule, Claudie, Vernon... Nenhum vínculo! E o atorzinho, Ruéri, identificado como amante de Vernon... Definitivamente nenhuma conexão!
A conversa girava em torno das aventuras sexuais das amigas de Claudie, que não se importava de falar dos detalhes de situações que faziam rir homens e mulheres... Claudie sabia ser grosseira... Até Lulu se sentia constrangida com a sua ousadia ao querer mostrar-se depravada.
(...)
Lulu Belhomme perguntou a Henri sobre o que ele pensava a respeito da participação de Ruéri em sua peça... Segundo ela, o mocinho ficaria muito bem no “papel de marido”... Henri ficou sem entender a sugestão... Lulu insistiu que ele faria o papel de “marido de Josette”...
Henri quis demonstrar que aquilo era ridículo, já que o “marido de Josette” morria logo no começo da peça... Surpreendentemente, a mulher ousou disparar que a história narrada por ele era muito triste... O enredo seria alterado para o cinema, e Brieux (o diretor) daria um jeito de o personagem escapar, fugir para o maqui e, no final, voltar aos braços de Josette, que seria perdoada por ele.
É claro que Henri protestou. Disse que Brieux filmaria exatamente o seu texto, e não uma adaptação... Lulu demonstrou-se indignada com a sua teimosia... Quis saber se ele teria coragem de desprezar os dois milhões que podiam ser faturados com a produção... Claudie se intrometeu dizendo que Henri apenas fingia desprezo pelo dinheiro, já que todos conheciam as dificuldades econômicas... O tipo ainda emendou que, “no tempo dos Fritz”, a manteiga era mais barata.
Henri merecia ouvir aquilo! Claudie fazendo apologia da ocupação alemã! Era o fim...
Lucie advertiu em tom de divertimento que a outra não podia pronunciar aqueles juízos “diante de um resistente”...
Todos riram a valer...
Henri também sorriu...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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