Falaram brevemente sobre a França e a respeito do casamento de Nancy no México.
No elegante salão bem servido por empregados negros, Philipp tratou de conduzir a mãe e Anne à mesa que havia solicitado. Como que a se desculpar, disse que gostava de “lugares ridículos” como aquele...
Na sequência tratou de acertar o cardápio.
(...)
Conforme conversaram, Anne
notou que discordava dos amigos em vários pontos... Sobre o livro de Lewis,
consideravam que devia ser “mais hermético”... Acharam as touradas mexicanas
desprezíveis... Em relação aos povoados indígenas de Honduras e Guatemala, viam-nos
como “édens poéticos”.
Anne deu a entender que eles precisavam pensar na
precariedade vivida pelos índios... Certamente isso os levaria a refletir sobre
o conceito de paraíso... Philipp justificou-se ao dizer que os nativos da
América Central não podiam ser julgados segundo o “padrão dos brancos”. Ela
voltou à carga dizendo que não se tratava disso, até porque “morrer de fome” é
trágico em qualquer sociedade.
Philipp observou que os europeus os acusavam (aos americanos) pelo seu materialismo,
mas deixavam transparecer que davam mais importância aos aspectos materiais da
vida do que eles... Myriam emendou que só os que experimentam do conforto
americano podiam entender que “conforto interessa pouco”.
Anne insistiu... Disse que a questão se concentra no
fato de que há pessoas que vivem privadas do extremamente necessário. Isso eles
deviam levar em consideração! Philipp redarguiu afirmando que a felicidade é
algo subjetivo e, assim sendo, o que para uns é necessário, para outros não
é... Acrescentou que tinham ideia de passarem um tempo (um ou dois anos) em
Honduras para trabalhar “em paz”... Certamente poderiam aprender muito com as “antigas
civilizações”.
Anne quis saber o quê poderia ser apreendido por eles na convivência com
os pobres indígenas... Já que censurava o que se passava no próprio país, o
melhor que tinham a fazer seria permanecer nele e se engajar em algum tipo de
projeto político para combater a situação.
Philipp destacou que a ideia de atuação política (o engajamento) era
como que “psicose”, “obsessão” para os escritores franceses... Na realidade
eles deviam se conscientizar de que na realidade não podem mudar nada.
Anne respondeu afirmando que os intelectuais americanos sempre se
defendiam com argumentos sobre a “impossibilidade de atuação”. E sustentou que se
limitavam a essa postura... Disso fatalmente resultaria que não teriam como se
indignar quando o país viesse a “se tornar completamente fascista” e a guerra
fosse desencadeada.
O rapaz não aceitou aquelas palavras... Disse que a amiga não entendia
que os Estados Unidos não tinham interesse na guerra... E que, em vez disso, o
modo como o país insistia em se impor como potência bélica era o imperativo de
uma nação que quer evitá-la a todo custo.
Com certa indignação, emendou que jamais se tornariam
fascistas.
Anne lembrou que logo após
o final da guerra muitos intelectuais americanos consideravam a democracia de seu
país seriamente ameaçada...
Philipp explicou que todos
aprenderam que “é impossível defender a democracia por métodos democráticos”...
Sobretudo porque a URSS se colocava como nação de muito poder... O fanatismo
stalinista era uma ameaça que só podia ser combatida com “firmeza simétrica”...
Ele quis deixar claro
que havia excessos no arranjo norte-americano... E que eles eram mesmo deploráveis...
Acrescentou que, apesar disso, de modo algum entendiam que a opção fosse pelo
fascismo.
Ao final de sua argumentação, o rapaz justificou
que o panorama podia confundir Anne... Por isso, como que a explicá-lo, acrescentou
que a situação era um reflexo do “drama geral do mundo moderno”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_5.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto