Sabemos que a auxiliar de Peste era a própria Morte... Por isso é que na última postagem resolvemos assim denominá-la... No entanto é bom que se saiba que em seu texto, Camus não faz essa alteração.
(...)
Também estava próximo o momento em que Peste se retiraria da cidade com
sua equipe de governo...
Ele exigiu que Diogo se levantasse. Pela última vez
chamou-o de imbecil e anunciou que a cidade passava ao seu controle.
No mesmo instante o coro deu gritos de alegria. Peste virou-se na
direção do grupamento e proferiu que ninguém ali devia julgá-lo derrotado...
Pelo contrário! Anunciou que havia trabalhado muito bem em Cádiz e sabia que as
pessoas jamais se esqueceriam dele... Elas deviam aproveitar para contemplar o “único
poder deste mundo” (ele próprio)... Era a sua última oportunidade... Deviam
reconhecer o soberano e aprender o medo.
O brutamontes ria enquanto provocava os ouvintes...
Antes eles eram tementes a Deus e aos “seus acasos”... Nada a ver com o método
e rigor de Peste! Deus só podia ser comparado a um anarquista e sua “mistura de
estilos”! Poderoso e Bom ao mesmo tempo?
(...)
Ele insistiu... Disse que depois da experiência vivenciada as pessoas poderiam
fazer uma comparação e reconhecer que o seu estilo primava pela eficiência...
Ele escolhera dominar, escolhera o poder...
Sua mensagem era definitiva... As pessoas tinham de aceitar que seu
sistema era “mais sério do que o inferno”... Sua atuação milenar produziu
vítimas que abarrotam cemitérios e campos... Líbia, Etiópia, Pérsia...
Incontáveis são os locais que podem testemunhar os horrores por ele
impetrados... Milhares de fogueiras fúnebres e atmosferas infestadas por cinzas
humanas... Os “fogos de purificação” na antiga Atenas... Até os deuses ficaram
enojados...
A matança prosseguiu depois que os templos foram substituídos por
catedrais... “Cavaleiros negros” continuaram o serviço. Peste não descansou e
matou sem desanimar. Povos inteiros deviam ajoelhar-se aos seus pés... Essa
escravidão passou a ser obtida graças ao aperfeiçoamento de sua técnica... Cada
vez mais um “número menor de mortos bem escolhidos”...
(...)
Peste queria deixar bem claro que não há povo de grandes e belas
realizações históricas que possa conter o seu avanço... Um revés aqui ou acolá,
é verdade, mas no final ele triunfaria “de tudo”.
A secretária observou que “nem
de tudo”... Restaria triunfar sobre a altivez... Peste corrigiu-a dizendo que a
altivez talvez se cansasse... O próprio homem faria as “escolhas certas”.
(...)
O som de trombetas anunciou
que não muito longe dali os antigos governantes chegavam para reocupar o
poder... Peste fez questão de se dirigir ao povo mais uma vez... Disse que aqueles
tipos retornavam “cegos às feridas” de todos e “ébrios de imobilidade e
esquecimento”. A estupidez em breve tomaria o lugar mais alto da cidade... E
sem combate algum! Certamente todos ali se tornariam fatigados.
Não era sem demonstrar
revolta que Peste insinuava que aquele tipo de governante (que os habitantes de
Cádiz conheciam bem) preparava o seu caminho... Há muitos espalhados pelo mundo
e é por isso que ele podia manter-se firme, com força e esperança.
Chegará o dia em que todos entenderão os sacrifícios como algo bom e
necessário? Algum dia as sedições populares serão totalmente desprezadas? Peste
garantiu que quando isso ocorrer, então, ele triunfará no “definitivo silêncio
da servidão”.
O tipo pôs-se a rir...
Aconselhou que não se entusiasmassem... Garantiu que se tratava de um obstinado,
e é por isso que mantinha baixa a sua fronte.
(...)
A Secretária observou que também aqueles pobres homens
e mulheres tinham sua obstinação alimentada pelo amor que nutriam pela simplicidade
de sua existência.
Peste já estava se
retirando...
Mas voltou-se para perguntar: “O amor? Que é
isso?”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/11/estado-de-sitio-de-albert-camus-fim-do.html
Leia: Estado
de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Um abraço,
Prof.Gilberto