sábado, 29 de novembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – Deckard parte para a caçada aos últimos três androides, mas teme pela sorte; convida Rachael, espera que ela o ajude; também com ela, espera tirar sua dúvida sobre o tema da conversa com Resch

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_28.html antes de ler esta postagem:


Deckard disse a Iran que não havia tido sorte... É verdade que havia conversado com Mercer, mas ele era apenas um velho que não sabia mais do que ele próprio... Definitivamente, um velho escalando uma colina em direção à morte não teria como ajudá-lo...
Iran quis contemporizar... Que revelação o marido esperava? A revelação não seria justamente a subida da colina rumo à morte?
Deckard garantiu que já possuía a revelação... Iran desejou-lhe boa sorte.
(...)
Condapto 3697-C... Era para lá que ele devia se dirigir.
Ele bem sabia que o local era no subúrbio abandonado da cidade... Local ideal para se esconder... Resolveria a tarefa como Mercer havia sugerido, mas depois procuraria outra coisa para fazer. Será que Mercer sabia o que ocorreria durante a caçada? Deckard sairia vivo dela?
Estava muito cansado... Os dois andys representavam muito mais do que a sua disposição física aparentava suportar. De repente lembrou-se de que poderia recorrer à ajuda de Rachael.
(...)
Já no hovercar ligou para a Associação Rosen. Teve de aguardar uns dez minutos até que ela atendesse. O cansaço e a dor na cabeça, onde a pedra o atingira, estavam insuportáveis.
Rachael viu que ele havia machucado a orelha e lamentou... Deckard parecia sem jeito ao dizer que talvez ela não esperasse que lhe vidfonasse. Rachael o corrigiu lembrando que dissera que os Nexus-6 eram muito especiais e não seria surpresa se um deles o pegasse antes que ele pudesse agir.
Rick respondeu que, pelo menos até aquele momento, ela havia errado em sua previsão. A garota andy perguntou se ele gostaria de vê-la em São Francisco... Ele respondeu afirmativamente e que a esperava para aquela mesma noite.
Rachael prometeu que voaria para encontrá-lo no dia seguinte... Deckard explicou que teria de eliminar os três andys que restavam nas próximas horas, então, se era para contar com a sua colaboração, ela deveria voar imediatamente.
Deckard estava um pouco confuso... Disse que se ela não aparecesse, teria de resolver a caçada sozinho e não acreditava que pudesse dar conta da missão... Disse que havia comprado uma cabra com o dinheiro que havia recebido pelos três primeiros de sua lista.
Rachael notou que ele estava bem esgotado... Comentou que “cabras fedem terrivelmente” e, por isso, não entendia atitudes humanas como aquela... Deckard falou que o manual de instruções deixava claro que malcheirosos eram os bodes.
Mais uma vez ela comentou sobre o aspecto cansado de Deckard e perguntou-lhe se tinha certeza de que pretendia sair à captura de mais três humanoides... Depois acrescentou que ninguém havia realizado a proeza de aposentar seis andys num só dia.
Ele a corrigiu e lembrou que Franklin Powers conseguira sete há pouco tempo... Rachael quis mostrar-lhe que não podia se iludir, pois a variedade eliminada por Powers era a obsoleta McMilliam Y-4.
Rachael pediu desculpas depois de garantir que não podia encontrá-lo como ele desejava... Poderia partir no dia seguinte... Para Deckard isso poderia significar o seu fim... Pensou que tudo já estava previsto por Mercer... Rachael também devia saber o que o aguardava.
Ele imaginou que estava perdendo o seu tempo ao recorrer a ela... Disparou que a reação dela era algo como “vingança andy”... Tudo porque ele a havia decifrado na escala Voigt-Kampff.
Dá para perceber que Rachael não concordou com o entendimento de Deckard... Ele se despediu e estava para desligar o aparelho. A andy o interrompeu dizendo que ele não estava usando a cabeça.
Deckard esbravejou que, para ela, os Nexus-6 eram mais capazes que os humanos.
Rachael sentenciou que sentia que ele não aparentava “ares de decisão”... Talvez ele nem quisesse completar a missão.
Ele não disse nada a respeito. Mais uma vez pediu que ela o encontrasse... O voo demoraria uma hora apenas... Ele precisava vê-la... Disse-lhe que tinha ouvido algo durante o dia.
Deckard resumiu que se tratava de algo que envolvia “humanos masculinos e androides femininos”... Precisava vê-la.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – Deckard dialoga com Mercer; todos vivenciam contradições em algum momento de sua existência

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_27.html antes de ler esta postagem:

Enquanto falou com Harry Bryant, Deckard nem percebeu que Iran iniciara fusão com Mercer...
Depois que desligou o vidfone, ele notou a mulher extasiada sobre a caixa de empatia... Obviamente ela não detectou sua aproximação, nem mesmo quando foi tocada por ele.
Se Iran não deu conta da presença de Rick, ele pôde sentir toda vibração que emanava de seu interior... Mais que isso, pôde contemplar Mercer em sua escalada pela colina. Deckard viu que uma pedra passou próxima.
Ao menos passou a ter condições de refletir sobre a própria condição à luz do sofrimento de Mercer... Tal como o “iluminado”, ele também sofria... Mas não havia como não comparar... Mercer sofria sem jamais ter de “violar a própria identidade”.
(...)
Deckard retirou as mãos de Iran e ele mesmo assumiu os manetes da escura caixa... Não havia intenção racional em sua atitude, mas foi assim mesmo, impulsivamente, que passou a fazer parte da fusão... Há quanto tempo não participava daquele ritual?
(...)
O que Deckard experimentou?
Ele viu a paisagem desolada e pôde sentir o cheiro das flores... Tudo era deserto... Aridez.
Rick chamou o velho pelo nome. Wilbur Mercer o respondeu, disse que era amigo, e que o “recém-chegado” não podia interromper o que havia iniciado (a fusão? Seus compromissos da vida real?).
Mercer estendeu-lhe as mãos vazias e prosseguiu afirmando que Deckard não podia levá-lo em consideração... Quer dizer que, em sua jornada, passaria pelo processo que todo adepto do mercerismo suportava, mas sem considerar o “mestre” e a sua presença.

                                                                                  De fato, as descrições anteriores sobre a “fusão com Mercer” não apresentaram nenhum diálogo entre discípulo e mestre.

É claro que Deckard não podia entender as orientações que recebia... Mesmo assim disse que precisava se salvar. Parecia suplicar.
A resposta de Mercer foi surpreendente (ou nem tanto, se considerarmos que cada um experimentava uma “fusão pessoal”). Ele sorriu e disse que “não há salvação”, pois nem ele mesmo poderia salvar-se...
Deckard quis saber, então, por que o mercerismo, a fusão e todos aqueles sacrifícios existiam... O líder espiritual respondeu que tudo aquilo servia para mostrar que os viventes não estavam sozinhos naquele mundo sem perspectivas...
Vemos Rick perguntando por que deveria prosseguir...

                                                                                  Somos tentados a imaginar que ele quer saber do ritual, mas ele se refere ao seu ofício de “caçador de androides” e às suas vacilações...

Mercer diz que Deckard deve seguir em frente, concluir sua tarefa mesmo sabendo que é errado... Ele o acompanharia qualquer que fosse a situação.
Deckard quis saber por que devia ser assim... Falou que largaria o trabalho e que emigraria.
O velho sentenciou que de qualquer modo ele seria convocado para fazer coisas erradas... Essa “é a condição básica da vida, ser obrigado a violar a própria identidade”.
Mercer prosseguiu dando a sua orientação e, assim, expondo sua filosofia... Mostrou a Deckard que todos os viventes, em algum momento e em qualquer parte do universo, passam por situações como aquela que o angustiava... Não havia como se esquivar, pois isso é como que um “defeito da criação; é a maldição em curso, a maldição que alimenta toda vida”.
Então Deckard quis saber se tudo o que o mestre tinha a dizer era aquilo... Mas nenhuma palavra a mais foi proferida... Em vez disso, uma pedra estava para atingi-lo em cheio. Ele se abaixou e não conseguiu evitar que a orelha recebesse o choque. Sua reação imediata foi largar os manetes... Então viu-se novamente rodeado pelos objetos da sala.
A cabeça doía e o sangue jorrava do local atingido... Iran estava junto a ele e o ajudou com um lenço... Ela agradeceu por tê-la substituído quando tomou posse dos manetes, pois não suportaria a pedrada.
Deckard estava tonto... Pegou o lenço e foi se retirando... Disse que tinha três trabalhos para concluir.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – Bryant informa que a caçada deve prosseguir no Edifício de Condaptos 3967-C; Deckard quer se esquivar, mas não consegue

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_26.html antes de ler esta postagem:

A “chamada vidfônica” deixou Deckard apavorado... Ele tinha certeza de que o Departamento de Polícia pretendia contatá-lo, então protestou dizendo que se não tivessem descido para o apartamento não teria de atender... Iran quis acalmá-lo dizendo que ele não precisava se preocupar porque não havia motivos para tomarem-lhe a cabra.
Como podemos notar, ela só tinha o pensamento e ideias voltados para o presente que o marido havia trazido.
(...)
Iran ergueu o monitor e Deckard percebeu imediatamente que se tratava de uma chamada do Departamento... Pediu para dizer que ele não estava e seguiu para o quarto sabendo do que se tratava... Mas a meio caminho resolveu parar.
É lógico, em vez de retornar para casa, devia ter continuado a cumprir a missão que havia recebido... Restavam três Nexus-6 e é claro que Bryant cobraria o serviço completo.
O rosto do chefe surgiu na tela... Enquanto Iran trocava umas poucas palavras com Bryant, Deckard observou a certa distância que ele ainda estava no escritório.
Bryant se dirigiu a Deckard dizendo que podia fornecer-lhe uma pista que podia levá-lo a dois andys dos três que ainda restavam...
(...)
O chefe disse que era bem provável que os fugitivos haviam sido alertados sobre a perseguição que estavam sofrendo... Rick viu a papelada sobre a mesa e percebeu que ele estava pronto para passar-lhe informações. Por isso mesmo pegou a caneta e segurou o contrato de compra da cabra para usá-lo como suporte das anotações que faria.
A informação veio imediatamente: “Edifício de Condaptos 3967-C”... Deckard devia se apressar... Bryant foi explicando que trabalhavam com a hipótese de que eles já sabiam das eliminações de Garland, Polokov e Luba... Informou também que haviam chegado àquele endereço depois de utilizarem um voo ilegal...
Deckard pensou sobre isso... “Ilegal, para salvarem suas vidas”.
(...)
Bryant quis que Rick confirmasse a notícia dada por Iran, a de que haviam adquirido uma cabra de porte... Falou que ficava feliz pelo casal e que, depois que a tarefa fosse finalizada, fazia questão de visitá-los para apreciar o animal...
O oficial também deu notícias sobre Dave Holden... O hospitalizado nem acreditou que Deckard tinha conseguido eliminar três andys num único dia... Pelo visto ele estava mesmo se recuperando bem, inclusive mandava-lhes os parabéns, além de recomendar mais cuidado com as unidades Nexus-6...
Deckard aproveitou a deixa... Disse que três eram o bastante e que precisava descansar porque não conseguia mais fazer aquele tipo de trabalho...
Bryant fez que não ouviu e emendou que, se não agisse logo, os fugitivos escapariam para outra jurisdição... Sendo assim, Deckard deveria seguir imediatamente para o endereço informado. E sugeriu que o fator surpresa era determinante.
(...)
Para o chefe, os andys não tinham ideia de que seriam alcançados. Para Deckard, havia a sensação de que eles o aguardavam.
Bryant quis saber se ele estava com medo... Discutiram sobre isso... Afinal, havia algo de errado com Rick?
Como não queria desgaste numa “falação inútil”, Deckard finalizou a conversa afirmando que se dirigiria ao edifício mencionado...
(...)
Nós sabemos que esse era o prédio onde J.R. Isidore residia... Onde não havia dois, mas três Nexus-6 foragidos.
(...)
Bryant avisou que estava de prontidão para receber qualquer novidade a respeito da caçada...
Deckard respondeu que compraria uma ovelha com o dinheiro que receberia como prêmio.
O chefe se espantou e disse que sabia que ele já era dono de uma ovelha...
Deckard despejou que se tratava de uma “ovelha elétrica”, e foi desligando o vidfone.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – Deckard confessa que está com depressão; seu estado melancólico explica o valor altíssimo pago pelo animal; Iran já não implica com o ofício do marido, um caçador de androides

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_25.html antes de ler esta postagem:

Deckard quis se desabafar com Iran.
Mas a esposa parecia não estar disposta a ouvir as lamúrias do marido... Como vimos, ela estava empolgada com a compra da cabra nubiana e pretendia realizar uma fusão com Mercer. Ela explicou que não podiam perder a oportunidade de compartilhar sua felicidade.
Iran argumentou que não foram poucas as ocasiões em que gostaria de servir de alento a merceritas que manifestavam desespero e tristeza durante as sessões de empatia... Mas ela não podia porque, de fato, sua condição existencial era de precariedade...
Serem proprietários de uma ovelha elétrica, e sem permitir que os outros soubessem a verdade, era a condição que tinham de superar.
Pelo visto o momento havia chegado.
(...)
Iran não tinha a menor noção do estado emocional de seu marido.
Deckard precisava soltar do peito toda amargura que estava sentindo.
O seu problema dizia respeito ao seu desejo de coerência existencial... Todos nós buscamos isso. Porém não é fácil compreender a crise que o personagem enfrentava.
É claro que podemos estabelecer algumas analogias entre a sua vivência e a nossa condição que (quase) nada tem a ver com o mundo desenhado por PKD...
Como fazer um “esforço de subtração” (daquilo que somos e vivemos) e mergulharmos no “modo de ser” de um caçador de andy?
O tipo insistiu em permanecer no planeta. Esperava-se de indivíduos qualificados, os “normais”, que emigrassem para as colônias espaciais. Deckard, no entanto, tocava a vida com o seu ofício de detectar e eliminar humanoides...
Sabemos de sua modesta condição. Vivendo com a deprimida Iran, talvez o sonho de adquirir um animal verdadeiro fosse sua única motivação para prosseguir... Não foi por acaso que logo depois de receber a recompensa pela eliminação de Polokov, Garland e Luba, dirigiu-se à área de comércio de animais, de onde saiu com a cabra que pretendia chamar de Eufêmia.
(...)
Parecia que Deckard já não se importava se a esposa queria ou não ouvi-lo...
Ele disse que o teste ao qual se submeteu mostrou que começara a sentir empatia por androides... Rick lembrou que pela manhã Iran se referira às suas vítimas como “pobres andys”... Então ele esperava que a mulher pudesse entendê-lo, pois queria explicar que se sentia com depressão. E isso era algo que ela conhecia bem.
(...)
Enfim ele parecia compreender os problemas psicológicos que a mulher enfrentava... Antes ele imaginava que ela pudesse sair daquele estado no momento que quisesse, mas agora sabia que não era bem assim.
(...)
Deckard permitiu que a esposa concluísse que a aquisição da cabra havia sido uma reação ao seu triste estado de ânimo... Iran se mostrou um pouco decepcionada, mas ainda estava contente com o animal de porte... Ela quis saber sobre o que o trabalho lhe rendera e o quanto gastara.
Ao observar os papéis, Iran tomou um susto... Os valores eram altíssimos, a dívida era estratosférica, sobretudo devido aos altos juros. Em tom de conclusão, ela disse que tudo aquilo era resultado da depressão do marido! Então não se tratava de uma surpresa para ela?!
Mas a mulher estava encantada pela cabra e sentenciou que a dívida não devia se tornar um embaraço para eles...
(...)
Deckard continuava a pensar sobre a sua dificuldade em ter de lidar com os androides. Ele disse que talvez pudesse mudar de setor, porém Iran o advertiu que se não contassem com o dinheiro das recompensas a loja retomaria a cabra.
Ele fez uns rabiscos e disse que poderia diminuir o valor das prestações se aumentasse o prazo do financiamento de trinta e seis para quarenta e oito meses.
Discutiam sobre mais esse drama quando o vidfone tocou.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 25 de novembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – espetacular estado de ânimo de Iran; algo parece incomodar Deckard, que sugere permanecerem mais tempo junto à cabra; Iran deseja compartilhar a alegria de ambos com outros merceritas; Deckard deseja desabafar sobre o seu dia de caçadas e descobertas

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Deckard quis saber se a aquisição da cabra havia “curado a depressão” de Iran... Ele fez questão de dizer que a compra havia lhe feito muito bem e sinceramente não sentia nenhuma motivação para angústias... A esposa também se disse satisfeita e garantiu que a chegada da cabra curou mesmo a sua depressão...
A felicidade de Iran era desmedida... Ela manifestou que poderiam dizer a todos que a ovelha que possuíam não era verdadeira.
Rick discordou e disse que não precisavam revelar nada...
Iran pensava diferente... O fato de não terem mais o que esconder trazia-lhe grande alívio. Tudo o que mais queriam havia se tornado realidade!
Beijou o marido mais uma vez.
(...)
Estavam se retirando do terraço... Iran já havia acionado o botão do elevador. Mas aconteceu que Rick parou como se tivesse recebido um alerta. Ele sugeriu que não descessem imediatamente, pois pensou que seria interessante permanecerem por mais algum tempo com a cabra e alimentá-la com a ração de aveia que a loja havia fornecido... Podiam ficar mais algum tempo ali para ler o manual com as orientações e aprender a cuidar bem do animal...
Deckard não queria deixar o terraço. Iran nada falava... Ele sugeriu que o nome da cabra podia ser Eufêmia. Mas nesse mesmo instante a porta do elevador se abriu e Iran foi entrando.
(...)
Iran respondeu que deviam se fundir com Mercer, e sustentou que seria imoral se não procedessem dessa forma... Ela disse que durante o dia tinha acionado a “caixa de fusão” e segurado os manetes. Isso aliviou os seus sentimentos depressivos... Ela até mostrou uma marca em seu pulso atingido por uma pedra...
A mulher argumentou que ambos se sentiam melhor quando estavam unidos espiritualmente a Mercer... E prosseguiu dando a sua opinião... Durante a fusão a pessoa compartilhava sensações de frustrações e regozijo com todos os seguidores que estivessem “sintonizados” no mesmo instante. Para ela, seria “imoral” guardarem apenas para si a sensação de terem conseguido uma cabra real, e se disse inconformada com a inconstância de Rick, que “quase nunca experimentava a fusão”... Assim, de acordo com o seu juízo, ele devia transmitir sua sensação de conquista aos demais merceritas.
(...)
As palavras de Iran foram convincentes... Tanto é que Deckard abandonou a ideia de permanecerem por mais algum tempo junto à cabra.
A esposa queria que todos soubessem... Ela explicou que já havia acontecido de ter captado a energia positiva de alguém que havia adquirido um animal... E também houve uma experiência em que outra pessoa perdera o animal estimado, algo muito triste de suportar, mas muitos compartilharam suas alegrias e isso fortaleceu o ânimo do sofredor...
No entendimento de Iran, ela e o marido podiam aproveitar aquele momento porque sua energia positiva colaboraria com outros... Quem sabe não reanimariam um “potencial suicida”? Se não fizessem isso desperdiçariam sua alegria... Já com as mãos nos manetes, a mulher disse que, se mantivessem a mente fixada em seu contentamento, nada perderiam ao compartilhar... Pelo contrário...
Iran perguntou a Rick se ele, de fato, alguma vez pegara o jeito da fusão...
Deckard admitiu não conhecer profundamente aquela experiência. Mas ao ouvir a esposa parecia entender um pouco dos benefícios que os merceritas cotidianos podiam extrair do ritual.
(...)
De repente Deckard quis se abrir com a esposa... Começou a falar sobre o caçador de recompensas (Resch) que nunca tinha visto antes... Quis falar sobre o seu dia de caçada e o modo como havia percebido (em contato com o tira desconhecido) que enxergava os andys de modo diferenciado... Isso era uma descoberta sua, e ele estava tão ansioso para falar que tirou as mãos de Iran dos manetes, levando-a para o sofá e a posicionando à sua frente.
Iran perguntou a Rick se sua falação não poderia esperar.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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