Início do Primeiro
Ato.
O dia começou...
A alegria que a luz do
amanhecer propicia invadiu a cidade...
No palco se vê que a animação é geral... Vemos a praça
do mercado agitada pelo movimento das pessoas... Os comerciantes abrem seus
estabelecimentos...
Há um coro em que se veem tipos populares... Os pescadores conduzem
a cantoria.
Mas o que todos
cantam?
(...)
A cantoria diz que nada ocorrerá porque tudo segue na
mais perfeita ordem. O coro enaltece as benesses que as estações quentes
proporcionam ao povo de Espanha... Chuva no Verão... Antes que a Primavera
termine uma infinidade de frutas adoçam o país (laranjas, uvas, melões, figos e
damascos abundam nos balcões dos mercados)...
Gritos de felicidade tornam a canção ainda mais animada.
“Nada está acontecendo”... Em vez de calamidade, a oferenda... Essa é a
mensagem do coro... O Inverno tardará... Então o momento é de regozijo e
fartura... Há “dourados, sardinhas, lagostins, peixe fresco vindos dos mares
tranquilos”.
Muito leite e muito queijo; muito vinho e muita carne.
“Nada acontecerá”...
O convite é para que todos bebam “até ao esquecimento”.
(...)
O palco está tomado de uma
alegria só... Muitos gritos de euforia são liberados, mas em cada canto do
ambiente algo está ocorrendo.
Há uns mendigos que
pedem esmolas... Entre as frases de pedintes, balbuciam que “nada aconteceu”...
Um deles diz que é certo que algo “acontecerá” e, no mesmo instante, subtrai o
relógio de um tipo que passa despreocupadamente.
Na peixaria o pescador está discutindo com uma cliente idosa... A mulher
reclama que o dourado que ele anuncia é um cação... Trocam ofensas até que ele
a expulsa do estabelecimento.
(...)
As pessoas param de
repente... Não há mais falação na praça do mercado porque as atenções devem se
voltar a uma janela específica... Uma grade separa a bela Vitória do seu amado
Diogo.
O rapaz não podia conter o seu desejo de ficar próximo
à donzela... Vitória o chama de “louco” porque fazia pouco tempo que estiveram
juntos na presença do juiz Casado, a quem Diogo pedira a mão da moça...
Os jovens estavam felizes porque davam como certa a negativa do
magistrado, mas ele deu seu consentimento... Diogo não conseguia conter o seu
êxtase e tinha necessidade de compartilhar sua alegria com Vitória.
A conversa que tinham à janela revelava que a moça
também era apaixonada. Sem dúvida, o instante em que ouviram a aprovação do
juiz foi de grande júbilo para ambos...
É sobre isso que falavam... Trocavam promessas de “amor eterno”... Em
breve estariam juntos e poderiam partir montados na mesma sela do “cavalo do
amor”.
A estranha linguagem só podia ser entendida pelos dois apaixonados...
Vitória o desejava. Ansiosa esperava pelo amanhã, quando poderia ser beijada pelo
amado... Sentia o rosto a queimar e perguntou se se tratava do “Vento do Sul”.
Diogo confirmou que também se sentia queimando pelo mesmo vento... Onde estaria
a fonte que os curaria?
O jovem a abraça mesmo estando separados pela grade. Vitória fala de seu
amor e sofrimento... Gentilezas são trocadas (ele diz que ela é bela; ela diz
que ele é forte)... De onde vem o frescor e a alvura da pele da moça? Diogo
quis saber... Ela explicou que só podiam ser o resultado das águas claras com
as quais se lavava, e também do amor que nutria por ele... Também seus belos
cabelos se tornavam mais apreciáveis por causa do amor... O seu perfume, as
flores e tudo quanto de maravilhoso se pudesse notar na vida só podiam advir do
amor que preenchia os seus corações.
Diogo lembra que tudo definha... As flores caem e o Inverno chega... Mas
Vitória o anima dizendo que a tudo resistirão... As flores caem, mas os frutos
surgem; o Inverno chega, mas estarão juntos... Ela pergunta se tudo o que o
amado dissera anteriormente “continua sendo verdade”.
Diogo responde que, se após
cem anos de sua morte, a terra lhe perguntasse se já teria se esquecido (de sua
amada), “responderia que ainda não”.
Então ele pergunta se
Vitória nada mais tem a dizer...
A donzela sentencia que a felicidade emudeceu-a.
Leia: Estado
de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto