sábado, 24 de janeiro de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Anne retorna de Saint-Martin; encontro com Paule, a “renovada”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_19.html antes de ler esta postagem:

É tempo de retornarmos ao Os Mandarins.

Anne parecia mesmo apaixonada por Brogan... Vemos que ela não se conformava ao ler as frases desesperadas nas cartas enviadas pelo amado... Aquilo funcionava como que um instrumento cortante a atravessar-lhe o peito. Como aceitar que Lewis a desejasse desesperadamente (e se mostrasse sofrendo com a impossibilidade de revê-la) ao mesmo tempo em que ela mesma nada podia fazer?
A distância a sufocava... E, pelo que indicam as cartas que chegavam da América, ele também se sentia sufocado...
Mas que esperança ela poderia alimentar? Não seria melhor sentenciar a impossibilidade de qualquer reencontro? Afinal, cada dia que se passava significava também o envelhecimento daquele “amor impossível”...
Intimamente, porém, vemos que Anne desejava que o amado continuasse a desejá-la ardentemente.
(...)
A temporada em Saint-Martin terminara... O retorno ao trabalho em Paris proporcionaria cotidianos barulhentos e repletos de ocupações (com os seus doentes e amigos) que a impediam de pensar apenas em si mesma.
(...)
Logo que retornou, ligou para Paule. Já fazia um bom tempo que não se encontravam... Anne estranhou o fato de a amiga ter passado o verão na companhia de Claudie e amigas... E isso no retirado “castelo borgonhês” da milionária.
(...)
Paule estava definitivamente mudada. Anne encontrou-a bem arrumada em seu “tailleur de última moda”, sobrancelhas feitas e penteado arranjado...
Ela perguntou sobre as férias de Anne e depois quis saber se notava alguma mudança... Foi esclarecendo que Claudie a presenteara com aquela roupa de grife...
Para Anne, o aspecto da amiga era plenamente satisfatório, sem dúvida “um novo estilo”...
Paule acendeu um cigarro e fez questão de garantir que se tratava de “uma nova mulher”... O que Anne poderia dizer a esse respeito? Perguntou se se tratava de influência de Claudie...
Mas estava claro que Paule tinha necessidade de ouvir aprovações a respeito de sua “repaginação”... Foi dizendo que Claudie era uma pessoa encantadora... Garantiu que tudo o que ela e as pessoas de seu convívio pretendiam era ajudar aos outros... Ela só não havia descoberto isso antes porque relutava e mantinha distância daquela “gente gentil”.
Depois de um suspiro, sugeriu que Anne se dispusesse a “sair mais”... Então veio a “revelação”... Paule garantiu que estava escrevendo e que isso era apenas um dos resultados dos incentivos que recebera da “trupe” de Claudie.
Com um “que bom!”, Anne a manteve empolgada e quis saber sobre o quê ela escrevia... Paule respondeu vagamente que era “sobre tudo” e que, por isso, dificilmente poderiam catalogar o seu conteúdo.
Ela garantiu que sua nova experiência era algo “extremamente seu”... Dessa forma, não via motivos para mostrar nada nem mesmo a Henri...
Anne quis que Paule falasse mais a esse respeito, e ela disse que ele ficara muito curioso quando lhe contou... Garantiu que ele gostaria de ouvir detalhes, mas ela estava convicta de que Henri ”estacionara” em sua produção intelectual e nada teria a lhe oferecer... Além disso, estava certa de sua necessidade de “permanecer só”, pois se sentia como quem descobre a solidão e os benefícios que ela proporciona.
Anne perguntou se a amiga não mais se interessava por Henri... Paule respondeu que gostava dele como uma “pessoa livre”. Depois passou a narrar sobre a visita que ele lhe fizera (sobre isso ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_29.html)... É claro que ele notou as mudanças.
Paule garantiu que enquanto falou com Henri viu que ele estava inseguro... Ela não pôde deixar de notar o modo como ele manteve a testa colada à janela, como que a evitar encará-la de frente...
Paule estava exultante e garantiu que, em sua opinião, Henri gostaria de propor-lhe reconciliação... Mas acrescentou que aquilo não passava de uma jogada, pois ele queria colocá-la à prova...
Anne viu Paule gargalhar enquanto dizia que Henri lhe declarou estar apaixonado pela pequena Josette... Ela entendia mesmo que o seu “ex” tinha um relacionamento amoroso com a jovem atriz, mas acrescentou que se ele amasse a outra de verdade não teria necessidade de revelar-lhe nada...
Paule argumentou que o comportamento de Henri só se explicava na medida em que ele pretendia sondar a sua reação... Infelizmente para ele, sustentou, “bastava-se a si mesma”. Beirava o ridículo ouvi-lo falar do tempo em que se conheceram e se apaixonaram... Afinal, perguntou Paule, por que ele queria trazer-lhe à memória aquela época?
(...)
A tudo Anne ouviu com exemplar paciência... Finalmente Paule falou a respeito do “Ensaio Geral” da peça de Henri que ocorreria em breve... Garantiu que faria de tudo para falar com Josette.
(...)
Sabemos, a partir da perspectiva de Henri (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_2.html), como a pré-estreia se desenrolou... É certo que retomaremos os episódios a partir do enfoque em Anne.
(...)
Paule se despediu de Anne ao mesmo tempo em que a convidava a um passeio...
Anne garantiu que não tinha tempo, mas que certamente se encontrariam no “Ensaio Geral” da peça de Henri Perron estrelada por Josette Belhomme.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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