Kapuscinski viajou para Cartum, onde aguardaria o colega Tcheco que possibilitou a sua ida ao Congo.
Cartum é extremamente quente... Não foi fácil suportar a espera.
Mas Jarda chegou conforme havia combinado... Trouxe o compatriota Duszan Prowaznik. Os três voaram para Juba, que o polonês descreve como “cidade-quartel no meio do nada”.
(...)
Em Juba não encontraram quem se dispusesse a
vender-lhes um automóvel... A situação levou-os a se aproximar de um tipo que
todos tinham por “suspeito e temerário”... Comprometeram considerável soma que
levavam em troca de transporte conduzido pelo desconhecido...
Viajaram por mais de duzentos quilômetros... Na metade do dia seguinte
chegaram à fronteira, que era controlada por um “policial seminu”. Ele tinha a companhia
de uma companheira seminua e de um pequeno menino.
Esse primeiro momento foi tranquilo... Puderam
prosseguir sem maiores problemas... O mesmo não se pode dizer a respeito do
encontro com a gendarmaria congolesa posicionada a alguns quilômetros, na
cidade de Aba.
Os três jornalistas possuíam vistos para o Congo concedido por Pierre
Mulele (que era ministro de Lumumba).
*Kapuscinski destaca
que Mulele liderava o “Levante dos Simbas” (1964), quando foi assassinado. Essa
revolta ocorreu alguns anos depois dos acontecimentos narrados em Lumumba (Capítulo de A Guerra do Futebol). Ela foi marcada
pela união de guerreiros de tribos hostis ao governo de Moise Tshombe (afinado
com as potências ocidentais)... Os Simbas também se orientavam por crenças
animistas e acreditavam (conforme os ensinamentos de feiticeiros xamãs) que se
transformavam em poderosos leões (em suaíli, simba é a palavra que denomina o
leão)... Os rebeldes chegaram a controlar grande parte do país e foram extremamente
violentos com todos os que representavam o poder vigente. Tshombe conseguiu
derrotar os Simbas após os acertos com norte-americanos e belgas. Essas tropas
contaram com a atuação de mercenários... O momento mais dramático talvez tenha
sido o da retirada desesperada de milhares de norte-americanos, europeus e
congoleses perseguidos enquanto os rebeldes executavam reféns.
O visto se resumia a uma simples redação manuscrita em folha de papel
comum. Isso à parte, o nome Mulele não tinha o menor significado para os
gendarmes, que ordenaram que retornassem imediatamente para o Sudão.
Os guardas foram claros ao garantir que quanto mais avançassem para o
interior do Congo maiores perigos encontrariam... Jarda respondeu que não
poderiam voltar porque não possuíam “vistos de retorno”.
(...)
Kapuscinski e os
companheiros tchecos resolveram barganhar a passagem... Ele tinha pacotes de
cigarros, Jarda e Prowaznik levavam bijuterias baratas... Os guardas aceitaram
alguns broches e colares... Depois permitiram a passagem e, além disso,
concederam-lhes a companhia de um sargento chamado Serafin.
Em Aba, conseguiram alugar
um “velho e enorme Ford”...
Na madrugada seguinte o veículo rumava para
Stanleyville.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto