Pris havia lançado a pergunta sobre se valia a pena sobreviverem... Ninguém precisava responder...
Vimos que ela aceitou se transferir para o apartamento de J.R.
De sua parte, Isidore estava muito animado ao garantir que poderia
proteger os três amigos. Ele não se importava por não compreender exatamente o
que se passava ou em qual trama estava se envolvendo.
J.R. até se considerava um
sujeito de sorte. Na sua condição de “cabeça de galinha” jamais sonhara em
participar de uma ação como aquela. Garantiu a Pris que no dia seguinte iria à
biblioteca, onde conseguiria algo para ela ler enquanto aguardasse o desenrolar
dos acontecimentos.
(...)
Já no apartamento, Isidore ligou o aquecedor e o único
canal de televisão a que tinha acesso... Ao mesmo tempo em que Pris manifestava
aprovação por ter se instalado ali, suas “expressões amargas” revelavam o
oposto...
J.R. perguntou se havia algum problema... Ela se aproximou da janela
panorâmica e contemplou o vazio. Ele quis saber se a perseguição que estavam
sofrendo era o motivo de sua angústia.
Pris disparou que tudo aquilo só podia ser um sonho,
algo como uma alucinação provocada pelas drogas fornecidas por Roy Baty... Mais
uma vez, Isidore ficou sem entender o sentido de suas palavras.Pris perguntou se o amigo acreditava que os caçadores de recompensas
existiam mesmo. Ele explicou que tudo o que sabia era o que Roy havia dito
anteriormente, ou seja, seus amigos estavam sendo perseguidos por tipos que os
assassinavam... Ela quis desqualificar o pânico propagado por Roy garantindo
que ele era tão louco quanto ela...
A moça sustentou que antes de partirem de Marte estavam em dúvida entre
pousarem em São Francisco ou na costa leste, onde se internariam num hospício.
Isidore ouviu de Pris que o quadro depreciativo mental do grupo era notório...
Todos eles eram esquizofrênicos, suas vidas emocionais eram defeituosas e suas “alucinações
coletivas” eram constantes.
Isidore falou que, de sua parte, era difícil crer que algo como aquelas
perseguições e assassinatos ocorresse... O governo não realizava execuções
sumárias! Além do mais havia o mercerismo...
Pris respondeu que quando não se é humano “tudo muda de figura”... Isso
seria uma deixa para que Isidore concluísse que o que ela havia dito se
relacionava a ela mesma, Irmgard e Roy... Em vez disso, ele rebateu a
argumentação dizendo que até “enguias, roedores, cobras e aranhas são sagrados”.
(...)
As ideias levantadas por
Isidore apenas deram sustentação à versão de Pris de que não ocorria nenhuma perseguição
contra eles... Ela foi concluindo o seu raciocínio quando, de repente, a porta se
abriu.
Roy entrou trazendo sua
tralha para a instalação do alarme... Ele retirou um quadro da parede, “afixou
um pequeno dispositivo ao prego”, enrolou o arame, devolveu o quadro ao lugar e
explicou que por baixo do tapete passava uma fiação que detectava a presença de
qualquer “entidade mentacional”...
Pris ouviu a
explicação de Roy e adiantou que o alarme soaria, mas então, o que poderiam
fazer? O caçador estaria armado e daria cabo de todos eles. Roy esclareceu que
uma unidade “penfield” fazia parte da instalação... Isso garantiria que o
intruso sofreria pânico, “arritmias aleatórias, desorientação e espasmos
musculares e neurais”... Isso daria alguma chance a eles, que poderiam
dominá-lo... Roy ressaltou que isso também dependeria do quanto o inimigo fosse
bem preparado.
Isidore quis saber se ele não seria afetado pelo
alarme... Roy disse que não haveria problema, já que ao ser dominado pelo
pânico ele também correria dali, mas como não era alvo dos caçadores acabaria
desprezado por eles...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_21.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto