quinta-feira, 21 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – leitura insatisfatória e uma interminável partida de basebol; nos bares do alemão, dos vagabundos e no salão onde Big Billy se apresentava; frágeis “imitações” do passado; decepcionante revelação

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-de.html antes de ler esta postagem:

Lewis havia assinalado uma série de artigos para facilitar a leitura de Anne...
Sobre um criado-mudo empilhou várias revistas... Ligou o rádio.
(...)
Nas outras ocasiões, por muitas vezes, aconteceu de permanecerem por algum tempo lendo ou ouvindo rádio... Anne e Lewis faziam isso sem trocar palavras... Mas dessa vez ela estava se sentindo um tanto incomodada... Chegara fazia pouco tempo e o parceiro não pensava em outra coisa além da partida transmitida pelo aparelho!
Ela comparou a situação com as anteriores, quando ele a exigia junto a si por completo e por todo o tempo... Também a intrigava o fato de ele ter apagado as luzes na última noite... Sequer pronunciara o seu nome!
Alguns “fantasmas” começaram a atormentar o pensamento de Anne... Procurando afastar-se da neurose, concluiu que devia ser assim mesmo... Tinha de considerar que o intervalo de um ano é tempo demais, assim era natural que ele demorasse um pouco a reencontrá-la como tanto desejavam.
Passou os olhos sobre um artigo a respeito do último livro de Faulkner... Mas a leitura não fluía, então as amargas reflexões voltaram-lhe... Afinal, por que não estavam abraçados? Aquela partida de basebol não tinha hora para terminar?
Pensou que dormira demais... Estava sem sono... Do contrário poderia “apagar” enquanto a esperada normalidade não se restabelecia.
O outro permanecia atento à transmissão... Mesmo assim ela sugeriu com bom humor que poderiam comer algo. Ele pediu-lhe paciência, pois faltavam apenas dez minutos, e havia apostado três garrafas de uísque no Giants.
Para Anne, os minutos pareciam longos... Estava claro que Lewis não atribuía nenhuma aura especial àquele dia. De repente ele manifestou grande alegria logo que a transmissão se encerrou... Venceu a aposta e imediatamente sugeriu irem ao restaurante alemão. Ela aprovou, pois guardava boas recordações do lugar.
(...)
Trocaram ideias animadamente enquanto comiam salsichas e repolho roxo... Lewis falou sobre a sua experiência em Hollywood... Depois passaram pelo bar que era frequentado por vagabundos e pelo ambiente onde ouviram Big Billy tocar da primeira vez que Anne estivera em Chicago.
Ela continuava a sentir que as iniciativas de Lewis pareciam tentativas de “imitações”. Não era algo natural... De repente, lembrou-se de suas palavras no último ano, quando garantiu que não mais tentaria deixar de amá-la...
Voltaram para casa... No táxi, Anne acomodou a cabeça no ombro do amado... Nada disse enquanto o carro rodava... Sentiu-o bocejar e procurou estabelecer uma relação entre o que ele alegara sentir e o modo como se comportava... Como entender o bocejo quando a tinha em seus braços?
(...)
Ao entrarem em casa, Anne carregava em sua mente a necessidade de fazer-lhe perguntas...
Deitaram-se e ele se enrolou nos lençóis ao mesmo tempo em que lhe desejava um boa-noite... Virou-se de costas.
Imediatamente ela o puxou e perguntou-lhe o que estava acontecendo... Ele respondeu apenas que estava cansado... Anne insistiu e esclareceu que se referia ao dia que passaram juntos... Afinal, ele a reencontrara ou ainda não?
A resposta foi afirmativa.
Anne disparou que, então, precisava saber se ele não a amava mais.
Lewis Brogan silenciou.
Ela se sentiu estúpida e angustiada com a possibilidade de seus temores se confirmarem naquele mesmo instante.
Lewis nada respondeu... Então ela repetiu a pergunta.
Ele disse que continuava a gostar muito dela... Tinha-lhe afeição, mas não podia dizer que era amor o que sentia por ela.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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