No segundo bloqueio imposto pelos rebeldes da UPGA aos que viajavam pela estrada que adentrava os territórios iorubas, Kapuscinski teve certeza que eles não estavam para brincadeiras... Eles haviam acabado de barbarizar dois viajantes e o encharcaram com líquido inflamável. Pareceu-lhe que não teria como escapar dessa vez.
Para piorar a sua situação, um tipo que parecia ser o “chefe da operação” decidiu esmurrá-lo. A essa altura o medo dominava completamente a sua consciência... Como sobreviver àquele massacre?
O ritual prosseguiu com as pontas de facas sendo aproximadas de seus olhos e coração.
De repente, completamente embriagado, o líder dos rebeldes apoderou-se do dinheiro que estava sendo disputados pelos seus comandados... Ele começou a esbravejar “Power! UPGA must get power! We want power! UPGA is power!”, e pôs-se a rir escandalosamente...
Isso contagiou aos demais.
(...)
Foi como um
milagre...
Liberaram
Kapuscinski...
À sua volta as
pessoas gritavam a sigla do partido e levantavam as mãos com o “V” da vitória.
Transtornado, o
correspondente voltou a rodar pela estrada... Mas apenas uns poucos quilômetros
mais à frente avistou nova barreira incendiária...
Sem dinheiro e cheirando
a benzol, passou a almejar apenas não ter de sofrer novas agressões.
Pensou que a única
saída seria passar a toda velocidade pelos rebeldes... O Peugeot poderia pegar
fogo, mas talvez isso fosse melhor do que padecer nas mãos dos impiedosos e intolerantes
ativistas da UPGA.
Acelerou alucinadamente... Já próximo à barreira, atingiu 140 km/h...
Buzinou para anunciar que não pararia... Notou que os tipos levantavam suas
facas e sinalizavam para que freasse... Mas ele estava decidido a passar de
qualquer jeito.
(...)
O temor e o desejo de se manter vivo impediram que ele parasse.
O choque foi inevitável... O carro saltou e
arrastou madeiras incandescentes sob o chassi.
Mas a barreira foi
ultrapassada e, no ponto em que o veículo se posicionou, as garrafas com
gasolina não podiam atingi-lo... A gritaria ficou para trás.
(...)
Para ter certeza de que estava livre, Kapuscinski percorreu mais um
quilômetro a fim de certificar se o Peugeot ainda tinha condições de prosseguir
rodando.
O
aspecto do veículo era lastimável, mas ainda podia ser dirigido... O repórter é
que se sentia esgotado fisicamente... Sentou-se na areia à beira do caminho e
viu-se encharcado de suor e do líquido inflamável...
Sem saber onde
estava, não conseguia reunir forças para reagir...
Foi
tomado por tremendo enjoo, Mas sabia que não podia esperar que o socorressem...
Sabia que o mais provável era ser encontrado por outros rebeldes.
Retornou ao carro e
dirigiu até Idoroko, uma cidadezinha...
Avistou um posto
policial, onde permitiram que se lavasse e descansasse um pouco. Kapuscinski
explicou aos tiras que precisava retornar para Lagos, mas não tinha condições
de viajar sozinho. Sensibilizado, o comandante local montou uma equipe para escoltá-lo.
Acontece que os
policiais também tinham medo de passar pela estrada.
Enquanto foram
providenciar um veículo na cidade, o polonês passou o seu tempo a folhear um
exemplar do “Nigerian Tribune”, periódico que pertencia à UPGA e reproduzia
matérias sobre as ações do partido.
O conteúdo causava arrepios.
Na
próxima postagem conheceremos um breve recorte.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto