domingo, 13 de setembro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – início do primeiro ato – o povo canta na praça do mercado, “nada acontecerá” e a Espanha segue abençoada; os mendigos continuam a mendigar e a furtar; o pescador discute com a velha senhora; delírios dos apaixonados

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/09/estado-de-sitio-de-albert-camus-o_95.html antes de ler esta postagem:


Início do Primeiro Ato.
O dia começou...
A alegria que a luz do amanhecer propicia invadiu a cidade...
No palco se vê que a animação é geral... Vemos a praça do mercado agitada pelo movimento das pessoas... Os comerciantes abrem seus estabelecimentos...
Há um coro em que se veem tipos populares... Os pescadores conduzem a cantoria.
Mas o que todos cantam?
(...)
A cantoria diz que nada ocorrerá porque tudo segue na mais perfeita ordem. O coro enaltece as benesses que as estações quentes proporcionam ao povo de Espanha... Chuva no Verão... Antes que a Primavera termine uma infinidade de frutas adoçam o país (laranjas, uvas, melões, figos e damascos abundam nos balcões dos mercados)...
Gritos de felicidade tornam a canção ainda mais animada.
“Nada está acontecendo”... Em vez de calamidade, a oferenda... Essa é a mensagem do coro... O Inverno tardará... Então o momento é de regozijo e fartura... Há “dourados, sardinhas, lagostins, peixe fresco vindos dos mares tranquilos”.
Muito leite e muito queijo; muito vinho e muita carne.
“Nada acontecerá”...
O convite é para que todos bebam “até ao esquecimento”.
(...)
O palco está tomado de uma alegria só... Muitos gritos de euforia são liberados, mas em cada canto do ambiente algo está ocorrendo.
Há uns mendigos que pedem esmolas... Entre as frases de pedintes, balbuciam que “nada aconteceu”... Um deles diz que é certo que algo “acontecerá” e, no mesmo instante, subtrai o relógio de um tipo que passa despreocupadamente.
Na peixaria o pescador está discutindo com uma cliente idosa... A mulher reclama que o dourado que ele anuncia é um cação... Trocam ofensas até que ele a expulsa do estabelecimento.
(...)
As pessoas param de repente... Não há mais falação na praça do mercado porque as atenções devem se voltar a uma janela específica... Uma grade separa a bela Vitória do seu amado Diogo.
O rapaz não podia conter o seu desejo de ficar próximo à donzela... Vitória o chama de “louco” porque fazia pouco tempo que estiveram juntos na presença do juiz Casado, a quem Diogo pedira a mão da moça...
Os jovens estavam felizes porque davam como certa a negativa do magistrado, mas ele deu seu consentimento... Diogo não conseguia conter o seu êxtase e tinha necessidade de compartilhar sua alegria com Vitória.
A conversa que tinham à janela revelava que a moça também era apaixonada. Sem dúvida, o instante em que ouviram a aprovação do juiz foi de grande júbilo para ambos...
É sobre isso que falavam... Trocavam promessas de “amor eterno”... Em breve estariam juntos e poderiam partir montados na mesma sela do “cavalo do amor”.
A estranha linguagem só podia ser entendida pelos dois apaixonados... Vitória o desejava. Ansiosa esperava pelo amanhã, quando poderia ser beijada pelo amado... Sentia o rosto a queimar e perguntou se se tratava do “Vento do Sul”. Diogo confirmou que também se sentia queimando pelo mesmo vento... Onde estaria a fonte que os curaria?
O jovem a abraça mesmo estando separados pela grade. Vitória fala de seu amor e sofrimento... Gentilezas são trocadas (ele diz que ela é bela; ela diz que ele é forte)... De onde vem o frescor e a alvura da pele da moça? Diogo quis saber... Ela explicou que só podiam ser o resultado das águas claras com as quais se lavava, e também do amor que nutria por ele... Também seus belos cabelos se tornavam mais apreciáveis por causa do amor... O seu perfume, as flores e tudo quanto de maravilhoso se pudesse notar na vida só podiam advir do amor que preenchia os seus corações.
Diogo lembra que tudo definha... As flores caem e o Inverno chega... Mas Vitória o anima dizendo que a tudo resistirão... As flores caem, mas os frutos surgem; o Inverno chega, mas estarão juntos... Ela pergunta se tudo o que o amado dissera anteriormente “continua sendo verdade”.
Diogo responde que, se após cem anos de sua morte, a terra lhe perguntasse se já teria se esquecido (de sua amada), “responderia que ainda não”.
Então ele pergunta se Vitória nada mais tem a dizer...
A donzela sentencia que a felicidade emudeceu-a.
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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