Lewis tomou Anne pelo braço e começou a mostrar-lhe a casa das dunas... Falou sobre onde ficariam as camas e o cômodo destinado a receber os livros.
Ela estava sentindo como se estivessem voltando a se relacionar como dois apaixonados. Quem os visse podia mesmo pensar que se tratasse de casal que toma decisões a respeito do ninho que passarão a dividir.
Voltaram ao jardim e todos os olharam com ares de curiosidade. Virgínia quis saber se “guardaram uma casa de reserva em Chicago”... De fato, eles trataram os dois como se formassem um casal em perfeita sintonia. As respostas de Lewis não contrariavam essa ideia.
E não havia dúvida! Ele estava alegre e demonstrava animação... A atmosfera local despertou em Anne o desejo de também se alegrar... Para sua surpresa, Brogan convidou-a a passear de barco.
(...)
O cenário descrito é dos românticos...
Crepúsculo do dia, vagalumes fazendo festa... Lewis
conduziu o barco enquanto Anne permaneceu acomodada a contemplar a represa, as
dunas, a vegetação e a movimentação dos remos...
O céu parecia “pintado de vermelho e violeta, um céu sofisticado de
cidade grande”... Os altos-fornos instalados na região contribuíam para o
espetáculo de cores que se podiam avistar.
Ela comentou que a beleza do lugar era comparável à do Mississipi; ele
emendou que em breve teriam lua cheia.
(...)
Anne fez um comentário a respeito de Dorothy e sua simpatia. Lewis
concordou e acrescentou que ela trabalhava numa farmácia e tinha de tocar uma
vida cheia de dificuldades com os dois filhos para criar. É certo que o ex-marido
concedia-lhe pequena pensão, mas ela não possuía sequer uma pequena casa.
A harmonia que se instalou entre os dois fez Anne cogitar se, de fato,
estava tudo acabado entre eles... Seria preciso conhecer melhor aquele homem.
Não era porque havia se decidido não mais amá-la que a trataria com a aversão
destinada aos desafetos.
O passeio havia sido como aqueles
que os casais enamorados apreciam. Lewis sugeriu que batizassem o pequeno barco
de Anne... Ela se mostrou orgulhosa e pensou mais uma vez na magia proporcionada
pelo ambiente. Fizeram bem ao deixarem Chicago, pois as dunas estavam contribuindo
para que ele repensasse sua “falsa prudência”... Provavelmente nem estivesse
mais querendo expulsá-la do coração.
Retornaram ao gramado... Não
demorou e os amigos de foram.
(...)
Lewis e Anne se instalaram
no cômodo que se destinava à futura biblioteca, onde havia uma pequena e
estreita cama. O aconchego levou-os ao entrelaçamento apaixonado sem trocarem
beijos ou palavras.
Assustada, Anne desejou-lhe
boa-noite e passou a refletir com irritação sobre o que acabara de acontecer.
Sentiu-se como se tivesse sido tratada como uma “máquina de prazer”... Ele não
tinha esse direito! Um absurdo! Principalmente porque, até então, havia se
comportado como se não estivesse à sua presença.
Ela foi para a sala, onde se
pôs a chorar descontroladamente... Não entendia o que havia se passado. De fato
o que acabara de acontecer não tinha nada a ver com o amor que nutriram um pelo
outro.
Sua mente estava muito confusa... Em vão interrogava a
si mesma se as experiências vivenciadas na casa de Chicago ou ao navegarem o
Mississipi ressuscitariam um dia.
Ao retornar à cama, Lewis perguntou-lhe se seu “programa para o verão”
seria “passar dias bons e depois chorar a noite toda”. Ela respondeu que não
aceitava sua “postura superior” e que sentia raiva da frieza com que havia sido
tratada por ele.
Ele quis deixar claro que não podia se envolver
apaixonadamente porque não trazia nenhum sentimento apaixonado em seu interior.
Ela protestou ao dizer que, se assim era, ele não devia se deitar com ela.
A justificativa apresentava por Lewis foi irônica... Disse que não pôde
evitar porque “viu” que ela estava ardendo de desejo.
Anne esbravejou ao dizer que, então, ele tinha a
obrigação de se recusar a enganá-la.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_25.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto