sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

“Kapuściński non-fiction”, de Artur Domoslawski – considerações sobre polêmicas em torno da repercussão da obra; sobre entrevista de Domoslawski a sítios portugueses; pela continuidade dos registros a respeito de “A Guerra do Futebol”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/12/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_16.html antes de ler esta postagem:

Com tantas postagens sobre os textos de Kapuscinski não há como não abrir espaço aqui para tratar de algumas questões polêmicas... Sobretudo as que o livro Kapuściński non-fiction tem suscitado.
(...)
É bom que se saiba que Kapuscinski não é unanimidade entre os analistas de sua obra...
Uma biografia sua, Kapuściński non-fiction, foi lançada pelo compatriota e também jornalista, Artur Domoslawski.
O livro ainda não saiu no Brasil... Mas já repercute.
Andam dizendo que Kapuscinski mentia, inventava personagens, era ativista comunista colaborador dos serviços secretos da Polônia...
A polêmica é gigantesca também porque Kapuscinski, que morreu em 2007, foi celebrado como “o jornalista do século XX”, inclusive fora de seu país e do bloco socialista... A “biografia bombástica” está levando muitos a reconsiderarem isso. Para alguns, a “revisão” coloca o autor de A Guerra do Futebol como exemplo do mau jornalista...
Há quem tenha conhecido “o outro lado da História, a realidade africana e da América Latina” a partir de textos de Kapuscinski... Não são poucos os que passaram a chamar Domoslawski de traidor... Há processos contra ele na Polônia.
(...)
Os “pré-juízos” são tentadores e têm o poder de nos conduzir a equívocos...
Domoslawski acompanhou os últimos anos de vida de seu biografado bem de perto... Foram amigos e se aproximaram exatamente porque Kapuscinski gostou de várias produções textuais de Domoslawski, que contava 30 anos quando se conheceram na segunda metade da década de 1990.
Em entrevista ao jornal português “Sol” e também ao site “Observador”, Domoslawski deixa claro a sua intenção ao publicar a biografia e explica que, no mínimo, precisamos contextualizar a época em que Kapuscinski atuou e levar em consideração os limites impostos pelo regime comunista. Nesse sentido, a biografia elucida o seu engajamento sem “demonizá-lo”.
Embora Artur Domoslawski classifique a produção de Kapuscinski muito mais como Literatura, em nenhum momento o considera “jornalista mentiroso”, como propagam por aí depois que a biografia foi lançada. Os que assim procedem são, em sua maioria, desafetos de longa data do biografado.
(...)
Depois dessas considerações, temos de refletir um pouco mais:
* Pelo menos neste A Guerra do Futebol não se pode dizer que Kapuscinski tenha se esforçado para esconder ou mudar a versão de certas situações desfavoráveis aos que faziam apologia do socialismo... Um exemplo é o da sua opinião em relação à situação no Congo... Em seu retorno à Polônia após deixar Usumbura (a capital do Burundi), ele não faz rodeios ao “camarada do Ministério das Relações Exteriores” ao concluir que a revolução que se processava naquela nação não era nem um pouco animadora.
* Não vemos o autor com a pretensão de produzir um relato totalmente baseado em documentação aceita como “fonte primária”. Nos textos sobre Acra, a vida cotidiana de pessoas comuns é narrada de modo informal... Vemos que “literatura e jornalismo” se misturam sem prejudicar a reportagem.
* A citada polêmica e também a opinião de especialistas que estão desqualificando Kapuscinski devem ser levadas em consideração... Mas será correto colocá-las em preeminência desprezando os depoimentos do próprio Domoslawski?
(...)
Nossa sequência de registros sobre A Guerra do Futebol reserva conteúdos muito interessantes (África do Sul e Apartheid; Argélia e o processo de independência; América Latina...).
Eles não serão desprezados por conta da polêmica aqui exposta. E não se trata de tomar partido por uma produção que estão considerando “panfletária”! Trata-se de valorizar um conteúdo que não pode ser desprezado... Pelo contrário! Ele possui riqueza de detalhes e “tem potencial” para ser acrescentado a outros em estudos específicos... É por isso que deve ser compartilhado.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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